quinta-feira, 30 de junho de 2016

Simplesmente Lia

Autor: Oliveiros Martins de Oliveira

Anos 50, interior de São Paulo, Lia, menina moça vivia só para o trabalho, cuidava de seus irmão menores ajudando a mãe na difícil tarefa do lar, de família humilde e de conceitos morais rígidos, porém, descobre na pessoa de um jovem simpático e empregado do pai, o amor, que veio para bagunçar os seus sentimentos, e sua vida.
Apaixona-se perdidamente por esse jovem, porém, encontra alguns obstáculos, como a não aprovação por parte de seus pais e uma possível ida da família para outras bandas. Com efeito, sua família, resolve que deveriam ir para o Paraná, pois lá existiam terras boas para o plantio do café, a febre agrícola da época. Seu pai adquirira uma área de terra e teriam que mudar-se, abrir um novo sítio em terras paranaenses.
Diante desses fatos, e já com a mudança marcada, Lia tinha que tomar uma atitude que mudaria para sempre o rumo de sua vida. Como não tinha o consentimento dos pais, resolvera que fugiria, uma atitude radical para aqueles tempos, e o pior é que a data marcada para fugir, acabou coincidindo com o dia da mudança.
Lia ficou num grande dilema, arriscava tudo em nome desse amor ou partia com os pais para o Paraná? O correto seria seguir seus pais. Mas...
E seus irmãos, como ficariam? Quem iria cuidar deles? Eles precisavam tanto dela. Pobres anjos inocentes, tinham acabado de dormir, os dois, agarradinhos enlaçados em seus braços, tendo nela sua protetora, pois a mãe tinha outros tantos para cuidar, aqueles era obrigação sua.
O que fazer?
O tempo ia passando, ela tinha que decidir rápido, era sua felicidade que estava em jogo. Ficava e seguia a família ou pulava a janela e ia viver seu sonho?
Depois de alguns minutos que pareciam uma eternidade enfim decidiu. Seja o que Deus quiser.... Juntou suas roupinhas que era quase nada, beijou com carinho aqueles rostinhos inocentes e foi cair nos braços de seu amado.
O amor venceu mais uma vez, e a atitude que parecia errada naquele momento, foi a mais correta possível. Hoje desfruta do amor de seus irmãos e de toda sua família que é simplesmente maravilhosa. Como diria o poeta, o que seria do amor e do mundo não fossem os “erros” cometidos na vida.

Autor: Oliveiros Martins de Oliveira 
Diamante do Norte/PR

segunda-feira, 20 de junho de 2016

A Dama do Cemitério (Livro) - Autor Geraldinho do Engenho (Terceiro Capítulo)

