Autor: Augusto Sampaio Angelim
João Praxedes
Catunda, já adentrado nos janeiros e olhando com justificada desconfiança
coveiro e cemitério, tinha motivos para se alegrar com chuva no dia dezenove de
março, dia de São José. No ano passado, apesar das dores nas costas, vista
cansada, espinhela caída e outras doenças, apreciou a chuva fininha que caiu
desde os primeiros raios de sol. Sinal de bom inverno, o que de fato se
confirmou.
Hoje, porém, sucedeu uma coisa terrível. O prefeito da cidade comprou uma fazenda que divide trezentas braças de cerca com o sítio de João e não é que choveu nos mil e tantos hectares de terras do alcaide e quando a chuva se aproximou da cerca do pobre matuto se evaporou de repente. Sim, isso mesmo, as nuvens foram embora sem molhar sequer o juazeiro que sombreia sua casa.
Revoltado, o homem pegou uma espingarda soca-soca, cuspiu no terreiro de casa, olhou para o céu, apontou a arma e largou o dedo no gatilho. O tiro ecoou mundo afora, mas diz a vizinhança que se ouviu João Catunda bradar: “eita São José cabra safado, bajulador de prefeito”. Alzira, sua mulher, ficou desesperada, tomou a espingarda do marido e botou ele dentro de casa. Mal fecharam as portas, caiu uma chuva de granizo, quebrando as telhas da casa de Catunda. Ligeira, a mulher se apegou com o terço e começou a rezar engolindo palavras e soluços. João, desorientado, correu para o terreiro, olhou para o céu e gritou: “eu pensei que só tinha doido aqui na terra. Pare com isso, homem!”.
Hoje, porém, sucedeu uma coisa terrível. O prefeito da cidade comprou uma fazenda que divide trezentas braças de cerca com o sítio de João e não é que choveu nos mil e tantos hectares de terras do alcaide e quando a chuva se aproximou da cerca do pobre matuto se evaporou de repente. Sim, isso mesmo, as nuvens foram embora sem molhar sequer o juazeiro que sombreia sua casa.
Revoltado, o homem pegou uma espingarda soca-soca, cuspiu no terreiro de casa, olhou para o céu, apontou a arma e largou o dedo no gatilho. O tiro ecoou mundo afora, mas diz a vizinhança que se ouviu João Catunda bradar: “eita São José cabra safado, bajulador de prefeito”. Alzira, sua mulher, ficou desesperada, tomou a espingarda do marido e botou ele dentro de casa. Mal fecharam as portas, caiu uma chuva de granizo, quebrando as telhas da casa de Catunda. Ligeira, a mulher se apegou com o terço e começou a rezar engolindo palavras e soluços. João, desorientado, correu para o terreiro, olhou para o céu e gritou: “eu pensei que só tinha doido aqui na terra. Pare com isso, homem!”.
Autor: Augusto
Sampaio Angelim - São Bento do Una/PE
http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=29657
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Publicação
autorizada pelo autor
Texto gostoso de ler, bem construído e fiel ao linguajar do bom sertanejo. Somente um autor notável como o Augusto Sampaio Angelim para de forma direta e original nos contar uma história tão engraçada e ao mesmo tempo tão séria, dado a sua capacidade de criar textos marcantes. Parabéns meu caro Augusto, sou fã de carteirinha do seu trabalho literário e da sua pessoa.
ResponderExcluirAmigo, você é suspeito, mas é bom estar em sua companhia. Um grade abraço.
ExcluirLi, amei e aconselho. Um primor de conto! Já li muitos trabalhos do Sr. Angelim, é difícil escolher um ou outro, todos tem a sua beleza e a marca de quem sabe escrever.
ResponderExcluirQue bom saber que alguém gosta da nossa forma de escrever. Um abraço.
ExcluirSinto falta de autores que escrevem dessa maneira, parabéns ao autor. Arnaldo Siqueira Alves
ResponderExcluirObrigado, Arnaldo.
ExcluirOlá, Augusto, muito bom o seu estilo. Aproveito para destacar um trecho que me tocou de forma impressionante no seu texto "Os Últimos". Os três últimos parágrafos, em especial, mereceram várias leituras, só pra sentir o efeito das palavras. A imagem mental que você conseguiu passar é muito forte. Vez em quando volto lá para ler, só para apreciar principalmente aquele pedacinho. Marina Alves.
ResponderExcluirMarina, irei reler o conto focado nesta sua observação. Grato, pelo comentário.
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