Apesar da solidão que, às
vezes, o incomodava, Nicholas era tranquilo. Jurava que jamais trocaria a sua
liberdade por outro relacionamento.
Orgulhava-se de ver sua
casa sempre arrumada com tudo no devido lugar. Sabia onde tudo se encontrava,
já não mais perdia sua carteira, seu relógio e as chaves que nunca, antes,
estavam onde deixava. Ninguém mudava de lugar seu bloco de anotações ou
guardava aquele livro que ficava à sua disposição, aberto, exatamente, onde ele
havia interrompido sua leitura.
Não mais havia quem lhe
criticasse a roupa que escolhia para esse ou aquele evento ou chamava sua
atenção pela barba mal feita.
Já não se preocupava com o
horário de voltar para casa. Nem precisava, pois não havia ninguém a esperá-lo.
Assim vivia Nicholas
depois da separação.
Sempre em casa nos fins de
semana. Nem buscava a oportunidade de conhecer alguém com quem pudesse refazer
sua vida.
Vivia feliz o Nicholas.
Mas o seu destino estava
traçado. Dele, impossível escapar.
Certo dia, foi chamado à
sala do chefe e após meia hora de elogios, ganhou uma missão que não teve como
recusar. Teria que viajar para longe e fazer a cobertura de um importante
Congresso para a revista.
Não seria possível
destacar uma equipe. Apenas Nicholas e um fotógrafo, mesmo porque não havia
necessidade de outros profissionais, uma vez que na pauta se recomendava apenas
fotografias e a entrevista de alguns palestrantes do Congresso.
No dia marcado, chegou ao
aeroporto para encontrar com seu fotógrafo e pegar o voo.
A viagem era curta, apenas
2 horas do aeroporto de Vitória ES à Guarulhos SP, mas incomodava-o o tempo de
espera que sempre achava um exagero, esperar uma hora para fazer o check-in.
Apesar das facilidades do check-in online, Nicholas preferia o guichê, pois sempre
havia dúvidas no momento de operar o terminal.
Ali despachava a bagagem e
se dirigia para a sala de embarque onde procurava relaxar enquanto esperava o
momento do embarque.
Chegando ao destino, ainda
teria que enfrentar a fila para receber a bagagem antes de dirigir-se ao ponto
de táxi.
Seu hotel ficava bem
distante do terminal, o que lhe custou mais de uma hora dentro do táxi.
Sentia-se incomodado, pois detestava esses procedimentos. Preferia estar
sentado em frente ao seu computador na redação, do que ter que enfrentar o que
para ele era um inconveniente. Mas não podia recusar a missão depois de tantos
elogios recebidos do chefe.
Uma vez no hotel, procurou
relaxar e repousar. Um pequeno jantar no quarto e um bom livro. Restava-lhe
somente uma noite de descanso para no dia seguinte estar no centro de
convenções cumprindo a sua pauta.
Após o banho, fez a
checagem do seu equipamento e desceu para o restaurante. Acompanhado do
fotógrafo tomou o café, e em seguida pediu um táxi para levá-los ao local do Congresso.
Já no Centro de
Convenções, dirigiu-se ao encarregado de checar a lista dos convidados,
apresentou suas credenciais e foi informado que direção deveria tomar para
chegar ao local.
Vikey uma jornalista
local, bastante experiente e desinibida, notou o desconforto de Nicholas que
diante do desconhecido sentia-se perdido.
Logo apresentou-se
oferecendo ajuda. Diante da simpatia de Vikey, Nicholas sentiu-se atraído de
tal forma que não a deixou mais. Durante todo o Congresso, Nicholas e Vikey
estiveram juntos o tempo todo.
No encerramento, certa
tristeza se abateu em ambos e decidiram ficarem mais alguns dias juntos, para
se conhecerem melhor.
Vikey cancelou os
compromissos e ficou de vez com Nicholas no hotel. Passeios por lugares
românticos da cidade completaram a felicidade que sentiam por estarem juntos
naqueles dias.
O momento de voltar
chegou. Não foi uma experiência agradável para nenhum deles. Nicholas queria
ficar e Vikey queria viajar com ele. Promessas e planos fizeram para não
perderem aquela oportunidade que surgia de serem novamente felizes.
Triste, mas animado pela
expectativa de uma nova vida plena de felicidade ao lado de alguém
irresistivelmente agradável e sensível Nicholas despediu-se de Vikey retornando
ao convívio da barulhenta redação, tumultuada, mas, para ele, aconchegante.
Ali, sentia-se em casa.
Naquele ambiente havia
encontrado, nos últimos anos, o refúgio que o ajudou a afastar as lembranças da
vida frustrante vivida até então.
