A
literatura é a possibilidade de expandir através das letras, seja em verso ou
prosa, emoções, pensamentos e sensações.
O
bom escritor tem domínio sobre a linguagem escrita e detém o dom de manter as
sutilezas da percepção original acerca de fatos ou pensamentos.
O
que admiro em Ana Bailune é justamente essa qualidade fundamental.
Nasci em setembro de 1965, em Petrópolis. Tenho três
irmãs e um irmão. Meus pais são falecidos. Sou casada há 25 anos, e não tenho
filhos. Adoro minha casa, o lugar onde eu moro e minha cidade. Amo escrever e
ler. Amo cachorros (tenho dois) e todo tipo de animais (exceto aranhas), e
adoro ficar perto da natureza, especialmente de árvores e montanhas, riachos
entre pedras e lugares frios. Adoro borboletas, pássaros e joaninhas. Adoro
fotografar. Amo a solidão, o silêncio e a paz de espírito. Não acredito em
muitas amizades. Relaciono-me com poucas e selecionadas pessoas. Sou de libra,
meu elemento é o ar, e não poderia ser diferente: amo voar, amo aviões. Sou
crítica, e às vezes, um pouco ácida. Odeio mentiras.
Blog Gandavos: 1-
Quando e como surgiu seu interesse pela leitura e escrita?
Ana
Bailune - Desde muito cedo.
Minha mãe costumava ler histórias para mim na hora do almoço (ou eu não comia).
Depois, ela comprou-me cartilhas de alfabetização, e com sua ajuda, aos cinco
anos de idade eu já sabia ler e escrever. Desde então leio tudo o que passa na
minha frente, desde bulas de remédio, manuais de instrução, livros de vários
estilos, reportagens, etc...
Blog Gandavos: 2 - Quais
foram seus livros preferidos quando era criança e os livros favoritos
atualmente?
Ana
Bailune - Bem, quando eu era
criança, após terminar a primeira série primária, em 1971, ganhei de presente
da “Tia Tânia” um livro chamado “As Aventuras da fada Cacetinha”, de Virgínia
Lefévre. Este tornou-se meu livro favorito, e em seguida, “Alice no País das
Maravilhas”, de Lewis Carrol. Já adolescente, li e fiquei muito impressionada com
“Uma Arma Para Johnny”, de Dalton Trumbo. É um terrível relato sobre um soldado
ferido de guerra. Também adorei “Floradas na Serra”, de Dinah Silveira de
Queiroz e “O Sol é Para Todos”, de Harper Lee. Já adulta, vários livros me
marcaram, como por exemplo, “O Convite”, de Oriah Mountain Dreamer, “Memórias,
Sonhos e Reflexões”, de Jung,“ A Criança Roubada”, de Keith Donohue (amo), e
todos de Cecília Meirelles e Fernando Pessoa. Há muitos, muitos mais, mas eu
passaria horas citando-os... porém, não posso esquecer-me de “Cidadela” e “O
Pequeno Príncipe”, de Saint-Exupéry, e “Ilusões”, de Richard Bach.
Blog Gandavos: 3 -
Quais escritores são suas fontes de inspiração?
Ana
Bailune - Desde muito cedo, ler
Cecília Meirelles me inspira muito. Sinto uma empatia muito grande com os
pensamentos dela. É como se ela fosse uma fonte de água fresca para mim.
Blog Gandavos: 4 -
De que forma o conhecimento adquirido, seja pelo senso comum, ou pelo meio
acadêmico, ajuda na hora de escrever?
Ana
Bailune - Acho que, para
escrever sobre determinados assuntos, é essencial conhece-los bem, o que
demanda estudo e muita dedicação e pesquisa. Porém, quando se trata de poesia,
o conteúdo não vem de conhecimento adquirido, mas de nossas experiências de
vida – coisas bem pessoais mesmo -, pensamentos e principalmente, sentimentos.
