tag:blogger.com,1999:blog-78200758208856716452024-03-13T00:30:52.651-03:00Gandavos - Os contadores de históriasCarlos A. Lopeshttp://www.blogger.com/profile/05881754756325061589noreply@blogger.comBlogger817125tag:blogger.com,1999:blog-7820075820885671645.post-22217268669697804812020-12-19T17:25:00.006-03:002020-12-19T17:51:49.357-03:00ROTINA DE UM POLICIAL<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGMK2uwLEqZyhTHTMWbaCtxanm4mFV_jdo3PExnXNJ_CEyjxMFUPJBu5kYH87bYar-fuzm_LAwapxMkJf2YRwONXvQ4Yyj8hCZ1q3e1zxuOOfiX9MIOqWQqDVvRK8cNPrIluy2F6-AprCB/s404/c6c8f4a5-70bd-4dab-8a6d-f1c5ded74c54.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="404" data-original-width="364" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGMK2uwLEqZyhTHTMWbaCtxanm4mFV_jdo3PExnXNJ_CEyjxMFUPJBu5kYH87bYar-fuzm_LAwapxMkJf2YRwONXvQ4Yyj8hCZ1q3e1zxuOOfiX9MIOqWQqDVvRK8cNPrIluy2F6-AprCB/s320/c6c8f4a5-70bd-4dab-8a6d-f1c5ded74c54.jpeg" /></a></div><br /><p></p><p><br /></p><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 22pt; line-height: 107%;"><b><span style="color: #cc0000;">LARA ALVES</span></b><o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 22pt; line-height: 107%;">Meus dias são sempre os
mesmos, acordo cedo, caminho pelas ruas e observo cada movimento das pessoas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 22pt; line-height: 107%;">Mas enquanto caminhava
por uma rua, encontrei uma linda moça com um cachorro. Um homem encostado na
parede e mais quatro homens que abasteciam um grande caminhão. Até que o
indivíduo encostado na parede corre e pega o cachorro da bela moça. A mulher
começou a gritar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 22pt; line-height: 107%;">Ei, ei! Volte aqui com
meu cachorro! <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 22pt; line-height: 107%;">Até que eu interferi.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 22pt; line-height: 107%;">— Com licença senhorita,
quer ajuda para recuperar o cão?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 22pt; line-height: 107%;">— Sim, por favor. Pago
quanto quiser!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 22pt; line-height: 107%;">Como era um homem pobre,
me empolguei ao ouvir a parte do dinheiro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 22pt; line-height: 107%;"><b><span style="color: #cc0000;">SOFIA BORGES</span></b><o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 22pt; line-height: 107%;">Não pensei duas vezes e
corri atrás do homem. Corri mais ou menos uns 500 metros e consegui o dócil
cachorro da moça são e salvo de volta. Logo depois, entreguei a ela o pequeno
animal.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 22pt; line-height: 107%;">— Muito obrigada senhor
guarda! Darei ao senhor uma recompensa de R$1.000,00,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>disse ela.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 22pt; line-height: 107%;">Esse é o meu dever! Eu
que lhe<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>agradeço pela recompensa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 22pt; line-height: 107%;">Aquilo para mim foi
gratificante, pois além de devolver o cachorro para ela, ganhei uma grande
quantia em dinheiro! <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 22pt; line-height: 107%;">Quando acabou meu turno,
logo fui para casa dar uma olhada nas contas. Vi que já havia pagado tudo,
então tomei banho e fui rapidamente para o mercado fazer minhas compras.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 22pt; line-height: 107%;"><b><span style="color: #cc0000;">LARA ARANTES</span></b><o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 22pt; line-height: 107%;">Chegando lá, como minha
vida nunca tem sossego, não tinha feito nem metade das compras, quando olhei
para a minha esquerda e me deparei com gritos. Não demorei para perceber que
era um assalto.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 22pt; line-height: 107%;">Pensei em continuar o que
estava fazendo, já que, devido aos anos de trabalho, em qualquer lugar aonde
vou, sirvo apenas apresentando meu distintivo. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 22pt; line-height: 107%;">Bem, isso era o que eu
queria fazer, mas como disse, por mais que já esteja cansado, ainda é meu
trabalho, não é? Sou um policial!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 22pt; line-height: 107%;">Enquanto decidia se
comprava um pacote de biscoitos ou corria até os assaltantes, senti um objeto
frio encostar em cabeça e descer para a nuca.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 22pt; line-height: 107%;">Ao olhar para trás, dei
de cara com um homem de máscara que apontava uma arma para mim.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 22pt; line-height: 107%;"><b><span style="color: #cc0000;">LÍVIA HOLIER</span></b><o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 22pt; line-height: 107%;">Meu primeiro pensamento,
foi utilizar meu treinamento para tomar a arma da mão do assaltante.
Entretanto, ela estava encostada em mim de um jeito difícil de me esquivar. Me
virei lentamente em direção ao indivíduo atrás de mim, mas foi aí que percebi
que era menor que eu e não seria difícil controlá-lo. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 22pt; line-height: 107%;">Fui conversando com ele e
dizendo que estava tudo bem, mas em momento algum revelei minha profissão. Sei
que nos dias de hoje, é um perigo dizer que se faz parte de corporação
policial. Consegui entretê-lo, até que um de seus companheiros o chamou. Ao se
virar para ver o motivo de ter sido chamado, consegui apanhar a arma e retirar
a máscara que cobria sua face. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 22pt; line-height: 107%;">Levei um susto quando vi
que se tratava de um antigo aluno da academia de polícia. Ele não havia passado
nos testes para fazer parte da corporação, o susto foi maior ainda, devido às
circunstâncias. Conversei com ele e disse para sair daquele local, mas ele
estava tão irritado que...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 22pt; line-height: 107%;"><b><span style="color: #cc0000;">LARA ALVES</span></b><o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 22pt; line-height: 107%;">Começou a gritar comigo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 22pt; line-height: 107%;">— Você pode até ser um
policial, mas não controla a minha vida!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 22pt; line-height: 107%;">O jovem correu, mas
consegui capturá-lo. Peguei meu celular e liguei para meus companheiros, que
vieram e me ajudaram a controlar a situação.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 22pt; line-height: 107%;">Quando fui à delegacia,
recebi uma quantia de R$3.000,00 pelo meu serviço! Fiquei muito feliz naquele
dia, finalmente pude comprar coisas novas e pagar todas as minhas contas. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 22pt; line-height: 107%;">Economizei a quantia que
sobrou, e nos próximos dias trabalhei ainda mais e ganhei mais dinheiro. O meu
salário tinha aumentado devido às pessoas que falaram muito bem do meu
trabalho. Finalmente não estava tão pobre!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 22pt; line-height: 107%;">Acabou que, no final tudo
deu certo. A moça recuperou seu cachorro, os assaltantes foram presos e eu ganhei
dinheiro o suficiente para sair daquela pobreza.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 22pt; line-height: 107%;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: #cc0000; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 22pt; line-height: 107%;">Autoras:</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: #cc0000; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 22pt; line-height: 107%;">Lara Alves, Sofia Borges, Lara Arantes e Lívia Holier</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: #cc0000; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 22pt; line-height: 107%;">Coordenação e revisão do texto: Maria Mineira</span></p><br /><p></p>Carlos A. Lopeshttp://www.blogger.com/profile/05881754756325061589noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7820075820885671645.post-51879414500975081812020-12-02T20:42:00.005-03:002020-12-02T20:42:29.262-03:00NA SOLIDÃO DA RUA<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifZ7mFMn0q_kVZHs8ObBdc46wk6lUQ1GmAQoq0zfZqPNfmzlcmkGZBklkkuPeG4if2s9C9qNPrM8xfZrbvVNUoaFyqSNznNI3-IAAGKZNrgSEMYcTzIyLuvegXNMyC8HohtOG5_XpBBNkU/s6000/DSC01400.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3376" data-original-width="6000" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifZ7mFMn0q_kVZHs8ObBdc46wk6lUQ1GmAQoq0zfZqPNfmzlcmkGZBklkkuPeG4if2s9C9qNPrM8xfZrbvVNUoaFyqSNznNI3-IAAGKZNrgSEMYcTzIyLuvegXNMyC8HohtOG5_XpBBNkU/s320/DSC01400.JPG" width="320" /></a></div><p></p><p><br /></p><p class="x_ydpca8b06aMsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 17.12px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">- Alberto Vasconcelos</span></p><p class="x_ydpca8b06aMsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 17.12px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Na rua deserta entre ilhas de luz e sombras os variados sons pareciam tomar corpo. O lamentoso uivo do cão solitário confinado entre muros altos e portões de ferro batido foi trazido pela brisa morna e misturado ao canto intermitente dos quero-queros. Passos apressados de alguém, ressoando cadenciado nas pedras do calçamento, desviou a atenção da ratazana parada na borda do latão de lixo e esse lapso de tempo foi bastante para ser apanhada pela coruja branca de voo macio e silencioso. Vultos alongados, difusos, pareciam perscrutar nas esquinas como se temessem ser identificados, ou sequer vistos, por esse alguém que com passos apressados parecia marcar, como o tic-tac de relógio, o passar dos segundos que se derramavam pelo tempo sem volta e sem destino definido aonde ir. Em raras janelas, cerradas, luzes bruxuleantes entre as frestas insinuavam velas votivas aos pés de oratórios para que anjos da guarda se mantivessem vigilantes contra todo o mal dos demônios noturnos que rondam cabeças nem sempre inocentes. As badaladas do carrilhão anunciaram a hora dos exus, guardiões das ruas, mensageiros dos orixás, despertando no recôndito da memória o som dos atabaques lá para os lados da igreja do Monte. No silêncio sepulcral do quarto, a réstia de luz do poste refletida no espelho do guarda-roupas, dissipava as sombras dos poucos móveis, das cortinas do dossel da cama antiga sem serventia nessa noite de insônia. Sobre a mesa de cabeceira o diário amigo, antigo repositório de ideias, projetos, sonhos desfeitos e amores irrealizados narrados com detalhes, ou simples menções naquelas muitas páginas contidas entre as capas de couro e a fechadura de cobre esverdeado pelo azinhavre.</span></p><p class="x_ydpca8b06ayiv8256636340msonormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 12.85pt; margin: 0cm 0cm 8pt;">- José Bueno Lima<span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: #1d2228; font-family: "New serif", serif; font-size: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"></span></p><p class="x_ydpca8b06ayiv8256636340gmail-msonospacing" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: #1d2228; font: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Venceslau chegara a menos de dez minuto em seu apartamento, à noite, quando o relógio soava onze vezes. A viuvez de pouco meses de Josefina, e o cenário da rua de sua residência, sempre ao adentrar naquele ambiente, o deixava com o estado de espírito profundamente abalado. Vinha do clube que frequentava o dia inteiro e de modo assíduo, o Cristal Palace de Ribeira de Montemor, sua cidade, pequena, mas tradicional reduto de imigrantes ingleses, no Brasil. O clube, como não podia deixar de ser, mantinha os costumes do longínquo país. Jogara diversas partidas de gamão, e como sempre, ganhou a maioria delas. Entre uma notícia e outra na conversa com os parceiros, ouviu uma que lhe deixou intrigado e embasbacado. Ficou sabendo do acontecido naquele dia na residência de Ernest, amigo de infância, em que sua esposa Diana, fora assassinada, a tiros. De há muito era do conhecimento de Venceslau a situação não pacífica da vida do casal. Ernest tinha a fama de mulherengo, além de ser um bebedor contumaz de whisky. Era voz corrente, em Ribeira de Montemor, que Ernest mantinha uma amante, e dela usufruía desde muito tempo. Diana estava prestes a pedir o divórcio, só não o fazendo, por interferência da filha Dorothy, que tinha certeza de apaziguar o casal. Todos esses episódios deixaram Venceslau mais abalado ainda, já que nutria forte simpatia pelos amigos. Ao se encaminhar para o leito, não deixava de pensar em Ernest, em Diana a quem sentia imensa simpatia. Antes de pegar no sono, havia resolvido de, logo ao se levantar, na manhã seguinte, ir ao encontro de Ernest, a fim de oferecer ao amigo, a ajuda de que ele, porventura, viesse necessitar.</span></p><p class="x_ydpca8b06ayiv8256636340gmail-msonospacing" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: #1d2228; font: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"> </span></p><p class="x_ydpca8b06aMsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 17.12px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">- Cléa Magnani</span></p><table border="0" cellpadding="0" class="x_ydpca8b06aMsoNormalTable" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; font-stretch: inherit; font-variant-east-asian: inherit; font-variant-numeric: inherit; line-height: inherit;"><tbody style="-webkit-font-smoothing: antialiased;"><tr style="-webkit-font-smoothing: antialiased;"><td style="-webkit-font-smoothing: antialiased; padding: 0cm;"><p class="x_ydpca8b06aMsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: #1d2228; font-family: New, serif; font-size: 12pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Aquela rua, na qual construíra seu lar com Josefina, já não era mais a mesma... As casas todas vizinhas de parede, permitiam que as discussões fossem ouvidas pelos vizinhos. E nem sempre as “brigas de marido e mulher” ficavam sem que “alguém metesse a colher” como recomendava o velho adágio. Mesmo que disfarçassem, as notícias corriam e ecoavam pelos paralelepípedos da velha rua, como a água da chuva, e num instante, ao menor encontro de vizinhas na feira das quintas feiras na rua de baixo, a notícia corria; e se algum protagonista do “bate boca” noturno passasse por ali, a conversa tomava outro rumo, todos se cumprimentavam efusivamente, com a maior das “inocências, ” porém, era só a “vítima” do assunto virar a esquina, e voltava a ser o tema do dia. E desde que Josefina morrera, assim de um dia para outro, todos mantinham vigilância acirrada sobre o comportamento de Venceslau. Uns julgavam haver ela morrido de tristeza. Outros, julgavam que alguma grave doença a tivesse acometido. E havia uma pessoa que desconfiava da inocência de Venceslau: Diana, a esposa de Ernest. E esse era mais um dos motivos da discórdia do casal, pois Ernest jamais colocaria em jogo a confiança que tinha a respeito de Venceslau.</span><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: #1d2228; font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"></span></p><p class="x_ydpca8b06aMsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: #1d2228; font-family: New, serif; font-size: 12pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Mas agora, com o assassinato de Diana, mesmo aparentando a maior das surpresas, Venceslau voltava a ser visto não com bons olhos por certas pessoas mais íntimas do casal agora desfeito brutalmente. E os falatórios novamente escorreriam rua abaixo, carregando dúvidas. Como teria morrido Josefina? Quem teria assassinado Diana?</span><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: #1d2228; font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"></span></p></td></tr></tbody></table><p class="x_ydpca8b06aMsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 17.12px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><br />- Gabriel Vit</span></p><p class="x_ydpca8b06ayiv8169001287msonormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 12.65pt; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: #1d2228; font: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Muito se ouvia falar dos casais, das mortes, mas da recém órfã ninguém se lembrava. Dorothy sempre foi um pouco solitária, em sua casa a única função que ela exercia era a de manter a família unida, mesmo que houvesse uma enorme ruptura ali. Diana não era uma pessoa ruim, tinha bons modos, educação e bons pensamentos também, mas como mãe ela já não ia tão bem como antes. Nos primeiros anos de vida de Dorothy, Diana sempre era vista feliz e se gabando da linda filha que tinha gerado ao lado de Ernest, mas na medida em que a relação se esfriou entre o casal, Diana perdeu o brilho no olhar e começou a ver na filha um pretexto para que o casal não se separasse, desde então o amor de mãe e filha foi perdendo espaço para a obsessão que Diana tinha por Ernest, o amor não havia acabado, mas estava abafado demais para se destacar.</span><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: #1d2228; font-family: inherit; font-size: 11pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"></span></p><p class="x_ydpca8b06ayiv8169001287msonormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 12.65pt; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: #1d2228; font: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Em segredo, Dorothy chorava em seu quarto e escrevia em seu pequeno diário de bolso coisas sobre a vida de sua família. Um de seus escritos dizia que ela amava seus pais, mas que não gostava mais deles no momento e aquilo tinha que acabar, não importava como acabaria. Era um pensamento preocupante vide a idade que a menina tinha. A vizinhança dizia muita coisa e ouvia muita coisa também, mas o que acontecia de fato no interior do lar daquela família, somente os três seriam capazes de contar, no entanto, Diana fora assassinada, Ernest não tinha mais credibilidade e Dorothy era vista apenas como uma garota desprovida de amor e atenção. Eram muitos pensamentos e pouquíssimas certezas.</span></p><p class="x_ydpca8b06aMsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 17.12px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">- Alberto Vasconcelos</span></p><p class="x_ydpca8b06aMsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 17.12px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Outra vez na velha casa, insone e sentado na borda da cama com o rosto apoiado nas duas mãos, Venceslau em silêncio rememorava cada momento da sua vida. As imagens projetadas em sua retina alimentavam seu desejo de vingança. Vinte anos na penitenciária não poderiam ficar impunes. Depois de todo esse tempo ele estava de volta à antiga casa para pôr em prática a vingança arquitetada durante a reclusão. No júri popular a que fora submetido apesar da brilhante defesa do Dr. Smith, o corpo de jurados considerou que ele era o culpado por todas aquelas mortes. Seus antigos vizinhos, arrolados como testemunhas da promotoria deram o toque de terror aos seus hábitos mais comuns, todos acharam que tinha comportamentos diametralmente opostos, que era bipolar, em momentos gentil e cordato, um verdadeiro British lovely gentleman¹, noutros um monstro furioso capaz de bater em criancinhas de colo. Os dúbios laudos psicológicos não serviram para atenuar a ideia de que ele era um criminoso em potencial e, assim, sendo considerado sociopata, teve que cumprir toda a pena apesar dos reiterados apelos feitos por seu advogado para ter os direitos às benesses da lei das execuções penais. Mas agora ele estava de volta e todos, absolutamente todos, iriam experimentar a sua vingança, assim como já acontecera com a detestável solteirona Dorothy e sua dúzia de gatos vira-lata. Um por um, todos eles estariam mortos antes que a polícia tomasse conhecimento. Não haveria perdão para nenhum deles. Também ninguém precisava saber que ele enfim iria para sua querida Inglaterra com o diário, cujas anotações poderiam condená-lo à morte. A rua estava deserta quando chegou e da mesma forma estaria quando saísse. Seu tempo de permanência naquela casa empoeirada era apenas para resgatar as suas outras armas favoritas guardadas desde sempre por trás do retábulo do oratório de São Jorge, seu padroeiro anglicano.</span></p><div style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; border: 0px; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; font-stretch: inherit; font-variant-east-asian: inherit; font-variant-numeric: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 17.12px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">1 – Adorável cavalheiro britânico</span></div><div style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; border: 0px; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; font-stretch: inherit; font-variant-east-asian: inherit; font-variant-numeric: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 17.12px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><br /></span></div><div style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; border: 0px; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; font-stretch: inherit; font-variant-east-asian: inherit; font-variant-numeric: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 17.12px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><br /></span></div><div style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; border: 0px; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; font-stretch: inherit; font-variant-east-asian: inherit; font-variant-numeric: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 17.12px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Créditos:</span></div><div style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; border: 0px; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; font-stretch: inherit; font-variant-east-asian: inherit; font-variant-numeric: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 17.12px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><br /></span></div><div style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; border: 0px; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; font-stretch: inherit; font-variant-east-asian: inherit; font-variant-numeric: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 17.12px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Autores: Alberto Vasconcelos, Cléa Magnani, José Bueno Lima e Gabriel Vit.</span></div><div style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; border: 0px; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; font-stretch: inherit; font-variant-east-asian: inherit; font-variant-numeric: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 17.12px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><br /></span></div><div style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; border: 0px; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; font-stretch: inherit; font-variant-east-asian: inherit; font-variant-numeric: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 17.12px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Foto: Carlos A. Lopes</span></div><p><br /></p>Carlos A. Lopeshttp://www.blogger.com/profile/05881754756325061589noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7820075820885671645.post-54941067066285089862020-11-30T13:06:00.003-03:002020-11-30T13:06:17.333-03:00A CASA GRANDE AO LADO<p> </p><p class="xydp2c375d85yiv7793493884msonormal" style="background: white; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 11.2pt; text-align: justify;"><b><i><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #1d2228; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;">Gabriel
Vit <o:p></o:p></span></i></b></p>
<p class="xydp2c375d85yiv7793493884msonormal" style="background: white; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 11.2pt; text-align: justify;"><span style="color: #201f1e;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="xydp2c375d85yiv7793493884msonormal" style="background: white; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 11.2pt; text-align: justify;"><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #1d2228; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;">A
família Silva Santos era uma família simples, humilde, interiorana e formada
por três homens e duas mulheres. Os pais, Nilva e Benedito, tinham entre 50 e
60 anos, eram pessoas sistemáticas, não ficavam de conversa nem mesmo com os
filhos e não faziam outra coisa senão trabalhar. O filho mais velho, Alberto,
de 33 anos trabalhava de retireiro em outra fazenda na região oposta à que ele
morava, assim sendo, ele só vinha para casa aos finais de semana. Martina e
Veríssimo, os gêmeos de 22 anos de idade, não trabalhavam, ao passo que não
eram mais crianças, seus comportamentos também os impossibilitavam de serem
chamados de adultos. A garota se sentia como um peixe fora d'água por viver no
lugar que vivia, culpava seus pais por isso e passava a maior parte do tempo em
seu quarto fazendo sabe-se lá o quê. Já Veríssimo era diferente de todos, era
bastante simpático e sorridente, no entanto a família não via tais
características com bons olhos, já que sorria demais e nunca via problemas em
nada, para todos ali, Veríssimo era um tanto quanto louco, sem contar que dizia
conversar com um tal Mariano que morava na casa grande ao lado da sua. Uma casa
boa, mas que outrora, misteriosamente, fora abandonada.</span><span style="color: #201f1e;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="xydp2c375d85yiv7793493884msonormal" style="background: white; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 11.2pt; text-align: justify;"><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #1d2228; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;">Por
vezes Martina achara que seu irmão dizia aquilo só por implicância, para dizer
que tinha um amigo na casa grande e que ela não tinha. Porém, não se prolongou
por muito tempo, a família Silva Santos logo descobriria o que estava
acontecendo ali. Tudo começou a acontecer quando o Padre José Quitéria batera
na porta dos Silva Santos durante uma madrugada de terça para quarta-feira. (20
linhas)<o:p></o:p></span></p>
<p class="xydp2c375d85yiv7793493884msonormal" style="background: white; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 11.2pt; text-align: justify;"><span style="color: #201f1e;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="xydp2c375d85yiv7793493884msonormal" style="background: white; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 11.2pt; text-align: justify;"><b><i><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #1d2228; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;">Alberto
Vasconcelos<o:p></o:p></span></i></b></p>
<p class="xydp2c375d85yiv7793493884msonormal" style="background: white; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 11.2pt; text-align: justify;"><span style="color: #201f1e;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="xydp2c375d85yiv7793493884msonormal" style="background: white; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 11.2pt; text-align: justify;"><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #1d2228; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;">As
batidas insistentes na porta da frente, inicialmente despertaram Nilva. Ao seu
lado, Benedito envolto na grossa manta de lã, gargarejava o sono dos justos.
Novas batidas. Nilva sentada na cama, viu pelo relógio de cabeceira que o sol
ainda demoraria algum tempo para tingir o céu com as cores do amanhecer. Chamou
o marido, alguém estava chamando e pelo adiantado da hora, não podia ser boa
coisa. Sonolento e de mal humor, Benedito viu pela fresta da janela que era o
padre. A notícia de que o filho fora levado para a clínica, desmaiado, foi dita
sem meias palavras. Havia suspeita de over dose de entorpecente e eles
precisavam ir imediatamente para autorizar os procedimentos médicos necessários
para contornar a situação. Mas a história contada pelo padre, não se encaixava
dentro da lógica. Por qual razão, Mariano o “amigo” de Veríssimo tinha
procurado ajuda na casa paroquial? Qual a ligação do padre com aquele rapaz
estranho, raramente visto entrando ou saindo do casarão. Veríssimo falava pouco
sobre o amigo, mas era notória a influência que esse exercia sobre o rapaz cujo
comportamento era motivo de preocupação para os pais. Parecia que tinha vindo
ao mundo em férias. Não demonstrava interesse por nada como se procurasse
retardar ao máximo as responsabilidades da maturidade. Agora mais essa suspeita
de envolvimento com drogas. Sobre a maca, ligado ao soro e com intensa
sudorese, Veríssimo não esboçou nenhuma reação quando Nilva chamou pelo seu
nome. Benedito pegou no braço do filho e, pela frieza das suas mãos brancas
como cera veio-lhe a certeza de que o filho estava morto. (19 linhas) <o:p></o:p></span></p>
<p class="xydp2c375d85yiv7793493884msonormal" style="background: white; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 11.2pt; text-align: justify;"><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #1d2228; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;"> </span><span style="color: #201f1e;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="xydp2c375d85yiv7793493884msonormal" style="background: white; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 11.2pt; text-align: justify;"><b><i><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #1d2228; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;">José
Bueno Lima<o:p></o:p></span></i></b></p>
<p class="xydp2c375d85yiv7793493884msonormal" style="background: white; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 11.2pt; text-align: justify;"><span style="color: #201f1e;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="xydp2c375d85yiv7793493884msonormal" style="background: white; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 11.2pt; text-align: justify;"><span style="background: white; border: none windowtext 1.0pt; color: #1d2228; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;">Morto? Que nada! Aconteceu que Veríssimo, num daqueles
encontros misteriosos com Mariano, na casa grande, tarde-noite daquele dia,
ficou surpreso com o bar existente na sala. Nunca havia ingerido bebida
alcóolica em sua vida. Pegou uma garrafa do licor 43, espanhol, serviu-se num
cálice e bebeu, docinho, gostou, bebeu outra dose, depois outra, até ficar
completamente embriagado. Devido aos remédios que tomava, a coisa complicou.
Mariano fez de tudo para reanimá-lo, até que, desesperado, chamou o SAMU.
Então, Veríssimo foi levado para o hospital, e Mariano não querendo comunicar
aos pais do amigo, dirigiu-se até a igreja, e contou para o padre José
Quitéria, amigo da família. Portanto, esse era o estado em que Nilva e Benedito
encontraram o filho, pós uma bebedeira, já sob os cuidados médicos, e que a
ignorância deles dava o filho como morto. Veríssimo, na realidade, apesar de
demonstrar ser louco, como diziam, sofria de dislexia, isto é, não conseguia
ler, escrever, e era limítrofe de autismo, como foi comprovado em exames feitos
por psiquiatra, psicólogos e profissionais de ensino. Um aspecto que todos de
casa se surpreendiam com ele, era sua facilidade em relação à música. Ele
possuía ouvido absoluto, isto é, habilidade em identificar uma nota musical, o
que lhe permitia, tocar uma música com grande facilidade ao piano, por exemplo.
Outro aspecto interessante dele, como já foi dito, era sua simpatia e
comportamento perante as pessoas, usando um palavreado muito bom,
principalmente com a ala feminina, cativando a todos. Não era uma figura
detestável, como a família o pintava. (19 linhas)<o:p></o:p></span></p>
<p class="xydp2c375d85yiv7793493884msonormal" style="background: white; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 11.2pt; text-align: justify;"><span style="color: #201f1e;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="xydp2c375d85yiv7793493884msonormal" style="background: white; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 11.2pt; text-align: justify;"><b><i><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #1d2228; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;">Cléa
Magnani<o:p></o:p></span></i></b></p>
<p class="xydp2c375d85yiv7793493884msonormal" style="background: white; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 11.2pt; text-align: justify;"><span style="color: #201f1e;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="xydp2c375d85yiv1666594766msonormal" style="background: white; line-height: 12.65pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #1d2228; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;">Tanto ele, como Martina
demonstravam sentirem-se, “peixes fora d’água”, e eram considerados
“estranhos”, por todos. Martina, se fechava no quarto, e enquanto dormia,
seu espírito vagava por esferas onde ela se sentia feliz. Já Veríssimo, mais
ligado às coisas da terra, ria muito, e com isso aparentava simpatia por
todos, embora, seu espírito inculto revelasse suas dificuldades, através da
dislexia, e autismo, mas quando Veríssimo entrou pela primeira vez naquela casa
grande e praticamente abandonada, teve a nítida impressão de estar na casa da
fazenda onde vivera no século XIX. Ali ele era um escravo, filho de uma
escrava, hoje sua mãe Nilva, e do Feitor hoje o Padre José Quitéria. O dono da
enorme fazenda era o cruel Sinhô Benedito, hoje seu pai. Sinhazinha, hoje sua
irmã Martina, era casada com um caixeiro viajante, hoje seu irmão Alberto. E
Mariano, a figura misteriosa da Casa Grande ao Lado, era também escravo.</span><span style="color: #201f1e;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="xydp2c375d85yiv1666594766msonormal" style="background: white; line-height: 12.65pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #1d2228; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;">Após receber violento castigo
aplicado pelo feitor, Veríssimo jurou para Mariano que planejava fugir da
fazenda. Na noite da primeira chuva da Primavera, Veríssimo acordou Mariano
para que os dois fugissem juntos, Mariano, com medo, não quis acompanhá-lo na
fuga. Quando o Sinhô Benedito soube da fuga, interrogou Mariano, que acabou
contando que sabia da fuga de Veríssimo, mas que não o acompanhou. Foi o
bastante para que o Sinhô ordenasse ao Feitor, o maior dos castigos a Mariano,
que acabou morrendo no tronco esvaindo-se em sangue, depois da tortura, não
antes de jurar que perseguiria Veríssimo até vê-lo destruído. No dia seguinte o
Feitor encontrou Veríssimo e o matou com um tiro, para não ver o filho sucumbir
no tronco. Mariano cumpriu a promessa. Obsediar Veríssimo. E é o que faz. (21
linhas)<o:p></o:p></span></p>
<p class="xydp2c375d85yiv1666594766msonormal" style="background: white; line-height: 12.65pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #1d2228; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="xydp2c375d85yiv1666594766msonormal" style="background: white; line-height: 12.65pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #201f1e;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="xydp2c375d85yiv4428552196msonormal" style="background: white; margin: 0cm; text-align: justify;"><b><i><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #1d2228; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;">Gabriel Vit<o:p></o:p></span></i></b></p>
<p class="xydp2c375d85yiv4428552196msonormal" style="background: white; margin: 0cm; text-align: justify;"><b><i><span style="color: #201f1e;"><o:p> </o:p></span></i></b></p>
<p class="xydp2c375d85msonormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #222222; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;">Depois do ocorrido a família voltou os olhares para dentro de sua
casa, talvez houvesse ali um pouco de vergonha ou julgamento, eles se olhavam
com olhos que compreendiam as particularidades de cada um. O momento não era
uma tentativa de mudança, soava como um pedido de desculpas. A vida não mudou
rapidamente, Veríssimo aos poucos foi se desenvolvendo na música, começou a
participar dos encontros do coral da igreja e tirou Martina do quarto, ela se
revelara uma ótima cantora. Linda de voz e aparência, mas triste de expressão,
Martina não se encaixava nem fazendo o que achava ter nascido para fazer.</span><span style="color: #201f1e;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="xydp2c375d85msonormal" style="background: white; line-height: 12.65pt; text-align: justify;"><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #222222; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;">Num domingo enquanto iam para a
igreja Benedito e Nilva se encontraram com Mariano, era o primeiro contato entre
eles. Para surpresa do casal, Mariano não era jovem, deveria ter por volta de
54 anos de idade, tinha boa aparência, se vestia e andava com toda a pompa, mas
classe nenhuma esconderia a maldade que existia naquele homem. Aquele momento
fora o suficiente para que o casal decidisse ali mesmo que a casa grande não
era o tipo certo de vizinhança que eles precisavam. Após a missa
informaram da mudança. A família se mudaria para a região que Alberto
trabalhava. Martina não reclamou. Veríssimo não disse nada, mas ficara sentido,
agora que ele estava se encaixando, Mariano era um de seus pensamentos
frequentes, para Veríssimo, deixar o “amigo” sozinho era a maior prova de
deslealdade. Na alvorada de segunda feira o gêmeo de Martina foi até Mariano na
esperança de poder pelo menos se despedir. Veríssimo foi de peito aberto ao
encontro do vizinho e não voltou mais para casa. Se morreu ou se fugiu, ninguém
nunca soube dizer. Estas pessoas se encontrariam novamente, mas em outras vidas
e com outros nomes. Assim como fora no passado, é no presente e será no futuro,
até que cada um conclua sua missão no mundo. (20 linhas)</span><span style="color: #201f1e;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="xydp2c375d85yiv4428552196msonormal" style="background: white; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #1d2228; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;">Glossário:</span><span style="color: #201f1e;"><o:p></o:p></span></p><p class="xydp2c375d85yiv4428552196msonormal" style="background: white; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #1d2228; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;"><br /></span></p>
<p class="xydp2c375d85yiv4428552196msonormal" style="background: white; line-height: 12.65pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #1d2228; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;">Retireiro: ordenhador;
tirador de leite</span><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #202124; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;">; parceiro pecuário.</span><span style="color: #201f1e;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="xydp2c375d85yiv4428552196msonormal" style="background: white; line-height: 12.65pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #1d2228; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;">Sistemático: pessoa de
princípios rígidos, previsível, imutável.</span><span style="color: #201f1e;"><o:p></o:p></span></p><p class="xydp2c375d85yiv4428552196msonormal" style="background: white; line-height: 12.65pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #1d2228; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;"><br /></span></p><p class="xydp2c375d85yiv4428552196msonormal" style="background: white; line-height: 12.65pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #1d2228; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;">Autores: José Bueno Lima, Cléa Magnani, Grabriel Vit e Alberto Vasconcelos</span></p>Carlos A. Lopeshttp://www.blogger.com/profile/05881754756325061589noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7820075820885671645.post-50236404876856440712020-11-26T23:47:00.006-03:002020-11-27T06:52:23.212-03:00ESCOLHAS<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWfquJUHrxxwKmLxMASyKHWwbmKARCL-Qh04TcVFrlgmtDp4lYIc8972M0jXTjGb8bNskfz5ZfTx9SZVFB5S0g9HVN5CnODoBpVAp_wR7JcrMTPxFAOWzLbhZYwb_ygfWOCCsBeS84Pwkn/s720/f253f631-cc41-46c2-87c1-0e613ccc8f80.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="516" data-original-width="720" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWfquJUHrxxwKmLxMASyKHWwbmKARCL-Qh04TcVFrlgmtDp4lYIc8972M0jXTjGb8bNskfz5ZfTx9SZVFB5S0g9HVN5CnODoBpVAp_wR7JcrMTPxFAOWzLbhZYwb_ygfWOCCsBeS84Pwkn/s320/f253f631-cc41-46c2-87c1-0e613ccc8f80.jpeg" width="320" /></a></div><br /> <p></p><p><br /></p><p></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><b><i><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt;">Helena Souza</span></i></b></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt;">Quando
criança,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>a vida foi bem difícil e
Vitória sabia disso, pois viveu na pele as dificuldades de ser pobre, morar na
zona rural, estudar na cidade, ter que acordar as 4 da manhã e caminhar até o
ponto de ônibus. Ajudar em casa após a escola e ainda cuidar de dois irmãos
mais novos . Se estava frio ou quente demais não importava, as tarefas e a
caminhada eram feitas. A labuta era árdua, mas ela não desistiu. Sua maior
inspiração eram os pais. Esses sim, haviam sofrido mais do que ela. Trabalho
pesado na roça, vidinha difícil de não ter o que comer em alguns dias, mas eles
venceram! <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt;">Conseguiram criar
os cinco filhos, comprar uma casinha na cidade, aposentadoria no bolso. Ela
sabia que uma hora a vida acalma. Depois de um dia longo e cheio de notícias
ruins, outras nem tanto... "As pessoas não sofrem a vida inteira", <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>pensava a mulher, que um dia havia passado por
todos esses revezes. A única coisa que desejava era saber a que horas seria
isso. Quando a vida e os problemas lhe dariam uma trégua, qual dia a calmaria
chegaria. Ela carregava no nome tudo o que<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>queria<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>conseguir na vida . <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt;">Estava tentando:
faculdade, trabalho, noites de estudo. De uma coisa estava certa. Nada até hoje
tinha sido fácil de conseguir então ela continuava lutando... Naquela noite,
ocasionalmente, estava feliz. As atividades na faculdade estavam de vento em
popa, o namorado sempre atencioso e gentil foi buscá-la<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>na faculdade e eles estavam indo para casa.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><b><i><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt;">Gerson
de Carvalho Silva</span></i></b></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt;">Vitória
considerava os pais como vencedores, entretanto, só ter uma aposentadoria,
filhos formados e uma casa era o suficiente? Descobriu-se, aos poucos, muito
mais ambiciosa. Lucas, seu namorado, era despojado e nada ambicioso. Tinha
preocupações sociais, participava de ONGs de proteção animal e era totalmente
apaixonado por Vitória.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt;">Esse conflito de
visões de vida iria se acentuando com o tempo. A beleza da moça sempre chamou a
atenção, mas ela era indiferente a isso. As coisas foram se alterando aos
poucos e<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Lucas foi perdendo espaço no
coração e mente da moça.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt;">Formou-se em
direito e foi aprovada no exame da OAB. Propostas de emprego começaram a
surgir. Aceitou trabalhar num grande escritório de advocacia. Começaram assédios
profissionais e sexuais. Alguns, apenas flertes. Inteligente, administrava
muito bem sua vida.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt;">Foi designada para
fazer parte de um processo que envolvia uma empresa com grande número de
funcionários. Estava se segurando mantendo os empregos, era a única da cidade.