Atendendo a solicitação da sogra Silvia retornou a capital a encontrou bastante otimista esnobando saúde praticamente recuperada do trauma sofrido com a perda do filho. Estava frequentando um haras, ela sempre foi louca por equitação e cavalgar era seu mais apreciado passa tempo desde a época que o marido era vivo. Silvia ficou feliz com o estado de ânimo da sogra, afinal elas sempre se deram bem. Pra dizer a verdade seu carinho superava o de sua própria mãe que passou a vida interferindo em suas ações a começar forçando seu casamento.
Irradiante com o retorno da nora ela quis passar a ela o comando dos bens que por direito lhe pertencia. Ela não aceitou afirmando que a herança de seus pais já lhe bastava uma vez que sozinha queria apenas o necessário para sua sobrevivência nada mais que isso, deixaria que Noêmia desse o destino que bem entendesse ao seu patrimônio, passaria uma procuração delegando a ela domínio absoluto sobre tudo que lhe fosse de direito na herança de seu marido. Quando Silvia anunciou que retornaria urgente devido às pendências a serem sanadas em sua fazenda. Noêmia ficou profundamente triste, necessitava muito de sua companhia afirmou ela. Mas fazer o que eram dois patrimônios muito importantes e o melhor seria dividirem a tarefa. Silvia em tom de brincadeira disse.
– Quem sabe um casamento com o belo jóquei lá neste haras que está frequentando não lhe fará bem, e será ótimo para lhe fazer companhia? Pense nisso e terá minha total aprovação!
- Eu minha querida -, com setenta e cinco anos vai deixar para você, que pouco passou dos cinquenta, Túlio em vida me disse diversas vezes que se viesse a falecer antes de ti, acaso surgisse um novo amor em sua vida que eu fizesse o possível para que sejas feliz encontrando o que com ele, você não conseguiu o seu verdadeiro amor!
Mal sabia a nora que o coração da sogra já balançava pelo recém contratado zelador do haras frequentado por ela, e que a encantava com tamanha gentileza ao  lhe preparar com todo cuidado  e carinho o cavalo que sempre foi seu preferido. Ela só não o havia declarado pelo medo de um não, devido ser ele vinte anos mais jovem. Aquela resposta e a revelação de Noêmia com respeito à recomendação de seu filho tocaram o coração de Silvia que ainda nutria a remota esperança de reencontrar Marcos então viúvo da camponesinha.
Silvia retornou a sua terra natal e dedicou de corpo e alma aos negócios em sua propriedade. Rosa antiga empregada que no passado fora demitida por sua  mãe por ser sua confidente e mensageira, tornou sua governanta e gozava de todos os privilégios naquele luxuoso palacete. Aconselhada por ela, Silvia decidiu procurar informações a respeito do paradeiro de Marcos. Não obteve sucesso, a única dica que seu amigo Sergio lhe passou foi que logo após a morte da esposa ele partiu indo residir com os filhos na capital. E a partir dai não deu mais noticias perderam o contato com ele completamente que não deixou nenhum endereço, o sogro também fazia tempos que não sabia o seu  paradeiro.
Sua iniciativa em revê-lo avivou a chama de amor em seu coração que há tempos estava adormecida na cinza do seu passado sepultada pela desilusão.  Sua sogra estava sempre em contato informando a respeito dos negócios a ela confiados, e que por sinal iam muito bem. Em visita à nora ela contou sobre seu namoro com o zelador do haras, descrevendo uma serie de atributos que faziam dele um excelente cavalheiro. Mas estava receosa pela diferença de idade. Silvia a incentivou afirmando que daria todo apoio e que foi ótima sua decisão, ela teria o pulso forte de um homem que ao seu lado a completaria.  
Noêmia retornou a capital e continuou cuidando dos negócios e feliz com o namoro e a convivência com sua adorável nora, passava o tempo, e nada de Silvia reencontrar Marcos. Noêmia acertou com o namorado eles ficaram noivos, com a condição de se realizar uma cerimônia simples, apenas com a presença de os seus familiares.  Ao darem andamento no papelório para o enlace ela descobriu que o noivo era conterrâneo de sua nora. Quis que ambos viajassem queria apresentá-lo a ela, mas ele recusou afirmando que sepultara seu passado, preferia não voltar a sua terra jamais, e esperava que ela o compreendesse e respeitasse essa sua atitude. Ela aceitou e deu por encerrado o assunto. Marcou a data do casamento e avisou Silvia, como ela havia marcado um evento para a mesma data e não poderia comparecer Noêmia o adiou para a semana seguinte.
Na data marcada Silvia se aprontou e foi prestigiar a sogra, mas um acidente acorrido causou um grande congestionamento na estrada, ela  só conseguiu chegar à cerimônia quando os noivos estavam deixando o altar já no momento final  do enlace. Ela ficou entre os convidados na ala lateral da igreja onde outra noiva aguardava sua vez de entrar, Noêmia preocupada com sua ausência olhava entre seus poucos convidados constantemente indagando um e um se não havia visto sua nora, mas poucos ali a conheciam somente os empregados de sua casa. Os familiares do noivo nunca a haviam visto. Atrás de um dos pilares da igreja entre os convidados do outro casamento quase sem chão, ela viu seu grande amor Marcos sair sorrindo de braços dados com sua sogra, com quem acabara de casar. Deu um tempo, quando todos partiram rumo à festa, ela saiu da igreja entrou em seu carro donde seu motorista aguardava e deu ordens para partir.
— A senhora não vai à festa?
– Não! Toque de volta para casa e não pergunte o porquê ta bem?
- Como à senhora queira dona Silvia!
De volta a sua casa Silvia escreveu uma longa carta a sogra se desculpando por não comparecer ao casamento, lamentando, e explicando a causa que a obrigou voltar do caminho, desejou a ela toda a felicidade do mundo, e como ela já era sua procuradora passasse ao seu noivo, ou melhor, ao seu marido como presente de casamento todos os bens a ela deixado pelo médico, seu filho, com quem  ela foi casada. E que numa próxima oportunidade ela visitaria o casal para conhecer seu cônjuge. 
Assim foi sepultado de vez aquele grande amor que por momentos ela o viu ressurgindo da cinza do seu passado, mas foi impedido pelo destino.
- Esta meus amigos é a minha historia, não sei se Marcos já descobriu que está casado com a sogra, de um seu ex-amor, ele jamais voltou nestas terras. Apesar dos apelos de minha sogra eu nunca conheci seu marido e não será agora com ela escloresada, e eu vivenciando meus últimos momentos, que eu irei conhecer, mesmo porque só me restam poucos dias de vida, afinal o que eu mais desejo agora será a ajuda de vocês dois. Meu império foi transformado numa instituição que acolhe os idosos desamparados de toda esta região, e meu patrimônio tem condições mantê-lo por longos anos. Vocês dois vão pedir demissão deste serviço que pouco lhes rende, e vão assumir essa minha instituição. Quando eu partir o que será muito breve, vocês me colocarão no tumulo de meus pais aumentem mais um vaso de porcelana, que, aliás, já está sobre ele, eu já o providenciei, e da mesma forma que eu os mantive florido com o mesmo espaço de tempo vocês irão abastecê-los, estamos combinados? Podem tomar as providencias necessárias preparar a documentação, eu quero os dois morando em minha fazenda esta semana ainda, segundo os médicos meu tempo de vida é curto e temos que agir rapidamente.
 –Tudo bem patroa, mas só um detalhe, a senhora esqueceu, e o ramalhete de rosas vermelhas naquele outro tumulo do canto cemitério?
— KKKKKKK.  Amigos... Não será mais necessário, sob aquela lápide está enterrado apenas um bauzinho de metal com uns bilhetinhos ingênuos, sonhos de um amor não realizado, de duas crianças, e que em breve estará junto de mim em meu tumulo.

Autor: Geraldinho do Engenho - Bom Desapcho/MG

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Entrevista: Ana Bailune

        

A literatura é a possibilidade de expandir através das letras, seja em verso ou prosa, emoções, pensamentos e sensações.
        O bom escritor tem domínio sobre a linguagem escrita e detém o dom de manter as sutilezas da percepção original acerca de fatos ou pensamentos.
        O que admiro em Ana Bailune é justamente essa qualidade fundamental.