Não me prendo em rimas, métricas e estilos, deixo correr solto da veia para o
papel, pois acho que poesia não é fórmula. Também não ligo muito para erros de
gramática, e desdenho completamente a reforma ortográfica. Concordo com
Patativa do Assaré, que disse: “Melhor escrever a coisa certa da maneira errada
do que a coisa errada da maneira certa.” Meus poemas são inspirados em fatos
reais da minha vida, coisas que vejo, perdas, tristezas e alegrias também. Mas
é claro que às vezes são pura fantasia. Já quando escrevo contos, eu não me
perco em detalhes que acho chatos e desnecessários e que encompridam a
história, como descrições detalhadas de cidades, casas e roupas. Gosto de ir
direto ao assunto, e 99% do tempo, as cidades nas quais meus personagens vivem
são fictícias. Confesso que tenho muita preguiça de pesquisar.
Blog Gandavos: 5 -
Segundo o escritor Rubem Fonseca, “a leitura, a palavra oral é extremamente
polissêmica. Cada leitor lê de uma maneira diferente. Então cada um de nós
recria o que está lendo, esta é a vantagem da leitura". É isso mesmo?
Concorda com essa proposição?
Ana
Bailune - Concordo total e
plenamente! Um exemplo: certa vez, escrevi um poema chamado “Somos Irmãos”, que
falava justamente de meu relacionamento com meus irmãos. Uma pessoa, ao lê-lo,
declarou: “Adorei! Ele fala exatamente de tudo o que está acontecendo no mundo
neste momento!” (Era a época do 11 de Setembro). Já tive muitos problemas na
internet devido a poemas que publiquei e pessoas me atacaram achando que eu os
compus para elas. Na verdade, quando isso acontece – escrever um poema pensando
em alguém – eu normalmente ponho o nome da pessoa em questão, ou então deixo
bem claro sobre quem estou falando.
Blog Gandavos: 6 -
Ainda segundo o Escritor Rubem Fonseca: “um escritor tem de ser louco,
alfabetizado, imaginativo, motivado e paciente.” É o suficiente para ser um bom
escritor?
Ana
Bailune - Acho que
principalmente “louco.” A imaginação não funciona muito bem nas pessoas ditas
‘normais.’
Blog Gandavos: 7 -
Para qual público se destina sua criação?
Ana
Bailune - Nunca pensei nisso...
acho que para quem gostar e quiser ler.
Blog Gandavos: 8 -
Como funciona o seu processo de criação? Quais sãos suas manias (ritual da
escrita)?
Ana
Bailune - Não sigo nenhum. As
coisas vêm à minha cabeça, sento-me e escrevo-as da maneira como aparecem.
Quando uma história me aparece com princípio, meio e fim, eu me sento para
escrever e, em determinado ponto, ela muda totalmente de direção, como se os
personagens me dissessem: “Hey! Deixa a gente contar!” E quando isso acontece,
eu não interfiro. Escrever para mim é diversão, e portanto, a parte chata
(corrigir erros, revisar, etc...) eu deixo para lá. Se eu fosse uma
profissional das letras, certamente teria alguém que cuidasse desta parte para
mim.
Blog Gandavos: 9 -
Em geral, os seus personagens são baseados em pessoas que você conhece, ou são
ficcionais?
Ana
Bailune - Pergunta perigosa,
mas vou tentar explicar: Às vezes, um personagem meu pode ter características
de várias pessoas que conheço, ele é uma colcha de retalhos. Porém, outras
vezes ele é apenas ficção, alguém que se autocria, cuja personalidade vai
surgindo ao longo do texto. Em meu último conto, “O Anjo no Porão” (publicado
em meu blog Histórias de Ana Bailune), eu me baseei nas histórias que minha mãe
me contava sobre seu passado, sua infância, sua família. Mas nem todos os
personagens foram baseados em fatos reais, e há muita ficção também no enredo.
Minha mãe realmente foi criada em colégio interno, ela realmente perdeu a mãe
muito cedo, meu avô era mesmo muito mulherengo, as irmãs de meu avô foram
baseadas nas irmãs reais, embora suas histórias de vida sejam apenas ficção.