Estava em recuperação judicial e o escritório de Vitória pedia sua falência.
Centenas de empregos diretos e indiretos desapareceriam.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt;">Ao saber, Lucas foi tirar satisfações com
a namorada. Decepção total. A moça estava empolgada com a possibilidade
profissional.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><b><i><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt;">Alice Gomes</span></i></b></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt;">"De repente,
no meio do caminho, encontraram um cãozinho ganindo de dor. Imediatamente Lucas
se abaixara para socorrê-lo, sem perceber que interrompera o que ela dizia,
deixando-a falando sozinha". Ela falava, empolgada, de seus sonhos,
de realizações, de casamento, de filhos, de um futuro para os dois, mesmo à
custa de sacrifícios. Não se importava, desde que os dois estivessem juntos,
mas, bastou aparecer um cãozinho doente e pronto. Fora o suficiente para
que ele se esquecesse de tudo. Nem sequer percebera que ela se calara durante o
restante da noite. Não fora o cãozinho, mas a não importância dada aos
seus planos. Nunca mais tocara no assunto com ele.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Recordando aquela noite, já longínqua,
percebeu que ali estava a raiz dos conflitos entre os dois. Nem sabia por qual
motivo ainda insistia naquela relação, já tão desgastada. Chegou à conclusão de
que, no fundo, Lucas nunca se importou verdadeiramente com ela. Agora, estava
preocupado com empregados desconhecidos sendo demitidos e ainda cobrava dela a responsabilidade!
Foi a gota que faltava para o copo, já pela boca. E assim, decidida, curta e
grossa, pediu que ele se retirasse, pois estava atrasada para uma importante
reunião. E que fizesse o favor de nunca mais procurá-la. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt;">Lucas, atônito,
ainda quis argumentar, mas o som dos saltos nos pés apressados que se afastavam
tiniu em seus ouvidos, selando o final doloroso do amor entre os dois. Tudo
terminado. Já a conhecia o suficiente para não mais insistir. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt;">Anos depois, com a
vida feita, sucesso absoluto na carreira, casada e sem filhos, com um também
advogado, bem mais velho e proprietário de várias empresas, adquiridas em
leilões de falências, Vitória preparava-se para intermediar uma grande
negociação internacional, ao lado do marido. No saguão do aeroporto reconheceu,
num homem de rosto jovial e trajes despojados, ao lado de uma bela mulher e uma
linda menininha, o mesmo olhar distraído e ao mesmo tempo curioso, de seu ex-amor.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><b><i><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt;">Maria Mineira</span></i></b></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt;">“Meio desnorteada
sem saber se ia até onde ele estava para cumprimentá-lo ou se ficava quieta
esperando o horário do seu voo. Desistiu, pois não saberia nem o que dizer a
Lucas, que estava muito bem<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>acompanhado,
por sinal. Viu a mulher se afastar com a criança rumo ao toilette<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>e percebeu que ele caminhava em sua direção. Estava
trêmula e se viu perguntando a si mesma, onde estava a sua costumeira
segurança. <span style="background: white; color: #292929; letter-spacing: -0.05pt;">Como
saber que o reencontraria ali?<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E agora? <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ele estava vindo. Como disfarçar para que ele
não percebesse que ela<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>não o havia superado.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="background: white; color: #292929; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; letter-spacing: -0.05pt;">O que ele diria se soubesse que ela
andava sonhando com ele ultimamente?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="background: white; color: #292929; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; letter-spacing: -0.05pt;">— Oi Vitória…que coincidência nos
encontrarmos no aeroporto! Nem em um milhão de anos achei que iria te ver aqui.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="background: white; color: #292929; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; letter-spacing: -0.05pt;">— Sim! Incrível! E como você está,
Lucas?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="background: white; color: #292929; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; letter-spacing: -0.05pt;">— Bem, obrigado<i>! </i>Estou indo para
os EUA, mais especificamente Seattle</span><span style="background: white; color: #202122; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt;">. Priscila
fará uma cirurgia para transplante de<i> </i></span><strong><i><span style="background: white; color: #0d0d0d; font-size: 12pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></i></strong><em><span style="background: white; color: #0d0d0d; font-size: 12pt; font-style: normal;">medula
óssea, serei seu doador. </span></em><span style="background: white; color: #292929; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; letter-spacing: -0.05pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Passaremos o mês todo por lá...<em><span style="font-style: normal;"><o:p></o:p></span></em></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="background: white; color: #292929; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; letter-spacing: -0.05pt;">—Entendo, que bom que será o doador
para sua filhinha!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="background: white; color: #292929; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; letter-spacing: -0.05pt;">— Não, apesar de amá-la como se fosse
pai, sou apenas tio, ela é filha do meu irmão caçula, o Matheus, que já deve
estar chegando, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>estava resolvendo
detalhes da viagem e se atrasou. Eu vim na frente com minha cunhada e a Pri.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="background: white; color: #292929; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; letter-spacing: -0.05pt;">Vitória sorriu<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>sem conseguir disfarçar certo contentamento.
Lucas </span><span style="color: #3c3c3c; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt;">contou-lhe<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>que morava em
Manaus coordenava uma ONG, cujo trabalho era<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>capacitar lideranças indígenas em relação a seus direitos. Também
cuidava de órgão de preservação da fauna e flora local. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Confessou que adorou estar esses últimos anos <span style="background: white;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>tão conectado
com a natureza e aprendeu<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>que a vida é
muito mais simples do que se imagina e agora tinha<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>plena certeza que “felicidade não depende do
que se tem de material, feliz<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>é aquele
que menos precisa”. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="background: white; color: #3c3c3c; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt;">Ele quis saber da vida dela e Vitória<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>contou </span><span style="background: white; color: #292929; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; letter-spacing: -0.05pt;">do</span><span style="background: white; color: #303030; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt;"> mestrado na USP, logo depois<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>fez doutorado na escola de direito de </span><a href="https://www.estudarfora.org.br/harvard-university/"><span style="color: #303030; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; text-decoration: none; text-underline: none;">Harvard</span></a><span style="background: white; color: #303030; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt;">, fortalecendo seu currículo e também foi onde conheceu o
marido e </span><span style="background: white; color: #292929; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; letter-spacing: -0.05pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>que viajaria para se encontrar com o ele, uma
viagem de negócios.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #292929; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; letter-spacing: -0.05pt;">— Eu conheço o felizardo?<span style="background: white;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #292929; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; letter-spacing: -0.05pt;">— Não. Eu e ele nos conhecemos em </span><span style="background: white; color: #4d5156; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt;">Cambridge,</span><span style="color: #292929; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; letter-spacing: -0.05pt;"> bem depois que
rompemos.<span style="background: white;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="background: white; color: #292929; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; letter-spacing: -0.05pt;">— Espero que você esteja feliz e <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>que ele seja menos complicado que eu. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="background: white; color: #292929; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; letter-spacing: -0.05pt;">—Preciso ir, estão me esperando o voo
vai sair... <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="background: white; color: #292929; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; letter-spacing: -0.05pt;">— Espera...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="background: white; color: #292929; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; letter-spacing: -0.05pt;">— Fala!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="background: white; color: #292929; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; letter-spacing: -0.05pt;">— Nada, não!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="background: white; color: #292929; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; letter-spacing: -0.05pt;">—<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Posso te ligar?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="background: white; color: #292929; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; letter-spacing: -0.05pt;">Com o coração apertado Vitória o viu se
afastar rapidamente em direção ao portão de embarque, colocando no bolso o
cartão que lhe entregara.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: #292929; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; letter-spacing: -0.05pt;">Já acomodada em sua poltrona, na primeira classe do avião,
questionava a si mesma se teria valido a pena perder o amor de sua vida em
troca da realização profissional.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: #303030; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt;">Quando
visitava os pais, sentia que eram felizes só por estarem juntos e nunca
aceitaram grandes contribuições em dinheiro, pois sempre diziam que<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>o amor que os unia era o bastante.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><b><i><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt;">Helena Souza</span></i></b></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="background: white; color: #292929; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; letter-spacing: -0.05pt;">Porém, Vitória sabia o quanto tinha
sido difícil conquistar o que queria. Sua vida até então era do jeito que
sempre desejou e não estava disposta a desperdiçar tudo que havia conseguido
para retornar a uma vidinha medíocre ao lado de Lucas. Vida calma,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>tranquila e feliz tinham seus pais.....ela
almejava uma vida de viagens, negócios, dinheiro. Isso importava!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="background: white; color: #292929; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; letter-spacing: -0.05pt;">Tirou da bolsa o celular e olhou o
horário do seu próximo compromisso e sem dúvida nenhuma, pensou: "o amor
pode esperar."</span><span style="background: white; color: #303030; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: #292929; letter-spacing: -0.05pt; line-height: 107%;"><o:p><span style="font-family: Georgia, serif; font-size: 16pt;"> </span><span style="font-family: times;">Autores: Helena Souza, Alice Gomes, Maria Mineira e Gerson de Carvalho Silva</span></o:p></span></p><br /><p></p>Carlos A. Lopeshttp://www.blogger.com/profile/05881754756325061589noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7820075820885671645.post-77410320822473655712020-11-23T13:33:00.003-03:002020-11-23T13:33:15.784-03:00CANAVIAIS<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLV_HxBaedgNAkKu-Hq9st2pt82OVWaZSQagZEzFscVwkilS5r8ciNe4UvdDnJYKoWKY0zZ4P0Zllq4YFldcjGW0o0HPjOgwffKxgk9Rr-RsqBQj77opclcpNsH9xe9Fnum9hSWERFtzyI/s500/f383bac8-2686-4604-8d1a-4a8b930796df.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="500" data-original-width="335" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLV_HxBaedgNAkKu-Hq9st2pt82OVWaZSQagZEzFscVwkilS5r8ciNe4UvdDnJYKoWKY0zZ4P0Zllq4YFldcjGW0o0HPjOgwffKxgk9Rr-RsqBQj77opclcpNsH9xe9Fnum9hSWERFtzyI/s320/f383bac8-2686-4604-8d1a-4a8b930796df.jpeg" /></a></div><br /><p></p><p><br /></p><p></p><p class="MsoNormal" style="background: white; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><a name="_Hlk57030666"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Maria do Rosário Bessas</span></b></a></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Sebastião, ou Tião como era chamado</span></span><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-color-alt: windowtext; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">,</span></span><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> era um caboclo alto, forte, de dorso
torneado pelo manuseio da foice e do facão que empunhava desde menino no corte
da cana, labuta dura que aprendera com o pai desde cedo, na sofrida luta pela
sobrevivência. Corriam como ciganos pelos rincões do país afora, buscando
emprego nos canaviais em tempos de safra, quando a mão de obra aumentava nas
Usinas. Mal o dia começava a clarear, lá estavam nos pontos esperando os
caminhões que levavam as turmas, homens e mulheres dispostos a desafiar o sol e
os limites de seus corpos, desferindo golpes de foice nas varas cheias de gomos
que da noite para o dia, perdiam </span></span><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-color-alt: windowtext; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">sua</span></span><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> roupagem verde de hastes longas, que se não fossem queimadas pelo fogo,
cortavam a pele como navalhas. Sobravam talos enegrecidos, que eram cortados
sem piedade e amontoados no meio do caminho, para que outras turmas viessem
juntando em feixes e jogando nas carretas que passavam recolhendo a colheita do
dia. Era essa a rotina do Tião, que fechara os olhos para outros destinos e só
via os canaviais como o jeito de ganhar a vida. Era quase que feliz assim ...
Mas chegou um dia<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>que seu destino
começou a mudar. Seu pai se entregou ao cansaço da luta e depôs as armas de
ganhar o pão. Não abriu os olhos numa manhã. Sua mãe, nunca mais foi a mesma e
foi logo atrás, ao encontro dele. Seus dois irmãos, não quiseram seguir seu
rumo e caíram no mundo em busca de outro destino. Ficou sozinho no acampamento,
não queria mudar mais de cidade, gostara do lugar. Sabia que onde quer que
fosse, a solidão seria a mesma.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Mas naquela manhã, foi diferente. O
caminhão chegou com outra leva de canavieiros, e seu olhar curioso observava os
que chegavam, quase todos iguais. Corpos brutos e afoitos, cobertos de roupas
ásperas, chapéus para tapar o sol e a bendita foice nas mãos. Já ia se
afastando para se reunir com a sua turma, quando viu uma mulher se
desequilibrando ao descer do caminhão que os trazia. Instintivamente, correu em
sua direção para ajudá-la, perguntando se estava bem. Sentiu seu coração dar um
pulo quando os olhos negros dela caíram dentro dos seus, e seus lábios deram o
sorriso mais lindo que ele já vira na vida. Seus braços a envolveram de leve na
cintura, para que ela recuperasse o equilíbrio e mal ouviu o que ela disse ao
agradecer sua ajuda. Ficou olhando-a se afastar, imaginando que por detrás
daquela vestimenta rústica se escondia uma deusa, que num segundo apenas fora
capaz de despertar todos os sentidos que estavam adormecidos no seu corpo
embrutecido pela vida dura que até então tinha vivido. Jurou que a veria de
novo...</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Cel</span></b></span><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ê</span></b></span><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">dian Assis de Sousa</span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Ti</span></span><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ã</span></span><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">o recolheu sua foice e seus outros
apetrechos que deixara no ch</span></span><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ã</span></span><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">o
enquanto socorria a mo</span></span><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ç</span></span><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">a,
tomou o rumo do canavial para mais um dia da dura lida. Absorto em seus
pensamentos seguia imaginando como seria encontrar de novo aquele olhar
perturbador e aquele sorriso que o enfeiti</span></span><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ç</span></span><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">ou.
O dia lhe pareceu longo demais, pois estava muito ansioso para retornar ao
acampamento ao fim do dia e quem sabe ter a oportunidade de se aproximar
daquela mo</span></span><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ça</span></span><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-themecolor: text1;">. Enfim caiu a tarde e ao voltar </span></span><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">lá estava ela, do outro lado de seu
alojamento. Estava junto </span></span><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">as </span></span><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">outras mulheres e alguns dos canavieiros que ainda davam os últimos
retoques em suas tendas, as que os alojariam nos pr</span></span><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ó</span></span><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ximos dias, durante a colheita da cana. Elas prepararavam alguma comida
num fogão improvisado, ao ar livre e por isso mesmo a moça nem se deu conta da
chegada de Tião. Ainda trajava as mesmas vestes com as quais chegara naquela
manhã, tinha ares de cansaço, mas um cansaço que não lhe tirara aquela beleza e
o encanto que acordaram os sentimentos adormecidos nele.</span></span><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Tião tirou o chapéu e meneando a
cabeça, fez um gesto de cumprimento aos novos canavieieros, dizendo:<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">—Taaaaardeee... e foi então que ela,
sorrindo amavelmente, respondeu:<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">— Taaaardeee... moço! Como foi a
labuta hoje?<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">— Bem normal, moça. Por aqui nunca
muda nada, não, a vida da gente é uma peleja danada, é chegar de tarde numa
canseira braba, a conta da gente se lavar, encher o bucho com alguma coisinha e
bater na cama, pra levantar bem cedo no outro dia e começar tudo traveiz. E
ocê, daonde tá vindo, qualé a vossa graça?<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">— Jacinta, é um prazer te conhecer! E
a sua graça, qual é? Imagino que deve ser aqui da região?<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">— Sebastião, mas todo mundo me trata
por Tião. Sou aqui das redondezas, mas pareço cigano, difícil criar laço muito
tempo num lugar só — respondeu sem tirar os olhos dela, ainda extasiado pela
sua beleza e intrigado com aqueles traços finos e delicados tão escondidos sob
aqueles trajes rotos e pelo chapéu maltratado pelo uso. Até o jeito de falar de
Jacinta era diferente, jamais vira alguém assim naquele meio em que vivia.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">— Pois posso te contar como vim parar
aqui numa outra hora? Mas se prepara porque é uma história longa por demais.
Agora, se não se importa, vamos terminar de ajeitar nossas coisas por aqui,
pois amanhã já estaremos na lida, junto com vocês...</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Marina Alves</span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">No minúsculo quartinho de madeira do
alojamento o calor era sufocante. Pela única janelinha aberta, — a ver se
entrava uma aragenzinha noturna que fosse — Jacinta olhava o céu pingado de
estrelas. As três companheiras com quem dividia o miserável cubículo dormiam o
sono dos cansados. A rotina ali não era fácil. Em apenas um dia, tinha já visto
tudo que a esperava nas terras do multimilionário Dr. Afrânio Coimbra.
Trabalhadores vindos de longe, em sua maioria das terras nordestinas, onde a
seca castigava e tirava todas as condições dignas de vida. Eram homens e
mulheres que chegavam nos Paus de Arara, querendo uma oportunidade no corte da
cana. E a ocasião da colheita era a hora, já que a mão de obra era escassa em
terra de tanta cana.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Sem poder pegar no sono, Jacinta se
revirava no colchão duro de capim. Nem mesmo o peso do facão que manejara o dia
inteiro conseguia fazer com que o corpo entrasse em repouso, porque a cabeça
fervilhava. Tinha relutado na decisão de se misturar ao Pau de Arara, largar
tudo em Aracaju e vir parar nas terras dos Coimbras. Sabia da árdua missão que
a esperava. Sabia do sacrifício que teria que fazer para permanecer ali. Mas
arrependimento não havia. Mais pensava, mais se convencia: tudo valeria a pena!<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>No escuro, Jacinta não podia ver as mãos finas
e brancas, mas podia sentir o ardor causado pelo cabo rústico do facão. Nem as
luvas grossas de couro tinham impedido que os dedos se ferissem e algumas
pequenas bolhas vermelhas se formassem na base dos dedos. Doía! Mas no dia
seguinte tinha mais! Precisava estar forte para a empreitada. E pelo que tinha
visto, o capataz da turma não deixava por menos. Sempre com aqueles olhos
injetados, num vaivém sem fim pelos eitos, gritando que queria pressa, que ali
não era lugar de conversa, nem de moleza, que o corte tinha que render, que os
caminhões já estavam chegando para recolher as montanhas de cana. Um inferno!
Não dava nem pra tomar uma água, respirar, tomar um fôlego... Um inferno, sob o
sol de brasa e o suor descendo em bicas debaixo da roupa grossa e quente.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Um galo cantou ao longe. Jacinta se
virou para a parede, e de olhos fechados viu o rosto do marido, Tavinho, o
bravo sindicalista que tanta admiração lhe despertara. Seria tudo por ele. Não
pudera lhe enterrar o corpo perdido ali naquelas terras malditas, mas jurara se
vingar. Trazia a morte de Tavinho atravessada na garganta, não iria superá-la
até que fizesse o que tinha de fazer. Era por ele que tinha vindo. E tinha
encontrado tudo como esperava: a mesma desgraceira humana que já conhecia pelas
palavras de Tavinho. Por um momento visualizou o momento em que chegara. Nem
como descer de um Pau de Arara ela tinha a manha... Quase se estatelara ao
chão, não fosse a gentileza daquele rapaz moreno que tão prontamente a
socorrera. Tião... Era o nome dele. No escuro, um sorriso se desenhou no rosto
de Jacinta...</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">João Batista Stabile</span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Jacinta mal cochilou um pouco, já
teve que levantar para o trabalho. Depois de um café, já devidamente trajada
para mais uma jornada, se dirigiu ao eito. Ia pensando: tinha já uma ideia
sobre onde começar. Sabia que teria que ter muito cuidado, não demonstrar muito
interesse no assunto, ganhar a confiança daquela gente primeiro,
principalmente, a do Tião, rapaz sério de boa índole e conhecedor de toda a
região canavieira e seus problemas. Convivendo pouco tempo em meio aos
cortadores de cana, ela percebeu que aquela gente era simples, agradável, mas
muito desconfiada, uma palavra ou uma atitude precipitada poderia </span></span><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-themecolor: text1;">pôr</span></span><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: red; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> </span></span><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">tudo a perder.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Jacinta estava gostando muito da
companhia do Tião. Numa tarde, depois do trabalho estavam sentados no tronco de
uma arvore, olhando o sol se </span></span><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">pôr<span style="color: #212121;">. Ela com muito jeito, tocou no nome de Tavinho,
perguntou se o tinha conhecido. Tião deu uma resposta vaga e desconversou,
mudando de assunto.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Jacinta achou melhor
não insistir.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Passados alguns dias, num domingo à
noite eles tinham ido à Vila, estavam numa praça, tomando um sorvete, ela tocou
novamente no assunto, Tião, meio encabulado, disse:<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">— Óia, Jacinta quem é ocê? E o que cê
tá fazeno aqui?<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Pois, cortadora de cana
eu sei que ocê num é. Eu e todo mundo... E o capataz também já tá discunfiado.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Jacinta decidiu contar uma
meia-verdade:<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">— Você tem razão. Na verdade meu nome
é Sandra e sou Jornalista em Aracaju, vim para cá pensando em fazer uma matéria
denunciando a exploração e as más-condições de trabalho a que vocês estão
expostos.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Teve o cuidado de ocultar a segunda
parte da história, que era vingar a morte de Tavinho, seu marido. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">— Isso é pirigoso, os home do Dr.
Afrânio tão por todo lado. Veja o que aconteceu com o Tavinho...<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">— O que aconteceu com ele?<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">— Óia, Sandra eu vou te apresentá um
cumpanheiro lá do sindicato rural, ele conheceu bem o Tavinho e vai ti contá
tudo.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Assim, Sandra conheceu Dirceu, o
Presidente do Sindicato Rural, que contou com detalhes da chegada de Tavinho,
seu trabalho de conscientização dos trabalhadores, que incomodou o usineiro e,
por fim, sobre sua morte num baile na Vila, quando os capangas do Dr. Afrânio
simularam uma briga por causa de mulher e um deles o matou. Como sempre, com
falso testemunho e provas compradas o assassino ficou livre alegando legítima
defesa...</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Maria do Rosario Bessas</span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Sandra não dormiu mais a partir
daquele dia da morte de Tavinho. Seu marido era um sonhador incorrigível, com
vontade de mudar o mundo. Abriu mão de uma carreira jornalística, quando ao
fazer reportagens, começou a conviver com pessoas humildes e exploradas pelos
coronéis que tiravam a riqueza do chão, como o garimpo e a agricultura. Tavinho
estava sempre visitando fazendas ou plantações onde seres humanos eram
explorados e tratados às vezes como escravos. Misturava-se aos trabalhadores e
ia fornando grupos, abrindo cabeças, tirando a viseira dos olhos dos coitados e
fazendo com que eles lutassem pelos seus direitos. Sua última luta fora ali, na
Usina de Açúcar Coimbra, um vasto território colorido pelo verde dos canaviais,
com seu cheiro azedo do vinhoto, suas terras recortadas por aceiros onde as
águas roubadas dos rios irrigavam o solo pródigo. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O corpo de Tavinho fora encontrado no
meio das moitas de cana, retalhado a golpes de facão. Ninguém fora denunciado
ou preso, aquela história que inventaram sobre legítima defesa não convenceu
Jacinta. Ela sabia o marido que tinha. E com o tempo, ficou conhecendo também a
história do Coronel da Usina. Decidiu que já era hora de agir. E como se
tivesse pedido a Deus, a oportunidade caiu em suas mãos. Estava sozinha,
caminhando pelas ruas da Vila, quando uma figura feminina lhe chamou a atenção.
Aproximou-se e ficou surpresa ao ver uma mocinha, quase menina, segurando o
rosto com as mãos. Viu que ela chorava baixinho e se aproximou devagar,
oferecendo ajuda.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">— Obrigada, moca, mas ninguém pode me
ajudar. Eu só queria morrer, mas nem para isso tenho coragem.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">— Não fica assim, menina, você é tão
jovem. Tudo tem jeito nessa vida, me deixa te ajudar. Me conta o que te
machucou desse jeito...<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">E depois de certo tempo, com muito
jeito e paciência, Sandra conseguiu arrancar da menina o motivo de suas
lágrimas. Nada muito diferente do destino de muitas mocinhas do lugar. Soube
que o Coronel Afrânio se julgava dono de tudo que havia em suas terras,
inclusive das pessoas, principalmente as mulheres. Quando botava os olhos em
alguma do seu agrado, mandava que os seus capangas a buscassem para suas
ideias, não importava se pagasse o preço com dinheiro ou com o sangue de
vingança. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Sandra soube também que quando as
vítimas eram virgens, a cobiça era maior. Encurralada a família, oferecia
emprego, moradia, dinheiro e muitas vezes, quando achava que valiam a pena,
levava muitas daquelas mocinhas para trabalharem nas suas empresas na Capital.
Já era quase uma cultura do lugar, os pais venderem a virgindade das filhas —
por medo ou por vontade de melhorar de vida, numa oportunidade de sair daquela
miséria infernal. E a escolhida da vez era ela, a pobre Isabel...<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Num instante, uma ideia diabólica
passou pela cabeça da Jornalista. Era a Sandra de dentro despertando...
Descobriu que a menina deveria estar às dez horas da noite na praça da Vila,
sozinha, quando um jagunço viria buscá-la para levar até a casa do Coronel.
Ninguém deveria ver, ela iria sozinha. Sandra combinou que iria trocar de lugar
com ela. Pediu que a encontrasse em seu barraco, onde trocariam de roupas e ela
a esperaria ali, até voltar. E que além do dinheiro do Coronel, ela também lhe
daria mais, para que ela fosse embora daquele lugar, sem precisar se vender
para o maldito velho. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Tudo combinado, Sandra foi para casa
e arrumou algumas coisas. Uma última olhada no facão, que achou grande demais
para usar sob a roupa. Mas ainda tinha o seu bom canivete, arma pequena, mas
cortante como uma navalha. Na hora combinada, Isabel chegou trêmula e
assustada, mas se encostou no velho colchão, tremendo como um coelhinho. Sandra
vestiu suas roupas, ajeitou o cabelo igual, amarrou um lenço cobrindo boa parte
do rosto e se dirigiu para a praça no lugar combinado. Não esperou muito e o
velho caminhão logo parou ao seu lado. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">— A mocinha aí é a Isabel, fia do
Mané Doido?<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Sandra apenas concordou com a cabeça,
e sem mostrar muito o rosto, fingiu estar com medo e sem saber o que fazer.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">— Entra aí. O Coronel tá lhe
esperando... Mió fazer as coisa direito sinão seu pai paga o pato. Num vai se
arrependê. Muié nova, o patrão paga bem, cê vai vê.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Ela ficou em silêncio até chegar à
Casa Grande, onde o dono da Usina morava. Só ouviu latidos fortes de cães, mas
percebeu que deviam estar amarrados. Seguiu o jagunço até a porta, quando este
deu batidas fortes na madeira. A porta se abriu e ela vislumbrou o vulto
masculino do outro lado. Ouviu quando o velho dispensou o jagunço, dando
algumas ordens, inclusive a de levar dinheiro para o pai de Isabel. De repente,
um frio lhe percorreu a espinha. Enfiou a mão no bolso da saia para ver se tudo
estava lá. Então o Coronel voltou...<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Sabia, pelas conversas no canavial
que ele era chegado em bebidas. Que cada mulher que buscava tinha que servir na
cama, com o corpo entre os lençóis e as taças de vinho. Esperou para ver.
Quando ele se aproximou e tentou tirar o lenço, ela pediu bem baixinho que
diminuísse a luz. Ele pareceu ter gostado. Pegou uma garrafa sobre a mesa e lhe
ofereceu a bebida. Ela apenas meneou a cabeça. Sentiu seu corpo gelar e seu
estômago virar quando ele a pegou pela mão e lhe mostrou o caminho do quarto.
Viu quando ele sentou-se para tirar as botas e deixou a taça de vinho sobre um
móvel ao lado da cama.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Nervosa, disse
que precisava ir ao banheiro.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">— Fique à vontade, menina, não
precisa ter medo. Nada do que eu fizer com você vai ser diferente do que algum
moleque um dia vai lhe fazer também. A diferença</span></span><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: red; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> </span></span><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-themecolor: text1;">é</span></span><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: red; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">
</span></span><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">que se eu gostar,
você pode se dar bem.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Sandra não disse nada e foi ao cômodo
que ele apontou. Era um banheiro exótico, cheio de espelhos e uma banheira
enorme. Tirou seus apetrechos do bolso e escondeu numa gaveta do armário. No
bolso deixou apenas um vidro de remédio. Saiu depois de alguns minutos e já o
encontrou de roupão, sentado como um rei na poltrona que fazia de trono. Pediu
que ela tirasse a roupa. Seu corpo tremeu da cabeça aos pés, mas com voz doce e
delicada, disse que talvez bebesse uma taça de vinho, para se acalmar um pouco.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">— Mas é claro, coelhinha! Como não
pensei nisso antes? Espere só um minutinho que vou buscar a garrafa. E dizendo
isso, se dirigiu até a sala, enquanto Sandra apressada, despejou todo o líquido
do vidro na taça que ele deixara sobre a escrivaninha. Sentou-se numa cadeira
ao lado e de cabeça ainda baixa, viu quando ele se aproximou com uma taça cheia
na mão e lhe entregou; na outra mão, a garrafa para completar a própria taça. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">— Então, já que você resolveu me
acompanhar, vamos fazer um brinde a essa noite — ele disse. Espero que ela seja
inesquecível, se não para mim, pelo menos para você. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Dito isso, virou toda a bebida que
havia no copo. Sandra, simulando timidez, bebia aos pouquinhos, deixando o
tempo passar, enquanto ele a olhava com um jeito estranho, entre intrigado e
impaciente... Fez um gesto ordenando que ela tirasse a roupa. Ela se encolheu
na cadeira, o que fez com que ele avançasse em sua direção, com as mãos
estendidas como se fosse lhe arrancar as vestes. Mas, de repente, ele parou no
caminho, com o olhar assustado, quando perdeu o equilíbrio e rolou para o chão.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Sandra ficou uns minutos em silêncio
para ver se realmente não havia mais ninguém em casa, pois sabia que era assim
que ele gostava, quando tinha suas companhias. Rapidamente pôs seu plano em
ação. Foi até o banheiro e pegou o canivete que havia escondido junto com uma
pequena tesoura e outros pequenos objetos. Puxou o corpo desfalecido para perto
da cama, tirou a blusa e friamente começou a tirar as calças do homem.