Nasci em setembro de 1965, em Petrópolis. Tenho três irmãs e um irmão. Meus pais são falecidos. Sou casada há 25 anos, e não tenho filhos. Adoro minha casa, o lugar onde eu moro e minha cidade. Amo escrever e ler. Amo cachorros (tenho dois) e todo tipo de animais (exceto aranhas), e adoro ficar perto da natureza, especialmente de árvores e montanhas, riachos entre pedras e lugares frios. Adoro borboletas, pássaros e joaninhas. Adoro fotografar. Amo a solidão, o silêncio e a paz de espírito. Não acredito em muitas amizades. Relaciono-me com poucas e selecionadas pessoas. Sou de libra, meu elemento é o ar, e não poderia ser diferente: amo voar, amo aviões. Sou crítica, e às vezes, um pouco ácida. Odeio mentiras.

Blog Gandavos: 1- Quando e como surgiu seu interesse pela leitura e escrita?
Ana Bailune - Desde muito cedo. Minha mãe costumava ler histórias para mim na hora do almoço (ou eu não comia). Depois, ela comprou-me cartilhas de alfabetização, e com sua ajuda, aos cinco anos de idade eu já sabia ler e escrever. Desde então leio tudo o que passa na minha frente, desde bulas de remédio, manuais de instrução, livros de vários estilos, reportagens, etc...

Blog Gandavos: 2 - Quais foram seus livros preferidos quando era criança e os livros favoritos atualmente?
Ana Bailune - Bem, quando eu era criança, após terminar a primeira série primária, em 1971, ganhei de presente da “Tia Tânia” um livro chamado “As Aventuras da fada Cacetinha”, de Virgínia Lefévre. Este tornou-se meu livro favorito, e em seguida, “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carrol. Já adolescente, li e fiquei muito impressionada com “Uma Arma Para Johnny”, de Dalton Trumbo. É um terrível relato sobre um soldado ferido de guerra. Também adorei “Floradas na Serra”, de Dinah Silveira de Queiroz e “O Sol é Para Todos”, de Harper Lee. Já adulta, vários livros me marcaram, como por exemplo, “O Convite”, de Oriah Mountain Dreamer, “Memórias, Sonhos e Reflexões”, de Jung,“ A Criança Roubada”, de Keith Donohue (amo), e todos de Cecília Meirelles e Fernando Pessoa. Há muitos, muitos mais, mas eu passaria horas citando-os... porém, não posso esquecer-me de “Cidadela” e “O Pequeno Príncipe”, de Saint-Exupéry, e “Ilusões”, de Richard Bach.

Blog Gandavos: 3 - Quais escritores são suas fontes de inspiração?
Ana Bailune - Desde muito cedo, ler Cecília Meirelles me inspira muito. Sinto uma empatia muito grande com os pensamentos dela. É como se ela fosse uma fonte de água fresca para mim.

Blog Gandavos: 4 - De que forma o conhecimento adquirido, seja pelo senso comum, ou pelo meio acadêmico, ajuda na hora de escrever?
Ana Bailune - Acho que, para escrever sobre determinados assuntos, é essencial conhece-los bem, o que demanda estudo e muita dedicação e pesquisa. Porém, quando se trata de poesia, o conteúdo não vem de conhecimento adquirido, mas de nossas experiências de vida – coisas bem pessoais mesmo -, pensamentos e principalmente, sentimentos. Não me prendo em rimas, métricas e estilos, deixo correr solto da veia para o papel, pois acho que poesia não é fórmula. Também não ligo muito para erros de gramática, e desdenho completamente a reforma ortográfica. Concordo com Patativa do Assaré, que disse: “Melhor escrever a coisa certa da maneira errada do que a coisa errada da maneira certa.” Meus poemas são inspirados em fatos reais da minha vida, coisas que vejo, perdas, tristezas e alegrias também. Mas é claro que às vezes são pura fantasia. Já quando escrevo contos, eu não me perco em detalhes que acho chatos e desnecessários e que encompridam a história, como descrições detalhadas de cidades, casas e roupas. Gosto de ir direto ao assunto, e 99% do tempo, as cidades nas quais meus personagens vivem são fictícias. Confesso que tenho muita preguiça de pesquisar.

Blog Gandavos: 5 - Segundo o escritor Rubem Fonseca, “a leitura, a palavra oral é extremamente polissêmica. Cada leitor lê de uma maneira diferente. Então cada um de nós recria o que está lendo, esta é a vantagem da leitura". É isso mesmo? Concorda com essa proposição?
Ana Bailune - Concordo total e plenamente! Um exemplo: certa vez, escrevi um poema chamado “Somos Irmãos”, que falava justamente de meu relacionamento com meus irmãos. Uma pessoa, ao lê-lo, declarou: “Adorei! Ele fala exatamente de tudo o que está acontecendo no mundo neste momento!” (Era a época do 11 de Setembro). Já tive muitos problemas na internet devido a poemas que publiquei e pessoas me atacaram achando que eu os compus para elas. Na verdade, quando isso acontece – escrever um poema pensando em alguém – eu normalmente ponho o nome da pessoa em questão, ou então deixo bem claro sobre quem estou falando.