Blog Gandavos: 10 -
Você tem outra atividade, além de escrever?
Ana
Bailune - Sou professora de
inglês, e dou aulas em casa, isto há mais de onze anos. Além disso, cuido eu
mesma da minha própria casa (não tenho empregadas), o que me ocupa grande parte
do tempo, e escrevo em vários blogs e sites na internet. Meu dia é cheio de
atividades, e ainda caminho uma hora por dia pelo menos quatro vezes por
semana. Nas horas vagas, brinco com meus cachorros, leio muito, escuto muita
música e fico lá fora, no jardim.
Blog Gandavos: 11 -
Você faz parte das Coletâneas Gandavos. Qual a sensação de participar ao lado
de escritores de várias regiões do país?
Ana
Bailune - Acho muito
emocionante, bacana mesmo, foi algo que a internet nos proporcionou e eu recebi
com todo carinho. Acho que você, Carlos Lopes, é corajoso, arrojado e muito
empreendedor.
Blog Gandavos: 12 -
O financiamento coletivo e a publicação independente têm se mostrado a opção
das publicações Gandavos. Quais são os pontos positivos e negativos desse tipo
de publicação?
Ana
Bailune - Bem, quando
publicamos coletivamente, nem sempre o trabalho individual se destaca. Mas se
pensarmos bem, da mesma forma acontece quando investimos para publicar
individualmente, pois nos dias de hoje, são muitos autores, e a publicação
virtual, seja em blogs, sites ou e-books, por exemplo, abriu as portas para
todos os anônimos, fazendo com que nos percamos neste mar imenso de autores,
bons e ruins, que surgem a cada segundo. Antigamente, ser publicado significava
ser necessariamente muito bom. Hoje, nem tanto. Vemos totais absurdos
aparecendo a todos os instantes, e muitas vezes eu penso que no futuro, ninguém
será lembrado.
Blog Gandavos: 13 –
Você já fez publicação de livros sozinha, seja impresso ou virtual? Quais e
como o leitor pode adquiri-los?
Ana
Bailune - Publiquei um livro
impresso de poemas, “Vai Ficar Tudo Bem”, esgotado. Virtualmente, todos os
livros que publiquei, inclusive o primeiro, em edição revista e ampliada –
contos, crônicas e poemas – estão disponíveis gratuitamente aos leitores da
amazon.com.br. Basta digitar Ana Bailune na busca do site, e todos eles
aparecerão listados. Podem ser lidos em computadores, smartphones, tablets ou
nos leitores de livros virtuais, principalmente, o Kindle.
Blog Gandavos: 14 -
Qual mensagem você deixaria para autores iniciantes, com base em suas próprias
experiências.
Ana
Bailune - Escreva. Nem sempre
você se tornará famoso, e provavelmente, não se tornará; pode ser que você seja
criticado, que receba e-mails anônimos falando da sua falta de talento, ou
então você poderá ser atacado e ridicularizado por anônimos ou não-anônimos;
mesmo assim, escreva. Pode ser que você passe horas caprichando em um texto
para que alguém vá até o seu blog, e publique o seguinte comentário: “Lindo e
reflexivo! Visite-me em meu site/escrivaninha/blog.” Mas um dia, alguém vai
realmente ler alguma coisa que você escreveu, e você saberá que aquela pessoa valorizou
o seu trabalho. Um exemplo: aqui na minha cidade, já me reconheceram na rua
duas vezes; a primeira, na loja da operadora Claro: o atendente pediu meu nome
para executar o serviço, e quando eu disse, ele sorriu: “Ah, então você é a Ana
Bailune? E há apenas alguns dias, eu caminhava na rua quando fui parada por uma
mulher que disse acompanhar-me na internet e adorar as coisas que eu escrevo.
Apesar de não ganhar nada, financeiramente, com as coisas que eu escrevo, estes
momentos são gloriosos. É durante eles que eu compreendo porque eu escrevo.