Intimamente pensava consigo: “Não foram em vão os três anos que eu fiz
veterinária, antes de fazer jornalismo.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Castrar animais sempre foi o que mais gostei de fazer nas aulas.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Só que esse animal de hoje não me causa
nenhuma compaixão. Nada na vida é em vão. Você não vai acabar com a vida de
mais nenhuma mocinha, seu velho imundo. Esse será o preço por ter tirado a vida
do homem que eu amava”.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Quando o dia amanheceu, Sandra ainda
caminhava entre as fileiras do canavial que parecia não ter fim. Sob as roupas
de Isabel vestia uma camiseta nova e uma bela calça jeans, onde guardava
dinheiro e seus documentos no bolso. No final das fileiras do canavial, ficou
feliz quando viu que Tião a esperava no lugar onde havia pedido a Isabel que
lhe desse o recado. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Sandra achou estranho sentir seu
coração apertado ao pensar que Tião pudesse não atender ao seu pedido. Mas ali
estava ele! Ela sorriu o mesmo sorriso do primeiro dia, só que com um olhar
diferente: nele existia paz e uma esperança que antes não havia. Jurou esquecer
o passado, principalmente aquela noite. Deixara ao lado da cama do Coronel, uma
página onde escrevera: “Lembrança de uma de suas vítimas. Nossas cicatrizes
serão iguais”. Era um modo de preservar a vida de Isabel. Sorriu para Tião e
estendeu sua mão, oferecendo uma vida nova, em um novo lugar. Ele simplesmente
aceitou a sua mão estendida. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Saíram dos caminhos de cana e ganharam
a estrada de chão, no sentido oposto ao da Usina. O dia já vinha amanhecendo e
os primeiros raios de sol começavam a iluminar o céu. Um carro surgiu de
repente, envolto na poeira vermelha e ofereceu-lhes carona. Os dois aceitaram
agradecidos e sentaram-se em silêncio no banco de trás.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">De repente, o silêncio do dia, foi
quebrado pelo ronco inesperado de um pequeno avião. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">— Uai, o Coronel hoje está indo
embora mais cedo — disse Tião. Deve ter acontecido alguma coisa...<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O motorista do carro olhou para o avião
que sumia no céu e comentou:<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">— Já ouvi falar horrores do dono
dessa Usina. Dizem que compra tudo com o dinheiro que tem, a honra das
famílias, a virgindade das filhas, toma a terra dos coitados e ainda dá fim em
quem se nega a vender. Fico pensando se algum dia não aparece um cabra macho e
dá jeito nesse demônio. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">— Quem sabe — disse Sandra. Um dia
talvez apareça. Quem sabe... <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Tião e Sandra olhavam o brilho do
sol, que há muito não viam, surgindo no meio das árvores. Tião olhou o infinito
do azul se encontrando com o asfalto lá na frente e de repente percebeu que
havia um outro destino além dos canaviais esperando por eles no final da
estrada.<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-bookmark: _Hlk57030666;"><span style="color: #212121; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Autores: Marina Alves, João Batista Stabile, Maria do Rosario Bessas e Celêdian Assis de Sousa.</span></span></p><br /><p></p>Carlos A. Lopeshttp://www.blogger.com/profile/05881754756325061589noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7820075820885671645.post-61113338343229931692020-11-21T00:21:00.007-03:002020-11-21T15:23:28.379-03:00O MISTÉRIO DA PRAIA<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJRLIeOcGpqh1G_3B8D-f8bD0QGdVOsTdB-5qwaYZMzfoVQuDgAVoP_zTpBEUjHsS3opgaUnqnB_KERzUt4PvLhTthYBDDOuZYN3iRaYPaP0aK_epsZt3-sKA0eXVoSLF6wf1w3efGWMs2/s1280/3c6be806-4798-42fc-b4ef-2afc1a198cc7.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="1280" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJRLIeOcGpqh1G_3B8D-f8bD0QGdVOsTdB-5qwaYZMzfoVQuDgAVoP_zTpBEUjHsS3opgaUnqnB_KERzUt4PvLhTthYBDDOuZYN3iRaYPaP0aK_epsZt3-sKA0eXVoSLF6wf1w3efGWMs2/s320/3c6be806-4798-42fc-b4ef-2afc1a198cc7.jpeg" width="320" /></a></div><br /><p></p><p><br /></p><p>MARIA MINEIRA:</p><p> </p><p>Júlia morava com os pais em uma pequena vila perto de uma praia. O pai era pescador e a mãe tecia redes para vender. A menina era feliz vivendo naquele belo lugar, mas no entanto havia algo muito estranho. Sempre sonhava que estava numa ilha deserta sozinha e não avistava nenhum barco. À noite, tinha frio e, de dia, fome e sede, pois o único alimento que havia na ilha era o coco. Avistava muitos peixes, mas nunca conseguia pescar nenhum. O mais estranho é que a menina acordava todas as manhãs com muita fome e mais sede ainda. </p><p>Os dias passavam devagar naquela vila de pescadores. Após voltar da escola, Júlia procurava tesouros enterrados na areia, catava conchas e corria na praia até cair de cansaço. Sentava-se nas pedras com um livro e lia. Gostava de ouvir o vento soprar através dos coqueiros, cujas folhas ondulavam no azul do céu. Até que um dia, quando menos esperava...</p><p><br /></p><p>LARA ALVES</p><p><br /></p><p>As trevas de repente tomaram posse do lugar. Agora, o céu estava mais escuro, todos os tesouros que ela costumava procurar na areia tinham sumido e ela não conseguiu achar nenhum peixe. O vento que antes se fazia agradável e transmitia calma, agora era muito desagradável pois fazia o mesmo som de um grito baixinho, trazendo um sentimento de medo.</p><p>Júlia queria entender o que se passou por esse lugar antes de sua chegada, então, procurou por toda a vila qualquer outra pessoa. Por sorte, Júlia avistou um garoto que estava sentado debaixo de uma árvore, com a cabeça abaixada e um olhar triste. Ela hesitou em ir falar com o menino, seria ele o responsável por todas aquelas trevas? Mas ela queria respostas, então foi até ele e sentou-se ao seu lado, esperando que ele notasse sua presença, mas não, o garoto nem percebeu que Júlia estava perto, pois ele estava muito nervoso e parecia nunca parar de pensar. No que será que ele pensava? Então ela decide falar com ele.</p><p><br /></p><p>SOFIA BORGES</p><p><br /></p><p> — Ah...oi, quem é você? — Disse Júlia, suspeitando muito do menino.</p><p>O garoto arregalou os olhos e mostrou uma expressão de espanto.</p><p> — Quem é você? Como conseguiu vir aqui? — Disse o garoto, arregalando os olhos.</p><p>Júlia estava com um pé atrás, pois tinha medo de conversar com desconhecidos, mas dessa vez ela se arriscou. </p><p> — Calma, eu sou a Júlia, você tá bem? Me parece estar triste... — Disse Júlia, preocupada. </p><p>Ele também estava desconfiado de Júlia, pois não conhecia ela. </p><p> —Eu sempre tento estar bem, mas eu vim com os meus pais para essa praia e logo depois que chegamos eles desapareceram. — Disse o garoto bem triste.</p><p>Júlia foi ficando preocupada com o garoto, não sabia o nome dele, se ele estava com fome, sede.</p><p> — É... qual seu nome? — Disse Júlia muito curiosa.</p><p> — Meu nome é Henrique, sou de São Paulo, como eu disse, meus pais desaparecem, eu não faço ideia de onde eles possam estar...</p><p><br /></p><p>LARA ARANTES</p><p><br /></p><p>Por um segundo ela pensou em ajudá-lo a procurar seus pais, mas se conteve, devido ao fato de Henrique ainda ser um estranho.</p><p> — Mas onde vocês se viram pela última vez? — Perguntou Júlia</p><p>Ele apontou para um conjunto de árvores perto de uma casa, cuja ela nunca havia reparado. Era branca com janelas vermelhas e não muito grande.</p><p> — Essa casa...Nunca a vi aqui. Você não morava em São Paulo? — Curiosa, ela fez mais uma pergunta</p><p> — Sim, mas vim para cá com meus pais para passar as férias, e é nessa casa onde ficamos - Henrique respondeu</p><p>Júlia não viu nada de mais naquilo. Então ficou mais confiante em falar com o garoto.</p><p> — Olha, eu nem te conheço direito, mas você precisa de ajuda para encontrar seus pais. Minha casa não é muito longe daqui e então poderíamos falar com minha mãe e meu pai.</p><p>Henrique assentiu e se levantou para iniciarem a caminhada à casa de Júlia.</p><p>Depois de um tempo em que os dois andaram e conversaram bastante, chegaram em uma casa amarela e janelas azuis.</p><p>Júlia abriu a porta e chamou por seus pais; mas ninguém respondeu...</p><p><br /></p><p>MARIA MINEIRA</p><p><br /></p><p>Apavorada, a menina caminhava pela residência, mas não parecia ser a sua tão amada casinha. Só havia teias de aranha espalhadas pelas paredes, como se não fosse habitada há anos. Começou a se desesperar e desta vez foi acalmada por Henrique que disse:</p><p> — Vamos dar uma volta pela vila e perguntar. </p><p>Já era noite e ambos cansados e com fome, andavam pelas ruas desertas daquele lugar. Agora não era apenas Henrique que procurava pelos pais. Suas únicas companhias eram a Lua e alguns animais de vida noturna, revirando latas de lixo. </p><p><br /></p><p>Caminharam mais depressa, sem olhar para trás, pois ouviam passos. Começaram a correr e aqueles passos não paravam de persegui-los. Henrique sempre a ajudava ao longo da corrida. Olharam em volta e não havia nada além de sombras. Depois disso, Júlia se lembrava vagamente que foram levados por uma mulher de vestes brancas até uma cabana beira da praia. Foram acordados de manhã pela mulher que lhes trouxe chá quente e pão fresco com manteiga. </p><p> — Eu quero meus pais! – disse Júlia chorando!</p><p> — Fique calma, não se preocupe. Ela vai nos ajudar!</p><p>Após a procura em vão pelos pais, a noite assustadora que tiveram, aquela estranha mulher da cabana, após alimentá-los, os segurou pelas mãos e os levou a caminhar pela praia desconhecida. Depois de muito tempo, ela apontou algumas pessoas adiante e disse:</p><p> — Sigam em frente, está tudo bem...</p><p>Quando as crianças se aproximaram viram seus pais. Sim! Os pais de Henrique, conversavam com um casal de moradores da vila. Estavam preocupados pela demora do menino que havia ido apenas comprar um sorvete. Logo a mulher do pescador disse:</p><p> — Ahh, vejam só! A Júlia já o encontrou. Ela conhece bem esse lugar.</p><p>Atordoados ao verem seus pais tão tranquilos, Henrique e Júlia se olharam e não disseram nenhuma palavra. Parecia que não havia passado nem uma hora. Assim, as duas famílias acabaram ficando amigas.</p><p>Depois de passar o susto, no outro dia, os dois combinaram de procurar a mulher do outro lado da praia para agradecer. </p><p>Nada parecia como na noite anterior. Não havia casa nenhuma, apenas o coqueiro que ficava na frente e debaixo dele duas enormes conchas coloridas. Parecia que os acontecimentos da noite anterior haviam se desfeito no ar feito cinzas levadas pelo vento. Um arrepio percorreu as duas crianças... Antes de irem embora Júlia apanhou as conchas e depositou uma flor na areia como agradecimento.</p><p><br /></p><p>Autores: Maria Mineira, Lara Alves, Lara Arantes e Sofia Borges</p>Carlos A. Lopeshttp://www.blogger.com/profile/05881754756325061589noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7820075820885671645.post-79630758577792700132020-11-20T00:54:00.003-03:002020-11-20T00:54:12.437-03:00ESCOLA DE MOÇAS<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhz9XJufi9G-6Xz-4MG9500A4DQYbTlg-5O76LEM8veY0-nF3p2iAf1D-KEhg2sOnWffUKqR47RsLYDLuwcCX7u7DqU6AoLD_IEpB1hSIZCK4JA60KEYE7Ez_iiyVZr0uBtVUYK7_m87JiT/s720/438b3979-c7cc-4d9f-9b58-45bade3940d5.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="720" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhz9XJufi9G-6Xz-4MG9500A4DQYbTlg-5O76LEM8veY0-nF3p2iAf1D-KEhg2sOnWffUKqR47RsLYDLuwcCX7u7DqU6AoLD_IEpB1hSIZCK4JA60KEYE7Ez_iiyVZr0uBtVUYK7_m87JiT/s320/438b3979-c7cc-4d9f-9b58-45bade3940d5.jpeg" width="320" /></a></div><br /><p></p><p><br /></p><p></p><p style="text-align: justify;"><b><i><span style="font-size: 13.5pt;">Maria
Conceição Padilha<o:p></o:p></span></i></b></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13.5pt;">Altos
muros circundavam os jardins que embelezavam o prédio de aspecto aristocrático
onde lia-se na fachada: “Escola de Moças Divina Mãe”. Essa foi a primeira visão
que Maria Clara teve ao descer do automóvel em frente ao seu novo endereço.<o:p></o:p></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13.5pt;">Sendo
ela a terceira filha de uma família abastada, da pequena cidade de Rosa Branca,
para satisfazer a vontade dos pais em vê-la habilitada o suficiente, para
candidatar-se a um casamento próspero, com algum filho de fazendeiro rico, a
jovem é enviada a melhor escola da capital, para prendar-se e assim fazer jus a
um belo dote.<o:p></o:p></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13.5pt;">Após
atravessar o longo corredor, Maria Clara entra em seu novo quarto. Há muito
esmero e bom gosto no aposento onde a jovem inicia a desfazer as malas.
Lágrimas correm de seus olhos ao lembrar dos pais e das irmãs mais velhas,
Maria Lúcia e Maria Izabel, lembra também do casarão onde morava com seus
familiares e alguns criados. Tudo tão distante...<o:p></o:p></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13.5pt;">A
jovem acaricia a última mala, seus pertences íntimos, todos os rascunhos e
manuscritos que revelam o seu verdadeiro sonho... escrever.<o:p></o:p></span></p><p style="text-align: justify;"><b><i><span style="font-size: 13.5pt;">Socorro
Beltrão<o:p></o:p></span></i></b></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13.5pt;">Clara
abriu a mala cuidadosamente. Com verdadeira adoração, pegou seus manuscritos e
os guardou na<o:p></o:p></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13.5pt;">primeira
gaveta da cômoda, a única com chave, ótimo. Trancou e guardou a chave no bolso
da saia. Apanhou a fotografia da família e a colocou bem à vista, em cima do
móvel. Não sem antes beijar e acariciar um a um, os rostos sorridentes de seus
entes queridos. Antônio, seu pai, Ana sua Mãe, Lu e Bel. Voltou a mala, retirou
e arrumou as imagens de Santa Terezinha e da sagrada Família, presente de sua
vó Alice. “Você pensa que não vi suas lágrimas? Vi sim vozinha! Mas em breve
estarei de volta”.<o:p></o:p></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13.5pt;">Assim
começa uma nova vida para Clara. Acordar cedo, aula de catecismo, português,
literatura, etiqueta, piano, violão, canto, educação para o lar, pintura,
bordado, tapeçaria, crochê... Até aula de jardinagem... Mas Clara queria
aprender línguas, sonhava em viajar pelo mundo, conhecer novos povos, novas
culturas... Sonhava em escrever.<o:p></o:p></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13.5pt;">Porém
como sempre foi uma filha obediente, seguia as ordens dos pais e gostava de
aprender e entender de tudo. Aproveitou bem sua estadia no colégio, como
também, a vasta biblioteca. Nas horas vagas ficava à sombra de um lindo flamboyant,
caneta e papel na mão, escrevendo um novo conto. O lugar era lindo e lírico, a
levava a viajar nas suas histórias.<o:p></o:p></span></p><p style="text-align: justify;"><b><i><span style="font-size: 13.5pt;">Cristhian
Dias<o:p></o:p></span></i></b></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13.5pt;">Quão
doce, eram os momentos em que aquela ainda quase menina, sentava-se na grama
verde, e sentia o frescor da brisa suave em seu rosto. Aquilo para ela era um
agrado que Deus lhe enviava. Benditos, eram os momentos que ela sentada, sobre
a árvore, começava a escrever suas histórias.<o:p></o:p></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13.5pt;">Clara
tivera uma infância e pré-adolescência maravilhosas, desde pequena fora cercada
pelos livros, dos mais variados gêneros, tomou gosto pela leitura, quando sua
governanta, Serafina, por não saber ler, ficava horas ouvindo-a ler para ela...
Depois Serafina foi embora para morar na capital, seguindo seu coração, diziam
que ela estava esperando um segundo filho, apesar de Clara não ter conhecido o
primeiro que ela deixara com sua mãe ao ir trabalhar com sua família.<o:p></o:p></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13.5pt;">Gostava
de livros de aventura, sua heroína favorita era a guerreira Joana D’Arc,
acreditava, piamente, em todos os relatos de sua famosa história...<o:p></o:p></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13.5pt;">Neste
dia, Maria Clara escrevia, distraída não percebeu a chegada de alguém, só
quando ele tossiu para chamar-lhe a atenção, ela saiu dos seus devaneios, era o
Raul, jardineiro da escola, ela lhe sorriu, gostava da companhia do rapaz, começaram
a conversar e Clara descobriu, para sua surpresa e alegria que ele era o filho
de sua querida Serafina.<o:p></o:p></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13.5pt;">Saíram
a caminhar, felizes se puseram a correr...<o:p></o:p></span></p><p style="text-align: justify;"><b><i><span style="font-size: 13.5pt;">Zélia
Borges<o:p></o:p></span></i></b></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13.5pt;">Pararam
ofegantes, e agora de mãos dadas, o coração de Maria Clara bateu forte, mas a
razão falou mais alto. Lembrou-se de seus princípios religiosos e da obediência
a seus pais. Saiu correndo e retornou ao casarão. Da janela do seu quarto, viu
Raul seguindo seu caminho.<o:p></o:p></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13.5pt;">Pássaros
vinham do lado oposto.<o:p></o:p></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13.5pt;">Abriu
a mala e dela retirou um livro de páginas amareladas pelo tempo, presente de
sua avó materna, foleou e leu: “As andorinhas viam agora em sentido contrário
ou não seriam as mesmas, nós é que éramos os mesmos; ali ficamos somando as
nossas ilusões, os nossos temores, começando já a somar as nossas saudades.”<o:p></o:p></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13.5pt;">Sua
beleza é como uma rosa em botão se abrindo. Sua figura naquela janela é um dos
mais belos quadros, que com certeza Van Gogh, Portinari, Da Vince... Gostariam
de pintar.<o:p></o:p></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13.5pt;">E ali
ela chorou.<o:p></o:p></span></p><p style="text-align: justify;"><b><i><span style="font-size: 13.5pt;">Maria
Conceição Padilha<o:p></o:p></span></i></b></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13.5pt;">A vida
segue tranquila na grande instituição educacional, onde Maria Clara adentra-se
no universo de modos, atividades e posturas que a tornarão a dama esperada
pelos seus pais, estando assim a altura de um marido rico ou até um nobre.<o:p></o:p></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13.5pt;">O
tempo passa, mas não passa em Maria Clara a saudade de um passado não tão
longínquo. Vem as lembranças de seus sonhos e desejos distantes, mas não
apagados, e junto a eles, ao lado do seu último manuscrito, está o retrato do
mulato bonito de olhos verdes, o rapaz pobre que a guerra o chamou. Raul, seu
amor secreto. Único homem que roubou seu coração. Chove naquela tarde de
outono. O silêncio é grande por todo educandário, até o momento que uma
campainha toca e Maria Clara é chamada à sala da direção onde é aguardada pela
madre superiora que lhe entrega um telegrama. Ali mesmo em frente a
catedrática, a jovem nervosa, trêmula, medrosa, abre a correspondência. As
lágrimas que correm pelos seus olhos, não passam despercebidas a religiosa que
é obrigada a inquirir: notícias ruins? Ao qual a jovem aos prantos e como se a
ler estivesse, responde: “familiar mal, venha depressa.”<o:p></o:p></span></p><p style="text-align: justify;">
</p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13.5pt;">Como
em um vôo de liberdade a jovem atravessa o longo corredor até seu quarto. Entra
e substituindo as lágrimas anteriores, junta-se as lágrimas boas de felicidade
quando retornando ao telegrama lê: “Voltei, retorne para mim, Raul”.<o:p></o:p></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13.5pt;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13.5pt;">AUTORES DA OBRA:</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13.5pt;">SOCORRO BELTRÃO, CRISTHIAN DIAS, ZÉLIA BORGES E MARIA CONCEIÇÃO PADILHA</span></p><br /><p></p>Carlos A. Lopeshttp://www.blogger.com/profile/05881754756325061589noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7820075820885671645.post-76482113244446752652020-11-18T06:47:00.004-03:002020-11-18T06:47:39.341-03:00PALETÓ NO CEMITÉRIO<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjouMtDDoIj9GqKXo05MnSfKc1DdVTtGxy_Vx7ESa37ZxvvRKmhXnV9u0lmCFPrw-DtcN0D9u3I6-z1vOM1qVJNFR4XoFuzdOmerwgDCLLBi7P79iF6-I86Zs9qJwVpOwM7q6HDS_jZAFoO/s140/Alberto.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="140" data-original-width="120" height="285" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjouMtDDoIj9GqKXo05MnSfKc1DdVTtGxy_Vx7ESa37ZxvvRKmhXnV9u0lmCFPrw-DtcN0D9u3I6-z1vOM1qVJNFR4XoFuzdOmerwgDCLLBi7P79iF6-I86Zs9qJwVpOwM7q6HDS_jZAFoO/w244-h285/Alberto.jpg" width="244" /></a></div><br /><div style="text-align: center;"><span style="color: #2b00fe;"> Autor: Alberto Vasconcelos</span></div><div style="text-align: center;"><span style="color: #2b00fe;"><br /></span></div><p></p><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p></p><div style="text-align: center;"><div style="text-align: justify;"><span style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; text-align: start;">Eles dançaram juntinhos a noite toda, rostos colados, o laquê dos cabelos dela se colou no rosto de Jorge e, apesar do movimento o rosto de Mariza estava sempre frio.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;"><br /></span></div><span style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; text-align: start;"><div style="text-align: justify;">Quando a orquestra deu por encerrada a música, os sócios do clube passaram a cantar o bingo.</div></span><span style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; text-align: start;"><div style="text-align: justify;">Mariza disse a Jorge que não gostava de jogos e que preferia ir para casa, que morava perto do clube e que não haveria nenhum problema se ele quisesse ficar jogando.</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;"><br /></span></div><span style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; text-align: start;"><div style="text-align: justify;">Encantado com a fala mansa e o corpo escultural daquela desconhecida Jorge jamais perderia a oportunidade de estreitar o relacionamento, talvez até falasse namoro antes mesmo de chegar a casa dela.</div></span><span style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; text-align: start;"><div style="text-align: justify;">A madrugada fria não foi empecilho para que eles sentassem no banco da praça e quando Mariza se queixou do vento cortante, Jorge lhe ofereceu o paletó para que ela se agasalhasse.</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;"><br /></span></div><span style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; text-align: start;"><div style="text-align: justify;">Quando ele falou para namorá-la, ela disse que achava melhor que eles esperassem um pouco para se conhecerem melhor, mas mesmo assim trocaram beijos ardentes, apesar dos lábios frios de Mariza e quando notaram que os primeiros clarões do dia se insinuavam através da escuridão da noite que morria, apressaram-se para que ela chegasse a casa antes que os pais acordassem.</div></span><span style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; text-align: start;"><div style="text-align: justify;">Também foi essa a justificativa para que os dois se despedissem duas casas antes da dela.</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;"><br /></span></div><span style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; text-align: start;"><div style="text-align: justify;">Mariza quis devolver o paletó, mas Jorge fez questão de que ela permanecesse agasalhada. Que no outro dia ele viria buscar e poderiam continuar conversando, mesmo que fosse só um pouco.</div></span><span style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; text-align: start;"><div style="text-align: justify;">Com um sorriso suave, Mariza desapareceu atrás do portão alto.</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;"><br /></span></div><span style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; text-align: start;"><div style="text-align: justify;">No dia seguinte, depois do almoço, Jorge bateu no portão da casa na esperança de reencontrar aquela moça linda de cabelos louros e olhar penetrante.</div></span><span style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; text-align: start;"><div style="text-align: justify;">Foi atendido por uma senhora bastante idosa que acompanhou admirada toda a narrativa que Jorge estava fazendo sobre o encontro da noite anterior e do fato dele estar ali para pegar o paletó.</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;"><br /></span></div><span style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; text-align: start;"><div style="text-align: justify;">- Essa moça que o senhor está falando foi a minha filha que morreu há quarenta anos. Ela gostava muito de festa e numa noite quando estava voltando do clube foi assassinada por um rapaz que não aceitou a recusa dela para namorarem.</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;"><br /></span></div><span style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; text-align: start;"><div style="text-align: justify;">- Mas não pode ser. Nós dançamos ontem na festa do clube e como a madrugada estava muito fria, deixei com ela o meu paletó...</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;"><br /></span></div><span style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; text-align: start;"><div style="text-align: justify;">Para confirmar a veracidade do que a velha dizia, Jorge viu o álbum de fotos da moça dos seus sonhos e os dois foram ao cemitério.</div></span><span style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; text-align: start;"><div style="text-align: justify;">Sobre a lápide com o nome dela gravado, o paletó estava estendido como se fosse num espaldar de cadeira.</div></span></div><p></p></blockquote></blockquote><p><br /></p><p> Autor: Alberto Vasconcelos </p>Carlos A. Lopeshttp://www.blogger.com/profile/05881754756325061589noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7820075820885671645.post-2195996590780570342020-11-16T00:18:00.004-03:002020-11-16T00:18:29.825-03:00ESPECTROS<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQfiVR5n-wb-gtb8IGm2LHsk241nrp5Nr24MOjLLGyisWy2atXXmpThyphenhyphentO8eRRTdJNSBk40yf0W6ixyqqemIfvHsSpYTGlsqYICfVUOgCE4lYVXAiKrCryhozQAmZAb2BjExidUsMuJAAq/s599/IMG-20201018-WA0050.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="464" data-original-width="599" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQfiVR5n-wb-gtb8IGm2LHsk241nrp5Nr24MOjLLGyisWy2atXXmpThyphenhyphentO8eRRTdJNSBk40yf0W6ixyqqemIfvHsSpYTGlsqYICfVUOgCE4lYVXAiKrCryhozQAmZAb2BjExidUsMuJAAq/s320/IMG-20201018-WA0050.jpg" width="320" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><br /><p></p><p class="MsoNormal">[Gerson de Carvalho Silva]<o:p></o:p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">André nasceu e cresceu na Vila do
Alto da Serra. O nome do local havia mudado fazia bastante tempo, mas alguns
preferiam o original. A vila ferroviária de origem inglesa era constituída por
casas de madeira, um “castelo” onde originalmente morava o engenheiro chefe e
um relógio que imitava o Big Ben. O menino cresceu explorando a mata ao redor
que se estendia até o mar, passando a conhecê-la muito bem, às vezes servindo
de guia para gente de fora. Estudou na pequena escola do local, onde sua avó
era professora. Esta lhe contava histórias do folclore indígena como a do
Anhangá, demônio protetor das matas. Ouvia também lendas europeias, trazidas
pelos ingleses, como o Cernunnos, o deus cervo. Além disso, segundo algumas
lendas, os protetores das florestas poderiam assumir formas humanas e almas
perambulavam pelas matas, tentando entender o que lhes tinha acontecido.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Certa manhã, André já
adolescente, ouviu vozes vindas da mata e, aproximando-se teve uma visão pouco
nítida, espectral, de um casal com roupas antigas vagando pela mata. De repente,
desapareceram e ele com medo, correu e nunca falou sobre isso.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">André fez faculdade e estudou no
exterior. Morando em São Paulo, ficou sabendo da Festa do Cambuci, fruta
nativa, sua preferida na infância. Voltando à vila, observou que a ferrovia não
descia mais a serra para o litoral e seus equipamentos estavam abandonados. Seus
pais e avós haviam falecido e ele passou boa parte da noite tomando cachaça com
cambuci. Sentiu-se mal e foi para próximo de sua floresta querida, para tentar
se recuperar. Novamente ouviu vozes vindas da floresta e o mesmo casal
apareceu, encarando-o com certo olhar de surpresa.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">[Alice Gomes]<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">André soltou um berro que se
podia ouvir a um quilômetro! Ao sentir que duas mãos lhe sacudiam, retorceu o
corpo e encolheu as pernas, na tentativa desesperada de se levantar e sair
correndo. Sem coragem de abrir os olhos custou a reconhecer a voz de Tiago, o
amigo de infância com quem bebera na noite passada.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- André! André! Acorda! O que
você tá fazendo deitado aqui no meio do mato? Acorda!<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Primeiro um olho, depois o outro,
os dois... e o alívio! Estava vivo! - Ou o amigo também tinha morrido -
ainda pensou por um instante. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Enquanto Thiago se esborrachava
de rir da sua cara de pavor, André se acalmava. Aceitou a mão estendida e
tentou ficar em pé, mas as pernas fraquejaram. Permaneceu sentado no chão
por alguns minutos, tocando-se, até se certificar que ainda estava
inteiro. Tiago arrependeu-se de tripudiar do sofrimento de André ao ver
seu estado e, em tom mais sério, lhe afagou as costas, para o tranquilizar. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">-Não sabia que você era tão fraco
pra bebida. Acabou dormindo aqui, foi?<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- F...Foi... respondeu André,
envergonhado ao perceber o dia claro e vários outros amigos à sua volta.
Levantou-se rapidamente. Precisava urgentemente estar só, para colocar ordem
nos pensamentos.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Já no hotel e com a cabeça sob a
ducha fria, tentou se lembrar de todos os detalhes da noite interior. - Não foi
sonho. Não foi bebedeira. Eu os vi e não foi a primeira vez. E, dessa vez, ELES
me viram! - repetia para si mesmo e a cada vez que repetia um novo calafrio.-
Porque, uma coisa é você ver uma coisa, outra coisa é a coisa te ver!
Agora não adianta mais simplesmente não ir mais à floresta. Quem garante que
eles não venham até mim, onde eu estiver? Uma coisa é certa: uma hora terei de
enfrentar, com medo ou sem medo - Encorajou-se. Tomaria uma atitude. Mas, por
onde começar? Teria de falar com alguém sobre o ocorrido, mas e o medo de o
ridicularizarem? - Dane-se! Vou começar pelo Tiago.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Tiago, depois de rir bastante,
lhe disse que nunca ouvira nada sobre o casal de fantasmas. - Fantasmas, Tiago?
Sou homem de acreditar em fantasmas? - Ora, André, temos que dar um nome
para eles. Se não são fantasmas são o que? - Espectros, fica melhor. - Tá,
espectros. Vamos pensar, então: Por que só você vê esses espectros? Por que os
vê somente na floresta, o que fazem lá? Seriam seres raivosos em busca de
vingança ou querem ir embora mas não podem? Seriam aqueles seres mitológicos,
guardiões de florestas? Seriam antepassados seus, querendo te indicar um
tesouro escondido na floresta? Ou te fazer algum pedido? Seriam seres de outros
tempos, outras dimensões? Seriam... - Chega, Tiago! Você não tá ajudando em
nada, só me deixando mais confuso! Preciso de ajuda profissional. Um
psiquiatra, um padre, um ufólogo, sei lá.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- E se você perguntasse pra mãe
Cida? Lembra dela? Aquela benzedeira que morava sozinha naquela casa cheia de
gatos? Aquela casa, no final da nossa rua, que a gente achava mal-assombrada?
Ela tá velhinha mas ainda vive. Dizem que bugou de vez, agora fala com os
mortos. - Benzedeira, Tiago? Que fala com os mortos, Tiago? - Ah, não se sabe.
Nunca ouviu o ditado? Há mais coisas entre o céu e a terra, esqueci o resto. -
Verdade, quem sou eu pra chamar alguém de doido, a essa altura? Doido com doido
se entende. Está decidido, vamos começar pela Mãe Cida. - E lá seguiram, o cético
(pero no mucho) André e o curioso amigo Tiago, em direção à casa
"mal-assombrada" do final da rua...<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">[Maria Mineira]<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Os dois rapazes caminharam lado a
lado, mas não trocaram palavra. Era dia
alto quando chegaram à casa de mãe Cida, que na verdade morava bem depois do
final da rua, já era quase mato fechado o local de seu casebre. Bateram na
porta e ninguém apareceu. Só se via gatos de todas as cores, espalhados pelo
terreiro, no telhado e janelas.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Olharam em volta e de repente,
por trás de uma enorme mangueira, surgiu
uma velha corcunda, com cabelos brancos despenteados. Seu olhar era torto e os dentes falhados, foi logo dizendo:<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">– Que se assucedi aqui, dois
minino?<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">– Mãe Cida, não se lembra da
gente? <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">– Sou o Tiago, neto da dona
Josefa e ele é o André, da dona
Marita! Morávamos nessa mesma rua! <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">– Ahhh, se alembro! Era vaçuncêis
que vivia robano as manga e estumano aquele cachorrão nos meus gato! Mi diga
uma coisa, minino, o Paulo, seu avô inda é vivo? <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">– Infelizmente não, mãe Cida.
Faleceu há mais de 10 anos. – Disse André lembrando-se com saudades de seu avó.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">– Antonce só resta vassuncê mais
ieu... resmungou a velha senhora para si mesma. Thiago não percebeu, mas André
pressentiu algo naquela frase misteriosa.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">– Viero fazê o quê na casa de uma
véia? Se fô benzição pá mode curá cobrêro, pode intrá. Quebranto eu benzo só
criança de colo.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Era um pequeno cômodo com apenas
um fogão a lenha, uma mesa e uma cama. Em cima das cinzas se espreguiçava um
enorme gato preto de olhos amarelos que se fixaram estranhamente em André. Mãe
Cida mandou os jovens se sentarem e dirigiu-se ao pequeno oratório onde havia
três velas acesas. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">André tentou por várias vezes, falar sobre o que
havia visto na noite anterior. A benzedeira sem prestar atenção em nenhuma de
suas palavras, continuou espalhando seu incenso e batendo com galhos de arruda
em seus ombros, enquanto murmurava em voz muito baixa, as suas rezas. Ao
terminar os conduziu até a porta, sem ao menos se despedir...<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">– Tá vendo, Thiago? Que brilhante
ideia, heim, meu velho? Mãe Cida deve já estar com um pé na cova de tão caduca.
Nem prestou atenção no que eu perguntava.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">– Me desculpa, André, apenas
tentei ajudar.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Thiago não viu, porque estava na
frente um tanto sem graça, mas no meio do caminho, surgido não se sabe de onde,
o gato preto de olho amarelo, parou na frente de André, parecia dizer
algo...Naquela noite o rapaz não dormiu, voltaria sozinho no outro dia...<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Foi o que fez. O dia ainda
clareava quando ele chegou em frente ao casebre. A mulher o aguardava ao pé da
árvore.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">– Achei que não viria! – disse
aquela mulher que já não se disfarçava de anciã maltrapilha, ao segurar firme a
mão de André. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">O rapaz deixou-se conduzir. O
local evocava uma aura de floresta noturna, atingida por leve brisa misturada a
uma bruma que pairava no ar deixando-o
etéreo como em um sonho. André não sentia seus pés tropeçando nas raízes da
densa mata. Apenas levitava naquela atmosfera onírica sem saber para onde
estava sendo levado. Quando cessou a viagem, estavam à frente de um pequeno
lago, onde a mulher fez na água, um
círculo com a mão direita e abriu uma passagem.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">–
Meu jovem, considera-se pronto
para ser iniciado?<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">[Helena Souza]<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">André não se lembrava de como
havia atravessado aquele lugar. O estranho é que não havia molhado suas roupas
e um frio percorreu seu corpo até os ossos. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Começou a seguir a estranha
mulher que não era mais a figura curvada de mãe Cida. Não havia sol. Seu relógio marcava pouco mais
de 7 da manhã. As sombras encobriam a
floresta e ele viu na sua frente um
caminho que ondulava e sumia entre as
árvores centenárias. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Estava assustado, mas não tinha
como voltar atrás. O jeito era seguir cada vez mais rápido aquele vulto que
parecia voar e vez em quando o chamava
pelo nome, verificando se ele ainda a seguia. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Enquanto avançava mata adentro, pensava consigo mesmo: o que eu
estou fazendo aqui? Devo ter enlouquecido, ou será que Thiago colocou algo em
minha bebida? <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Ao ouvir um estranho barulho,
André tentou chamar a mulher que o conduzia, porém não viu mais ninguém à sua
frente. Escondeu-se atrás de um grande
tronco de árvore e um suor gelado descia
pela sua testa. Nesse momento
avistou algo oculto pelo crepúsculo. Encolheu os ombros e
esperou pelo pior, pois logo
adiante, perto de uma curva do caminho
estavam ali! Ele não conseguia entender
ainda, mas o que ele viu mudou....<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">[Gerson de Carvalho Silva] - final<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Uma densa neblina, bastante comum
na região, cobria tudo. André, ainda amedrontado ouviu um som de algo que se
aproximava. Levantou-se e andou alguns metros e, do alto, visualizou algo que o
deixou perplexo: nos trilhos abandonados passava um trem. Não um trem qualquer,
mas uma “Maria Fumaça”, que ao passar por ele, o maquinista acenou.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Pai? Impossível. Além de já ter
morrido, não era esse tipo de trem que operava. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Não é seu pai – disse a voz da
mulher que assumira ser mãe Cida – é seu trisavô. Eram muito parecidos. Vem
comigo.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">O rapaz a seguiu com um autômato.
Com dificuldade conseguiu ver mais alguns dos espectros. A mulher lhe
esclareceu que eram pessoas que de alguma forma se ligaram à floresta.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Tá vendo aqueles índios? São da
tribo dos Guaianases que foram os primeiros habitantes humanos. Haviam outros,
com roupas de diferentes épocas. O casal que você viu, ficou surpreso porque não era pra
você vir agora. Os escolhidos os veem na infância, como no seu caso, e depois
de certo tempo são incorporados.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- E você, perguntou à mulher, o que realmente é?<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Sou uma espécie de espírito da
floresta. Assumo várias formas. Anhangá é o nome que os índios me deram.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Estou morto? Perguntou André.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Não necessariamente, mas já faz
parte da floresta.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- E o Thiago, o que aconteceu com
ele? <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Nada. Mas também será incorporado.