Blog Gandavos: 6 - Ainda segundo o Escritor Rubem Fonseca: “um escritor tem de ser louco, alfabetizado, imaginativo, motivado e paciente.” É o suficiente para ser um bom escritor?
Ana Bailune - Acho que principalmente “louco.” A imaginação não funciona muito bem nas pessoas ditas ‘normais.’

Blog Gandavos: 7 - Para qual público se destina sua criação?
Ana Bailune - Nunca pensei nisso... acho que para quem gostar e quiser ler.

Blog Gandavos: 8 - Como funciona o seu processo de criação? Quais sãos suas manias (ritual da escrita)?
Ana Bailune - Não sigo nenhum. As coisas vêm à minha cabeça, sento-me e escrevo-as da maneira como aparecem. Quando uma história me aparece com princípio, meio e fim, eu me sento para escrever e, em determinado ponto, ela muda totalmente de direção, como se os personagens me dissessem: “Hey! Deixa a gente contar!” E quando isso acontece, eu não interfiro. Escrever para mim é diversão, e portanto, a parte chata (corrigir erros, revisar, etc...) eu deixo para lá. Se eu fosse uma profissional das letras, certamente teria alguém que cuidasse desta parte para mim.

Blog Gandavos: 9 - Em geral, os seus personagens são baseados em pessoas que você conhece, ou são ficcionais?
Ana Bailune - Pergunta perigosa, mas vou tentar explicar: Às vezes, um personagem meu pode ter características de várias pessoas que conheço, ele é uma colcha de retalhos. Porém, outras vezes ele é apenas ficção, alguém que se autocria, cuja personalidade vai surgindo ao longo do texto. Em meu último conto, “O Anjo no Porão” (publicado em meu blog Histórias de Ana Bailune), eu me baseei nas histórias que minha mãe me contava sobre seu passado, sua infância, sua família. Mas nem todos os personagens foram baseados em fatos reais, e há muita ficção também no enredo. Minha mãe realmente foi criada em colégio interno, ela realmente perdeu a mãe muito cedo, meu avô era mesmo muito mulherengo, as irmãs de meu avô foram baseadas nas irmãs reais, embora suas histórias de vida sejam apenas ficção.

Blog Gandavos: 10 - Você tem outra atividade, além de escrever?
Ana Bailune - Sou professora de inglês, e dou aulas em casa, isto há mais de onze anos. Além disso, cuido eu mesma da minha própria casa (não tenho empregadas), o que me ocupa grande parte do tempo, e escrevo em vários blogs e sites na internet. Meu dia é cheio de atividades, e ainda caminho uma hora por dia pelo menos quatro vezes por semana. Nas horas vagas, brinco com meus cachorros, leio muito, escuto muita música e fico lá fora, no jardim.

Blog Gandavos: 11 - Você faz parte das Coletâneas Gandavos. Qual a sensação de participar ao lado de escritores de várias regiões do país?
Ana Bailune - Acho muito emocionante, bacana mesmo, foi algo que a internet nos proporcionou e eu recebi com todo carinho. Acho que você, Carlos Lopes, é corajoso, arrojado e muito empreendedor.

Blog Gandavos: 12 - O financiamento coletivo e a publicação independente têm se mostrado a opção das publicações Gandavos. Quais são os pontos positivos e negativos desse tipo de publicação?
Ana Bailune - Bem, quando publicamos coletivamente, nem sempre o trabalho individual se destaca. Mas se pensarmos bem, da mesma forma acontece quando investimos para publicar individualmente, pois nos dias de hoje, são muitos autores, e a publicação virtual, seja em blogs, sites ou e-books, por exemplo, abriu as portas para todos os anônimos, fazendo com que nos percamos neste mar imenso de autores, bons e ruins, que surgem a cada segundo. Antigamente, ser publicado significava ser necessariamente muito bom. Hoje, nem tanto. Vemos totais absurdos aparecendo a todos os instantes, e muitas vezes eu penso que no futuro, ninguém será lembrado.

Blog Gandavos: 13 – Você já fez publicação de livros sozinha, seja impresso ou virtual? Quais e como o leitor pode adquiri-los?
Ana Bailune - Publiquei um livro impresso de poemas, “Vai Ficar Tudo Bem”, esgotado. Virtualmente, todos os livros que publiquei, inclusive o primeiro, em edição revista e ampliada – contos, crônicas e poemas – estão disponíveis gratuitamente aos leitores da amazon.com.br. Basta digitar Ana Bailune na busca do site, e todos eles aparecerão listados. Podem ser lidos em computadores, smartphones, tablets ou nos leitores de livros virtuais, principalmente, o Kindle.

Blog Gandavos: 14 - Qual mensagem você deixaria para autores iniciantes, com base em suas próprias experiências.
Ana Bailune - Escreva. Nem sempre você se tornará famoso, e provavelmente, não se tornará; pode ser que você seja criticado, que receba e-mails anônimos falando da sua falta de talento, ou então você poderá ser atacado e ridicularizado por anônimos ou não-anônimos; mesmo assim, escreva. Pode ser que você passe horas caprichando em um texto para que alguém vá até o seu blog, e publique o seguinte comentário: “Lindo e reflexivo! Visite-me em meu site/escrivaninha/blog.” Mas um dia, alguém vai realmente ler alguma coisa que você escreveu, e você saberá que aquela pessoa valorizou o seu trabalho. Um exemplo: aqui na minha cidade, já me reconheceram na rua duas vezes; a primeira, na loja da operadora Claro: o atendente pediu meu nome para executar o serviço, e quando eu disse, ele sorriu: “Ah, então você é a Ana Bailune? E há apenas alguns dias, eu caminhava na rua quando fui parada por uma mulher que disse acompanhar-me na internet e adorar as coisas que eu escrevo. Apesar de não ganhar nada, financeiramente, com as coisas que eu escrevo, estes momentos são gloriosos. É durante eles que eu compreendo porque eu escrevo.