Algumas semanas se
passaram, mas a presença de Vikey, manifestada por telefonemas todas as noites,
mensagens trocadas durante o dia, se tornara indispensável. Sequer havia um
momento em que seu pensamento não estivesse com ela.
A visita de Vikey à sua
cidade era uma questão de oportunidade, mas não podiam esperar mais. Aconteceu,
então, em um fim de semana de abril. A chegada do voo que a traria estava prevista
para as dezesseis horas, mas Nicholas já estava no aeroporto às 14.
Seu coração disparou ao
vê-la surgir, entre os passageiros, em sua direção. Um abraço demorado não foi
o suficiente para acalmar seu ser. Vikey,
por sua vez, estava tão agitada que nem sabia o que fazer.
Animados, logo embarcaram
no automóvel de Nicholas que a conduziu direto para sua casa. Morava em um
pequeno e aconchegante apartamento próximo à praia, local bastante atraente para
Vikey que acostumada com a vida corrida e o ar poluído de sua cidade
encantou-se com a paisagem.
Foram três dias de passeios,
e de amor sem fim. Noites agradáveis na praia observando a lua nova e as
estrelas. Estavam irremediavelmente apaixonados.
Algumas idas e vindas,
meses se passaram e descobriram que não mais poderiam ficar distantes um do
outro.
Foi quando Nicholas propôs
à Vikey que se mudasse para sua cidade onde viveriam o amor que os estava
unindo. A contra proposta de Vikey foi que ele fizesse o contrário. Nicholas
resistiu o quanto foi possível. Contudo, diante da firmeza de Vikey, cedeu.
Munido de toda coragem
possível, desfez-se de tudo que tinha e transferiu-se para a cidade de Vikey.
Não foram fáceis aqueles
dias de adaptação. Cidade muito grande, trânsito insuportável, clima diferente
e tantas outras diferenças que tiveram que ser enfrentadas e vencidas.
Passaram-se meses e
finalmente sentiu-se integrado. Pode, finalmente, entregar-se ao amor de Vikey.
Enfrentando e vencendo
algumas dificuldades, ambos tudo faziam para fortalecer aquele amor que era
tudo para eles.
Foram anos de plena
felicidade.
Muitas dificuldades
encontraram e venceram. Para Nicholas, o mundo todo estava contra eles Era
difícil imaginar que um sentimento tão bonito e puro pudesse encontrar algum
tipo de resistência. Tudo fez para superar investidas de terceiros que não
cansavam de desejar o fracasso daquele amor tão vigoroso.
Para um amor tão intenso,
qualquer dificuldade, por menor que pudesse ser, representava uma grande
batalha a ser vencida.
Apesar de todas as barreiras,
foram enfrentando e vencendo, uma após outra. Vikey, por sua vez, fazia o
possível para superar e concentrar sua atenção ao amor que os unia.
Mas como tudo passa, assim
como o tempo, esse amor que parecia incorruptível, que sempre enfrentou e
resistiu a tudo, começou a desmoronar.
Tornou-se pesado, cansado
de tantas batalhas. Já não havia tanta força para resistir. Foram deixando
acontecer e sem a menor reação aceitavam tudo, mesmo sabendo que deviam lutar e
vencer e que se não reagissem, tudo acabaria.
Até tentaram. Discutiram,
prometeram mais dedicação, mas não havia mais forças para vencer.
A despedida se anunciava.
Certa tarde, num ato,
quase de desespero, Vikey abraçou Nicholas e lhe disse:
—Eu o amo e o amarei por
todo o sempre, aconteça o que acontecer.
Aquele abraço foi o
último.
Passados alguns dias
Nicholas se preparava para partir e em uma manhã de quarta-feira, com as malas
prontas, foi até o quarto e não teve coragem para uma despedida. Apenas olhou Vikey
que mantinha a cabeça coberta, parecendo dormir, mas na verdade apenas
procurava esconder-se de si mesma, lamentando a falta de coragem para gritar:
—Fica!
3 comentários:
É o que chamo de inevitabilidades ou inabilidades nos relacionamentos. Talvez seja a morte dos feromonios, os hormonios que atraem os machos e femeas para ficarem juntos, mas que tem prazo de validade.
Boa história do amor que não resistiu ao tempo. Perfeitamente dentro dos parâmetros do concurso e aos cânones gramaticais. Parabéns a quem o produziu.
Alberto Vasconcelos
O conto narra muito bem a trajetória de um promissor amor que como em todos os começos é plena felicidade. Pena que o final não tenha sido tão feliz, como é também muito comum na vida real. Um belo conto! Parabéns!
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