Depois.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">O Sol chegou e a neblina começou
a se dissipar. A Vila, agora turística começava despertar, sem saber que era
protegida pela Floresta ao seu redor e seus guardiões. Estes podem vagar em certas
noites frias com neblina pelas ruas e vielas. Alguns os veem, principalmente
crianças, bêbados, pessoas com percepção diferenciada e animais domésticos.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Autores: Helena Souza, Alice Gomes, Maria Mineira e Gerson de Carvalho Silva</p></div><p><br /></p>Carlos A. Lopeshttp://www.blogger.com/profile/05881754756325061589noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7820075820885671645.post-52336105021602037012020-11-13T23:45:00.002-03:002020-11-13T23:45:18.895-03:00O VELÓRIO DE NAZINHA<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjO-j2v03N2jIVWIjMRWbyi6PPSYCsr-fQEvEB_PFWOD1P6c8paqUkC60DtfAXj5LzTRIDY7oA75pG3chy-G3kuVH661p8TJatBQd5NEPfxrZ6-v8CXd6w9yAaMgYwYU8vQIzouGjLxBJ5f/s140/Alberto.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="140" data-original-width="120" height="221" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjO-j2v03N2jIVWIjMRWbyi6PPSYCsr-fQEvEB_PFWOD1P6c8paqUkC60DtfAXj5LzTRIDY7oA75pG3chy-G3kuVH661p8TJatBQd5NEPfxrZ6-v8CXd6w9yAaMgYwYU8vQIzouGjLxBJ5f/w189-h221/Alberto.jpg" width="189" /></a></div><div style="text-align: center;"><span style="color: #2b00fe;">Autor: Alberto Vasconcelos</span></div><p></p><p><br /></p><p><span style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;">A notícia da morte de Nazinha correu pela cidade como rastilho de pólvora.</span><br style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;" /><br style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;" /><span style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;">Todo mundo conhecia Nazinha e o que é pior, ela conhecia todo mundo.</span><br style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;" /><br style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;" /><span style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;">Sabia histórias do arco da velha de cada um dos moradores do bairro aonde morava e praticamente de todos da cidade, porque desde muito nova foi trabalhar no protocolo da Prefeitura e sabia de cor todos os que estavam devendo os impostos municipais, quem tinha sido notificado, quem tinha feito acordo, quem era bom pagador e principalmente quem era sonegador ou estava inscrito na dívida ativa do município.</span><br style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;" /><br style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;" /><span style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;">Falar da vida alheia sempre foi a sua diversão favorita, notadamente por ser a detentora das “novidades financeiras”, dos comportamentos sexuais dos rapazes, das moças solteiras, dos desarranjos conjugais e das traições em andamento (nesse item então, sua conversa tinha mais chifre do que monturo de matadouro), porém esse costume de espalhar novidades lhe rendeu várias inimizades de todos aqueles que se sentiram ofendidos por ter suas vidas financeiras ou não expostas como mercadorias em vitrines.</span><br style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;" /><br style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;" /><span style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;">Num belo dia, sem qualquer sinal de que estivesse com problema de saúde, no meio do expediente, enquanto atendia no balcão, desmoronou e assim permaneceu imóvel no chão até que clientes e colegas de trabalho correram para acudir.</span><br style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;" /><span style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;">Alguém ligou para o resgate, mas quando esse chegou ela já estava morta.</span><br style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;" /><br style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;" /><span style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;">Cumpridas as formalidades legais, o prefeito concordou com o pedido dos colegas para que o velório ocorresse no saguão da prefeitura em homenagem à servidora exemplar, zelosa, querida por todos e mais outros tantos elogios que se costuma fazer aos defuntos por mais ordinários e vagabundos que tenham sido em vida, porque “faz mal” falar a verdade quando essa não santifica o salafrário que faleceu.</span><br style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;" /><br style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;" /><span style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;">Todo mundo sabe que qualquer pessoa fica toda dura pouco tempo depois de morrer, porque a coisa mais trabalhosa que existe num velório é arrumar um terço entre os dedos enrijecidos das mãos do cadáver depois que ele esfria, mas há casos em que essa rigidez não aparece.</span><br style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;" /><br style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;" /><span style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;">A sabedoria popular tem as explicações para esse fenômeno excepcional.</span><br style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;" /><span style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;">Diz que quando isso acontece ou é porque o defunto ofendeu a alguém que mesmo sabendo do seu falecimento não perdoou a ofensa ou é que outra pessoa do relacionamento dela vai morrer também.</span><br style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;" /><span style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;">Essa mesma sabedoria diz que a única forma de se evitar isso é chegar junto ao defunto para dizer que perdoa a ofensa sofrida e que ele vá na paz sem levar mais ninguém para a cidade dos pés juntos.</span><br style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;" /><br style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;" /><span style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;">Ora, Nazinha se relacionava com quase todo mundo e todos, ou a maior parte, tinha algo a reclamar da sua maneira de ser.</span><br style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;" /><br style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;" /><span style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;">Quando se espalhou a notícia de que Nazinha não tinha rigidez cadavérica, o salão da prefeitura ficou parecendo local de peregrinação por conta do horror de gente que chegou a formar fila como em velório de artista ou político famoso, porque todos queriam chegar junto ao caixão e cochichar no ouvido da defunta.</span></p>Carlos A. Lopeshttp://www.blogger.com/profile/05881754756325061589noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7820075820885671645.post-67286060082541724292020-11-11T21:20:00.005-03:002020-11-11T21:59:39.510-03:00O VISCONDE ENCANTADO<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7AOZvrHYxUi_ZNnW4GDvgMnTnCDm_EtickWSp2rBy4qU4d4wgd-fd9Puj-v04ZzHAnZ4JcL8_jGQw2HTOY6cQUl0WNk3OZKcgwwEKVJl-MaA6iV4rrSU4o1NgxoZPNTIBxJrqcqRB_48p/s295/8335bf9e-caf7-499c-a698-75c3580386b2.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="295" data-original-width="236" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7AOZvrHYxUi_ZNnW4GDvgMnTnCDm_EtickWSp2rBy4qU4d4wgd-fd9Puj-v04ZzHAnZ4JcL8_jGQw2HTOY6cQUl0WNk3OZKcgwwEKVJl-MaA6iV4rrSU4o1NgxoZPNTIBxJrqcqRB_48p/s0/8335bf9e-caf7-499c-a698-75c3580386b2.jpeg" /></a></div><p></p><p><br /></p><p><br /></p><p>Carlos A. Lopes</p><p>Nos últimos dias não se respirou outro assunto na cidade. O jornal fazia e refazia alardes, enaltecia e repetia o dia e a hora do evento. Até que o dia chegou e parte da população se alvoroçou para conhecer em carne e osso o tão esbravejado visitante. </p><p>Ninguém reclamava, pois valia a pena todos os esforços. A grande maioria queria conhecer alguém de sangue azul, para tanto, valia deixar os afazeres de lado.</p><p>Estavam presentes no palanque, o governador, secretários e outras autoridades constituídas e onde se destacava uma bela jovem de cabelos escuros, corpo enxuto e um quadril de fazer inveja. Era Dora. Filha única do secretário de governo e ex-prefeito da cidade. </p><p>No mais, tudo parecia ser uma festa fora de época. Tinha a figura do galanteador, jogadores, dezenas de máquinas de tirar retrato, e pintores registrando o movimento que mais parecia uma feira de interior.</p><p>Os dias se sucediam dando lugar a resignação. A cada novo dia boatos inspiravam novas interpretações. E por aí tudo transcorria: um grito aqui, outro ali, uma coruja que piava, tudo desviava a atenção, mas cada vez despertando menos curiosidade e diminuindo a certeza de um desfecho alegre para aquela história. </p><p>Dora, desfalecida do corpo, admitia estar de pernas moídas de tão cansada, também desiludida. Sentia arrepios, não de frio, mas por causa de uma solidão, que deixava o seu coração inquieto e perturbado. </p><p>Fora aconselhada a não voltar ao Jiquiá, pelos perigos que agora o lugar quase deserto podia lhe causar. Ela se sentia culpada pelo que viesse de ruim a acontecer. Dora tinha em mãos cartas e mais cartas que tratavam dos perigos da ousadia de um aviador lunático. Na grande maioria delas, ela lhe enviara respostas de reprovação. Porém agora se lamentava e entendia que lhe faltava mais firmeza nas suas respostas.</p><p>Tratava-se do Visconde de Saint-Roman, um homem de virtudes e negócios recompensados, entretanto, sobre seus ombros pesavam alguns atritos diplomáticos, mas nada que abalasse a reputação familiar. A sua autoridade irresistível às vezes imaginativa e exuberante, não disfarçava suas variadas fantasias. Vez ou outra não se opunha a uma verdadeira quimera, sendo o mais lunático dos nobres.</p><p>Em todo caso, ele decolou de Saint-Louis no dia 15 de junho de 1936, às seis da manhã, em um voo descrito pelos jornais como um salto sobre o Atlântico, com data e hora de chegada. Dias depois restos do seu avião foram encontrados no extremo noroeste da região Nordeste, bem distante da rota planejada. Contam os ribeirinhos tê-lo visto se arrastando pelas proximidades dos destroços do avião envoltos em chamas. Também contavam do movimento vítreo dos olhos que assustava pela inquietude e vontade de não se entregar ao destino.</p><p>Conceição Padilha</p><p>Era muito grande a decepção sentida por todos, com a não chegada do esperado e ilustre aviador. Foram tantos preparativos para o evento, desde o figurino dos convidados até o feriado municipal.</p><p>Porém toda o sensacionalismo que acompanhou a espera foi substituído pela dúvida e muitos questionamentos pairando no ar. Onde andaria o nobre Visconde? Estaria ele se permitindo ter o comportamento de um aviador maluco e saltado do avião nos ares? Ou teria ele escapulido de tudo, tendo para isso usado de toda a sua esperteza?</p><p>O comentário era geral, não se falava em outra coisa por toda cidade: que fim terá tido o lunático aviador? O jovem Visconde?</p><p>O coração de Dora sofre ao lembrar da forma como conheceu o jovem Roman, quando, escondida dos pais, foi a Inauguração do pequeno campo de pouso. Quando não resistiu o olhar maneiro do gentil piloto e nem tampouco recusou o convite para um rápido encontro nos emaranhados de arbustos de um parque próximo. Depois foram cartas e mais cartas, onde ele descrevia suas aventuras e peripécias em suas acrobacias aéreas.</p><p>Dora chora a incerteza sobre o paradeiro do seu amor. Mas consola-se levando a mão ao ventre, lembrando que não está mais só.</p><p>Socorro Beltrão</p><p>Passados três meses, Dora não tem mais como esconder dos pais a gravidez. Estava cada vez mais preocupada com a reação deles, o pai não era problema, até a ajudaria, mas a mãe ia causar uma grande tempestade. E, também estava preocupada com o paradeiro de Roman, o seu Visconde. Conseguiu esconder os enjoos matinais. A princípio perdeu peso, mas agora, engordava a olhos vistos. Já tinha lido quase todos os livros da Biblioteca do avô, leitor inveterado, deixara um belo acervo. Herdara do avô o gosto pela leitura. Já era do seu costume passar horas ali, lendo. Onde podia ficar quietinha, "lendo", sem ter que responder aos questionamentos da mãe. Queria ficar sozinha para pensar e sonhar com o seu amado. Ele voltaria. Foi só um acidente. O amor que os unia era mais forte e o manteria vivo... Agora, naquele recanto, o coração oprimido, fazia suas próprias conjecturas. Roman tinha sido atraído por ela. E foi recíproco. Não podia ser falso o sentimento que os uniu. Ele não a enganou, não fez juras de amor ou lhe prometeu um futuro de princesa. Não a seduziu. Eles viveram um momento de união de corpos e almas. Foi mágico e Dora faria tudo novamente. Não estava arrependida. Mas precisava encontrar uma maneira de contar aos pais que seriam avós. Era urgente. Tinha que se decidir. Saiu para dar uma volta, estava numa loja, já próximo ao casarão onde morava, quando sofreu um desmaio. Seu pai foi chamado às pressas. Preocupado chegou ao local, para encontrar sua filhinha, sentada numa cadeira, branca como cera, chorando copiosamente. Carinhoso, a abraçou, convidando-a para voltarem para casa, antes que chegasse aos ouvidos de sua mãe, o ocorrido. Mas, Dora pediu para antes irem a cafeteria. Alegando estar em jejum. O que foi uma boa ideia, pois explicaria aos presentes o motivo do desmaio. </p><p>Assim que chegaram ao local, o pai providenciou café e guloseimas e Dora confessou o que estava se passando. Deixando claro ao pai, não ter sido seduzida. Que foi recíproco e que Roman seria o amor de sua vida. Afirmou com muita certeza que ele estava vivo. Seu pai homem compreensivo que era, a ouviu e...</p><p>Cristhian Dias</p><p>Seu pai homem compreensivo que era, a ouviu e com muita alegria abraçou a filha e assegurou de que não deserdaria a moça, mesmo que fosse o pior de todos os pecados, ele nunca deixaria sua menina à mercê da pobreza, muito menos, a criança que Dora esperava. O pai prevendo a reação da esposa, recomendou a filha que preparasse um banquete naquela noite, para a sra. Helena, sua mãe, e que depois de tantos agrados, ouvisse dos próprios lábios da filha, o segredo que ela já não conseguia mais esconder.</p><p>Era visível a preocupação de Dora em sua face, já em seu coração, o Criador ouvia sua prece silenciosa: “Ó Bom Deus, perdoai as minhas falhas, mas concede-me por tua graça, lábios persuasivos para com minha mãe”. Depois de um abraço, pai e filha voltaram para a Mansão, mas, infelizmente, uma das criadas, por sinal, a mais perversa, ouviu cada uma das palavras e tendo nutrido inveja, desde mocinha, pela beleza e pelo luxo que a srta. Dora possuía, foi então, procurar Dona Helena para lhe contar sobre os últimos acontecimentos.</p><p>A sra. Helena demorou-se muito para atender sua criada, pois conversava com senhoras da alta sociedade que se gabavam pelos bens que possuíam ou pelos filhos que estavam a estudar no exterior. Ao terminar a conversa da senhora, a criada de nome Emília, se dirigiu, logo ao aposento e pôs-se a falar, até mesmo, sem se lembrar das reverencias às quais estava acostumada a prestar para com os patrões. Quando a garota encerrou, a sra. Helena soltou um forte e estridente grito de fúria, que fez com que uma das pobres empregadas que estava a finalizar o banquete, quebrasse um dos preciosos pratos italianos, que Jorge e Helena haviam ganhado de presente de casamento.</p><p>Carlos A. Lopes</p><p>E como raiva de mãe é tão passageiro como visita de beija flor, entre prantos de mãe e filha, veio a calmaria familiar. Mas Dona Helena quis saber tim-tim por tim-tim de toda a história. Desfazendo o maço de cartas, cronologicamente, Dora ia deixando a mãe ciente dos seus segredos amorosos.</p><p>Tudo começou na euforia do carnaval de Nice. Na ocasião, Dora se impressionou com os atributos físico de Roman e em poucos dias já frequentava o belo apartamento que ele mantinha em plena Rua Boulevard de Courcelles, próximo ao Arco do Triunfo. </p><p>Dora não adivinhava até onde aquele sonho podia durar. E nessa euforia de fins de tarde, quando deu por si, já estava envolvida demais para repensar os passos. E na solidão do seu quarto de hotel o remorso a fez encurtar sua estada em Paris.</p><p>Roman só se conformou com a ausência da amada, na garantia que por meio diplomático poderia reencontrar Dora no Brasil. Não tardou a vir ao Recife. Numa visita do casal ao Jequiá, quando conhecia a torre de atracação de Zepelins, juntos puderem reviver momentos de paixão e foi justamente nessa ocasião que Dora engravidou.</p><p>Depois da partida do Visconde, Dora parecia uma boneca sem corda. Após o escândalo do tal banquete, Dona Helena só se alterou com a leitura da última carta lida, sob a condição de morte imposta a Dora caso ela não retornasse à França na companhia de Roman. Dizia que estando ele vivo ou morto, trataria de arrancar-lhe o filho, mesmo que fosse igual a um lobo selvagem. Afinal, este filho faz parte da sua premonição, seria o responsável pela redenção social da nobreza familiar. </p><p>A leitura da carta foi interrompida pela zoada da explosão de um motor em frangalhos, sobre o telhado da casa. Momentos de silêncio quebrados apenas pelo tilintar da campainha no portão da rua. Tocou uma vez, duas vezes e parou. Dora se dirigiu até a janela do seu quarto e não avistou ninguém, apenas sentiu uma rajada de vento vindo diretamente ao seu encontro. De repente escuta-se o ranger do portão a abrir-se lentamente. Algo se apossou do ar. Uma invasão de misteriosa fumaça escura. Por mais que tentasse não entendia se tratar de algo natural. O cheiro de enxofre e aquele som esquisito de alguém arrastando correntes, deixou a todos em pânico. O inusitado se aproximava cada vez mais, até que finalmente Roman se apresentou na porta do quarto, favorecido pelo luz vinda da janela. Parecia igual a história contada pelos ribeirinhos no momento do acidente com o avião: seu rosto tinha a cor de chumbo, o brilho dos olhos apagara-se e de tão queimado, o branco dos seus ossos era percebido na pele. Restava-lhe um sopro de vida, uma tentativa de encontrar em alguma brisa mágica, o acalanto final, que o devolveria às condições de almejar o seu último propósito.</p><p>E se alguém quer saber o que houve com o casarão depois dos fatos acontecidos, diria que quase nada. A enorme moradia vive às ruínas. Depois daquele 1936 poucos ousaram viver ali, mesmo assim por pouco tempo. Há quem conte de portas que se abrem sozinhas, de sangue escorrendo em retratos e imagens de gesso. Além de tantas aberrações, ainda vez por outra, ouve-se aquela maldita zoada de um avião em destroços sobre o telhado. E por fim, sobre o destino do filho de Dora, extraído do seu corpo enquanto a mãe agonizava, possivelmente é um francês bem sucedido, cuja missão nesta vida seria alavancar a dignidade de uma nobreza em ruínas.</p><p><br /></p><p>Autores: Maria Conceição Padilha, Socorro Beltrão, Carlos A. Lopes e Cristhian Dias</p>Carlos A. Lopeshttp://www.blogger.com/profile/05881754756325061589noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7820075820885671645.post-58207724959479175782020-11-10T23:57:00.008-03:002020-11-10T23:57:51.568-03:00EXCESSO DE AMOR, ATRAPALHA?<p><span style="font-family: times; font-size: medium;"><i><b> <span style="background-color: white; color: #1d2228; font-variant-caps: inherit; font-variant-ligatures: inherit; text-align: justify;">- Cléa Magnani</span></b></i></span></p><p class="x_ydpe8172c2eyiv0459845067msonormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: white; color: #201f1e; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: #1d2228; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: times; font-size: medium;"> </span></span></p><p class="x_ydpe8172c2eyiv0459845067msonormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: white; color: #201f1e; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: #1d2228; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: times; font-size: medium;">Quando Ivo nasceu, Júlio e Eulália, que já eram os pais de Ana de 2 anos, a família estava completa. Júlio aos 35 anos herdara a empresa de seu pai, com quem trabalhou desde os 16 anos, e achava que seus filhos teriam uma vida mais tranquila do que a dele. Estudariam, e jamais teriam de trabalhar, como ele, que deixou seus estudos assim que terminou o ginasial para ajudar ao seu pai. Mas foi a falta de responsabilidades e do valor do trabalho, que transformou seu filho no maior problema de sua vida...</span></span></p><p class="x_ydpe8172c2eyiv0459845067msonormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: white; color: #201f1e; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: #1d2228; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: times; font-size: medium;">Ao terminar o Colegial, Ivo não quis continuar seus estudos. Tinha tudo o que quisesse... carro do ano, motos, roupas de marca, saía todas as noites, passava semanas na chácara em uma cidade próxima à Ribeirão Preto, ou na casa de praia, no Guarujá. Tinha muitos amigos de noitadas, mesada farta, e muitas namoradinhas.</span></span></p><p class="x_ydpe8172c2eyiv0459845067msonormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: white; color: #201f1e; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: #1d2228; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: times; font-size: medium;">As relações entre Júlio e Eulália não iam muito bem. Ela não se conformava com a excessiva liberdade que ele dava ao filho, e Júlio acabou se envolvendo com a melhor amiga da própria esposa e ela teve um filho dele. Quando soube, Ivo ficou muito revoltado contra o pai, e ainda mais contra a mãe, que aceitou a traição; o que o fez sair de casa. Foi morar na chácara onde terminou por engravidar uma das garotas que fazia parte do grupo de amigos da cidade. Não assumiu a paternidade do bebê, mesmo depois da prova do DNA haver confirmado ser ele o pai de Luiz Henrique. Eulália então passou a cuidar do netinho, que a namorada do filho não teria condições de criar sozinha. Ivo entrou em profunda depressão; tentou o suicídio várias vezes, e em todas as vezes foi socorrido por Eulália. Foi internado para tratamento, fugiu do hospital, reencontrou a mãe de Luiz Henrique e teve outro filho com ela. Os tratamentos para a Depressão o tornaram bipolar, e as alterações de seu humor o impediam de arrumar trabalho...</span></span></p><p class="x_ydpe8172c2eyiv0459845067msonormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: white; color: #201f1e; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: #1d2228; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: times; font-size: medium;"> </span></span></p><p class="x_ydpe8172c2eyiv0459845067msonormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: white; color: #201f1e; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: #1d2228; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: times; font-size: medium;"><b><i>– Alberto Vasconcelos</i></b></span></span></p><p class="x_ydpe8172c2eyiv0459845067msonormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: white; color: #201f1e; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: #1d2228; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: times; font-size: medium;"> </span></span></p><p class="x_ydpe8172c2eyiv0459845067msonormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: white; color: #201f1e; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: #1d2228; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: times; font-size: medium;">Ainda reverberavam dentro da cabeça de Júlio, o som intermitente do monitor cardíaco instalado no braço de Ivo, inerte naquele cubículo do CTI para onde fora levado depois de mais uma tentativa frustrada de suicídio, assim como as duras palavras de sua filha. Era madrugada e a sala de espera estava vazia, como vazio estava sua vida depois de rememorar esses 24 anos desde o nascimento do filho, tão querido, tão amado, mas que desde a mais tenra idade só havia dado desgostos à família. Quanta diferença entre ele e Ana. Sempre estudiosa. Jamais havia aceitado ajuda para fazer as tarefas escolares. Médica pediatra, sempre arredia às amizades estreitas ou a sair de casa sem hora para voltar. Estivera no hospital para ver o irmão, mas negou-se a agir como médica. Foi bem clara com o pai, quando disse que ela não fazia parte da equipe de plantão, nem era neurocirurgiã para retirar a bala alojada no crâneo do seu irmão. Um sujeito tolo, arrogante e irresponsável, resultado da criação que ele, seu pai, havia dado, justificando todos os malfeitos e assumindo a responsabilidade por quaisquer atos, como a criação de Luiz Henrique ou as remessas de dinheiro para o sustento de Leonardo, o outro filho de Ivo que ele não teve a decência de registrar nem eles o conheciam. Lamentar-se não iria resolver a situação. Sabia-se responsável, ou pelo menos, coautor da maneira de ser do filho. Ele também havia abandonado o filho bastardo que nunca vira nem sabia o nome, não sabia sequer se menino ou menina. Mas algo definitivo precisava ser feito. Se iria servir para remediar ou não, aquela situação incômoda só o tempo diria.</span></span></p><p class="x_ydpe8172c2eyiv0459845067msonormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: white; color: #201f1e; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: #1d2228; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: times; font-size: medium;"> </span></span></p><p class="x_ydpe8172c2eyiv0459845067msonormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: white; color: #201f1e; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: #1d2228; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: times; font-size: medium;"><b><i>– José Bueno Lima</i></b></span></span></p><p class="x_ydpe8172c2eyiv0459845067msonormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: white; color: #201f1e; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: #1d2228; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: times; font-size: medium;"> </span></span></p><p class="x_ydpe8172c2eyiv0459845067msonormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: white; color: #201f1e; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; border: 0px; color: #1d2228; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: times; font-size: medium;">Veio-lhe logo no seu íntimo, a vontade de salvar Ivo. Sabia da existência de um ótimo neurocirurgião carioca, famoso por seus casos de cirurgia cerebral, e tendo condições financeiras para tanto, em menos de três horas, lá chegava o profissional, vindo de helicóptero. Depois de oito horas de duração, em uma operação magnífica, Ivo voltava para a UTI, com um quadro sensivelmente cheio esperanças. A bala fora retirada sem atingir partes essenciais do cérebro. Algo definitivo precisaria ser feito, Júlio voltou a pensar. Seu primeiro passo foi procurar o rebento que tivera com a melhor amiga de Eulália. Não foi difícil, pois a menina e a mãe moravam na mesma cidade dele. Chamava-se Simone. Assumiu a paternidade e passou a remeter verba necessária para seu sustento, educação e saúde. Tinha idade na mesma faixa de Leonardo, o segundo filho de Ivo, que também foi localizado. Este com a aquiescência da mãe, passou a viver também em sua casa, juntamente com Luiz Henrique. Ali cresceram, estudaram, e se formaram. Ivo passou a viver com a mulher que lhe deu os filhos, teve uma melhora com a ajuda de psicólogos, remédios, e na medida do possível auxiliava o pai a administrar a empresa. Luiz Henrique formou-se engenheiro, e Leonardo economista. Júlio, já com a idade avançada, fez um testamento determinando a divisão de seu patrimônio, de acordo com a lei. Tudo caminhava normal, até a morte de Júlio. Quando menos se esperava, estando o inventário já em fase de encerramento, numa perícia contábil feita na empresa, foram encontrados diversas falhas e desvio de dinheiro.</span></span></p><p class="x_ydpe8172c2eyiv0459845067msonormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: white; color: #201f1e; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: #1d2228; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: times; font-size: medium;"> </span></span></p><p class="x_ydpe8172c2eyiv0459845067msonormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: white; color: #201f1e; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: #1d2228; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: times; font-size: medium;"><i><b>– Gabriel Ellos</b></i></span></span></p><p class="x_ydpe8172c2eyiv0459845067msonormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: white; color: #201f1e; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: #1d2228; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: times; font-size: medium;"> </span></span></p><table border="0" cellpadding="0" class="x_ydpe8172c2eMsoNormalTable" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: white; color: #201f1e; font-stretch: inherit; font-variant-east-asian: inherit; font-variant-numeric: inherit; line-height: inherit;"><tbody style="-webkit-font-smoothing: antialiased;"><tr style="-webkit-font-smoothing: antialiased;"><td style="-webkit-font-smoothing: antialiased; padding: 0cm; width: 437.9pt;" width="588"><p class="x_ydpe8172c2eMsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="font-family: times; font-size: medium;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: #1d2228; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">A família de Júlio quis saber o que estava acontecendo e quais eram as razões para todos aqueles erros. A surpresa veio logo, tudo aquilo tinha explicação.<br style="-webkit-font-smoothing: antialiased;" />Na época em que Ivo fora baleado, Júlio acabara repensando toda sua vida e se empenhou em ser melhor, aos poucos foi conhecendo Simone e captando detalhes que mudariam e muito sua vida, nessa aproximação, Júlio se deu conta de que Simone era a linha tênue entre seus filhos. Ivo era inconsequente, Ana era extremamente centrada, um não tinha vida e o outro não valorizava a que tinha, mas Simone era diferente, não teve a vida de seus irmãos e, no entanto, não reclamava de nada, a garota era só doçura. Júlio sentia a necessidade de ajudar a filha, apenas as contribuições já feitas não bastavam, ele queria provar que havia mudado, mas sabia que só tinha dinheiro e então aí surgiu a terrível ideia de desviar dinheiro para beneficiar Simone, que de nada sabia. O pai não agia sozinho, Ivo sabia das ações e ajudava, para ele era o correto. Abriram uma conta secreta para garantir o futuro da doce Simone. Óbvio que tais ações chegariam ao fim com a morte de Júlio e então após a perícia contábil, Ivo precisou contar tudo e foi assertivo ao dizer que tudo havia sido planejado pelo pai e que os desvios não causariam grandes problemas, foi firme ao afirmar que, se fosse necessário, assumiria toda a responsabilidade das ações cometidas por ele e seu pai. Eulália e Ana não diziam sequer um A, não por desaprovação, mas sim por orgulho, foram poucas as vezes na vida que Ivo tomara atitudes corretas. Tudo parecia ótimo até que Simone ficou sabendo dos fatos que haviam escondido dela.</span><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: #1d2228; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"></span></span></p></td></tr></tbody></table><p class="x_ydpe8172c2eMsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: white; color: #201f1e; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="font-family: times; font-size: medium;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: #1d2228; font-stretch: inherit; font-variant: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><br /><i><b>- Cléa Magnani</b></i></span></span></p><p class="x_ydpe8172c2eMsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: white; color: #201f1e; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="font-family: times; font-size: medium;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: #1d2228; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Ao conhecer a família de seu pai, Simone não conseguia compreender como Eulália, uma mulher tão resignada e preocupada com o bem-estar de todos, que sempre esteve presente nos piores momentos da vida de Ivo, poderia ter sido traída por Júlio, sem reagir. As comparações entre a legítima esposa de seu pai, dedicada ao extremo à família, e seu pai, tão omisso na educação de Ivo, onde o dinheiro substituía o carinho, a atenção, as conversas educativas, a sua presença enfim, eram gritantes. E sua primeira reação foi de indignação. Jamais aceitaria que seu pai e seu irmão houvessem retirado dinheiro da fábrica para ajudá-la a ser criada por sua mãe irresponsável, que traiu a melhor amiga com seu marido. A jovem, revoltada pediu que se reunisse a família e disse que restituiria centavo por centavo, tudo o que Júlio e Ivo desviaram para o seu próprio sustento e educação. Depois de longa conversa com Ivo, Júlia Luiz Henrique e Leonardo, decidiram que não era o momento de tentarem reverter a história. Compreenderam que Júlio apesar de nunca procurar trazer Ivo para o seu lado quando menino ou adolescente, o amava muito, e que por não querer que o filho tivesse a vida de trabalho que ele teve, extrapolou numa liberdade exagerada, onde o jovem sempre teve o que quis, e que sem o freio que a Educação ensina, resolveu seguir os seus instintos, e acabou fazendo tantas coisas erradas na vida. Os frutos dessa irresponsabilidade, seus dois filhos, hoje estariam sabe-se lá como, caso Júlio, não os houvesse acolhido em sua casa. E o mesmo aconteceu com Simone, que se não fosse ajudada secretamente por Júlio e Ivo, também poderia ter-se perdido pois sua mãe já provara que responsabilidade era uma coisa que ela não tinha ao trair a maior amiga. Decidiram então colocar uma pedra sobre o passado, e partir para a ajuda a entidades beneficentes de atendimentos às mães solteiras, e crianças órfãs ou abandonadas, com parte da herança de cada um.</span><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: #1d2228; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"></span></span></p><p style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: white; color: #201f1e; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; border: 0px; color: #1d2228; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: times; font-size: medium;">O Amor é um sentimento sem limites. Porém quando desorientado, demasiado e obsessivo, pode atrapalhar...</span></span></p><p style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: white; color: #201f1e; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; border: 0px; color: #1d2228; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: times; font-size: medium;"><br /></span></span></p><p style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: white; color: #201f1e; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; border: 0px; color: #1d2228; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: times; font-size: medium;"><br /></span></span></p><p style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: white; color: #201f1e; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; border: 0px; color: #1d2228; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: times; font-size: medium;">AUTORES: JOSÉ BUENO LIMA, ALBERTO VASCONCELOS, GABRIEL ELLOS E</span></span></p><p style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: white; color: #201f1e; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; border: 0px; color: #1d2228; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: times; font-size: medium;">CLÉA MAGNANI</span></span></p>Carlos A. Lopeshttp://www.blogger.com/profile/05881754756325061589noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7820075820885671645.post-60115049581165929732020-11-02T18:19:00.000-03:002020-11-02T18:19:10.033-03:00GUY DE MAUPASSANT CANAL GANDAVOS<iframe style="background-image:url(https://i.ytimg.com/vi/4Cblc2Asft8/hqdefault.jpg)" width="480" height="270" src="https://www.youtube.com/embed/4Cblc2Asft8" frameborder="0"></iframe>Carlos A. Lopeshttp://www.blogger.com/profile/05881754756325061589noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7820075820885671645.post-52874665793906957112020-11-02T17:49:00.003-03:002020-11-02T17:49:22.983-03:00TÍTULO: TROPEÇO<p> <span style="background-color: white; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-style: inherit; font-variant-caps: inherit; font-variant-ligatures: inherit; font-weight: inherit; text-align: justify;">– José Bueno Lima</span></p><p class="x_ydpfd7367f9MsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; border: 0px; color: #1d2228; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Assim que desceu do taxi, e retirou suas malas, Everardo notou a casa abandonada. As janelas cerradas, com aspecto sujo, a porta, igualmente empoeirada, tinha seu rodapé cheio de folhas secas. Ficava num bairro de classe média da capital de São Paulo, na Saúde. Tudo aconteceu há um ano. Executivo de uma multinacional, Everardo chegou a esse posto galgando degrau por degrau. Começou como simples escriturário, no setor de compras. Inteligente, e mais que isso, voluntarioso, demonstrava grande interesse em aprender tudo o que fosse útil. Assim, angariou a simpatia de seus superiores. E, foi crescendo na empresa. Supervisor, chefe, assessor da diretoria e, finalmente, conquistou um cargo de diretor. Além de respeitado como profissional, sempre teve um procedimento muito simples, tratando seus subordinados com muito carinho, sem nunca perder a autoridade. Ademais, como a matriz da empresa se situava na Alemanha, a cada mês, mês e meio, havia necessidade de para lá viajar. Paralelamente, a vida social de Everardo se modificou de forma total. Por ser o executivo da empresa, sentia-se obrigado a frequentar os eventos sociais. Vindo de família simples, e tendo se casado com uma mulher que como ele vindo do interior, não acostumada a participar desse tipo de eventos, ele sempre comparecia aos mesmos desacompanhado. Com 25 anos, boa aparência, simpático, bem-posto profissionalmente, não foi difícil despertar o interesse do sexo feminino. Everardo resistiu por um bom tempo. Pensava na mulher, fiel companheira, no filho. Chegou um momento, todavia, em que a fortaleza sucumbiu.</span></p><p class="x_ydpfd7367f9MsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; border: 0px; color: #1d2228; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"> </span>– Cléa Magnani</span></p><p class="x_ydpfd7367f9MsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; border: 0px; color: #1d2228; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Num evento de final de ano, quando a Empresa promoveu um jantar regado a vinhos alemães, após os aperitivos, e brindes ao sucesso do ano que se findava, a chuva costumeira, de dezembro em São Paulo, caiu forte, e não estava com jeito de parar tão cedo. Passava muito da meia noite, e Janete Müller, a escultural secretária do Diretor, com quem Everaldo havia dividido a mesa durante o jantar, e se divertido bastante com o bom humor da jovem de um sorriso cativante, e um decote alucinante, ia pedir um taxi para voltar ao seu apartamento, nos Jardins, quando Everardo, um tanto quanto alegre com os drinques e muito mais alegre pela presença de Janete, cavalheirescamente se prontificou a levá-la para casa. O trânsito nas primeiras horas da madrugada, por causa das festas de encerramento de várias empresas, e pela chuva, estava bastante complicado, mas a presença da jovem ao seu lado, o perfume inebriante que a envolvia, seus longos e muito bem tratados cabelos, que ela jogava, de um lado para outro, cada vez que ria, a sombra dos pingos da chuva no para-brisa que pareciam brincar de escorregar pelo seu rosto e iam se perder em seu colo, fazia com que Everardo se sentisse profundamente atraído por ela, e sem o menor controle, colocou a mão em seu joelho enquanto esperava o farol abrir. Na verdade, ele queria que o farol não abrisse tão cedo... Janete, sem saber do estado civil de Everardo, simplesmente colocou o braço em torno do ombro dele e sorriu, como a consentir o carinho.