domingo, 12 de junho de 2016

A Dama do Cemitério (livro) - Autor Geraldinho do Engenho (Segundo Capítulo)

Através da ex-empregada Rosa chegou às mãos de Silvia, um bilhete de Marcos, nele o rapaz afirmava que ia partir para a capital, pois, não conseguia tirá-la do pensamento, mas antes queria pelo menos um beijo seu. De coração partido Silvia respondeu através de outro bilhete, que o melhor mesmo seria ambos esquecer que um dia se conheceram. Arrasado o rapaz vagava sem rumo pela cidade, saiu do emprego se entregou completamente ao desprezo, deixou a barba e cabelo crescerem abandonou tudo até a boemia ele baniu de sua vida. Sua mãe uma lavadeira que foi abandonada pelo marido o criando sozinha com muitas dificuldades, já não tinha mais saúde para sustentar a casa. Começaram a passar privações, faltava tudo em casa. Silvia quando tomou conhecimento da situação, procurou um amigo, que também era amigo de Marcos do tempo de escola e o pediu para ajudá-lo.  Deus sempre é providencial, e na mesma tarde daquele dia, Sergio o encontrou na rua por acaso, não o reconheceu.  Marcos o cumprimentou pelo nome.
– Me conhece de onde rapaz?
– Sou Marcos estudamos juntos não se lembra de mim?
– Não acredito o que está acontecendo parece um mendigo, que bicho te mordeu? Não é você aquele galã disputado pela mulherada desta cidade?
-  Era meu amigo =, não sou mais!
– Entre no meu carro vou levá-lo a sua casa!Marcos recusou Sergio se esbravejou insistiu e ele obedeceu, chegou a casa sua mãe demonstrou uma alegria enorme com a atitude do amigo.
- Eu não tenho nem um simples café a lhe oferecer seu moço, mas saiba que a partir de hoje o colocarei em minhas orações para o resto da vida, eu já nem sei o que fazer com esta criatura. Abandonou tudo até a maldita bebida que nos causou problemas à vida inteira ele deixou de vez, mas do que valeu se transformou neste espectro de gente a perambular sem rumo pelas ruas enchendo-me de preocupações! Está pior que um palhaço apupado pelos moleques de rua.
Sergio era filho de um rico fazendeiro, convenceu Marcos a se mudar com a mãe para fazenda de seu pai. Sem nenhuma prática na lida da roça, ele enfrentou sérias dificuldades até se adaptar, mas estava disposto a enfrentar o que desse e viesse pela frente, e provar a si mesmo que era possível mudar.
Não tardou se revelou um eficiente empregado, a mãe trabalhava como domestica na cozinha da fazenda e passaram a ser considerados como os melhores empregados, ela como cozinheira e ele na lida do gado não deixavam nada a desejar.
- Quem te viu e quem te vê essa era uma frase de elogio que Marcos sempre recebia da peonada e até mesmo do patrão. 
Em fim numa quermesse junina houve sua troca olhares com uma camponesinha filha de um colono morador na fazenda e pela primeira vez após aquela fase depressiva a mãe o viu sorrir novamente. Seus olhos que até então perderam o brilho voltaram a brilhar. Feliz a mãe louvou e deu graças a Deus.
Sergio jamais tocou no assunto a respeito de Silvia, não que não soubesse que sua paixão o havia colocado no fundo do poço. Ao contrário de Silvia que jamais o esqueceu, e sempre quis o melhor para seu amado. Sergio a mantinha informada de todos os detalhes ocorridos com o amigo. Eram realmente, uns amigos sinceros e verdadeiros. O que ela mais desejava era vê-lo recuperado, sentia-se culpada pela desgraça do rapaz, queria se vir livre do peso de consciência afirmava ao seu amigo Sergio. Mas no fundo era seu amor doentio que falava mais alto. Quando soube da camponesinha através do amigo passou varias noites em claro houve perda de apetite, e na balança vários quilos a menos foram contabilizados. Seu pai preocupado com sua decadência sugeriu a procurar um medico, mas Amélia interferiu dizendo que a data do casamento aproximava era mais que natural a filha emagrecer.
