terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Um papa lanche em velório


Autor: Geraldinho do Engenho
 
Na minha idade, e neste mundo louco em que vivemos nada mais me surpreende. Há tempos que o impossível perdeu sua primeira sílaba e banalizou em muitos aspectos, ou seja, passou a ser possível. Viver sem trabalhar, por exemplo, se virando de todas as formas é a coisa mais possível e normal atualmente. Tem gente que nunca trabalhou um dia na vida, e aparentemente vive em melhor situação de muitos que vivem ralando.

No natal passado eu soube de mais uma artimanha para se dar bem, pelos aproveitadores de boca livre. Ser penetra em velório.

Um elemento desses vacinados contra o trabalho, e que se considera já filho de nossa terra, embora não o seja, entrou em meu estabelecimento portando uma sacola decorada com figuras natalinas, repleta de iguarias.

Puxando assunto eu disse a ele: você se deu bem, o papai Noel foi generoso com você? Com aquele seu tradicional sorriso amarelo ele retrucou:

- Papai Noel que nada, eu conseguir isto foi num velório aprendeu mais uma forma de me dar bem-, arremate de velório!

-- Velório... Quem é o falecido?

-- Sei La não conheço, eu passava defronte ao velório, quando vinha esperar um carona na saída da cidade,ao ver aquele montão de gente estanha, imaginei que poderia fazer uma boquinha por lá. Entrei, misturei com o pessoal, lanchei, e acabei esperando finalizar. Dei uma mãozinha ao pessoal carregando os objetos utilizados b no funeral.  Ai deu pra mim o que sobrou do lanche!

Quem ouviu seu relato ficou esconjurando.

--Cruz credo eu não tenho coragem de comer isso sei La se esse morto vem à noite me cobrar!

--Ah quem já viu morto voltar morreu vai direto para debaixo daquele montão de terra, não sai de jeito nenhum!

Mas afinal de contas o que podemos esperar de um ser humano capaz de manter sua mãe morta por mais de vinte dias amarrada a uma cadeira, tentando mumificá-la com aplicações de formol?                                                                                          

Esse episódio que ocorreu com esse elemento, no final de fevereiro e inicio de março de 2009 deixando nossa comunidade aterrorizada. Enclausurado em sua residência ele passou treze anos sem que ninguém o visse.  Só a mãe aprecia em publico afirmando que ele estava no Rio de Janeiro sua terra natal.

Quando a mãe, que era nossa cliente, já enfraquecida pelo peso da idade, e portadora de uma cardiopatia, foi impossibilitada de se locomover para efetuar suas compras, ele apareceu solicitando-as pelo telefone, exigindo a entrega em seu domicilio.

Estranhei ao receber seu telefonema, preparei seu pedido e fui pessoalmente entregá-lo, não tive permissão para entrar na residência, por tanto, não o vi. Ela me recebeu com a porta ente-aberto, fez o cheque com grande dificuldade. Foi a ultima vez que a vi. A parir daí, ele, aparecia na porta levava o cheque a ela La dentro, não permitia ao entregador entrar na sala. Até que passou ele próprio assinar o cheque uma vez que era conta conjunta. Ninguém percebeu que ela poderia estar morta. Quando ele viu seu intento em secar o corpo da mãe, frustrado procurou um agente funerário para providenciar seu sepultamento. A polícia foi acionada pelo agente e o prendeu.

Surgiram as mais variadas opiniões para justificar o ocorrido. Seria ele um psicopata-, ou apenas um psicótico necessitando de tratamento?   Na oitiva policial, ele justificou amar a mãe demasiadamente e não queria perdê-la, mas na verdade, todas as evidências indicavam o mesmo fator; ele nunca trabalhou e pretendia manter o corpo da mãe escondido para continuar recebendo seu beneficio do qual era dependente.

O pai ao saber do falecimento da ex-esposa tentou resgatá-lo. Embora decepcionado com seu procedimento quisesse o acolher, mas logo percebeu ser perda de tempo.
 
Geraldinho do Engenho - Bom Despacho/MG

 
Publicação autorizada pelo autor


 

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