</span></p><p class="x_ydpfd7367f9MsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; border: 0px; color: #1d2228; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">– Alberto Vasconcelos</span></p><p class="x_ydpfd7367f9MsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; border: 0px; color: #1d2228; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Durante as reuniões da diretoria, Everardo ouvira Herr Leonard Günther, Presidente Executivo da Empresa para as três Américas, a frase que caracterizava a sua personalidade – ‘se a família atrapalha seu desempenho profissional, troque de família”, com voz tonitruante e com o fortíssimo sotaque de quem aprendeu a falar o idioma Português depois de adulto. Talvez fosse aquela a oportunidade dele ver-se livre daquele casamento falido, daquela indiferença por tudo o que ele representava. Talvez fosse a oportunidade de trocar a falta de diálogo por um incentivo de alguém com os mesmos objetivos. Luís Filipe permaneceria com a mãe até a adolescência, depois iria para uma escola na Alemanha para receber os ensinamentos que lhe garantiriam vida boa na Europa, no Brasil ou em qualquer parte do mundo aonde seus conhecimentos fossem necessários, portanto a existência dele não era empecilho para o divórcio. Pelo celular a defesa civil avisou que a maioria das ruas estavam inundadas e que era recomendável a população permanecer em locais seguros. Não foi difícil convencer Janete de que eles deveriam se abrigar, só por aquela noite, no hotel cuja lâmpada rotatória da entrada do estacionamento coloria de amarelo o vidro da janela do carona. Entraram, deixando as chaves com o manobrista e se dirigiram à recepção. Não havia bagagem e a previsão de saída era para quando a chuva permitisse.</span></p><p class="x_ydpfd7367f9MsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; border: 0px; color: #1d2228; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Everardo abriu a garrafa de um champanhe Veuve Clicquot, entregou a taça de cristal a Janete que havia sentado na cama e massageava os pés, agora livres dos torturantes saltos altos. Abriu as cortinas para que pudessem ver o espetáculo dos raios e sentou-se na poltrona estofada de veludo azul marinho.</span></p><p class="x_ydpfd7367f9MsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; border: 0px; color: #1d2228; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">– José Bueno Lima</span><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"></span></p><p class="x_ydpfd7367f9yiv9977897401msonormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 12.85pt; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: #1d2228; font-family: "New serif", serif; font-size: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"> </span></p><p class="x_ydpfd7367f9yiv9977897401msonormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 12.85pt; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: #1d2228; font: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Não, positivamente, não! Everardo tomado por um sentimento de dor de consciência, e também movido pelo excesso de álcool ingerido, fez ver a Janete que a noite não iria passar de um escape, obrigado pelo mau tempo. Então, esperaram a chuva passar, ele pagou a conta do hotel, e levou-a para casa. Mariana, sua mulher, o aguardava com ares de poucos amigos, notando seu estado alterado. Houve discussão bem séria, tendo a mulher declarado que aquela vida não poderia continuar, que o casamento estava acabado. Everardo retrucou dizendo que deveria ela ter paciência, afirmando que, daí poucos dias ele iria para Alemanha, e quando voltasse eles conversariam com mais calma. Passados uns dias, ele já em Hamburgo, sempre demonstrando sua enorme capacidade e conhecimento do trabalho, começou a ser visto com bons olhos pelo presidente da empresa, Franz Joachin Walters, e após uma reunião, pediu que Everardo ficasse em sua sala. Declarou estar muito satisfeito com a sua performance na empresa, devendo ele permanecer na Alemanha, por mais uns três meses e convidou-o para um jantar em sua residência naquela noite. Conheceu a família do presidente, sua mulher Gertrudes, e sua filha Hertha. Ficou impressionado com a beleza da moça, simpática e que correspondeu aos seus olhares. Não foi difícil um se apaixonar pelo outro. Paixão fulminante! Durante o tempo em que permaneceu em Hamburgo, foram muitas as declarações de mútuo amor, projetos de casamento, com a aquiescência da família de Hertha. Everardo, já havia esquecido da família. Iria para o Brasil somente a fim de falar com Mariana e providenciar o divórcio.</span></p><p class="x_ydpfd7367f9yiv9977897401msonormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 12.85pt; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: #1d2228; font: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Mariana já sabendo de tudo através da Janete, abandonou a casa onde moravam...</span></p><p class="x_ydpfd7367f9yiv9977897401msonormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 12.85pt; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: #1d2228; font: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><br /></span></p><p class="x_ydpfd7367f9yiv9977897401msonormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 12.85pt; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: #1d2228; font: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">AUTORES: JOSÉ BUENO LIMA, CLÉA MAGNANI E ALBERTO VASCONCELOS</span></p><p class="x_ydpfd7367f9MsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"> </span></p>Carlos A. Lopeshttp://www.blogger.com/profile/05881754756325061589noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7820075820885671645.post-59451013451183596012020-10-31T23:25:00.003-03:002020-10-31T23:25:25.224-03:00TÍTULO: LEONOR<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0yvezZKPp5ABXPmTJywiwungDMayuf824B131UYgGOuubbkEfOY-RiDlpVc4zQvEmESI9pv81kF4gAihTI7odlO8p655Hvz526dl5yawn8WxjZ9Lhco4-VEE-HAip3-93b3L6JTJWDPMu/s1280/maria.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="1280" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0yvezZKPp5ABXPmTJywiwungDMayuf824B131UYgGOuubbkEfOY-RiDlpVc4zQvEmESI9pv81kF4gAihTI7odlO8p655Hvz526dl5yawn8WxjZ9Lhco4-VEE-HAip3-93b3L6JTJWDPMu/s320/maria.jpg" width="320" /></a></div><br /><p></p><p><br /></p><p class="x_ydp8781d7b8MsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><b style="-webkit-font-smoothing: antialiased;"><i style="-webkit-font-smoothing: antialiased;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 19.9733px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">MARIA MINEIRA:</span></i></b></p><p class="x_ydp8781d7b8MsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 19.9733px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Entre as casinhas daquelas bandas, destacava-se a de Leonor, caiada de branco, com janelas azuis. À entrada, chegando ao terreiro, um cruzeiro enfeitado de cipós floridos. Sendo ela, a moradora, uma viúva ainda jovem e bela, segundo corria na boca do povo, não levava vida de mulher direita.</span></p><p class="x_ydp8781d7b8MsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 19.9733px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Pedro estava de partida, a mãe com cara de satisfação e vitória, finalizava a arrumação de seus pertences para a viagem. Ele tentava ignorar a mala no chão da sala. O olhar triste para a casinha branca do outro lado do rio, bem ao pé da serra, parecia que alma queria saltar do corpo e ficar por ali vagando...</span></p><p class="x_ydp8781d7b8MsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 19.9733px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Leonor sentada perto do fogão a lenha tentava se aquecer de uma friagem que parecia acumulada de muitas vidas. Aflita, sentia que nada mais poderia ser feito, além de se conformar com sua triste sina. Tantos momentos bons perdidos para sempre. Ela sabia que Pedro logo a esqueceria nos braços de outra mulher, talvez até mesmo aquela imposta pela mãe. Ela queria gritar tudo que estava sufocado no peito para impedir que ele fosse embora e começasse uma vida longe dela. Era jovem, bonito e o futuro lhe acenava cheio de esperança...</span></p><p class="x_ydp8781d7b8MsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><b style="-webkit-font-smoothing: antialiased;"><i style="-webkit-font-smoothing: antialiased;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 19.9733px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">ALICE GOMES:</span></i></b></p><p class="x_ydp8781d7b8MsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 19.9733px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Berenice, mãe de Pedro, não via a hora de separar o filho daquela sirigaita, como a chamava na roda de amigas .</span></p><p class="x_ydp8781d7b8MsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 19.9733px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">– Deus me livre deixar meu menino nas mãos de uma mulher dessas! – e desfilava o seu rosário de nomes depreciativos com os quais iniciara uma verdadeira campanha contra a honra de Leonor.</span></p><p class="x_ydp8781d7b8MsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 19.9733px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">O que ela não contava, nem sob tortura, era do ciúme mórbido que sentia dos olhares do marido para Leonor, desde quando o falecido ainda era vivo! O falecido marido de Leonor fora empregado do seu por muitos anos e, por esta razão, Leonor frequentava sua casa em várias situações, sempre que ela precisava dos seus serviços na cozinha. Já naquele tempo se incomodava com o frescor da juventude e a beleza da empregada. Mas, o ciúme bateu violento, mesmo, foi durante o velório e os preparativos do enterro. Não adiantou o marido argumentar que tanto desvelo para com a jovem viúva se devia à velha amizade dele com o falecido. Fez questão de impor distância entre os dois, tomando para si a responsabilidade de suprir as necessidades da viúva, a pedido do marido, sem que ele lá fosse. Então, a partir desse dia, incumbiu Pedro da tarefa, entre outras coisas, de levar todos os meses a cesta básica para Leonor. Para seu martírio, agora era o filho quem caía de amores pela sirigaita.</span></p><p class="x_ydp8781d7b8MsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 19.9733px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Leonor, alheia às verdadeiras intenções de Berenice, apenas se lamentava de seu cruel destino. Não tivera sorte, nem com o casamento arranjado pelo pai, quando ainda quase menina, e muito menos com a possibilidade de ser feliz com Pedro, seu verdadeiro amor... O que seria de sua vida agora?</span></p><p class="x_ydp8781d7b8MsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><b style="-webkit-font-smoothing: antialiased;"><i style="-webkit-font-smoothing: antialiased;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 19.9733px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">CRISTHIAN DIAS:</span></i></b></p><p class="x_ydp8781d7b8MsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 19.9733px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Leonor não era santa, mas também não era uma criatura destinada a ser queimada na fogueira, como uma bruxa das histórias medievais. Berenice, como diz o povo, era uma “beatona” , dedilhava seus rosários, mas continuava sendo a mesma carrasca de sempre.</span></p><p class="x_ydp8781d7b8MsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 19.9733px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Recordo a vós, leitores, sobre o dia em que Pedro partiria, o que fez esta perversa mulher, a fim de arruinar a história de amor dos pombinhos. Para agradar seu filho, propôs ao marido que fizesse no dia 13 daquele mês, um almoço de despedida. Este que de bobo não tinha nada, logo aceitou, pois raramente a esposa avarenta sugeria tais coisas.</span></p><p class="x_ydp8781d7b8MsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 19.9733px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">E assim, os empregados iniciaram a preparação daquele almoço, cevando o porco alguns dias antes, para que estivesse bem gordo para o momento de colocá-lo no forno. Também se prepararam para fazer uma deliciosa galinha caipira! Seu Agostinho se encarregou de arrumar uma boa pinga para beber com o filho, uma última vez, antes de sua partida.</span></p><p class="x_ydp8781d7b8MsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 19.9733px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Dizendo necessitar da ajuda da moça para a preparação do almoço de despedida, Berenice foi até a casa de Leonor e pediu que comparecesse à sua casa, a partir das seis horas da manhã para ajudar na cozinha. Inocente era o coração de Leonor, que rapidamente enxugou as lágrimas e pulou de alegria ao receber tal convite, pois assim poderia ver ao menos uma última vez, o seu “Romeu”.</span></p><p class="x_ydp8781d7b8MsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 19.9733px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Ao lembrar daquela palavra tão forte, rápida ao balbuciar, mas com um significado tão profundo, que marcava o interior de sua alma, lágrimas correram e cessaram ao olhar para o botão de rosa, presente do seu amado. Despedida, era a palavra...</span></p><p class="x_ydp8781d7b8MsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><b style="-webkit-font-smoothing: antialiased;"><i style="-webkit-font-smoothing: antialiased;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 19.9733px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">HELENA SOUZA:</span></i></b></p><p class="x_ydp8781d7b8MsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 19.9733px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Leonor sentiu que não poderia ir àquele almoço, pois não suportaria tão grande tristeza ao ver Pedro com outra mulher. Apesar de sentir a rejeição da patroa e vizinha, a jovem respeitava a senhora Berê. Era assim que a chamava e nunca quis faltar-lhe com o respeito. Disse então que iria sim, ajudá-la no almoço e se sentia na obrigação de fazê-lo.</span></p><p class="x_ydp8781d7b8MsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 19.9733px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Leonor nem dormia mais direito, pensava dia e noite na sua desafortunada vida. Não sabia o que fazer, amava Pedro e jamais se casaria com ele, pois havia outra. Consumiu-se em pensamentos e dias tristes, até na manhã daquele dia 13. Não se sabe se de tristeza ou de natureza física, a pobre Leonor não conseguiu levantar-se da cama, ardia em febre naquela manhã.</span></p><p class="x_ydp8781d7b8MsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 19.9733px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Dona Berenice recebeu um recado logo cedo, avisando sobre a enfermidade da moça. Precisou então ajeitar-se apenas com os empregados da fazenda e providenciar ela mesma, o almoço daquele dia. Acabou conseguindo e tudo saiu como queria. Na hora tão aguardada por ela, a jovem juntamente com os pais chegou à fazenda, para o tão esperado almoço.</span></p><p class="x_ydp8781d7b8MsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 19.9733px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Fina e educada ela comportou-se como uma dama perante os pais de Pedro, seu futuro marido, a quem deveria amar e cuidar. As famílias trataram de adiantar os preparativos do casamento, sem esquecer da necessária partida do casal, que iria morar bem longe dali. A jovem sentou-se ao lado do noivo e era notável o desconforto entre ambos, pois mal se conheciam e muito menos se amavam. Não tinham no olhar, algo que somente jovens enamorados compartilham.</span></p><p class="x_ydp8781d7b8MsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 19.9733px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Seu Agostinho, ao perceber a situação, tentou deixar o filho mais à vontade, servindo-lhe algumas bebidas a mais. No final do dia, Pedro já estava falante e alegre. Despediu-se de todos e após partirem, mal esperou a noite e também se retirou, mas não para seus aposentos. Atravessou o rio e caminhou em direção à casa branca ao pé do morro, para cuidar e amar a quem ele realmente desejava...</span></p><p class="x_ydp8781d7b8MsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><b style="-webkit-font-smoothing: antialiased;"><i style="-webkit-font-smoothing: antialiased;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 19.9733px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">MARIA MINEIRA/ EPÍLOGO:</span></i></b></p><p class="x_ydp8781d7b8MsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 19.9733px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Respiração ofegante, coração batendo acelerado, pois Pedro estava decidido a deixar tudo de lado e assumir Leonor, juntamente com os filhos! Seus pais que o deserdassem se fosse o caso. Deixaria o coração falar, não seria infeliz o resto da vida por convenções sociais. Sentia um alívio imenso após ter tomado tal decisão.</span></p><p class="x_ydp8781d7b8MsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 19.9733px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Ao se aproximar da casa, estranhou uma lamparina acesa, pois geralmente nessa hora, as crianças já estariam dormindo e Leonor também. Ouviu alguns murmúrios, vozes abafadas e se escondeu atrás do muro de pedras. Pôde ver claramente um homem coberto por uma capa, se esgueirar por entre as árvores do quintal.</span></p><p class="x_ydp8781d7b8MsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 19.9733px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Coração estilhaçado, mas precisava saber quem era. Sorrateiro, acompanhou aquela pessoa por alguma distância e não teve mais dúvidas. Pelo rumo que o homem seguiu, pela estatura e até a cor da capa denunciada pelo clarão da lua, Pedro teve certeza. Era seu próprio pai!</span></p><p class="x_ydp8781d7b8MsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: #1a1a1a; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 19.9733px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Era o amargo e dolorido fim de um amor que iluminado sua vida desde a adolescência. Pedro, desnorteado ficou sentado à luz da lua cheia até a madrugada. Sua existência se transformara em poucos minutos em uma escuridão sem volta. Nunca comentou com ninguém o que pensou naquelas horas em que foi o mais solitário dos mortais.</span></p><p class="x_ydp8781d7b8MsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: #1a1a1a; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 19.9733px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Na mesma madrugada entrou na casa onde crescera, pegou sua mala, despediu-se e seguiu rumo à estação férrea. Havia tristeza nos olhos dos pais, mas também um estranho contentamento ao vê-lo partir . O trem chegou na estação quando o dia amanhecia. </span></p><p class="x_ydp8781d7b8MsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: #1a1a1a; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 19.9733px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">O burburinho dos passageiros não foi percebido, assim como aquele trem, o seu coração parecia ser metálico e frio para sempre. Viu muito beijos e abraços das despedidas, mas nenhum para ele. Ela não viria se despedir, afinal, o que poderia ainda ser dito? Haviam jurado amor eterno e que só Deus os separaria, mas ela não cumpriu!</span></p><p class="x_ydp8781d7b8MsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: #1a1a1a; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: 19.9733px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">A viagem seria muito longa. Tirou da carteira a única foto que tinha de Leonor, olhou pela última vez aquela mulher linda de pele clara e longos cabelos negros, rasgou em muitos pedaços e atirou pela janela. Caía uma chuva fina e com certeza apagaria a imagem do papel atirado ao vento, mas jamais do coração...</span></p><p class="x_ydp8781d7b8MsoNoSpacing" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Há muitas léguas dos trilhos, na casa dos pais:</span></p><p class="x_ydp8781d7b8MsoNoSpacing" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">– Berenice, eu não me conformo de ter aceitado sua ideia, ido lá naquela hora levar remédio para Leonor e feito isso com nosso filho.</span></p><p class="x_ydp8781d7b8MsoNoSpacing" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Ela disse com ar triunfante:</span></p><p class="x_ydp8781d7b8MsoNoSpacing" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">– Prefiro um filho longe de mim para sempre que casado com aquela mulher!</span></p><p class="x_ydp8781d7b8MsoNoSpacing" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Após cinco décadas, Pedro voltou à antiga fazenda que fora dos pais e com dificuldade atravessou o rio, obedecendo seus pés que o levaram até a casinha branca já quase em ruínas. Ao se aproximar avistou sentada num toco debaixo de uma árvore, uma mulher idosa de olhar sereno. Ela tinha os cabelos brancos presos por um coque no alto da cabeça. Acomodou-se ao seu lado como se o tempo não tivesse passado e segurando sua pequena mão enrugada, disse:</span></p><p class="x_ydp8781d7b8MsoNoSpacing" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">– Pensei que me amava. Por que me traiu?</span></p><p class="x_ydp8781d7b8MsoNoSpacing" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">– Amava muito. Seu pai aquele dia me fez entender que eu estragaria sua vida, eu fiz a coisa certa.</span></p><p class="x_ydp8781d7b8MsoNoSpacing" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;">–<span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"> Me traiu com ele?</span></p><p class="x_ydp8781d7b8MsoNoSpacing" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">– Com ninguém, nunca!</span></p><p class="x_ydp8781d7b8MsoNoSpacing" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; font-style: inherit; font-variant-caps: inherit; font-variant-ligatures: inherit; font-weight: inherit;">As mãos se uniram para nunca mais se separarem. No céu, a lua cheia foi testemunha silenciosa daquele momento...</span></p><p class="x_ydp8781d7b8MsoNoSpacing" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; font-style: inherit; font-variant-caps: inherit; font-variant-ligatures: inherit; font-weight: inherit;"><br /></span></p><p class="x_ydp8781d7b8MsoNoSpacing" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; text-align: justify;"><span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: 18.6667px;">AUTORES;</span></span></p><p class="x_ydp8781d7b8MsoNoSpacing" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; text-align: justify;"><span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: 18.6667px;">MARIA MINEIRA, ALICE GOMES, CRISTHIAN DIAS E HELENA SOUZA</span></span></p>Carlos A. Lopeshttp://www.blogger.com/profile/05881754756325061589noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7820075820885671645.post-50359525846399140402020-10-30T20:06:00.000-03:002020-10-30T20:06:16.967-03:00A HISTÓRIA DE UM ASSASSINATO EM CUSTÓDIA LAMPIÃO CANAL GANDAVOS<iframe width="480" height="270" src="https://www.youtube.com/embed/T3p2DYJwpq8" frameborder="0"></iframe>Carlos A. Lopeshttp://www.blogger.com/profile/05881754756325061589noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7820075820885671645.post-39655947790414606112020-10-28T00:25:00.007-03:002020-10-28T22:38:51.300-03:00TÍTULO: O PREÇO DA FAMA<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLKKScEBZ1WpuajvfUuqLJF3UsiMezLf5_xMeUiYIp0hvTZOhDx-0Q_prIjYKr_g-FZZSjCDCEom2sHvTveRRjbUrTlq5QFn4NawzL4CmWGMRei-0FL1HC55KuT-bHvOqI_RvjZVxJfZ9U/s444/5a3dfa0b-d3d9-4a9a-8f48-85c9df87df0f.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="400" data-original-width="444" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLKKScEBZ1WpuajvfUuqLJF3UsiMezLf5_xMeUiYIp0hvTZOhDx-0Q_prIjYKr_g-FZZSjCDCEom2sHvTveRRjbUrTlq5QFn4NawzL4CmWGMRei-0FL1HC55KuT-bHvOqI_RvjZVxJfZ9U/s320/5a3dfa0b-d3d9-4a9a-8f48-85c9df87df0f.jpeg" width="320" /></a></div><br /><p></p><p><br /></p><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Parte 1 — João
Batista Stabile<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">No seu confortável
apartamento, num bairro de classe média alta na cidade do Rio de Janeiro, Maria
da Conceição olhava o espelho. Ela não via uma senhora de 83 anos, mas a jovem
que aos 18 anos de idade travou uma verdadeira batalha contra os padrões
sociais da época, em nome de um ideal. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Enfrentou o
preconceito de uma sociedade — que naquele tempo era mais machista que hoje, e
o de uma tradicional família de imigrantes italianos, principalmente por parte
de seu pai, um renomado médico, diretor de um hospital, numa cidade de grande
porte no interior do Estado de São Paulo. Ambicioso e autoritário, o pai a tratava
como a uma criança. Tinha em seu desfavor o fato de ser mulher e a caçula de
cinco irmãos, sendo o mais velho também médico, e os outros três encaminhados
profissionalmente, com as bênçãos do pai.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Maria da Conceição
pôde contar apenas com o apoio de uma pessoa: a avó paterna, sua confidente
desde criança, e cúmplice no seu plano de desviar-se do destino traçado por seu
pai, que era o de mandá-la à capital de São Paulo, para ingressar na
universidade e se preparar para a carreira acadêmica, como professora
universitária. Sua mãe, apesar de em segredo torcer por ela, não teve coragem de
se indispor com o marido, manteve-se neutra.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Quando num jantar
de família ela comunicou a todos o que há muito vinha pensando, foi um
alvoroço. Tentaram de todas as formas demovê-la de seu intento, até ameaças
recebeu, mas não cedeu nem um milímetro. Buscava forças no olhar discreto, mas
expressivo de sua protetora. Por fim, contra a vontade de todos, menos da avó
que a ajudou com dinheiro de suas economias, partiu para o Rio de Janeiro em
busca de realizar seu sonho....<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Parte 2 — Marina
Alves<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Da janela do trem,
Maria da Conceição vislumbrou as primeiras paisagens da belíssima metrópole,
onde pretendia viver dali por diante. Ali estava seu mundo, sua vida e nada a
faria mudar de ideia, ou voltar atrás: o Rio de Janeiro abrigava tudo que
queria para si desde muito cedo, quando folheava as revistas que a mãe
assinava. Ali haveria de realizar seus mais ousados desejos! E foi pensando
nisso que ela saltou na estação e chamou o carro de aluguel que a levaria ao
endereço que a avó secretamente lhe havia confiado na véspera de sua partida,
quando conversaram por longo tempo a portas fechadas. Duas horas depois ela
saltava à porta de um pequeno sobrado onde se lia “Há vagas para moças” e
apresentava-se ao senhorio:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">— Con Ricceli! —
disse estendendo a mão direita para cumprimentar o homem baixinho e atarracado
que viera atendê-la.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Após acomodar os
poucos pertences da pequena mala e tomar uma boa chuveirada para descansar o
corpo cansado da viagem, a moça sentou-se numa cadeira de palhinha postada ao
lado da cama. Retirou da maleta de mão um espelho oval, com cabo de madrepérola
que a avó lhe dera também na véspera. Olhou-se demoradamente e o que viu a
deixou muito satisfeita: cabelos louros cacheados, o lindo rosto de pele fina e
branca, olhos claros de uma limpidez espantosa, a boca de lábios cheios e bem
desenhados, sobrancelhas espessas e bem traçadas, conforme os ditames da moda.
Não havia dúvida: Con Ricceli — que era como seria chamada e reconhecida dali
por diante, era uma mulher lindíssima. Sim! A beleza lhe abriria as portas do
sucesso... Além, é claro, da voz, seu mais caro e poderoso atributo! Sorriu
para si, refletindo no espelho a fileira de pérolas dos dentes perfeitos. A
vida era bela! E ela também!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Após uma noite de
sono repousante, em que evitou pensar no que deixara para trás, Con levantou-se
com uma disposição que não sentia, há anos. Arrumou-se com extremado zelo, vestindo
o que tinha de melhor. Chamou um carro, desta vez, para levá-la a outro
endereço cuidadosamente pesquisado e anotado em sua cadernetinha azul: o da
Rádio Litoral... <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Parte 3 — Celêdian<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Em pouco mais de
meia hora lá estava ela, fascinada, diante daquele prédio que nada tinha de
imponente, mas por estar diante da possibilidade de realizar o que sempre
sonhara. Con ficou alguns minutos ali parada, tomando coragem para entrar. Já
na portaria se deparou com o primeiro obstáculo: ao se apresentar e dizer que
precisava falar com Cassiano Duarte, foi questionada pelo porteiro, se havia
marcado entrevista e por quem havia sido indicada. Ao responder que não marcara
e que não havia nenhuma indicação, que estava ali pelo anúncio de um show de
calouros, recebeu dele uma resposta seca e nada amistosa, que as inscrições já
estavam encerradas e que não conseguiria falar com o famoso Radialista. Ela
agradeceu e saiu dali desolada, mas sem desistir de achar uma saída, pensaria
em alguma estratégia e voltaria a Rádio. Andou a esmo pela Cidade Maravilhosa
horas a fio, observando tudo à sua volta, deslumbrada com tantas novidades.
Retornou exausta à pensão. Dormiu mal, pois ficara maquinando ideias do que
poderia fazer.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">No dia seguinte,
bem cedo, aprontou-se e decidida voltou a Rádio. Levava consigo um bilhete que
ela mesma escrevera e no qual simulava a recomendação de alguém importante, um
nome famoso que por acaso ouvira em um programa de rádio. Por sorte, o porteiro
não era o mesmo do dia anterior e enquanto ele fazia-lhe as mesmas perguntas do
anterior, mostrou-lhe o bilhete e ele prontamente, sem nenhuma resistência a
mais, a encaminhou à presença de Senhor Cassiano. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Ao vê-lo, ficou
espantada, pois esperava encontrar alguém mais velho, mas era um rapaz que
aparentava aproximadamente 30 anos, muito magro, pálido e com os cabelos mal
arrumados. De cabeça baixa, vendo alguns papéis e sem sequer fitá-la, ele
perguntou a Con do que se tratava a sua visita. Ainda meio desconcertada, optou
por não continuar mentindo e afobadamente contou-lhe sobre o falso bilhete que
forjara e também uma breve história sobre a relutância da família pela sua
decisão de tornar-se cantora. Contou também que viera do interior de São Paulo atraída
pelo anúncio do show de calouros, mas encerradas as inscrições ficou sem rumo,
pois tratava-se da grande oportunidade de sua vida, de mostrar o seu talento
musical. Foi então que Cassiano a olhou pela primeira vez, e extasiado pela sua
beleza, perguntou qual o seu nome e a sua idade. Con, ainda de pé diante dele,
sentiu-se um pouco constrangida com aquele olhar perplexo que parecia
desnudá-la, mas que ao mesmo tempo revelava certa ternura. Ele, ainda sem saber
exatamente o que decidir, disse a ela que voltasse no dia seguinte e que veria
o que poderia fazer. Ela agradeceu efusivamente e saiu dali direto para a
pensão, sabia que seria um longo dia e uma longa noite de muita ansiedade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Amanheceu, e Con
tratou de vestir a sua melhor roupa, de pentear-se com esmero, de passar o seu
batom preferido e lá se foi em busca de seu destino. Só não contava com uma
surpresa que tomou conhecimento ao chegar a Rádio...<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Parte 4 — Maria do Rosário<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Chegando ao hall
de entrada, foi recebida pelo mesmo porteiro do dia anterior que a informou da
mudança do local do ensaio para o programa e que ela estaria entre os
selecionados, se fizesse uma boa apresentação. Con sentiu o coração bater
forte, apanhou o papel com o endereço e novamente entrou num táxi que a levou
ao seu destino. Achou estranho o silêncio e o vazio do lugar, mas tomou o
elevador e subiu para o sexto andar, onde seria o ensaio. Ali chegando, tocou a
campainha, a porta se abriu e do outro lado lá estava Cassiano, com um olhar
bem mais atencioso que o do dia anterior. Convidou-a a entrar e ela estranhou
não ver mais ninguém. Perguntou se seria ali mesmo o ensaio do programa, ao que
ele respondeu com um sorriso enigmático que havia reservado uma audição apenas
para ela. Con sentiu-se desconfortável com a resposta, olhou para os lados e,
de repente, seu olhar doce e sereno foi ganhando traços de desconfiança e medo.
Percebendo a sua reação, Cassiano disse que poderia ficar à vontade, que dali a
pouco chegaria um pianista para acompanhá-la, que deveria estar atrasado. Pediu
que ela se sentasse, o que ela fez, meio a contragosto. Passados alguns
minutos, em que um silêncio estranho pairava no ar, Cassiano começou a
perguntar de sua vida, de onde viera, que planos tinha para o futuro. Ela
começou a falar de si meio timidamente, mas aos poucos foi se revelando,
deixando que ele conhecesse um pouco do seu perfil, sem entrar muito em
detalhes. Pouco a pouco, ele foi se aproximando, e sem que ela esperasse, de
repente, pegou uma de suas mãos. Ao ver seu olhar assustado, falou calmamente:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">— Calma, menina
linda! Só quero ver se você tem mãos de fada ou de musicista. Toca algum
instrumento ou apenas canta?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">— Apenas piano,
mas prefiro só cantar. É meu sonho, desde menina, ser uma grande cantora, um
dia. Vim para o Rio em busca de uma carreira no ramo da música. Será que vamos
demorar?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">— Bem, vou ser
franco com você. Não estamos esperando ninguém. Pedi que viesse aqui porque
queria vê-la, sozinho. Percebi que é uma boa moça e não queria que você fosse
exposta em meio a uma centena de calouros e jurados sem paciência para quem
está começando. Queria que você cantasse sozinha para mim. É possível?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Cassiano a olhou
de um jeito tão terno e ansioso, que ela, de repente, sentiu-se um pouco mais
aliviada e mais à vontade.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Mostrou-lhe o
piano no fundo da sala, e ela timidamente começou a soltar as primeiras notas.
Quando definiu o que queria, soltou a voz devagarinho. E, de repente, a música <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Lábios de Mel</i> ecoou pela sala, primeiro
baixinho, depois até superando a interpretação maravilhosa que ele ouvira da
cantora Ângela Maria. Ele a ouviu emocionado, e ficou sem palavras quando o
último acorde trouxe o silêncio de volta. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">— Menina, estou
maravilhado! Meu sexto sentido estava certíssimo quando não me deixou lhe expor
no teatro da Rádio. Você nasceu para cantar. Não acredito no que acabei de ver
e ouvir. Você tem uma voz de anjo, com a força de uma leoa cantando. Nem sei o
que dizer. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Con ouvia
constrangida, meio encabulada, mas já se sentindo encorajada pelo entusiasmo do
Radialista. Resolveram sair e combinar o programa, e foram andando juntos pela
avenida, enquanto esperavam um táxi. Ele a convidou para um café, já que estava
ficando tarde, e ela aceitou. Conversaram no café como se já se conhecessem há
muito tempo e, de repente, ela se assustou ao sentir que estava começando a se
sentir atraída por ele.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“Deve ser
natural isso, pensou. Ele está me ajudando a realizar um sonho, gostou da minha
voz e isso está despertando minha simpatia. Para Cassiano Duarte, eu devo ser
só mais uma que ele ajuda na carreira artística”. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Mas não era. Desde
o primeiro programa, Cassiano mostrou-se totalmente atencioso com ela, pedia
que ela o esperasse até terminar seu horário e sempre iam almoçar juntos, ou
passear para que ele lhe mostrasse a Cidade Maravilhosa. Quando percebeu,
estavam namorando. Ele apaixonado pela sua beleza, simplicidade e talento, e
ela, pela atenção e carinho que ele demonstrou, desde o primeiro encontro. Tudo
ia bem, até que Con recebeu o convite para gravar o primeiro compacto. Ela
correu ao encontro dele para contar a grande novidade, mas a expressão que viu em
seu olhar a desarmou e a deixou sem palavras:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">— Jamais, Con!!
Nossa vida está ótima como está, nós dois estamos a cada dia mais apaixonados,
quero construir minha vida ao seu lado. Você é tudo que sonhei, mas não quero
dividir minha futura esposa com o palco, seja do que for. Quero que você cante
só para mim, no nosso círculo de amizades. Não quero que você perca essa
ternura e essa pureza na sujeira do mundo artístico. Você não sabe como é a
vida de quem entra nesse círculo vicioso, em que a rivalidade impera e cada um
quer passar por cima do outro. A luta pelo sucesso é cheia de espinhos e eu não
vou deixar você se machucar. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Ela ficou em
silêncio, sem saber o que dizer, mas sentiu o chão fugir-lhe aos pés, quando
ouviu palavra por palavra. Como ele podia estar falando assim, se sabia que o
motivo de sua vinda para o Rio era a luta pela carreira? Como podia, de repente,
sentir-se dono do seu destino? Olhou para ele com os olhos cheios de lágrimas e
sentiu o coração explodir, porque sabia que das suas palavras dependia seu
destino...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Final — João Batista Stabile<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Con disse secamente:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">— Amanhã
conversamos sobre isso! — e foi embora.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Eles namoravam
havia quatro anos, ela morava num modesto apartamento. Já em casa, Con não
conseguia acreditar no que estava acontecendo, e pensava: “Eu não briguei com
toda a minha família e com alguns amigos que não aprovaram minha decisão, para chegar
aqui e outro homem controlar minha vida. Isso nunca!”. Dormiu mal naquela
noite, mas acordou decidida: “Se é esse o preço, vou pagar!”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">No caminho para a
Rádio em que Cassiano trabalhava, ela ia pensando e juntando as coisas. Ele
sabia que seu objetivo era se apresentar num programa da Rádio Nacional. No
entanto, não demonstrava interesse nisso, sempre com a desculpa de que queria
prepará-la primeiro, pois a concorrência era grande e não queria que fracassasse.