Silvia foi sincera e abriu o jogo com seu noivo, dizendo que desde a infância amava outro e poderia vir a não lhe fazer feliz. Ele ponderou amá-la também desde a infância e que com o tempo ela viria amá-lo da mesma forma. O enlace se realizou com toda pompa e luxo, Marcos soube através da imprensa local que deu destaque absoluto nas primeiras paginas dos jornais da cidade. Apesar do sofrimento manteve-se firme era outro homem e seu compromisso com a camponesinha era fato consumado a data de seu casamento aproximava, ele baniu de vez aquele seu amor do pensamento.
Silvia foi morar na capital onde o marido exercia sua profissão com competência e brilhantismo, tornou-se um ás na medicina, adquiriu fama e muito dinheiro. Silvia não o amava e ele sabia, mas nem por isso deixou de ser um bom marido. Morava com a sogra, aliás, a sogra morava com ela desde que se casou e seu marido construiu sua residência. Uma luxuosa mansão, Noêmia, a sogra era uma espécie de governanta na mansão do casal. Silvia nunca se sentiu como dona de casa, tinha a estranha sensação de ser apenas uma hóspede. Vivia sonhando acordada, com os seus devaneios, fingia ser a camponesinha colocando-se em seu lugar imaginariamente, lavando roupas na fonte carregando feixe de lenha na cabeça com seu filhinho enganchado em suas cadeiras.
– Ah como ela trocaria todo o seu luxo só para receber seu amor ouvir o tropel do cavalo chegando, preparar-lhe um banho de bacia, remendar sua roupa, passar-lhe um café num dragãozinho simples cheirando reboco de estrume com terra de formigueiro fresquinho. Naquela vida abastada ela tinha tudo, mas faltava o principal a sua felicidade.
Visitava seus pais constantemente, tinha seu carro e um motorista a sua disposição, viajava quando bem queria não tinha nem uma obrigação domestica Noêmia a sogra era quem cuidava de tudo. Não tinha filhos, porque nasceu estéril, mais um motivo que a levava a invejar aquela camponesinha. Marcos havia se casado e pai de quatro lindos filhos, dois casais adoráveis. Trabalhava como gerente na fazenda que passou a pertencer ao amigo Sergio.
Apesar de sua frieza com o marido, Silvia vivia harmoniosamente bem, a sogra lhe considerava como filha, este fator fizera com que ela tomasse a mais difícil atitude de toda a sua vida arrancar aquele amor doentio de seu coração. Mergulhada na solidão ela lia e relia os bilhetes de amor que mantinha guardada desde a infância. Decidiu enterrar aquele bauzinho com todas as juras de amor se desfazendo do único bem que a vinculava ao seu passado. Viajou a sua terra natal e La com o coração partido enterrou seu sonho.
Os anos passaram amadureceu sua vivencia, tornou-se uma cinquentenária. Seu marido numa leve queda na escada do hospital bateu com a cabeça e veio a falecer. Foi um grande choque, ela nunca o amou, mas conviveu com ele e o respeitou como uma verdadeira e dedicada esposa. A sogra transtornada com a perda do filho viu nela seu ponto de apoio e foi correspondida. Silvia sentiu que estava na hora de retribuí-la por toda sua dedicação carinho e compreensão. Mas o destino parecia conspirar contra ela, assim que Noêmia se restabeleceu e parecia ter superado a perda do filho.  Seus pais que se quer uma simples dor de cabeça sofreram em toda a vida foram atacados por uma enfermidade não diagnosticada tiveram que se submeterem a um rigoroso tratamento. Ela teve que deixar a sogra na capital para cuidar dos pais. De volta a sua terra a natal sentiu uma grande decepção Marcos estava viúvo e mudara para a capital donde os filhos haviam concluído seus estudos e estavam sendo bem remunerados trabalhando como empregados. Embora ela nunca desejasse a morte da esposa de Marcos, ela viu surgir uma remota oportunidade de reencontrá-lo, reacendeu uma pequena chama de esperança na realização de seu adormecido sonho de amor.
A doença dos pais se alongou demasiadamente ela dedicou todo o seu tempo e carinho a eles. Falecerem os dois quase ao mesmo tempo, com o sofrimento daquela desconhecida enfermidade, resignada ela manteve-se firme. Passado certo período ela resolveu atender aos apelos da sogra que clamava sua presença na capital exigindo seu retorno a fim de assumir os bens deixados pelo marido.