Com isso, ia levando-a com algumas apresentações em outras Rádios, cantando em
boates ou em festas com os amigos dele, que ela acabara conhecendo. E sempre
que tinha uma oportunidade dava a entender que ela deveria continuar assim, que
o caminho da fama era muito perigoso e não o agradava.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Con Ricceli <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>chegou decidida e disse sem rodeios, antes que
fraquejasse:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">— Cassiano, eu não
admito que você decida por mim. Vim para o Rio de Janeiro com o objetivo de ser
uma cantora de Rádio, profissional. Vou conseguir isso, com ou sem você, essa é
a única decisão que lhe cabe. Disse isso com o coração apertado, pois o amava.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Ele, surpreso com
a determinação da moça, ficou sem reação. Pensando que ela iria voltar e
suplicar sua ajuda, disse apenas:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">— Está bem! Se é
isso que você quer... Siga em frente, se conseguir! Mas não conte comigo, nosso
relacionamento acaba aqui.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Foi a última vez
que conversaram. Ela, mesmo sofrendo não voltou atrás. Foi mais difícil dali
por diante, pois algumas portas se fecharam com o fim do relacionamento, mas gravou
o LP, e manteve-se firme no seu propósito de cantar na Rádio Nacional. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Con mantinha a avó
informada, por carta, de tudo que lhe acontecia. Quando ela já estava meio
cansada daquela peregrinação por Rádios e shows, um golpe de sorte fez com que
conhecesse nada menos que a estrela do Rádio, Ângela Maria. Encontrou-a, por
acaso, num café, e nem se lembrava direito como foi, mas conseguiu contar sua
história e deu-lhe um disco de presente. Ângela prometeu que iria ouvir com
carinho, que a procurasse dentro de três dias. Con Ricceli foi para casa,
maravilhada. Não acreditava que tinha conhecido pessoalmente a famosa cantora.
Passados os três dias, foi procurá-la. Ângela Maria a tratou com cortesia e
disse: <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">— Você é uma
lutadora como eu. Gostei do seu disco, vou apresentá-la a um amigo que tem um
programa na Rádio Nacional, daí para frente é por sua conta.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Foi a partir daí
que as coisas melhoraram. Ela conseguiu um contrato com a Rádio Nacional,
vieram outros LPs. Enfim, a fama! Em pouco tempo, tornou-se a sensação do Rádio,
concentrou-se em sua carreira fechando seu coração para o amor. Até teve alguns
envolvimentos com outros homens, mas nada sério, não suportava que se metessem
em sua vida. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Um dia, passado um
tempo, Con recebeu uma carta de sua mãe comunicando o falecimento de sua avó. Mas
dizia para não ficar triste, que ela morrera feliz, sabendo que sua neta preferida
era uma famosa cantora de Rádio. Dizia ainda a carta que seu pai, agora
aposentado, todas as noites após o jantar, sentava-se em sua poltrona, para
ouvi-la cantar no Rádio, ou mesmo na vitrola tocando seus discos. E que por
várias vezes o viu com o rosto banhado de lágrimas que poderiam ser de
arrependimento, saudade ou orgulho.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Con Ricceli, ainda
olhando no espelho oval de cabo de madrepérola, presente da sua querida avó,
pensava: “Paguei um alto preço por tudo isso, pois gostaria de ter tido marido
e filhos, uma família como outras cantoras têm”. Mas ao mesmo tempo, pensava:
“A vida é feita de escolhas e eu fiz a minha! Não me arrependo de nada que fiz.
Se pudesse voltar no tempo faria tudo novamente se necessário fosse”. <o:p></o:p></span></p><br /><p></p><p>Autores: <span style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">Autores: João Batista
Stabile, Marina Alves, Celêdian Assis e
Maria do Rosário.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></b></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><br /></p>Carlos A. Lopeshttp://www.blogger.com/profile/05881754756325061589noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7820075820885671645.post-11017009407483226302020-10-27T09:33:00.003-03:002020-10-28T22:38:17.314-03:00TÍTULO: EM PARIS TUDO É POSSÍVEL<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg97zyljCy0nvE6MaPZAeni5ATCFAcPxv3-xfu8vtPkLvKVq6RFlL0vkaEYdyJYL52UbSsuduTsFQb7BSFFb0WDBviEClIWgZiCd9oqwoThFwza1jccgakcA5J3RjuMnX19mMl6iKq6cV6F/s1280/0c51b0fb-9ded-49a1-ac5b-105df0a8091d.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1280" data-original-width="622" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg97zyljCy0nvE6MaPZAeni5ATCFAcPxv3-xfu8vtPkLvKVq6RFlL0vkaEYdyJYL52UbSsuduTsFQb7BSFFb0WDBviEClIWgZiCd9oqwoThFwza1jccgakcA5J3RjuMnX19mMl6iKq6cV6F/s320/0c51b0fb-9ded-49a1-ac5b-105df0a8091d.jpeg" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><p></p><p class="x_ydp419afeeMsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: rgb(255, 255, 255); color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">EM PARIS TUDO É POSSÍVEL</span></p><p class="x_ydp419afeeyiv3416562646ydp6df0809msonormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: rgb(255, 255, 255); color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "New serif", serif; font-size: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Parte 1 – Socorro Beltrão</span></p><p class="x_ydp419afeeyiv3416562646ydp6df0809msonormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: rgb(255, 255, 255); color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "New serif", serif; font-size: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Sarah estava sentada no alto da colina, tinha o mundo aos seus pés. A Fazenda Santa Rita. O rio murmurava baixinho lá embaixo, em seu eterno chuá chuê. A paisagem era de tirar o fôlego, o sol dava um espetáculo à parte, tingindo de rubro o céu, deixando o espelho d’ água também rubro. O dia estava se despedindo, logo se faria noite. Tudo era encanto. Tudo era beleza. Tudo era serenidade. Mas Sarah estava pensativa. Quanto mais a natureza ficava bela ao seu redor, mais seus pensamentos se confundiam em sua mente.</span></p><p class="x_ydp419afeeyiv3416562646ydp6df0809msonormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: rgb(255, 255, 255); color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "New serif", serif; font-size: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Será que valeria a pena deixar tudo isso para trás em busca de um sonho? Pensava ela a ponto de desistir de tudo.</span><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"></span></p><p class="x_ydp419afeeyiv3416562646ydp6df0809msonormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: rgb(255, 255, 255); color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "New serif", serif; font-size: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">O que será de mim, longe daqui, sem meus pais, meus avós, meus irmãos, meus amigos?</span><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"></span></p><p class="x_ydp419afeeyiv3416562646ydp6df0809msonormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: rgb(255, 255, 255); color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "New serif", serif; font-size: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Sarah nasceu e se criou na Fazenda Santa Rita. Seu pai ajudava ao seu avô. A fazenda ficava nas terras da Cidade de Vitória de Santo Antão. Com seus verdes prados, o gado mugindo a toda hora, bezerrinhos saltitantes, um grande galinheiro no quintal. Um pomar rico em frutas diversas. O jardim, cheio de rosas colorias e perfumadas, tomava toda frente da bela casa da fazenda. As cavalgadas, as vezes sozinha, outras tantas acompanhada pelos irmãos, avô ou o pai. Os banhos de rio, pular dos galhos da cajazeira e cair no rio jogando água para todos os lados. Os docinhos da voinha, sua mãe sempre por perto. Seu irmão, Agrônomo cuidava da lavoura, o caçula, estava concluindo o curso de Veterinária, iria cuidar da criação do gado. Sua irmã, professora da fazenda, casada com um filho de um fazendeiro vizinho, grávida de seu primeiro sobrinho. Tinha uma vida feliz.</span><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"></span></p><p class="x_ydp419afeeyiv3416562646ydp6df0809msonormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: rgb(255, 255, 255); color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "New serif", serif; font-size: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">A Sarah adorava pintar. Seus quadros enchiam a família de orgulho, pintava a natureza à sua volta com maestria. Desde pequena já fazia bonito com os lápis de cor. Aos 15 anos, sua madrinha Lia, a presenteou com uma linda caixa, cheias de tintas e pincéis, seu padrinho Marcelino, se encarregou das telas. A festa foi linda, mas ela não via a hora de irem embora para inaugurar suas tintas. A partir deste dia estava sempre às voltas com tintas, pincéis e telas. Terminou o magistério e não via a hora de viajar para a Europa onde iria estudar pintura. Dali há três dias estaria na França, todas as providências já tinham sido tomadas. Iria ficar na casa da irmã de sua madrinha. (20 linhas)</span><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"></span></p><p class="x_ydp419afeeMsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: rgb(255, 255, 255); color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Parte 2 – José Bueno Lima.</span></p><p class="x_ydp419afeeyiv5535641567gmail-msonospacing" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: rgb(255, 255, 255); color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "New serif", serif; font-size: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">A despedida de Sarah, como esperado, fora emocionante! Entretanto, assim que se sentou em sua poltrona na classe executiva da aeronave, deu um chega para lá em tudo que aconteceu, senão jamais haveria condições dela conseguir realizar seu sonho. Logo, a comissária veio abordá-la, oferecendo-lhe todas as mordomias que faziam parte daquela classe. Uma taça de vinho lhe faria bem, pensou, e foi o que aceitou. Desse modo, a viagem correu maravilhosamente bem. Nas vezes em que acordava de um leve sono, já ia pensando no que fazer na França, pois teria duas semanas para o início das aulas de pintura, na Escola de Belas Artes de Paris, que escolhera. Finalmente, o pouso no Aeroporto Charles De Gaulle! No portão de desembarque, foi recebida por Mirtes, irmã da madrinha Lia, 32 anos, casada com um engenheiro francês, de mesma idade, o Laurent. Formavam um bonito casal. Ela fizera curso de línguas na Sorbonne, e lecionava numa escola para estrangeiros. Ele, trabalhava numa multinacional. Não tinham filhos. Moravam em um bom apartamento situado no Quartier Latin. Sarah simpatizou-se muito com o casal, e achou sua nova casa agradável, seu quarto bem confortável e espaçoso. Lia e Laurent desmanchavam-se em gentilezas. Sarah, assim que se viu só, vibrou de alegria, pois teria facilidade de desenvolver o idioma, pois já possuía uma boa base do mesmo, portanto não teria dificuldade para conhecer a cidade. Após o banho relaxou e adormeceu. No café da manhã conversaram sobre passeios que ela poderia fazer, tendo Sarah imediatamente demonstrado o desejo de primeiro ir à Escola de Belas Artes, pois estava ansiosa em conhecê-la. Lia e Laurent ofereceram a carona a ela. Sarah ficou maravilhada com a escola. Ao sair, ela consultou um guia que havia comprado no aeroporto, notou que o Pantheon ficava ali perto e aproveitou para visitá-lo. Com os conselhos de Laurent, ela verificou a facilidade do metrô, passando a utilizá-lo com grande frequência. E assim, nesse dia e nos demais, conheceu diversos pontos turísticos da Cidade Luz. Apaixonou-se pelo Louvre, mormente quando viu a Gioconda, e notou alguns pintores fazendo cópias da famosa tela. Logo logo, ela estaria ali fazendo o mesmo, prometeu a si mesma. Com o passar do tempo, devido aos inúmeros programas que faziam, Sarah começou a sentir algumas atitudes estranhas de Laurent em relação a ela. Não sabia definir. E, na realidade, ela também notou que sentia algo diferente, nessas ocasiões. Tentou evitar muitos encontros, mas na maioria das vezes era impossível.</span><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"></span></p><p class="x_ydp419afeeyiv5535641567gmail-msonospacing" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: rgb(255, 255, 255); color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "New serif", serif; font-size: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Quem sabe após o início das aulas, as coisas mudassem!</span><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"></span></p><p class="x_ydp419afeeMsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: rgb(255, 255, 255); color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Parte 3 – Cléa Magnani</span></p><p class="x_ydp419afeeyiv9797050607ydp6a1de239msonormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: rgb(255, 255, 255); color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;">Durante o jantar, por algumas vezes os olhos azuis de Lauren e os verdes de Sarah se encontraram, mas rapidamente se desviaram, para novamente se buscarem. Estava se tornando incontrolável aquele sentimento que, como um vulcão os queimava por dentro, e mesmo sabendo ser impossível, os atraía como um ímã. E quando, no momento de se servirem da salada, suas mãos se tocaram, um arrepio estremeceu o corpo de Sarah, que sentiu um rubor aquecer seu rosto, e temendo que Mirtes percebesse algo, comentou:</p><p class="x_ydp419afeeyiv9797050607ydp6a1de239msonormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: rgb(255, 255, 255); color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;">- Nossa! O excelente vinho francês me deu calor...</p><p class="x_ydp419afeeyiv9797050607ydp6a1de239msonormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: rgb(255, 255, 255); color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;">Após o jantar, todos se dirigiram para a sala de estar onde conversaram sobre amenidades, enquanto tomavam um delicioso licor. Laurent lia os jornais. Mirtes tinha de preparar alguns textos para seus alunos e se dirigiu ao escritório para terminar a tarefa da aula do dia seguinte. Sarah, saiu na varanda do apartamento e observava as luzes da Cidade Luz, que reverberavam no sereno Rio Sena. Seus pensamentos voavam até a fazenda.... Quanta diferença entre a vida pacata que vivera até semanas atrás e a agitação da Europa.... Estava perdida em seus pensamentos debruçada no balaústre da varanda, quando Laurent se aproximou sorrateiramente e a abraçou pelas costas. A jovem voltou-se com um gritinho de susto, que foi calado pelo beijo ardente que Laurent lhe deu.</p><p class="x_ydp419afeeyiv9797050607ydp6a1de239msonormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: rgb(255, 255, 255); color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;">Indignada, mas não querendo atrair a atenção de Mirtes, Sarah tentava afastar-se do rapaz, que a envolveu num abraço, e sussurrando lhe pedia silêncio, enquanto declarava estar perdidamente apaixonado por ela.</p><p class="x_ydp419afeeyiv9797050607ydp6a1de239msonormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: rgb(255, 255, 255); color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;">Sarah sentiu-se muito mal naquela situação. Estava sendo acolhida na casa da irmã de sua madrinha, e o marido dela lhe convidava para trair Mirtes? Mas no fundo, ela também se sentia atraída pelo marido da amiga.</p><p class="x_ydp419afeeyiv9797050607ydp6a1de239msonormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: rgb(255, 255, 255); color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;">Sem dizer nenhuma palavra, Sarah desvencilhou-se do abraço de Laurent e correu para seu quarto.</p><p class="x_ydp419afeeMsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: rgb(255, 255, 255); color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Parte 4 – Alberto Vasconcelos</span></p><p class="x_ydp419afeeMsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: rgb(255, 255, 255); color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">No desjejum do dia seguinte, Sarah ouviu com atenção os comentários de Mirtes sobre o dia nacional da França, era 14 de julho e ela havia esquecido disso. A cidade estaria toda tomada pela população para assistir às cerimônias com a presença das mais altas autoridades. Laurent não tirava os olhos de Sarah e para fugir daquele olhar atraente, ela resolveu ir ao centro para ver de perto as festividades. Não adiantaram as recomendações de Mirtes para que eles assistissem em casa pela TV. Ela estava resolvida. Como resistir durante o dia todo àquele desejo crescente de entregar-se aos carinhos do seu anfitrião? E com o argumento de que queria matar a saudade dos desfiles cívicos de sua Vitória de Santo Antão, tão distante e ao mesmo tempo tão presente em seus pensamentos, Sarah descartou a companhia de Laurent que se prontificava a lhe servir de guia.</span></p><p class="x_ydp419afeeMsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: rgb(255, 255, 255); color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Na estação Champs-Élysées-Clemenceau, toda enfeitada e feericamente iluminada, a multidão se afunilava no portão de saída a fim de chegar à avenida onde dentro de alguns momentos começaria o desfile militar. Alguns metros à sua frente, conseguiu identificar Mohamed, seu colega na turma de desenho artístico, marroquino, caladão, muitas vezes surpreendido a observar-lhe com olhos cobiçosos, mas que apesar desse incômodo, se tornara seu companheiro de mesa na hora do almoço. Certa vez ele lhe perguntara, por que ela usava aquela cruz ao pescoço, se nunca tinha ouvido falar do profeta Maomé e das maravilhas narradas no corão... Sarah, foi despertada desses pensamentos quando uma policial, com largo sorriso no rosto disse-lhe para usar a outra escada rolante que acabara de ser ligada. Lá no patamar superior, Mohamed acenava para que ela fosse ter com ele na praça em frente à estação. </span></p><p class="x_ydp419afeeMsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: rgb(255, 255, 255); color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Encerramento – Socorro Beltrão.</span></p><p class="x_ydp419afeeMsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: rgb(255, 255, 255); color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; border: 0px; color: black; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Apesar do céu cinza e da noite mal dormida, as cores das vestes, a alegria dos transeuntes, o barulho e as manifestações próprias do dia festivo compensavam tudo. Sarah procurou esquecer os problemas e foi ter com Mohamed. Ele ficou feliz com sua presença e o demonstrou até com uma certa efusividade. Ela se sentiu bem-vinda. Ficaram juntos por toda a manhã, passearam de mãos dadas, o que Mohamed alegou ser para não se perderem. Ela gostou daquele gesto de proteção. Conversaram sobre seus países, sua gente, seus gostos. Ele notou o amor à família no brilho dos olhos dela. Passou a admirá-la além da beleza física. Ela sentiu a tristeza do rapaz quando se referiu à sua família dispersa. Logo percebeu que ele não era ligado aos seus. Ficou triste por ele. Bem mais tarde, sentados na praça de La Concorde, tendo a linda paisagem de fundo do Museu de Louvre, ele a segurou de mansinho pelos ombros, vagarosamente beijou seus lábios, num gesto de tanto enlevo que a envolveu, mente e alma. Sarah ficou pensativa. Que diferença do atrevimento de Laurent... dentro de sua própria casa. Desde aquela noite passada percebeu nele um aproveitador. Todo encanto sumiu. Nunca admitiria uma traição. Houve uma atração recíproca? Houve. Mas daí a uma traição era uma distância imensa. Voltou-se para Mohamed e se perdeu em seus olhos escuros, profundos e enigmáticos sem se dar conta de que foi ela a tomar a iniciativa de um segundo e demorado beijo, repleto de emoção e de bom presságio.</span></p><p class="x_ydp419afeeMsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: rgb(255, 255, 255); color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; border: 0px; color: black; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><span style="color: #201f1e;">Segundo conto produzido por escritores GANDAVOS – Contadores de Histórias, Socorro Beltrão, José Bueno Lima, Cléa Magnani e Alberto Vasconcelos.</span></span></p><p class="x_ydp419afeeMsoNormal" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background: rgb(255, 255, 255); color: #201f1e; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; border: 0px; color: black; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><br /></span></p>Carlos A. Lopeshttp://www.blogger.com/profile/05881754756325061589noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7820075820885671645.post-62583169174722029722020-10-22T00:54:00.003-03:002020-10-28T22:37:37.101-03:00TÍTULO: VERDADE ESCONDIDA<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWOsd21qxiwAUqVISC-_7LeR_5BzSUmrBQvMicbdN75gvII-EFw-s8q06MLkSs20_kyard5ubItSXgAOTROJr5S6HFdDm-bSRg9Yrxc9XQMeEG4IfEmrQxbIhsbTOwSf9Vq9tuHH7mRSmH/s1280/Saba.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1280" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWOsd21qxiwAUqVISC-_7LeR_5BzSUmrBQvMicbdN75gvII-EFw-s8q06MLkSs20_kyard5ubItSXgAOTROJr5S6HFdDm-bSRg9Yrxc9XQMeEG4IfEmrQxbIhsbTOwSf9Vq9tuHH7mRSmH/s320/Saba.jpeg" width="320" /></a></div><br /><p></p><p><br /></p><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 106%;">(Primeira parte- Marina
Alves)</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 106%;">Sob o sol do meio dia,
Amâncio subia a estradinha que levava ao topo da serra. Ao calor escaldante, o
velho ofegava, alquebrado pelo peso da idade. Ia fazer oitenta anos no fim de
dezembro. E era nisso que vinha pensando na volta da casa de compadre Honório,
dono do pequeno e único empório do povoado de Santo Amaro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 106%;">Amâncio se sentia
cansado. Depois de anos a fio trabalhando nas lavouras de fumo da Fazenda
Primavera, de propriedade de Dr. Antero, o homem vinha pensando que merecia um
descanso. A casinha ali no alto da serra, o pedacinho de terra cercado de
verde, o corguinho de água limpa, os bichos de terreiro, os porcos na engorda,
as poucas cabeças de gado de leite e os roçadinhos que tocava, lhes davam o que
precisava para viver. Era isso: sentia que estava no limite de suas forças e
algum dos filhos haveria de tomar conta das coisas dali por diante.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 106%;">O velho seguia pensando
que tinha mais do que podia ter desejado. Sim! Ia chamar os quatro filhos
casados – dois homens e duas mulheres, que moravam em casas ali por perto e
explicar tudo que andava pensando. Também era chegada a hora de contar a eles
algumas coisas que nunca tinha tido coragem...uma dessas coisas era sobre a mãe
que nem chegaram a conhecer direito... eram todos miudinhos ainda quando tudo
aconteceu. Ah, estava mais que na hora. A vida cada vez mais curta...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 106%;">Ia tomar coragem, contar
tudo, tudinho sobre Madalena e outras coisas que pertenciam a um passado nunca
enterrado de verdade...</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 106%;">(Segunda parte: Maria Mineira)</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 106%;">Já em casa, ainda
ofegante pela longa caminhada, Amâncio abriu o antigo armário de madeira onde a
finada esposa guardava os pertences de mais consideração. Espalhou em cima da
cama, um punhado de retratos antigos. Contemplou a si mesmo, jovem e forte, de braço
dado com Justina, mulher bonita, semblante alegre e olhos cheios de esperança.
Ela segurava nos braços, Madalena, a filhinha do casal, bem na época que vieram
trabalhar nas lavouras de fumo, quando a menina era só cisquinho de gente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 106%;">O velho suspirou,
sentindo descer grossas lágrimas no rosto enrugado. Sozinho nas suas
lembranças, sentia-se aniquilado pelo desgosto que há tantos anos escondia no
fundo do peito sem deixar transparecer. Antes de guardar, beijou o retrato e
lembrou-se mais uma vez da promessa feita no leito de morte da esposa. Iria
esclarecer aquela situação, a qual, na verdade, só quem tinha conhecimento era
o compadre Honório e o famigerado Dr. Antero.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 106%;">Madalena fora criada ali,
os pais se desdobraram para dar à filha, o melhor que podiam, a menina aprendeu
a ler e escrever na escola da fazenda. Cresceu bonita, sem riqueza nem luxo,
mas com muito amor e cuidado. Já contava com dezesseis anos, quando Joaquim,
filho de Antero veio da capital visitar o pai. O casal ouviu preocupado quando Madalena
falou do seu amor. Contrariados, conhecendo a fama do moço, tentaram em vão,
dissuadir a filha, com argumentos de que o rapaz da cidade não servia para ela
e além de tudo, ainda era muito jovem, não conhecia a vida. Sabendo que os pais
não aprovariam o romance, semanas depois, Joaquim e Madalena fugiram juntos. A
filha fizera sua escolha, deixou-a seguir seu destino.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 106%;">Passados menos de três
anos, após a fuga, numa noite de chuva e ventania, Antero mandou chamar o casal
de empregados na sede da fazenda. O resultado daquela visita foi que Amâncio e
Justina voltaram para sua casinha totalmente atordoados, porém cientes da
imensa responsabilidade que teriam dali por diante. Ela trazia uma cesta com as
gêmeas recém-nascidas e ele carregando nos braços, dois menininhos assustados.
Dentro da calça surrada, havia só um envelope.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 106%;">(Terceira parte:<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Alberto Vasconcelos)</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 106%;">Ainda estava bem viva
dentro da memória de Amâncio a conversa que teve com o Dr. Antero naquela noite
tempestuosa que o tempo não apagou, a maneira incisiva com que ele fora
alertado de que aquelas crianças, desnutridas e maltrapilhas, jamais deveriam
saber a sua origem, sob pena dele ser entregue às autoridades para responder
por todos os assassinatos que cometera a mando do Dr. Antero e dos seus compadres.
Sim. O passado de Amâncio o condenava, fora matador de aluguel até que seus
olhos não mais permitiram fazer os serviços que interessavam aos poderosos que
tinham sempre álibis irrefutáveis para deixa-lo bem longe dos locais das
dezenas de assassinatos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 106%;">Registros novos foram
forjados onde constavam que as crianças eram filhas legítimas de Amâncio e
Justina, para que fosse apagada toda e qualquer vinculação com a família do Dr.
Antero e com a sua imensa fortuna. Joaquim voltou para a fazenda, estava bem
mais velho, mas quem visse os meninos saberia imediatamente que eram seus
filhos, pois eram a cópia fiel do pai. Mesmos gestos, mesma maneira de falar, a
única diferença eram as palavras, pois Joaquim pelos estudos e pela vivência na
capital, tinha vocabulário diferenciado do mundinho da fazenda.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 106%;">Amâncio e Joaquim tinham
se encontrado no Empório Boa Compra, a bodega do compadre Honório, conversaram
como velhos conhecidos e quando ele saiu, compadre Honório alertou que já era
tempo de botar em pratos limpos toda aquela trama para que os meninos herdassem
o que era direito deles, por serem netos do velho fazendeiro. A maioria dos
assassinatos praticados já estavam prescritos e mesmo se ainda houvesse algum,
a idade avançada de Amâncio seria levada em consideração na hora do julgamento
que, se houvesse, iria envolver muita gente graúda, mas agora a situação teria
que ser esclarecida de uma vez por todas. Era chegada a hora de contar tudo...</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 106%;">(Quarta parte: João
Batista Stabile)</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 106%;">Como era de costume toda
tarde; Amâncio separou os bezerros das vacas de leite, para ordenhá-las no
outro dia bem cedinho, tratou os porcos e completou os coxos de água, jogou
milho no terreiro para as galinhas. Depois sentou num toco que tinha embaixo da
figueira a porta da cozinha, fazendo um cigarro de palha, olhava para o
horizonte o sol que já se escondia por traz da serra, seus últimos raios
luminosos tingiam o céu de vermelho, como se alguém tivesse jogado de qualquer
jeito uma lata de tinta.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 106%;">Nessas horas que ele mais
pensava na sua Justina. Ah, se ela tivesse ali saberia tomar a decisão certa.
Mulher de fibra, inteligente e decidida. Mas Deus não quis e a poupou de mais
esse sofrimento, deixando-o sozinho com esse segredo terrível.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 106%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Amâncio pensava nos conselhos que dera compadre
Honório, dizendo que ele dificilmente iria a julgamento e mesmo que fosse teria
sua sentença abrandada pela idade e também aquilo pouco importava para ele
agora.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 106%;">Pensava na promessa feita
à finada, no seu leito de morte, que um dia quando as crianças tivessem
formadas, contaria todinha a verdade, sem esconder nada. Mas ao mesmo tempo
pensava na ameaça de Dr. Antero, naquela noite de chuva e ventania que trouxe
as crianças para casa. Pensava ainda no fim que tivera sua filha Madalena, lá
na capital, que morreu num acidente doméstico muito mal explicado. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 106%;">Não temia a justiça,
muito menos a morte, que estava acostumado a lidar com ela desde a sua
juventude, temia sim pelo futuro dos seus filhos, que na verdade eram netos e
os filhos deles. Dr. Antero mesmo idoso ainda era o chefe político da cidade e
era um homem frio e perigoso. Vindo dele, se poderia esperar o pior. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 106%;">Perdido em pensamento nem
sentiu a hora passar, só se deu conta que já era tarde da noite, quando sentiu
uma aragem fria que vinha da mata. Entrou na cozinha, lavou os pés numa bacia
de alumínio, comeu um pouco de feijão com carne seca que estava em cima do
fogão à lenha e foi se deitar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 106%;">Não conseguia pegar no
sono, quando os galos já cantavam, vencido pelo cansaço, acabou adormecendo...</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 106%;">(Encerramento: Marina Alves)</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 106%;">Sentado no alpendre da
casa de Honório, Amâncio acabava de relatar ao compadre as decisões que tinha
tomado. Cedo ainda, tinha ido atrás de Antonico e pedido que levasse o recado
aos irmãos: queria todo mundo no almoço de domingo! Que não faltasse ninguém!
Tinha para si que de domingo o segredo não passava. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 106%;">Honório escutava atento
as palavras do compadre.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Abriu a
carreira de dentes de ouro num sorriso de satisfação:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 106%;">- Grazadeus! - exclamou -
vai se livrar do peso, minha Virge Santa!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 106%;">- Vou! - disse Amâncio -
Vou seguir os seus conselhos, compadre! E seja o que Deus quiser!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 106%;">Depois de uma caneca
d'água, Amâncio tomou o rumo de casa. Com passos lentos, o velho subia a
estradinha que levava ao topo da serra.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Ia distraído. Tão distraído que nem reparou no vulto escondido no mato:
o tiro veio certeiro e o atingiu em cheio no meio do peito. Cambaleou, os
joelhos se dobraram sobre a poça vermelha que se desenhou na poeira.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Estava morto!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 106%;">Atrás da densa folhagem
marginal, o capataz de Joaquim esporeou o cavalo e partiu a galope rumo ao
povoado. No embornal de algodão, a mando do patrão, levava um bolo de notas
graúdas que deveria passar às mãos de Honório, como pagamento de certa
revelação...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 106%;">Duas semanas após o
fatídico acontecimento, Antonico voltou para fechar de vez a casa do pai. Já de
saída, o rapaz avistou o paiol aberto e voltou para cerrar a portinhola. Foi
quando seus olhos caíram sobre a antiga cabaça que sempre estivera pendurada
rente à cumeeira. Puxou o objeto já enegrecido e ressequido pelo tempo, que num
estalo seco se dissolveu entre seus dedos. Em meio ao pó, um maço de papel
amarelado e carcomido. Antigas anotações! Escritos preciosos rabiscados por
Justina, que valiam uma fortuna! Antonico apertou os papéis contra o peito e
duas lágrimas grossas lhe escorreram pelo rosto: o castigo podia até vir a
cavalo, mas a verdade tinha vindo escondida numa cabaça...<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 106%;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 106%;">Autores:</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 106%;">MARINA ALVES, MARIA MINEIRA, ALBERTO VASCONCELOS E JOÃO BATISTA STABILE</span></p><br /><p></p>Carlos A. Lopeshttp://www.blogger.com/profile/05881754756325061589noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7820075820885671645.post-83133270273151419262020-10-21T01:40:00.009-03:002020-10-21T02:02:40.998-03:00TÍTULO: CARTAS<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8TS6T9qsbwMpb-MVlFUeEfWy8JzzXHGJ8vTuAd39wUIQyyDVX22F_5my5tB85J-Ftr7sJ4idLhQa52YGQdWFIeiI9y-9IcTm9ZgODeRLq5CF-bHTgdSnstr0-UZM7ox0Vu1DPzZEPDIuV/s815/e1f3152b-86a6-42f9-859d-8b4cc84e2578.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="815" data-original-width="400" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8TS6T9qsbwMpb-MVlFUeEfWy8JzzXHGJ8vTuAd39wUIQyyDVX22F_5my5tB85J-Ftr7sJ4idLhQa52YGQdWFIeiI9y-9IcTm9ZgODeRLq5CF-bHTgdSnstr0-UZM7ox0Vu1DPzZEPDIuV/s320/e1f3152b-86a6-42f9-859d-8b4cc84e2578.jpeg" /></a></div><br /><p></p><p><br /></p><p></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #1d2228; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Parte 1 – Alberto
Vasconcelos</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #1d2228; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Quando a Professora
Verônica chegou do colégio Sagrado Coração, aonde lecionava História Universal
viu a carta endereçada a ela com o timbre da Universidade de Salamanca no
envelope pardo, semicoberto de selos. Com as mãos trêmulas pela emoção,
procurou a faquinha de abrir correspondências que deveria estar em alguma
daquelas muitas gavetas da escrivaninha, sua companheira de intermináveis horas
de estudos e de redação dos textos da monografia, escrita em língua espanhola
com a ajuda do seu noivo Bernardo, o boliviano seu amigo desde as primeiras
séries do curso ginasial, pois apesar de ser fluente na conversação, sentia
muita dificuldade com a terrível gramática e, principalmente, com a conjugação
dos verbos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #1d2228; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A carta era
simples, direta e objetiva, Verônica deveria se apresentar à Reitoria da
instituição no primeiro dia de agosto quando se iniciariam as atividades da
Universidade e as aulas do seu doutorado. Era a concretização do sonho
acalentado desde sempre. Finalmente o dinheiro amealhado durante anos seria
utilizado. Apesar da carta dizer que lhe fora concedida bolsa integral, nunca
se sabe os imprevistos que podem (e devem) ocorrer numa viagem tão longa, para
uma terra tão distante. Outro continente, outro país, outra cultura, outros
hábitos inclusive alimentares. Agora que se confirmara o aceite da
Universidade, um receio crescente se apoderou dela. Ainda hoje teria que
providenciar o passaporte, a passagem...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #1d2228; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Mercedes, a mãe de
Verônica, além do tipo físico dos pantaneiros, havia herdado toda maneira de
ser dos seus ancestrais caboclos. Poucas palavras, reações comedidas e a
preocupação constante de que a qualquer momento, Bernardo, o noivo da filha
iria envolve-la em situação embaraçosa. A contragosto, concordara com o
compromisso entre sua filha e aquele rapaz de beleza característica do povo
quéchua e essa preocupação tornou-se quase palpável quando ao entrar na sala,
viu a filha junto à janela com a carta na mão.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #1d2228; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Parte 2 - Socorro
Beltrão</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #1d2228; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Mercedes entrou na sala, jogou o
chapéu no sofá, desamarrou a cinta de tecido colorido que lhe prendia o facão,
sentou-se e tirou as botas, remexeu os dedos dos pés e foi juntar-se a filha,
queria saber que envelope era aquele que a filha sustentava como se fosse de
ouro. Verônica lhe contou que finalmente fora aceita na Universidade da
Espanha, finalmente iria para a Espanha, realizaria seu sonho. A senhora
Mercedes meneou a cabeça. Acostumada a dureza da vida nada disse. Ficou um
tempo pensativa, sua filhinha ia partir, atravessar o marzão, que ela só
conhecia por fotografias, morar noutras terras, conhecer outas gente. Fazer o
quê? Que fosse para o seu bem. Os filhos crescem, os pais os criam para o
mundo. Assim é a vida, ela ia voltar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #1d2228; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Não deu uma palavra, apenas deu umas
leves tapinhas nas costas de Verônica. Seguiu para cozinha, era hora de
preparar a janta, o marido e os filhos não tardariam para chegar e esfomeados.
Ato continuo começou a preparar o prato do dia, peixe à escabeche, arroz e
farofa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #1d2228; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Verônica ao se ver novamente sozinha
ficou a imaginar como seria sua vida. Sabia das sérias mudanças que iria
enfrentar. Tinha que espantar as incertezas. Ia dar tudo certo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #1d2228; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Planejou essa viagem cuidadosamente.
Sua gente precisava de alguém qualificado para registrar a sua história. Era
esse seu objetivo, escrever a história do pantaneiro, deixar nas páginas de um
livro, seus costumes, suas origens no torrão brasileiro. Seria a futura Doutora
em história Universal. Corumbá me aguarde, pensou.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #1d2228; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Ao entardecer os homens voltaram da
lida. Logo depois chega o Bernardo para noivar. Só agora, quando todos estavam
reunidos no terreiro da casa, ao redor do fogo, ela conta a novidade. Bernardo
levantou-se abruptamente, deixando cair a cadeira, não gostou da notícia.
Embora soubesse dos planos da noiva, achava que ela não conseguiria a tal bolsa
de estudo, que eles em breve casariam e tudo ficaria como estava...</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #1d2228; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Parte 3 – José Bueno Lima</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #26282a; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Transtornado,
Bernardo dirigiu-se para a portão de saída, deixando todos surpresos com sua
reação. Sendo sua origem indígena, era difícil se ver contrariado. Os quéchuas
são a segunda maior população indígena da Bolívia, só perdendo para os aymarás.
Sua língua é uma das três oficiais de seu país. Isso explica o modo violento de
Bernardo, cujo sentimento de orgulho é próprio da raça.</span><span style="color: #1d2228; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #26282a; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Imediatamente,
Verônica foi ao seu encontro, já no portão da casa. Pediu a Bernardo calma! Que
ele era sabedor de o quanto ela aguardava essa chamada. Que era o seu futuro.
Ser paciente, logo estaria de volta. Confiasse nela. Ele nem quis ouvir. Subiu
em seu carro e se foi.</span><span style="color: #1d2228; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #26282a; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Enquanto isso, lá
no terreiro, a família conversava sobre o episódio. Na realidade, o noivado de
Verônica não era bem visto. Mercedes e a família, sem mesmo nada contarem,
nunca foram a favor desse compromisso. Não se tratava do fato de Bernardo ser
de descendência indígena. Eles queriam ver sua Verônica casada com um médico,
um engenheiro, e não com um simples funcionário público, ligado ao governo da
Bolívia. Já por ocasião dos tempos de namoro, e no dia do noivado, quando
tiveram oportunidade de conhecer os pais de Bernardo, em um jantar a eles
oferecido, sentiram que a moça não estava escolhendo seu companheiro ideal. O
comportamento deles à mesa, a conversa, abrutalhados, sem a mínima noção de
como usar os talheres, falando com a boca cheia, contrariou demais a todos.</span><span style="color: #1d2228; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #26282a; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Então, Mercedes
deixou o tempo passar.</span><span style="color: #1d2228; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #26282a; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Verônica, a partir
daí, passou a se dedicar com a preparação de sua viagem para Salamanca, já que
o prazo era exíguo para se apresentar na Universidade. As orientações contidas
na carta, eram muitas, e rígidas, havia necessidade de pressa. Um aspecto a
deixá-la despreocupada, estava no fato de ter uma amiga que residia na cidade
espanhola há um bom tempo, e iria recepcioná-la. Não se sentiria perdida.</span><span style="color: #1d2228; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #26282a; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Bernardo passou
para um segundo plano.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #26282a; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Parte 4 – Suzo
Bianco</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #26282a; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Eis então que o
fatídico dia chegou, e com ele uma carta. Dona Mercedes a entregou para
Verônica, que ao ler o nome de Bernardo no envelope estremeceu-se inteira, foi
procurar apoio no encosto da janela do seu quarto. Dentro do envelope, uma
única folha destacada de um caderno escolar. Lia-se num português cuidadoso,
demonstrava capricho por parte dele:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #26282a; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">“Olá, minha
verdadeiramente amada Verônica. Me perdoe pelo que fiz na última vez que nos
vimos, sei que hoje você partirá e provavelmente nunca mais a verei. Queria
que, com essa carta, soubesse que ainda a amo, embora meu orgulho me impedisse
de dizer isso antes. Mas precisa entender meu lado quanto aquela minha atitude,
acho que te devo isso. Vou ser direto para não roubar seu tempo. Desde que nos
conhecemos sua família infelizmente pareceu não gostar de mim, muito
preconceito. Me viam como uma ‘raça’ diferente, grosso, violento por conta de
meu jeito de falar ou da minha etnia e cultura. Me viam como fracassado por
trabalhar como funcionário público, ouvia eles comentarem. E não via você
reagir, achava que no fundo pensava o mesmo, e minha confiança foi diminuindo
com o tempo. Meus pais e eu sempre fomos honestos e trabalhadores como vocês,
não entendi quando falou para todo mundo com felicidade que iria para longe
agradar os desejos da sua família, sem nada me dizer antes. Aquilo partiu meu
coração. Vi que não gostava de mim como eu a desejava. Eu pretendia ser feliz
com você e nossos futuros filhos. Mas hoje estou na Bolívia, sem filhos,
vivendo bem, seria perfeito não fosse a falta que você me faz. Mesmo assim, te
desejo toda a sorte e felicidade desse mundo nessa nova etapa da sua vida,
daquele que ainda te ama muito, Bernardo”</span><span style="color: #1d2228; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #1d2228; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Ela chorou ao terminar de ler a
carta.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #26282a; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Verônica já estava com a reserva no
banco, as passagens compradas, e tudo o mais. Ela só não contava com o amor que
ainda tinha pelo Bernardo, esse, por euforia, ela quase esqueceu... </span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 115%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #1d2228; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Parte
5 FINAL- Cléa Magnani</span></p>
<p class="yiv2904308361ydp75ac802msonormal" style="background: white; line-height: 115%; text-align: justify;"><span style="color: #1d2228;">Verônica estava eufórica,
mas receber aquela carta tão desalentada, a deixou preocupada. Será que
Bernardo não viria nem se despedir dela?<o:p></o:p></span></p>
<p class="yiv2904308361ydp75ac802msonormal" style="background: white; line-height: 115%; text-align: justify;"><span style="color: #1d2228;">As horas passavam
rapidamente e pouco antes de deixarem a casa de Verônica rumo ao aeroporto,
Bernardo chegou de surpresa. Parecia estar alegre e trazia um grande buquê de
rosas brancas, que ofereceu à jovem enquanto a beijava ardentemente.
Recuperando o fôlego, Verônica sorriu muito feliz, e disse<o:p></o:p></span></p>
<p class="yiv2904308361ydp75ac802msonormal" style="background: white; line-height: 115%; text-align: justify;"><span style="color: #1d2228;">- Bernardo! Se você
continuar a me beijar assim, eu acabarei me arrependendo de partir...<o:p></o:p></span></p>
<p class="yiv2904308361ydp75ac802msonormal" style="background: white; line-height: 115%; text-align: justify;"><span style="color: #1d2228;">O rapaz a olhou no fundo dos
olhos e disse:<o:p></o:p></span></p>
<p class="yiv2904308361ydp75ac802msonormal" style="background: white; line-height: 115%; text-align: justify;"><span style="color: #1d2228;">- É para que nunca você
se esqueça de mim, minha Verônica.<o:p></o:p></span></p>
<p class="yiv2904308361ydp75ac802msonormal" style="background: white; line-height: 115%; text-align: justify;"><span style="color: #1d2228;">- Mas é claro que jamais o
esquecerei, meu amor! – ela respondeu.<o:p></o:p></span></p>
<p class="yiv2904308361ydp75ac802msonormal" style="background: white; line-height: 115%; text-align: justify;"><span style="color: #1d2228;">Bernardo a abraçou
longamente, e pediu que dessem uma caminhada até a beira do rio, onde haviam
trocado seu primeiro beijo, e que ela levasse as rosas, pois queria guardar a
sua imagem para sempre, linda como ela estava naquele dia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="yiv2904308361ydp75ac802msonormal" style="background: white; line-height: 115%; text-align: justify;"><span style="color: #1d2228;">Saíram caminhando, os dois
enlaçados e rindo muito, se recordando de momentos do seu romance.<o:p></o:p></span></p>
<p class="yiv2904308361ydp75ac802msonormal" style="background: white; line-height: 115%; text-align: justify;"><span style="color: black;">Na beira do rio, onde grandes
árvores de Angico sombreavam a vegetação típica e florida formando um pequeno
jardim natural, Bernardo pediu que ela se sentasse na relva, e se deitasse.
Começou a colocar as rosas sobre o peito da jovem, e contornando seu rosto.
Muito feliz Verônica sorria e Bernardo nunca a vira assim tão linda.
Sentou-se ao seu lado a admirando com muita ternura; curvou-se sobre ela,
ajeitou uma mecha de cabelo que lhe cobria a testa, e a beijou apaixonadamente,
sentindo as lágrimas lhe descerem pela face, retirou do bolso uma Mauser
que encostou no lado esquerdo do corpo da jovem, que envolta pelo seu carinho
não percebeu a morte se aproximando. A bala atravessou seu coração e o seu seio
esquerdo. O sangue jorrou sobre as rosas brancas. Os olhos de Verônica se
fecharam lentamente sob as lágrimas de Bernardo, que lhe pedia perdão num
choro convulsivo. Encostando a arma em sua própria cabeça o rapaz atirou,
caindo sobre o corpo inerte do grande amor de sua vida...</span><span style="color: #1d2228;"><o:p></o:p></span></p><p class="yiv2904308361ydp75ac802msonormal" style="background: white; line-height: 115%; text-align: justify;"><span style="color: black;"><br /></span></p><p class="yiv2904308361ydp75ac802msonormal" style="background: white; line-height: 115%; text-align: justify;"><span style="color: black;">Autores: Alberto Vasconcelos; Socorro Beltrão; José Bueno Lima, Suzo Bianco e Cléa Magnani</span></p><br /><p></p>Carlos A. Lopeshttp://www.blogger.com/profile/05881754756325061589noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7820075820885671645.post-82567239199204508852020-10-16T23:16:00.103-03:002020-10-19T14:30:50.349-03:00FOTOS DE APOIO PARA OS TEXTOS COLETIVOS<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6lUNr11kx2M3cf_PQMp8biNWqM-YTOQZb6WE4S35lYEhWEupBcPeA6h-lyqp4CcuykZYiT_9C7b5vp0Xu1XE_TmUdLpkTyjU65FONg2qIoLJqmVRKdCUMboysXfD6kRp7u6Vpyh0ueAGl/s2048/Cartucho+e+toner+035.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1536" data-original-width="2048" height="326" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6lUNr11kx2M3cf_PQMp8biNWqM-YTOQZb6WE4S35lYEhWEupBcPeA6h-lyqp4CcuykZYiT_9C7b5vp0Xu1XE_TmUdLpkTyjU65FONg2qIoLJqmVRKdCUMboysXfD6kRp7u6Vpyh0ueAGl/w435-h326/Cartucho+e+toner+035.jpg" width="435" /></a></div><div style="text-align: center;">FOTO 01</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXZ-_mQyhDz-gXTSeYcwCWveWXB3Ywwl957U3Q2N1QPkF-iZGbzE_BRLgzz8GlUSCwRZiJfNufpzDP-bQ_rvG7R5K2k3U-Omvpe5xoWtBJGCPiOjt2j5GS3oOCupP2417D7xVKv82U0qpS/s4000/DJI_0310.JPG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2250" data-original-width="4000" height="248" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXZ-_mQyhDz-gXTSeYcwCWveWXB3Ywwl957U3Q2N1QPkF-iZGbzE_BRLgzz8GlUSCwRZiJfNufpzDP-bQ_rvG7R5K2k3U-Omvpe5xoWtBJGCPiOjt2j5GS3oOCupP2417D7xVKv82U0qpS/w441-h248/DJI_0310.JPG" width="441" /></a></div><br /><div style="text-align: center;">FOTO 02</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtmfhl9eZNhIXwgUvY68u-OmsEyeWd2dQu9u2LSTi2IxPq3o7o6SfRA9Ko6xCIj2AhcNIIgvQUx53GHfkJAlueo3HkeT3CpFO5AsCh4MXyy1-RIYerAeZ1TXqAAb41pUpLrY8lAsCo558l/s6000/DSC01282.JPG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3376" data-original-width="6000" height="254" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtmfhl9eZNhIXwgUvY68u-OmsEyeWd2dQu9u2LSTi2IxPq3o7o6SfRA9Ko6xCIj2AhcNIIgvQUx53GHfkJAlueo3HkeT3CpFO5AsCh4MXyy1-RIYerAeZ1TXqAAb41pUpLrY8lAsCo558l/w453-h254/DSC01282.JPG" width="453" /></a></div><br /><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: center;">FOTO 03</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYTFAc9eLUzsKffP3aLmYshzMDuXD6WlF-mF8yK4TCxk8qZ6YrAAUzXmAqzKnJ9ZF0Qh-t28z7NyLGsAZ4KIoz_rtuxLueidex8gLRQ6-Ak0H1o34zCRmJJGZzZ2ywLtyMWFZIJ9qcsSfd/s6000/DSC01400.JPG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3376" data-original-width="6000" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYTFAc9eLUzsKffP3aLmYshzMDuXD6WlF-mF8yK4TCxk8qZ6YrAAUzXmAqzKnJ9ZF0Qh-t28z7NyLGsAZ4KIoz_rtuxLueidex8gLRQ6-Ak0H1o34zCRmJJGZzZ2ywLtyMWFZIJ9qcsSfd/w474-h266/DSC01400.JPG" width="474" /></a></div><br /><div style="text-align: center;">FOTO 04</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9dNgtmsAb07W4vtlaA2dSF5FPF6F9wFc02z_z3MVG-PovKQz4C10lvNZaN2KkcsqKyAOSVwLcLgVpgDNBY4CJ-fHiWeo4eV_puVIK7qTiuvWd6o1t9k-fbazErSOdsUp-gQj4oF0tSnei/s6000/DSC01351.JPG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3376" data-original-width="6000" height="275" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9dNgtmsAb07W4vtlaA2dSF5FPF6F9wFc02z_z3MVG-PovKQz4C10lvNZaN2KkcsqKyAOSVwLcLgVpgDNBY4CJ-fHiWeo4eV_puVIK7qTiuvWd6o1t9k-fbazErSOdsUp-gQj4oF0tSnei/w490-h275/DSC01351.JPG" width="490" /></a></div><br /><div style="text-align: center;">FOTO 05</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjV_n72Kv_5dm5_dZZer3iP6U6jviy6QRcu5dHTBm98FUTPm7MwTWRCXy6mPLzOMCt7Fi-Z5Rrntw1IoRkALlwPF12NGxyVesMEmiYwk_hYEoMbyNOxqXbHWvlomHz35CmhUp-4oqIpKjsm/s6000/DSC01341.JPG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3376" data-original-width="6000" height="287" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjV_n72Kv_5dm5_dZZer3iP6U6jviy6QRcu5dHTBm98FUTPm7MwTWRCXy6mPLzOMCt7Fi-Z5Rrntw1IoRkALlwPF12NGxyVesMEmiYwk_hYEoMbyNOxqXbHWvlomHz35CmhUp-4oqIpKjsm/w511-h287/DSC01341.JPG" width="511" /></a></div><br /><div style="text-align: center;">FOTO 06</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisIkTbOezV9TDtZz9kdM9d9h9dQx3unyl7lBbOFJ3r91j_EkZPg3hVfMP0KohMDxr76VfhP86HiyVGDV0M1-acvi4pCLmbKny0eU9gcHvpowfOA7LZqnGROmxoM-E42T-DQvSR-D9mdvof/s6000/DSC01285.JPG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3376" data-original-width="6000" height="294" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisIkTbOezV9TDtZz9kdM9d9h9dQx3unyl7lBbOFJ3r91j_EkZPg3hVfMP0KohMDxr76VfhP86HiyVGDV0M1-acvi4pCLmbKny0eU9gcHvpowfOA7LZqnGROmxoM-E42T-DQvSR-D9mdvof/w521-h294/DSC01285.JPG" width="521" /></a></div><br /><div style="text-align: center;">FOTO 07</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEht8xpWBeRQBBd44l0QUZrWGxq1KJv1Tmvg1NhHmDlUOg9BcBgQXvGDTNbctzZywtcwZrXE6xIrl8Zz6jEUCDUwDgGhgGH3bnedUb6-RcqLnN20-gyqfIvzciSPdGCFZl8hKN_Pn2Y_NDKZ/s1095/efe09e909f32d57187072601007ec5c8.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="730" data-original-width="1095" height="363" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEht8xpWBeRQBBd44l0QUZrWGxq1KJv1Tmvg1NhHmDlUOg9BcBgQXvGDTNbctzZywtcwZrXE6xIrl8Zz6jEUCDUwDgGhgGH3bnedUb6-RcqLnN20-gyqfIvzciSPdGCFZl8hKN_Pn2Y_NDKZ/w545-h363/efe09e909f32d57187072601007ec5c8.jpg" width="545" /></a></div><br /><div style="text-align: center;">FOTO 08 - UTILIZADA</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgj-Wc0Eqix6F0Uvmobdda4JhQ-hDZjSVX31uDImOyiyTS3eApyk0kcBlZDMZYDfItIxiVt7fpgq8n2O1gU9dRuEfbjwuh_726s0PyXhSeeM3EsiVGy_lXXHYCxksX6yG__cb-3qDY78Idf/s510/IMG-20201018-WA0047.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="295" data-original-width="510" height="319" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgj-Wc0Eqix6F0Uvmobdda4JhQ-hDZjSVX31uDImOyiyTS3eApyk0kcBlZDMZYDfItIxiVt7fpgq8n2O1gU9dRuEfbjwuh_726s0PyXhSeeM3EsiVGy_lXXHYCxksX6yG__cb-3qDY78Idf/w551-h319/IMG-20201018-WA0047.jpg" width="551" /></a></div><br /><div style="text-align: center;">FOTO 09</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg224QOlJaXEk825QT9JSfX9oSKR1Uigx7FXjYsAan8DpRG1CEwdQGnZPUUF-awPM3yyc4-KSe3mxVouBDrfyvI_8hgCZwj6NUgIoZRI8SZdk3nDrW_gQzyWcEOxXtMIXRd_tt6olwOWyXe/s444/IMG-20201018-WA0048.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="400" data-original-width="444" height="495" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg224QOlJaXEk825QT9JSfX9oSKR1Uigx7FXjYsAan8DpRG1CEwdQGnZPUUF-awPM3yyc4-KSe3mxVouBDrfyvI_8hgCZwj6NUgIoZRI8SZdk3nDrW_gQzyWcEOxXtMIXRd_tt6olwOWyXe/w551-h495/IMG-20201018-WA0048.jpg" width="551" /></a></div><br /><div style="text-align: center;">FOTO 10</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXjOV10XsRHrpJZncvPkFF4KMTusnTorsLCnBvCCv4OVtludKSXv5eOnev0aaHE9iswypEtomT-mQMey2P_bs2SEgE4rL_Z0OBjTiiCfWsJ5E0uH7DYNRC0REAr2dfBTQ3uDDCIfKVkXcn/s267/IMG-20201018-WA0049.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="267" data-original-width="189" height="532" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXjOV10XsRHrpJZncvPkFF4KMTusnTorsLCnBvCCv4OVtludKSXv5eOnev0aaHE9iswypEtomT-mQMey2P_bs2SEgE4rL_Z0OBjTiiCfWsJ5E0uH7DYNRC0REAr2dfBTQ3uDDCIfKVkXcn/w376-h532/IMG-20201018-WA0049.jpg" width="376" /></a></div><br /><div style="text-align: center;">FOTO 11</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqH6M_nNYq-n33aVRpKEVWKY0xURTo6kyxTFUsOZcZB-l5dUn-imnddqcg8KvEt5SS8aJXILYHlewvfhO8Y-73nq9rHF87A1uMViG4kfzbrDVAdrz5ChYyJqV2aIwzJOldyCbGJ05dEn4w/s599/IMG-20201018-WA0050.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="464" data-original-width="599" height="295" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqH6M_nNYq-n33aVRpKEVWKY0xURTo6kyxTFUsOZcZB-l5dUn-imnddqcg8KvEt5SS8aJXILYHlewvfhO8Y-73nq9rHF87A1uMViG4kfzbrDVAdrz5ChYyJqV2aIwzJOldyCbGJ05dEn4w/w381-h295/IMG-20201018-WA0050.jpg" width="381" /></a></div><br /><div style="text-align: center;">FOTO 12 - Utilizada</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjSQYEUNZSzGw4rxoqM_Lj2aYG9xWB-DE1zPJyMJhNMCczfnd86QhlPSHnjESbG1EmNypYpqyiF1aHLc_fVSgmsxjTXQJ1-8wmDO0DKDBzdhulXjhMI8szA8dHnE3bWGZmV8KA1dehvpGz/s980/IMG-20201018-WA0051.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="654" data-original-width="980" height="249" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjSQYEUNZSzGw4rxoqM_Lj2aYG9xWB-DE1zPJyMJhNMCczfnd86QhlPSHnjESbG1EmNypYpqyiF1aHLc_fVSgmsxjTXQJ1-8wmDO0DKDBzdhulXjhMI8szA8dHnE3bWGZmV8KA1dehvpGz/w372-h249/IMG-20201018-WA0051.jpg" width="372" /></a></div><br /><div style="text-align: center;">FOTO 13</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgUVNTrbPbzx3IMWaBz5JpK-a_BYEz2Tv9pyf_HnFzglPvuKpX19GVJlWVq9f6Gt8eQ3EMBNyvddFTF5S4Q_ewlcAy5MxiLQiWbN4y-BJaGioz-8hewlCeoPAqn92BUEpS2q-mOgFu_BZKl/s1080/IMG-20201018-WA0052.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="861" data-original-width="1080" height="301" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgUVNTrbPbzx3IMWaBz5JpK-a_BYEz2Tv9pyf_HnFzglPvuKpX19GVJlWVq9f6Gt8eQ3EMBNyvddFTF5S4Q_ewlcAy5MxiLQiWbN4y-BJaGioz-8hewlCeoPAqn92BUEpS2q-mOgFu_BZKl/w378-h301/IMG-20201018-WA0052.jpg" width="378" /></a></div><br /><div style="text-align: center;">FOTO 14</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkzMUi5Lqy9fnidBuWIuZ2aBbuj4a5NUh7H9uWx4QwNxkWIwBeg4JKY18KKSs0I3Jww3t_V4mLY1geguaw8MZVm9Uw1cx0Z7vmzZ8MJYfIPvC596m97vykJsND9-e9PAOB4uUdgY20qnTV/s733/IMG-20201018-WA0053.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="733" data-original-width="718" height="390" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkzMUi5Lqy9fnidBuWIuZ2aBbuj4a5NUh7H9uWx4QwNxkWIwBeg4JKY18KKSs0I3Jww3t_V4mLY1geguaw8MZVm9Uw1cx0Z7vmzZ8MJYfIPvC596m97vykJsND9-e9PAOB4uUdgY20qnTV/w382-h390/IMG-20201018-WA0053.jpg" width="382" /></a></div><br /><div style="text-align: center;">FOTO 15</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPl4RSREc3uE3q9KhloRrkEBuqfWhhmrJzyT0KTYdMtgemqBbAuYUSYEqiweygoHXAQp8yR7pdtlz2YUZjpkDLHQbaGEgdlE4gUb9clQA5hITMW94emncSivglnWgHIoZdHiWTsAhMqvnb/s720/IMG-20201018-WA0054.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="450" data-original-width="720" height="242" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPl4RSREc3uE3q9KhloRrkEBuqfWhhmrJzyT0KTYdMtgemqBbAuYUSYEqiweygoHXAQp8yR7pdtlz2YUZjpkDLHQbaGEgdlE4gUb9clQA5hITMW94emncSivglnWgHIoZdHiWTsAhMqvnb/w387-h242/IMG-20201018-WA0054.jpg" width="387" /></a></div><br /><div style="text-align: center;">FOTO 16</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBw578iNdtmpdJv-qCRwtWmUM2EhyphenhyphenGT6D1AOlCgZO0OTvxNcwB4hvc8dTly95G4wsAomejLPRIz7hdozlZ3gAM0mVYwwTRcHBV4CGyhjg7shvs1IqA5-gdEUQVudUsQ_xA_2NGFuH9bV4k/s856/IMG-20201018-WA0055.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="856" data-original-width="704" height="372" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBw578iNdtmpdJv-qCRwtWmUM2EhyphenhyphenGT6D1AOlCgZO0OTvxNcwB4hvc8dTly95G4wsAomejLPRIz7hdozlZ3gAM0mVYwwTRcHBV4CGyhjg7shvs1IqA5-gdEUQVudUsQ_xA_2NGFuH9bV4k/w306-h372/IMG-20201018-WA0055.jpg" width="306" /></a></div><br /><div style="text-align: center;">FOTO 17</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4oY3KCxU9V_Jo_h4Kfs82bkPAh4xoaSvqn_AzaB4BTojoPGub8RiNNnXaxn9V1dxIAYBl4eg_Cxyaktgo8AhpAcJsHctPD9xxrPiw9gsV2cqKeZEPVzUgecdpeyrU8Mu-M7ypJWuF8my6/s680/IMG-20201018-WA0056.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="539" data-original-width="680" height="332" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4oY3KCxU9V_Jo_h4Kfs82bkPAh4xoaSvqn_AzaB4BTojoPGub8RiNNnXaxn9V1dxIAYBl4eg_Cxyaktgo8AhpAcJsHctPD9xxrPiw9gsV2cqKeZEPVzUgecdpeyrU8Mu-M7ypJWuF8my6/w418-h332/IMG-20201018-WA0056.jpg" width="418" /></a></div><br /><div style="text-align: center;">FOTO 18</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcsDriUr2hMn-D3npuInH7lOF7h47ZiXb7tTqjvLDLHObK-Qb-hMw5eHQ6R_WgItUDTnwAGYPsWJbamPuczqJQ3_-mBZWCn7zFawRF6nBStG9UDLdLAVVG7ope1IUB-xgxKxK7srWfa56W/s720/IMG-20201018-WA0057.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="632" data-original-width="720" height="358" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcsDriUr2hMn-D3npuInH7lOF7h47ZiXb7tTqjvLDLHObK-Qb-hMw5eHQ6R_WgItUDTnwAGYPsWJbamPuczqJQ3_-mBZWCn7zFawRF6nBStG9UDLdLAVVG7ope1IUB-xgxKxK7srWfa56W/w407-h358/IMG-20201018-WA0057.jpg" width="407" /></a></div><br /><div style="text-align: center;">FOTO 19</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZ98q2NZQEIqOAHkq-ILTY1DbhsrijyKdZy4qsECl1-OiTXQ8NFcC7IBlITomuH14wFz_qw2sa4XaFlhkNjfbO3FydgX_1mKuIaM9SI-5pTnoL3UfbZfi4Eyy3a_8OCTpbqxZrL6uuA5wq/s705/IMG-20201018-WA0058.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="618" data-original-width="705" height="362" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZ98q2NZQEIqOAHkq-ILTY1DbhsrijyKdZy4qsECl1-OiTXQ8NFcC7IBlITomuH14wFz_qw2sa4XaFlhkNjfbO3FydgX_1mKuIaM9SI-5pTnoL3UfbZfi4Eyy3a_8OCTpbqxZrL6uuA5wq/w412-h362/IMG-20201018-WA0058.jpg" width="412" /></a></div><br /><div style="text-align: center;">FOTO 20</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTLgw1Q8Hxl7L34vfswrpDeFxbhjOpGhHJ0NRYzdHVuSy7ymDEcggV4NF0T-OUgoM9DHr8NEFZHuu6NIRK0UXU91ttp0BgoOTfTvA6Cvo44w7zuCrbP1-nShPqDhAc-7yFxOg7CnvhH3yB/s640/IMG-20201018-WA0059.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="640" data-original-width="625" height="422" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTLgw1Q8Hxl7L34vfswrpDeFxbhjOpGhHJ0NRYzdHVuSy7ymDEcggV4NF0T-OUgoM9DHr8NEFZHuu6NIRK0UXU91ttp0BgoOTfTvA6Cvo44w7zuCrbP1-nShPqDhAc-7yFxOg7CnvhH3yB/w411-h422/IMG-20201018-WA0059.jpg" width="411" /></a></div><br /><div style="text-align: center;">FOTO 21</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkbyCeb0ChvMiu-5l45KepMALVvQMzOYaEan_SeLMouJ3ESZLtIPnK98sCr4Fs-zmJhw_Y42SiLD4IZ4Gfp7rS3BVDVQQDZgW3N3_aoKo7bKS-WJq7KW0iSCNfA5KgsDYmFibUaCTBlCNd/s720/IMG-20201018-WA0060.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="720" height="306" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkbyCeb0ChvMiu-5l45KepMALVvQMzOYaEan_SeLMouJ3ESZLtIPnK98sCr4Fs-zmJhw_Y42SiLD4IZ4Gfp7rS3BVDVQQDZgW3N3_aoKo7bKS-WJq7KW0iSCNfA5KgsDYmFibUaCTBlCNd/w413-h306/IMG-20201018-WA0060.jpg" width="413" /></a></div><br /><div style="text-align: center;">FOTO 22</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisgM5uTkiOlalKca0hklXtf564wkBoSpN9xUhsSl3GZReZ7NfzkyFKbDl9voKSVUOuEtvk9hozhNbf9tmVtuox6z7g6MCqfrC7UW_YP4RTAJao9lLHIE621EbxY631D3ql1IuHPSMuE_Q7/s710/IMG-20201018-WA0061.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="387" data-original-width="710" height="233" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisgM5uTkiOlalKca0hklXtf564wkBoSpN9xUhsSl3GZReZ7NfzkyFKbDl9voKSVUOuEtvk9hozhNbf9tmVtuox6z7g6MCqfrC7UW_YP4RTAJao9lLHIE621EbxY631D3ql1IuHPSMuE_Q7/w428-h233/IMG-20201018-WA0061.jpg" width="428" /></a></div><br /><div style="text-align: center;">FOTO 23</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiSkkd3takz9tXBf5teGCEIO4CG9yrAEPJhTXvOa_pfcMSf8B_RIKgYan7LYQFpO2GxiEJ7c9kzuUlE4Gl9RPTB6vm0rq_LoRAM-DOiatQSN9_HFV8zDamgm_B-HSA5SnkpSk59rCEue76W/s718/IMG-20201018-WA0062.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="692" data-original-width="718" height="411" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiSkkd3takz9tXBf5teGCEIO4CG9yrAEPJhTXvOa_pfcMSf8B_RIKgYan7LYQFpO2GxiEJ7c9kzuUlE4Gl9RPTB6vm0rq_LoRAM-DOiatQSN9_HFV8zDamgm_B-HSA5SnkpSk59rCEue76W/w427-h411/IMG-20201018-WA0062.jpg" width="427" /></a></div><br /><div style="text-align: center;">FOTO 24</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhC5XY9GD6jpExH8gGOFQx11_rJUTrdxi9h2l-6JUZRoCAy2OFpBPee0wiIWOEimptzlU3qCz4UXdB2y1uYbSr9qduUglEDE9F6DOOJY8wktbaUMfdhM3m_3o-Skb5qnxpkrS9omLOKPEvx/s862/IMG-20201018-WA0063.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="862" data-original-width="718" height="518" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhC5XY9GD6jpExH8gGOFQx11_rJUTrdxi9h2l-6JUZRoCAy2OFpBPee0wiIWOEimptzlU3qCz4UXdB2y1uYbSr9qduUglEDE9F6DOOJY8wktbaUMfdhM3m_3o-Skb5qnxpkrS9omLOKPEvx/w432-h518/IMG-20201018-WA0063.jpg" width="432" /></a></div><br /><div style="text-align: center;">FOTO 25</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6ANIT89-4kh6LIASkk5V_2HRz70X_et0kxp8EUBjep3bo0P82S94jS3u7bvkxh6eMwajp4M-Mb2UXoQa5AafJQawSTUX2LPvuOWkfJwEMUITQdN4eb45xrswLO9WdqrIceZgF8kdi0D4f/s879/IMG-20201018-WA0064.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="879" data-original-width="707" height="391" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6ANIT89-4kh6LIASkk5V_2HRz70X_et0kxp8EUBjep3bo0P82S94jS3u7bvkxh6eMwajp4M-Mb2UXoQa5AafJQawSTUX2LPvuOWkfJwEMUITQdN4eb45xrswLO9WdqrIceZgF8kdi0D4f/w314-h391/IMG-20201018-WA0064.jpg" width="314" /></a></div> FOTO 26<div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1kxj_yS8Pzxyx1gGlHpqK5ATtdLHK8HvLPxjubMFsYA2HrE9_BGH2ha04CdxQGLvDTJ34T2aUrw_BKuAYKXqiyqQa6k4DVV3qJ9UkyfPAI7L0oN2vKck2wEkkHeSCrohEtKcohE-y895a/s717/IMG-20201018-WA0066.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="717" data-original-width="717" height="401" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1kxj_yS8Pzxyx1gGlHpqK5ATtdLHK8HvLPxjubMFsYA2HrE9_BGH2ha04CdxQGLvDTJ34T2aUrw_BKuAYKXqiyqQa6k4DVV3qJ9UkyfPAI7L0oN2vKck2wEkkHeSCrohEtKcohE-y895a/w401-h401/IMG-20201018-WA0066.jpg" width="401" /></a></div><br /><div> FOTO 27</div><div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhO6J7zgRtAZKdulgNbIVcmoWJQ87HTgzXHBVPeGuHLwJ4xXJ_mJ1Ka_1mQhMtqKsnYhadx7Qj4braFNDp8H2HXieo5lKYjuyrPciaqCAyuV1N82E8WiAV-OdxuXKZgDkuSjZ8T6Pt9rsz/s711/IMG-20201018-WA0067.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="693" data-original-width="711" height="408" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhO6J7zgRtAZKdulgNbIVcmoWJQ87HTgzXHBVPeGuHLwJ4xXJ_mJ1Ka_1mQhMtqKsnYhadx7Qj4braFNDp8H2HXieo5lKYjuyrPciaqCAyuV1N82E8WiAV-OdxuXKZgDkuSjZ8T6Pt9rsz/w418-h408/IMG-20201018-WA0067.jpg" width="418" /></a></div><br /><div><br /><div style="text-align: center;">FOTO 28</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRyZ8ra9ucFeWMy1M0J5KY4m-eVuJ_Nm9xbPi7gBN2Oh1eB5Oyv9NO3uHFM3l3UALQiGvy92YvkeedbTy4t7xPhT9GGgvRE08OISjPsMu2dye7PtBrNQmcPoyh23o83KHIKytOBK8ZguTw/s641/IMG-20201018-WA0068.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="393" data-original-width="641" height="263" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRyZ8ra9ucFeWMy1M0J5KY4m-eVuJ_Nm9xbPi7gBN2Oh1eB5Oyv9NO3uHFM3l3UALQiGvy92YvkeedbTy4t7xPhT9GGgvRE08OISjPsMu2dye7PtBrNQmcPoyh23o83KHIKytOBK8ZguTw/w429-h263/IMG-20201018-WA0068.jpg" width="429" /></a></div><br /><div style="text-align: center;">FOTO 29</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjy9PVBBrxv1nlprfWY1wcv-WtOCgoTRly3RRgxATjFXW4bc_nyrb4sqxEWgfNijBPcEuJqNhWgIrW3dTCFlovt5qkvBuNAKGdd2ywgVo75cfnNOR0nrZ6tn9weAMi-H6OetND4GJWB2txl/s720/IMG-20201018-WA0069.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="614" data-original-width="720" height="365" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjy9PVBBrxv1nlprfWY1wcv-WtOCgoTRly3RRgxATjFXW4bc_nyrb4sqxEWgfNijBPcEuJqNhWgIrW3dTCFlovt5qkvBuNAKGdd2ywgVo75cfnNOR0nrZ6tn9weAMi-H6OetND4GJWB2txl/w428-h365/IMG-20201018-WA0069.jpg" width="428" /></a></div><br /><div style="text-align: center;">FOTO 30</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgO966oa2wFB4SE0EnyTqQxIaBh1LOyFotoc-YIZWC4l-z_xj6rPXBfYYE1DhfOiYrau0JbVsy9vJ7zVtmN3hqthy3K94afhDXKG3SqFTWuvvkATsX9-Ium6IZAT_ZolhokZQjPXmq7U9HT/s720/IMG-20201018-WA0070.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="464" data-original-width="720" height="282" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgO966oa2wFB4SE0EnyTqQxIaBh1LOyFotoc-YIZWC4l-z_xj6rPXBfYYE1DhfOiYrau0JbVsy9vJ7zVtmN3hqthy3K94afhDXKG3SqFTWuvvkATsX9-Ium6IZAT_ZolhokZQjPXmq7U9HT/w437-h282/IMG-20201018-WA0070.jpg" width="437" /></a></div><br /><div style="text-align: center;">FOTO 31</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTkyEjFbI8r9TqU8CSPTwFU1ILlyjF2piTODgcdPWYKZyFwzUUncRch3M4Bt0FpTJz-cPUoYpsZFi_p3d6CrCWfS88IVzxRMzeQXXHaKRN2gO6PoElntDQ1JeOuz55uRp_uvnEZbr6B928/s710/IMG-20201018-WA0071.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="710" data-original-width="710" height="443" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTkyEjFbI8r9TqU8CSPTwFU1ILlyjF2piTODgcdPWYKZyFwzUUncRch3M4Bt0FpTJz-cPUoYpsZFi_p3d6CrCWfS88IVzxRMzeQXXHaKRN2gO6PoElntDQ1JeOuz55uRp_uvnEZbr6B928/w443-h443/IMG-20201018-WA0071.jpg" width="443" /></a></div><br /><div style="text-align: center;">FOTO 32</div><p></p></div>Carlos A. Lopeshttp://www.blogger.com/profile/05881754756325061589noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7820075820885671645.post-57656376377993829892020-10-14T01:25:00.017-03:002020-10-15T01:10:52.200-03:00TÍTULO: O LEGADO DE VOVÔ<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwxxCpWvSWrnk_1h0v89rH8fe-3zaY-dneSTwvaZHTHqAg4G5N9YLbqZmV9xe2DLDyNrcZGDmHV1WbQ17YKSxA5Yo9ioP9PcNPuTNdhocC3scT-TPu42pp50cAg7ZIn6HQWFA1QRw7aKQd/s706/IMG-20201012-WA0114.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="396" data-original-width="706" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwxxCpWvSWrnk_1h0v89rH8fe-3zaY-dneSTwvaZHTHqAg4G5N9YLbqZmV9xe2DLDyNrcZGDmHV1WbQ17YKSxA5Yo9ioP9PcNPuTNdhocC3scT-TPu42pp50cAg7ZIn6HQWFA1QRw7aKQd/s320/IMG-20201012-WA0114.jpg" width="320" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 107%;">[ALICE GOMES]<o:p></o:p></span></i></b></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 107%;">Aprendi
a nadar com ele, num riozinho do seu sítio, para onde eu ia em todas as minhas
férias. Com ele perdi muitas das minhas fobias. De nadar, por exemplo, porque
uma vez quase me afoguei na piscina e pensava que nunca mais entraria na água.