(Continua na próxima semana)

Autor: Geraldinho do Engenho
Bom Desapcho/MG

quarta-feira, 8 de junho de 2016

A Dama do Cemitério (Livro) - Autor Geraldinho do Engenho (Primeiro capítulo)

Alta esbelta loira cabelos longos com duas tranças enrodilhadas, uma verdadeira obra de arte, aquele seu penteado. Mãos, pés e unhas bem cuidadas, um perfeito e invejável conjunto escultural, elegantemente bem vestida. Ela entrava pelo portão do cemitério com a cesta de flores recém colhidas, ainda respingadas pelo orvalho da manhã, dirigia-se a um luxuoso tumulo de mármore cuja foto de um casal que aparentavam ter entre 60 a 65 anos de idade. Apanhava dois vasos de uma porcelana azul celeste finíssima, decorados com a pintura do Divino Espírito Santo, representado por uma pomba branca que flutuava com uma hóstia no bico acima de um cálice sobre uma bíblia aberta. Caminhava até o chafariz que ficava ao lado da entrada, retirava as flores velhas despejava seu conteúdo no esgoto, após lavá-los, enchia-os de água limpa recompunha as flores depositando-os novamente sobre o mesmo túmulo. Seguia para o canto esquerdo do cemitério colocava sobre uma singela lápide ali existente, um ramalhete de rosas vermelhas, recolhia o anterior, como suas rosas murchas e desbotadas, juntava às demais que ficaram próximas ao chafariz, passava pelo portão colocando-as nas lixeiras.  Aquele ritual se repetia de dois em dois, a tardar a cada três dias.
Em principio o zelador despercebido nem retribuía a saudação a ele dirigida, mas no decorrer do tempo ele passou admirá-la de tal forma que sempre arranjava um pretexto, para acompanhar de perto suas ações, e corresponder gentilmente à sua saudação. Passando acompanhá-la com o olhar pela alameda afora até ela dobrar a esquina rumo ao seu palacete, que ficava mergulhado em um bosque ajardinado fora da área periférica da cidade.
- Bom dia seu Rafael! - Bom dia senhora! Sua simpatia acabou despertando o zelador, e não tardaram eles já trocavam algumas palavras relacionadas com as condições climáticas ora falando do calor chuva ou frio, essa forma brasileira que temos de puxar assunto. Essa intimidade acabou por render    ao zelador algumas  frutas fresquinhas colhidas pela dama, que amiúde chegavam a ele, levadas embaixo das flores naquela sesta. Logo o coveiro e seu ajudante também já sabia que seu nome era Silvia, e que o casal que recebiam flores eram seus pais, mas e aquela lapide do ramalhete de rosas vermelhas, sem nenhuma inscrição de identificação de quem seria?
A convivência entre os três personagens era momentânea sem delongas e em dias alternados, mesmo assim criou-se um laço simpático, cordial e até um pouco afetivo. Vários anos aquela mesma rotina.
Que mistério teria aquela dama tão elegante? – Essa era a pergunta que o zelador e seu colega gostariam de uma resposta!  Certa ocasião passou uma semana sem que ela aparecesse, as flores despencaram nas bordas dos vasos o ramalhete secou castigado pelo sol, sobre aquela lápide pretejada pelo tempo.
Os dois amigos preocupados decidiram rastrear informações, nunca conversaram a respeito de seu endereço, mas alguém os informaria com certeza. Numa tarde após o expediente decidiram seguir o mesmo trajeto percorrido pela dama. Caminharam pela avenida dobraram a esquina até aí tudo bem, mas agora, aonde vamos?-- Tantas ruas cruzando aquela avenida. Atinou-se que as frutas e as flores fresquinhas, não poderiam ser produzidas na cidade, a única opção seria procurarem na área rural. No trajeto percorrido, não havia se quer um pomar capaz produzir coisas tão belas como aquelas. Ninguém soube explicar, sobre a elegante mulher a viam sempre transitando vinda da área rural, mas jamais falaram além de bom dia ou boa tarde, deveria ser fazendeira, era a única informação.
Um velhinho lenhador, este sim soube informar certinho seguiram sua indicação depararam com uma portaria no que parecia ser um grande condomínio de luxo cheio de arvoredos e milhares de arvores frutíferas. O porteiro informou tratar-se da fazenda de Silvia, mas ela não se encontrava estava hospitalizada.
De posse do endereço foram ao hospital se dizendo seus amigos.  Conseguiram permissão para visitá-la. Conduzidos ao apartamento donde a dama se encontrava. Pediram desculpas pela invasão de sua privacidade explicando suas preocupações quando ela não apareceu. — Fizeram muito bem vou ser grata a vocês pelos poucos dias que ainda me restam. Vejo que é chegada minha hora e tenho que compartilhar com alguém a minha historia de vida, que durante muitas décadas permaneceu trancada a sete chaves no meu coração -. Estão dispostos a me ouvir? - Ouviremos com grande prazer dona Silvia quando queira! - Eu terei alta muito breve. Voltarei ao cemitério e La a gente conversa combinado? - Perfeito, só gostaria que nos permitisse cuidar da colocação de flores nos túmulos enquanto recupera a saúde! – Não será necessário muito breve retomarei esta tarefa, é coisa minha não quero que ninguém o faça, mesmo porque quando eu partir não terá ninguém para me substituir.
Uma semana depois estava a dama cumprindo seu ritual, com a mesma rotina de antes, mas desta vez com um tempo para jogar conversa fora com a dupla de amigos. E assim a cada dia ele narrava minuciosamente uma capitulo de sua vida. Iniciando com uma garotinha loirinha de olhos azuis, parecia o manequim da Barbie, a única sobrevivente, que pôs fim ao sofrimento de sua mãe na tentativa de salvar pelo menos uma gravidez, dentre tantas abortadas involuntariamente. Após uma serie de tratamentos a garotinha nasceu linda e saudável. Aconselhada pelos médicos a mãe nunca mais se engravidou.
Silvinha filha única do casal era alegre ativa e inteligente o pai que viera de uma família humilde sem recursos financeiros, acostumado com uma vida modesta, nunca privou a filha de vivenciar sua infância com simplicidade entre os amiguinhos (as) mais humildes. Ao contrario da mãe que a repreendia constantemente tentando escolher suas amizades.