Ele me fez entrar, abraçado a ele, e me admirei por ter sido tão fácil!
Nunca mais esquecerei o que senti, perdendo meu medo e aprendendo sobre amor e
paciência. Também com ele aprendi a cavalgar, numa égua mansinha que havia por lá.
Ele, atrás de mim, segurando as rédeas da égua e a dos meus medos.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 107%;">Querido
avozinho, quantos momentos maravilhosos passei ao lado dele! Quantos conselhos preciosos
aprendi com ele! E ele não seguiu o único conselho que lhe dei. Eu lhe disse
que seria perigoso para sua idade, mas ele insistiu, e deu no que deu...<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 107%;">[Maria Mineira]<o:p></o:p></span></i></b></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 107%;">Não
tem como falar de vovô, sem lembrar daquele quartinho onde guardava
sua antiga tralha de peão boiadeiro. Seu berrante, seu arreio, as esporas, a
capa, o pelego...Aquele era com certeza, seu bem mais precioso, dizia ele,
depois de vovó Doralice e eu, seu único neto.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 107%;">Às
vezes, no meio de alguma história, ele ria e deixava a esposa toda sem
jeito, ao lembrar a época em que se conheceram. Foi quando comandou uma
Comitiva na Região do Pantanal, acabou roubando a filha do fazendeiro e casando-se com ela. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 107%;">Doralice,
minha vó, contou-me que na juventude, vovô era um boiadeiro afamado. Seu nome
corria nos estados de Minas, Goiás e Mato Grosso. Era solicitado para
todas as festas regionais. As moças
suspiravam por ele, e os homens o invejavam. Além de saber como ninguém, lidar
com o gado, ele emocionava a todos, quando cantava e tocava sua viola...<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 107%;">[Cristhian Dias]<o:p></o:p></span></i></b></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 107%;">Naqueles
dias, haveria uma grande festa em comemoração aos cento e sessenta anos do
Vilarejo dos Anjos. Local onde vivia um povo simples, como já não se vê. Eram
tão religiosos que antes do festejo, reuniam-se para rezar na capela da Virgem
dos Pobres, pedindo prosperidade nos negócios, salvação para os falecidos e
bênçãos para as famílias. <b><i><o:p></o:p></i></b></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 107%;">Logo
após o estouro dos foguetes, o povo, fatigado do serviço, após rezar na capela,
saia para festejar o merecido descanso. Aquela festa duraria uma semana. Foi
nessa época, que me arrependi por ter acompanhado vovô pelas estradas de terra
até o vilarejo. <b><i><o:p></o:p></i></b></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 107%;">Em
um determinado momento, passou um carro de som anunciando a programação da
Festa. Enquanto eu reclamava da poeira que o carro fez subir, vovô ouvia
atentamente, assim como uma criança fixando o olhar em seus doces, as palavras
do homem que anunciava. <b><i><o:p></o:p></i></b></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 107%;">Pouco
me lembro das palavras que o maldito divulgava, mas o pouco que recordo hei de contar: <a name="_Hlk53406864"><b><i><o:p></o:p></i></b></a></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><b><span style="background: white; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 107%;">—</span></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 107%;"> Venham todos para o
Vilarejo dos Anjos! Venham rapazes, moças, crianças, festejar o aniversário de
nossa vila! De segunda à sexta-feira, contaremos com um baile para os casais!
Ah! E durante os primeiros cinco dias, haverá inscrições para o Rodeio que
ficará na história!!! Valendo um prêmio de [...]<b><i><o:p></o:p></i></b></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 107%;">Confesso
que não me lembro o valor do prêmio, talvez seja porque meu avô não fazia
questão da premiação, mas sim daquela desalmada tentação. Ele ficou ansioso,
sei que as batidas de seu coração pulsaram mais fortes, no instante em que
ouviu a palavra “Rodeio” .<b><i><o:p></o:p></i></b></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 107%;">Perguntei
em tom irônico: <b><i><o:p></o:p></i></b></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><b><span style="background: white; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 107%;">— </span></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 107%;">O senhor ficou doido?! <b><i><o:p></o:p></i></b></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 107%;">Mesmo
sendo ainda menino, sabia que aquilo não convinha para vovô, pois ele já era um
idoso! <b><i><o:p></o:p></i></b></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><b><span style="background: white; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 107%;">— </span></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 107%;">Só pode! Já não basta a falação de vovó,
o senhor inventa essas ideias de rodeio?! Vô, o senhor já passou dos sessenta, por que não procura fazer aquilo que os de sua idade fazem? Vá jogar truco, rezar
terço, mas vê se não coloca essas ideias de rodeio na cabeça!<b><i><o:p></o:p></i></b></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 107%;">Naquele
dia, meu avô deve ter se assustado com a firmeza de um moleque ao se dirigir a
ele. Ficou em silêncio, mas este silenciar não era sinal bom, pois quando ele
ficava calado, já podia se imaginar: “Nosso velho vai aprontar...”<b><i><o:p></o:p></i></b></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 107%;">[Helena Souza]<o:p></o:p></span></i></b></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 107%;">E
foi o que o velho fez. Ninguém percebeu quando ele saiu cumprimentando a todos
os boiadeiros, aos peões, ao padre que tinha acabado de fazer a oração que daria
início à festa. Até hoje eu não sei o que um padre faz nesse tipo de evento,
onde se maltratam os animais. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 107%;">Eu
nunca gostei de assistir a peões subindo em bois, esporar os coitados e ainda
sair sorrindo, depois de levar umas chifradas....nunca, nunca pude entender.
Mas meu avô pertencia a esse tipo de pessoas. Ele vibrava a cada pulo dos
pobres animais e a cada peão que caía no chão ou que se sustentava além dos
minutos necessários. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 107%;">Mal
sabia ele que naquele dia, o peão jogado para o lado seria ele. Meu avô
havia ganhado uma cortesia para assistir ao rodeio dentro da arena. E
quando o terceiro boi voltou enfurecido e aos pulos, depois de levar várias
esporadas, quem estava no caminho? Vovô Queiroz.....e ele nunca mais foi o
mesmo depois daquela chifrada. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 107%;">Nunca
mais andou e a tristeza consumiu seus dias. Eu pedi tanto a ele para não
ficar lá dentro, mas o velho, embirrado que era, não me ouviu. Não ouviu
o único conselho que lhe dei...<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 107%;">[Epílogo: Alice
Gomes]<o:p></o:p></span></i></b></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 107%;">Nunca
mais pôde subir em cavalos, sua grande paixão... Como se recusava a usar a
cadeira de rodas que papai lhe comprara, passava o dia deitado na cama, olhos
perdidos no teto. Às vezes, papai insistia que ele participasse das refeições
da família e o carregava no colo até a cozinha. Depois, sentava-o à janela,
onde permanecia em silêncio, observando as revoadas de passarinhos, na imensa
árvore que havia na frente da casa e que dava vista para a curva do
riacho, pouco mais adiante. Sabe Deus em que pensava meu avozinho nesses
momentos...<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 107%;">Alguns
meses se arrastaram, para ele e para mim, que o observava, consternado, me
sentindo impotente, sem saber como lhe devolver ao menos o brilho do olhar.
Seus músculos foram se atrofiando, seu apetite diminuindo a cada dia e, por
fim, uma depressão severa roubou-lhe definitivamente a vontade de viver.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 107%;">Quando
partiu, eu era ainda criança, porém, essas lembranças doloridas jamais me
abandonaram. Hoje, percebo que foi por ele que contrariei a vontade de papai,
que sonhava para mim, uma carreira completamente diferente, de prestígio e
grandes posses financeiras. Instintivamente, optei pela Fisioterapia, com
especialização em Watsu (shiatsu aquático) e Equoterapia, ambas direcionadas
aos sequelados por acidente ou doença. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 107%;">Não
raro, ouço relatos emocionados de familiares dos meus pacientes, pela melhora
muscular e, principalmente, pela sensação de liberdade que a água ou os cavalos
lhes resgatam. Por coincidência (ou não) os dois medos que ele me ajudou a
perder. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 21.3333px; line-height: 107%;"><span style="font-family: Times New Roman, serif;">Autores: 1 - Alice Gomes; 2 - Maria Mineira; 3 - Chisthian Dias e 4 - Helena Souza.</span></span></p><br /><p></p>Carlos A. Lopeshttp://www.blogger.com/profile/05881754756325061589noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7820075820885671645.post-42309442953424755962020-10-13T00:23:00.003-03:002020-10-13T00:23:31.749-03:00TEXTO COLETIVO: DESTINO X ESCOLHAS<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbXgivEqfTuiXPBlqZHwsgUAUMJodklo18qdzzbw437oVCRD_lLVnAPtboGMnYeGhtXguu9SQp8h88wA1kYedr2dbXuvUwY3g1BU4fyUfQbPpewX2s4w07wZwGtH_yAy0AC4eupXLwIHl9/s760/89037e29-84cf-4c4d-b6b3-f7d2eed7442f.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="760" data-original-width="502" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbXgivEqfTuiXPBlqZHwsgUAUMJodklo18qdzzbw437oVCRD_lLVnAPtboGMnYeGhtXguu9SQp8h88wA1kYedr2dbXuvUwY3g1BU4fyUfQbPpewX2s4w07wZwGtH_yAy0AC4eupXLwIHl9/s320/89037e29-84cf-4c4d-b6b3-f7d2eed7442f.jpg" /></a></div><p></p><p><br /></p><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-weight: bold;">[ANA
ROSA JUNQUEIRA] </span><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">A bela Ana Maria era filha única de Coronel
Julião e Sinhá Marcília. Cresceu<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>mergulhando nas águas do Rio Lavrinha, que corria nos fundos do quintal
da sua casa. Seu sonho era estudar na capital e ser professora. No entanto, a
capital era muito longe dos olhos atentos do pai. O recurso foi<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>enviá-la para estudos no Convento das
Freiras,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>localizado não muito longe<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>dali. </span><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-weight: bold;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Ana
retornou antes dos dezesseis anos completos. O pai cortou o mal pela raiz, pois
não agradou da ideia de ver a filha querendo prestar os votos de santidade como
freira.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Coronel Julião, precavido como
sempre, tratou de construir uma escola ali mesmo na fazenda para cumprir os
gostos da filha. Aproveitou também para apalavrar sua mão para o jovem<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Alonso,<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>filho caçula de um fazendeiro vizinho...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-weight: bold;">[GLÓRIA
TANCREDI] </span><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">O coronel Julião como verdadeiro patriarca sempre deixou
muito claro o seu zelo e preocupação com sua família, principalmente no que
dizia respeito à sua filha Ana Maria. No entanto, o autoritarismo revelado do
pai, influenciava negativamente os sonhos e perspectivas da jovem, que apesar
de morar no interior, sempre demonstrou grande curiosidade com relação à
“cidade grande”, a liberdade, o poder da mulher diante da sociedade. <span style="mso-bidi-font-weight: bold;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">A
transmissão de conhecimento e o empoderamento feminino sempre estiveram em seus
pensamentos, povoando os seus mais grandiosos sonhos, mesmo que fossem de
encontro com seu pai. Para o Coronel, o papel da mulher seria ser boa dona de
casa, se tornar uma boa mãe e dedicar-se única e exclusivamente ao marido e
seus filhos. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Não
obstante, a jovem por não se convencer de tal conduta começou a ministrar aulas
para meninas, moradoras do interior que seu pai comandava, aguçando ainda mais
sua vocação para professora e os ideais, nos<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>quais acreditava. Mas sabia que estar ali não seria suficiente, era
preciso mais. Ana sentia que precisava aprofundar seus conhecimentos em uma
faculdade. Assim, prontamente pensou em fazer um curso superior na cidade.
Compartilhando a ideia com sua mãe, que sempre lutou para manter a filha na
escola.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Sinhá
Marcília, mãe de Ana, ficou apavorada ao saber que a filha afrontaria as ideias
do Coronel que já prometera sua mão em casamento ao filho de um grande
fazendeiro da região. Marcília, além de pensar que o marido poderia não ver com
bons olhos a ideia da filha, ainda não saberia se Alonso estaria disposto a
esperar o tempo preciso para que Ana se formasse antes de cumprir a promessa
matrimonial...</span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 14pt; text-indent: 35.4pt;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-weight: bold;">[LÍVIA
HOLIER] </span><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Mas
a promessa matrimonial mal importava para Ana Maria, ela estava decidida que
iria para a cidade grande e falaria com seu pai nesse mesmo dia. Não importava
o que ele dissesse, ela seguiria seu sonho. <span style="mso-bidi-font-weight: bold;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Chegada
a hora do jantar, todos se juntaram à mesa para saborear a deliciosa comida de Sinhá
Marcília. Ana estava inquieta, não parava de balançar sua perna e mal tocava no
prato. O Coronel Julião percebeu a inquietação de sua filha e a questionou. Ela
tomou um gole de água e começou a falar sobre os seus planos de se mudar para a
cidade e fazer um curso superior. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O
casamento não estava na sua lista de prioridades naquele momento.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">O
silêncio tomou conta da sala. Marcília estava com o coração disparado, com medo
da reação do marido. Ana Maria se sentia aliviada e decidida sobre o assunto
com seu pai. O Coronel ficou parado como uma estátua, com o olhar gélido, pensando
no que tinha acabado de ouvir. Mas o que os pais não sabiam era que naquela
noite, um grande segredo de Ana seria revelado...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Julião
se levantou e foi em direção a Ana, que começou a andar para trás, na tentativa
de se desviar do pai. Até que ele a cercou e perguntou o motivo daquilo tudo.
Se era para envergonhá-lo ou só para enganá-los, já que sua mão já estava
prometida a Alonso. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Ana
Maria se sentiu pressionada e forçada contar a verdade, mas disse que só
falaria com a mãe sobre o assunto. Marcília e a filha foram para o quarto de
visitas, próximo a copa onde estavam, mesmo assim, o Coronel não conseguiu
ouvir a conversa das duas. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Ana
Maria começou a chorar, não sabia o que aconteceria após contar seu segredo à
mãe, pois provavelmente ela o revelaria ao marido. Soluçando, após muito
chorar, contou tudo o que a afligia. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Quando
estava no Convento de Freiras, conheceu Regina, uma linda noviça de olhos
castanhos e cabelos ruivos, pela <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>qual se
apaixonou, assim que a viu. Ambas eram muito unidas, mas as freiras não
admitiam tais modos, então<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>transferiram
Regina para um convento da capital, forçando Ana Maria a fazer os votos de castidade,
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>exatamente na época em que o pai
impediu, levando-a para a fazenda. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Desde
então, além de desejar concluir seus estudos, tinha esperanças de reencontrar
Regina e <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>ficarem juntas para sempre. Sua
mãe ficou assustada e a mesmo tempo <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>emocionada com a história da filha e afirmou
que estaria sempre ao seu lado e a ajudaria ir para a capital. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">De
repente, a porta do quarto se abre...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-weight: bold;">[GERSON
DE CARVALHO SILVA] </span><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">O Coronel entrou no quarto falando alto e de
forma autoritária informando que no dia seguinte, marcara o jantar com Alonso e
sua família, para formalizar o noivado.<span style="mso-bidi-font-weight: bold;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Ana resolveu conseguir algum
tempo e pediu um adiamento, alegando haver necessidade de preparativos. O pai
aceitou os argumentos, dizendo que não poderia passar de um mês.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Regina,
precisava encontrá-la. Enviou um telegrama. A resposta não tardou, ela <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>viria em alguns dias. A amiga noviça era muito
esperta e ao chegar, disse ter vindo para participar do noivado da amiga, mas a
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>ideia não era bem essa. Tentaria livrar
Ana do problema imediato. Informou-se sobre o pretendente, Alonso, e resolveu
conhecê-lo. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Regina
abandonara a vida religiosa e resolveu continuar sua vida. Recebeu uma pequena
herança do falecido pai e tornou-se proprietária de um restaurante, o qual
possuía um andar superior que funcionava somente à noite. Ali havia moças, que
além de garçonetes, recebiam rapazes dispostos a gastar. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Regina
foi até a fazenda vizinha e encontrou o pretendente de Ana. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-language: PT-BR;"> </span><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">— Alonso, você por aqui? <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-weight: bold;">[EPÍLOGO
ANA ROSA JUNQUEIRA]<b> </b></span><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Assustado, Alonso não sabia o que dizer à
Regina. A última coisa que imaginaria era vê-la na fazenda de seu pai.<a name="_Hlk53241542"><b><o:p></o:p></b></a></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="mso-bookmark: _Hlk53241542;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-language: PT-BR;"> </span></span><span style="mso-bookmark: _Hlk53241542;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">— </span></span><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Sou eu quem pergunta,
nunca lhe dei meu endereço aqui do interior. <a name="_Hlk53241900"><o:p></o:p></a></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="mso-bookmark: _Hlk53241900;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>—</span></span><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"> Eu
não vim por sua causa, vim conhecer o noivo de uma amiga e por ironia do
destino esse noivo é você! Então a moça rica que daríamos o golpe é nada menos
que Ana Maria?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Nesse
momento, Ana que estava ouvindo a conversa do lado de fora da casa entra com a
aparência que quem recebeu uma punhalada pelas costas. Nem tanto por Alonso,
que mal conhecia, mas nunca esperaria isso de Regina...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">—
Aninha, não me disse que viria também, posso te explicar! Tudo que eu
quero<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>é estar perto de você. Eu não
podia saber que era ele — disse Regina tentando se desvencilhar da enrascada.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">—
Ana Maria, vocês de conhecem de onde? Saiba que a ideia foi da Regina!
Idealizou meu casamento com uma fazendeira para saldarmos nossas dívidas de
jogo, pois estamos sendo perseguidos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">—
Calem-se, os dois! Não quero ouvir mais nada! <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Ana
Maria saiu às pressas daquele lugar que lhe fazia muito mal. Queria se livrar
daqueles dois, nunca mais vê-los. Pegou seu cavalo e a galope sumiu por aqueles
campos sem rumo certo...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Demorou
algum tempo, mas Ana Maria já não era mais a menina frágil e ingênua. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Entendeu que o melhor era ser <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>dona de si, e lutar <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>pelas coisas que acreditava. Aprendeu a
se<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>amar em primeiro lugar <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>e nunca deixar sua felicidade depender de
ninguém. Correu atrás dos seus sonhos, seguiu a vida acadêmica e hoje segue ajudando
sempre outras pessoas a encontrarem seu caminho. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: 18.6667px;">GRUPO 06:</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: 18.6667px;">Autores: Ana Rosa Junqueira; Glória Tancredi; Lívia Holier; e Gerson de Carvalho Silva.</span></span></p><br /><p></p>Carlos A. Lopeshttp://www.blogger.com/profile/05881754756325061589noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7820075820885671645.post-19267260310728749812020-10-12T02:08:00.003-03:002020-10-12T02:08:53.700-03:00TEXTO COLETIVO: “DE VOLTA AO PASSADO”<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPyV8IAjcwlbGadRGvZsoz8vqca7uOcPAuadfYlGjsoJvx3_fMpUMELK6oSQU-NEGayzRXwWlhI7D_FwziCkK2juv77nHf3VLLhy8tEAA94tQkhOOVy_RKLzz3TEqWmxmSu5T1vEaXTNNI/s500/marina+imagem.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="410" data-original-width="500" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPyV8IAjcwlbGadRGvZsoz8vqca7uOcPAuadfYlGjsoJvx3_fMpUMELK6oSQU-NEGayzRXwWlhI7D_FwziCkK2juv77nHf3VLLhy8tEAA94tQkhOOVy_RKLzz3TEqWmxmSu5T1vEaXTNNI/s320/marina+imagem.jpg" width="320" /></a></div><br /> <p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><b>[CELÊDIAN]</b> Não foi nada fácil revisitar
aquele lugar, passados mais de dois anos e confesso, me faltaram coragem e
força, mas eu não poderia adiar mais. Postei-me de frente às duas lápides, que
me pareciam frias e indiferentes àquelas histórias ali enterradas. Não sei
quanto tempo permaneci em transe, estático. Como num replay de um filme, revivi
os momentos felizes que junto à minha esposa Anna e à minha filha Polianna,
foram os melhores anos de minha vida. Cheguei a sorrir ao senti-las assim tão
perto de mim de novo. <o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Uma aragem
gélida e o farfalhar das folhas secas me fizeram recobrar a lucidez e naquele
momento senti um misto de saudade, tristeza, revolta, raiva. Lembrei-me de cada
detalhe daquele fatídico dia, do sofrimento que parecia me sufocar. Estávamos
em um acampamento no qual passávamos as nossas férias, quando Polianna, com
apenas seis aninhos, se perdeu na mata. Foram horas e horas de uma angustiante
busca, mesmo com a ajuda de outras pessoas que ali acampavam também. Dividimo-nos
para procurá-la. Eu fui para o lado do lago, enquanto Anna se embrenhou na
mata. Ao fim da tarde, eu retornava desolado ao acampamento, sem saber como
contar sobre minha busca infrutífera. Foi quando ouvi os gritos medonhos de
Anna, vindos da mata. Ela pedia socorro aos berros. Desabalei-me para a mata
guiando-me pelo som da voz dela, até que não a pude ouvir mais. Continuei
andando a esmo, sem rumo e foi quando me deparei com aquela cena
horripilante...<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><b>[MARINA] </b>O ar faltou-me, por um breve
instante achei que não fosse aguentar. Minhas pernas trêmulas mal sustinham meu
corpo e meu peito ardia num nó que me estrangulava. Com esforço sobre-humano
corri para o corpo de minha esposa, mergulhado na poça de sangue que ainda
jorrava aos borbotões por um imenso corte que lhe abria o pescoço de um lado ao
outro. Ajoelhado junto ao seu corpo, fixei meus olhos de pavor no rosto pálido
da bela mulher com quem fora casado por quase dez anos. Vi que sua fisionomia
ainda guardava a expressão de terror que experimentara antes de morrer. Anna
fora morta com requintes de crueldade e o assassino não a poupara de extremo
sofrimento.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">— Meu Deus! —
exclamei num grito desesperado — Quanta barbárie! O que fizeram com você, meu
amor!?<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Depois de um
longo tempo em que apenas consegui cobrir o rosto e chorar toda a minha dor,
levantei-me com uma força que desconheci. Precisava chamar a Polícia, tomar
alguma providência, pedir ajuda... Dei alguns passos adiante, tentando me
orientar no meio da mata, e foi aí que outra parte do meu doloroso calvário me
colocou novamente à prova: meio coberto pelos galhos de um arbusto, avistei o
corpo de Polianna! O mesmo corte no pescoço, o mesmo <i>modus operandi</i> do
assassino de Anna! Não tive dúvidas. Havia algo de muito sinistro por detrás
das mortes das pessoas que eu mais amava. Os sinais deixados pelo criminoso não
deixava dúvidas: certamente, tratava-se de alguém movido por graves distúrbios
psiquiátricos, pois seria inconcebível imaginar crimes tão hediondos sendo
praticados somente por maldade. Nada justificaria tamanha selvageria. Completamente
aniquilado, atordoado pela visão de minha filha esvaída em sangue — à maneira
covarde da mãe — deixei-me cair ao lado de seu corpo, e entre soluços que me
sacudiam de forma incontrolável, fiz um juramento: eu viveria para vingar meus
dois amores...<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><b>[JOÃO BATISTA] </b>Impulsionado por esse
sentimento, tomei nos braços o corpinho daquela criança que tanto amei, corri
sem bem saber o que fazia até chegar ao acampamento e colocá-lo ao solo, num gramado.
O pânico instaurou–se de imediato. Todos que ali também acampavam, rodearam-me,
ficando em forma de círculo, falavam ao mesmo tempo, com exclamações de terror.
Eu, ajoelhado ao lado de Polianna mal ouvia as vozes, só consegui entender que
alguém ligava para a Polícia e passava as informações do ocorrido e da
localização.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Em meio a tudo
isso, senti uma presença incômoda, relanceei o olhar a todos que me rodeavam,
até que em um ângulo de 45 graus à minha esquerda, meu olhar deparou-se com um
rosto, que por alguma razão não me era estranho. Era uma mulher que aparentava
uns 35 anos, porte esguio, cabelos ruivos ao ombro, olhos azuis, rosto delicado
com algumas sardas nas bochechas. Usava um par de óculos de sol em cima da
cabeça, prendendo o cabelo, e ao sentir-se observada por mim, baixou-o para os
olhos e passou os dedos entre os cabelos jogando-os pra trás, de uma forma
sensual, quase obscena, o que para o momento me pareceu uma afronta. Os
músculos da sua face contraíram-se num movimento quase imperceptível, esboçando
o que poderia ser um sorriso. Desviei o olhar, baixando-o para o corpo inerte
de Polianna, mas pelo canto do olho a observava. Ela tirou do bolso o celular e digitou alguma
coisa, esperou alguns instantes. Parecendo ter recebido uma resposta, foi se
afastando discretamente até que a perdi de vista.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Permaneci no
mesmo lugar, imóvel, buscando na memória algo que pudesse me revelar quem era
aquela mulher misteriosa. De repente, num flash a vi ainda adolescente...<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> —Não! Não! Eu devo estar
delirando, procurando um culpado. O som estridente da sirene da viatura
policial trouxe-me de volta à realidade.
<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> <b>[ROSÁRIO]</b> E de repente, eu me vi envolvido numa cena de terror,
olhando os corpos das mulheres da minha vida sendo colocados em sacos plásticos,
como se fossem pedaços de carne, cobertos de sangue e do pó da terra onde
rolaram. Vi quando as levaram e alguém me guiou por caminhos que eu não via
mais. Nem sei como cheguei a casa e quem me acompanhou nos momentos seguintes,
quando passei pelo velório, assisti ao funeral e vi a terra cair sobre os
caixões da minha mulher e filha, sem que uma lágrima sequer me rolasse pela
face, ou que uma palavra saísse dos meus lábios. Fiquei assim não sei por
quanto tempo, relutando em acreditar que tudo aquilo era verdade, que havia
acontecido realmente.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> E os dias foram passando, a dor foi se acomodando,
e eu tive que retornar à vida. E nesse retorno, a pergunta que me despertava
todo dia era a mesma? Por quê? Foi
tentando entender o motivo que me lembrei dela novamente. Aquela mulher que eu
vira no local do crime não me era estranha. Seu olhar buscava o meu enquanto
falava ao telefone, foi um segundo só, mas eu havia percebido. E buscando lá no
fundo das minhas memórias, de repente eu me lembrei.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> -- Era ela! O olhar era o mesmo, meu Deus, como não
pensei nisso antes? O que fazia ali, naquele momento?<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> Foi então que me lembrei
daquela noite. Éramos jovens, na nossa pequena cidade do interior, e havíamos
terminado o ginasial. Fomos comemorar com os amigos o fim da nossa jornada e,
pela primeira vez, eu bebi além da conta. Lembro-me de ter passado mal no meio
da festa e saí para o jardim para respirar ar puro; estava me sentindo sufocado
pelo cheiro de bebida e a fumaça de cigarros que me davam náuseas. E foi ali,
recostado num banco do jardim que ela me encontrou. Lembro-me que nunca havia
falado com ela, mas ela se mostrou preocupada comigo e me ajudou a recobrar do
mal-estar. Ficamos juntos por algum tempo, até que minha mão mais atrevida
começou a acariciá-la, num gesto impensado de carinho. Ela me olhou assustada a
princípio, mas depois foi se aproximando, devagar. Notei que também havia
bebido, mas que mal isso podia fazer? Não estava acostumado a me aproximar
assim das meninas da escola, mas ela parecia diferente. Nossos corpos se
tocaram, começamos a nos beijar e, de repente, eu não era mais eu. Perdi
completamente a noção do tempo e do espaço e num instante estávamos rolando na
grama, cheios de desejo. Ela parecia louca, sequiosa dos meus beijos, enlaçando
meu corpo com as pernas, numa clara demonstração de que me queria. E eu cedi à
fraqueza do meu corpo, deixei que a paixão me dominasse e a possuí como um
animal selvagem.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> Ficamos assim, por um tempo olhando as
estrelas no céu, procurando palavras que não vinham e esperando nossa
respiração voltar ao normal. Timidamente, tentei tocar-lhe os seios, mas suas
mãos foram mais rápidas que as minhas e não deixou. Achei estranho e já ia me
levantando quando um impulso me fez agarrar a sua blusa, que se abriu diante
dos meus olhos. A luz da lua iluminou
seu dorso nu e o silêncio foi quebrado pelo grito de raiva dela e pelo espanto
do meu. Em vão, ela tentava cobrir com as mãos, os seios que não existiam. Sob
os dedos crispados, apenas cicatrizes escuras, que ela relutava em esconder.
Meu olhar de espanto deve tê-la confundido, porque de repente ela saiu correndo
enquanto me amaldiçoava:<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> —Teve nojo? Tem nojo de mim? Ou
tem pena? Seria diferente se soubesse? Maldito! Não diga para ninguém, ouviu?
Ninguém!!! Se alguém souber que sou
assim, você ainda vai sofrer por ver cicatrizes mais fundas e tristes que as
minhas! Nunca diga nada para ninguém, esqueça que eu existo e tudo que
aconteceu aqui!!!<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> E sem que eu pudesse dizer
nada, ela se foi, desaparecendo pela rua escura. Algum tempo depois, desabafei
com um amigo e contei o meu segredo. Fui embora para a capital pouco tempo
depois e soube que ela também havia se mudado, quando a nossa história virou
tema de chacotas pela pequena cidade que deixamos. E agora, lembrando de tudo,
as palavras “cicatrizes mais fundas e tristes que as minhas” latejaram na minha
mente. Tive medo dos meus
pensamentos. E de repente, a garganta
cortada de Anna e da minha pequena Polianna se tornaram cicatrizes fundas e
tristes nas minhas lembranças.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><b>[CELÊDIAN]</b> Tomado por sentimentos muito
confusos, que variaram desde a sede de vingança pelos meus amores perdidos, a
certa culpa pelo constrangimento que causei àquela moça no passado, resolvi
tomar uma atitude para pôr fim a tamanho sofrimento. Decidido, rumei para a
minha cidade natal em busca de informações sobre a tal moça, a fim de saber
onde poderia encontrá-la para desvendar aquele mistério. Não foi difícil, pois
aquele meu amigo que se encarregou de espalhar nossa história e torná-la motivo
de chacota, foi o primeiro a quem procurei. Quase não o reconheci, o encontrei
num estado lastimável, desde aquela época tornara-se um alcoolista inveterado.
Não teve nenhum escrúpulo em me contar que passado algum tempo depois que parti
de nossa cidade, Adelina, a moça a quem ofendi profundamente no passado,
voltara, também para saber de meu paradeiro. Ela tinha sede de vingar-se de mim
e ele, no afã de controlá-la, tornou-se seu amigo e posteriormente acabaram se
apaixonando, até que se casaram. Adelina, que também se tornara uma alcoolista,
tornou-se obcecada por encontrar-me, até que isso passou a interferir de uma
forma incontrolável na relação deles. Contou-me que era louco por ela e faria
qualquer coisa para não perdê-la e foi então que ela viu num destes sites empresariais,
o meu nome e onde eu trabalhava, e daí começou a tramar sua vingança.
Aproveitando-se da louca paixão dele por ela, o convenceu a ajudá-la em sua
vingança. Vieram ambos para a cidade em que eu vivia com minha família e
passaram a seguir meus passos, a conhecer minha rotina. Foi assim que tomaram
conhecimento de nossas férias no acampamento. Foram até lá e de tocaia
aguardaram o melhor momento de atacar a minha filha. Descreveu-me com detalhes
o que Adelina, embora ela não tenha participado daquele brutal ato que ele
cometeu, assistiu a tudo com a frieza de quem esperava há anos para ver
marcadas em mim, cicatrizes mais fundas e tristes que as dela.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Ouvi cada
palavra daquele relato horrendo tremendo de ódio e asco e sem pestanejar, abri
minha pasta, saquei a minha arma e apontei para ele, mas algo me fez titubear,
não consegui atirar naquele ser desprezível e miserável. Virei as costas e saí
dali rapidamente. Foi então que tive coragem de voltar ao túmulo de minhas
amadas e ali entre as minhas boas lembranças delas, que entendi porque não tive
coragem de matar aquele sujeito: eu aprendera com elas ao longo de nossa
convivência, que as pessoas más convivem com seus infernos particulares e que
eles são o bastante para puni-las até que um dia se arrependam, ou não. Não
somos nós que definimos as suas penas. <o:p></o:p></p><p>
</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">E ali diante
da presença ausente de Anna e Polianna, sorri, senti-me em paz,
finalmente! </p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"> <o:p></o:p><span style="text-align: left;">GRUPO 4</span></p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">AUTORES: 1 - Celêdian Assis de Sousa; 2 - Marina Alves; 3 - João
Batista Stabile; 4 - Maria Rosário Bessas.<o:p></o:p></p><p><br /></p>Carlos A. Lopeshttp://www.blogger.com/profile/05881754756325061589noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7820075820885671645.post-19654074347063347722020-09-24T05:01:00.001-03:002020-09-24T05:09:00.713-03:00PROCESSO CRIATIVO DE TEXTO PELO GRUPO 2<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="270" src="https://www.youtube.com/embed/brmcbPAUR1g" width="480"></iframe>Carlos A. Lopeshttp://www.blogger.com/profile/05881754756325061589noreply@blogger.com0