- Não podemos criar nossa filha numa redoma Amélia, cabe a ela escolher suas amizades. A vida de nossa filha pertence a ela, não temos o direito de interferir em suas escolhas, parece-me que você quer viver a vida dela. — Você Alcides deveria ter passado o que eu passei para colocar a Silvinha no mundo, mas não, o homem é só deleitar em seu gozo colocar o sêmen no útero da mulher e pronto o resto ela que se dane! – Você está sendo injusta mulher, amo nossa filha tanto quanto você, os filhos são criados para o mundo, um dia eles crescem bate as assas e voam indo viver a sua vida. – Concordo, mas pode ser com os filhos dos outros, não com a silvinha, esta saiu daqui ó! De dentro da minha barriga sou eu que farei suas escolhas.
Silvinha crescia linda e inteligente encantava em talento e beleza. O pai simples como sempre, honesto e trabalhador, atributos que o tornaram-se respeitado. Cresceu satisfatoriamente o patrimônio herdado, pela esposa, provando ser de fato um grande administrador. Silvinha era a musa daquela cidadezinha do interior, cobiçada pela elite. Nos bailes realizados no clube da cidade era o centro das atenções, mas só dançava com o cavalheiro escolhido pela mãe. Pobre não tinha vez, pé rapado dançar com minha filha nem morta, dizia a mãe! Alcides tentava em vão convencer Amélia libertar a filha, mas ela se julgava superior nas decisões e ele devido ser de origem pobre se julgava como um refém de sua fortuna embora fora o responsável por multiplicar seus bens com seu trabalho e sua boa administração.
Marcos desde a infância caia de amor pela garota, mas este jamais iria se aproximar dela, alem de pobre e inferior, era disputado por todas as garotas mal faladas da cidade. Tomou fama de boêmio e namorador embrulhão. Não teria a mínima chance com Silvinha. Mas o seu charme a atraia, ela tentava em vão tirá-lo do pensamento.
Era final de ano, época que geralmente os conterrâneos moradores em outras cidades retornavam a rever os amigos e parentes. Eram recebidos com um baile de confraternização. Uma tradição que passava de geração para geração, responsável por inúmeros casamentos realizados entre  os conterrâneos locais com os ausentes.
Nesta oportunidade Amélia viu a chance de um bom casamento para Silvinha. Sua prima que morava na capital retornou com o filho medico recém formado e que por diversas vezes telefonara querendo noticias de silvinha, mas a empregada recomendada por ela, nunca levara ao conhecimento de Amélia tais telefonemas.  A empregada foi demitida perdeu o emprego, quando em conversa com a prima a patroa descobriu a respeito. Forçada pela mãe silvinha se viu obrigada a fingir que aceitaria se casar com o médico.
No baile Marcos e Silvinha eram os centros de todas as atenções, o casal mais elegante da festa. Marcos quis tirá- La para dançar, Amélia o impede, apesar de irresponsável acostumado em não levar desaforo pra casa, seu amor Por ela falou mais alto ele se conteve, desculpando com a jovem afirmando que em respeito a ela ele se retirava, mas sua mãe que aguardasse, pois teria o troco na hora certa.
No dia seguinte alguém bateu à porta da mansão. A nova empregada atendeu: – dona Amélia Marcos quer falar com a senhora e com seu Alcides! - Que Marcos menina? - Aquele gato lindo que morre de amor por Silvinha! – Diga para aquele cachorro que se ponha daqui pra fora antes que eu chame a policia! E tu se quiseres preservar seu emprego procure não mencionar seu nome nem em sonho aqui, principalmente na presença de Silvia, entendida?
– Olha Marcos a patroa está uma fera mandou dizer que será melhor para todos você sair numa boa, assim evita escândalos. Sentado sem autorização na sala Marcos retrucou. —Diga à sua patroa que daqui eu não saí e daqui ninguém me tira, é bom ouvir-me primeiro antes que eu enlouqueça! Naquele momento Alcides entra na sala – boa noite Marcos que diabos procuras aqui rapaz como atreves entrar em minha casa sem ser chamado? – Olha seu Alcides eu vim em paz, quero sua permissão e dona Amélia para que silvinha eu possamos namorar, sei que meu passado não é muito recomendável, mas farei todo possível para fazer sua filha feliz, nunca é tarde para a gente mudar de vida. E pelo amor de sua filha eu farei tudo para não os decepcioná-los. – Vamos conversar minha esposa e eu, ver o que posso fazer a felicidade de minha  filha está acima de minha própria vontade, resta saber se Amélia comungara com o meu pensamento, o que acho muito difícil, breve você terá nossa resposta. - Seu Alcides eu não arredo pé daqui sem uma resposta chame dona Amélia e vamos resolver isso agora! – Rapaz corajoso você não? Tudo bem-, já que insiste e está disposto a enfrentar a fera!
- Eu Silvia, com um livro na mão, na sala ao lado, ouvi  toda a conversa enquanto fingia ler.
Alcides conseguiu acalmar a esposa e a convenceu a conversar civilizadamente com seu pretendente a genro, mas de nada adiantou, ela nem cogitou questionar a filha se o amor daquele rapaz era correspondido Por ela. Foi taxativa, afirmou que Silvinha não teria vontade própria e só ela que a criou com todos os mimos, decidiria seu futuro inclusive sua mão já fora prometida a um pretendente do seu nível. E ponto final. Marcos Saiu disposto a arrancar de vez a moça do seu coração, mas sua atitude corajosa fez com que o amor enraizasse no coração da jovem.  Sua mãe marcou seu noivado com o Dr. Túlio filho de sua prima. Marcos quando soube ficou arrasado.

(continua na próxima semana)

Autor: Geraldinho do Engenho 
Bom Despacho/MG

sábado, 4 de junho de 2016

Entrevista: Geraldinho do Engenho

Geraldinho do Engenho

Ninguém aprende a escrever bem sem ser um bom leitor. Alguns escritores são unânimes em afirmar que a escrita está intimamente ligada à leitura, a mais variada possível. Porém é imprescindível a dedicação, a perseverança de trabalhar duro para transformar o material acumulado em nova matéria literária. Escrever é estar em constante aprimoramento. Creio também que escrever bem é pensar no leitor ao fazer ao escolher as palavras certas e isto não significa escrever de forma rebuscada, pois, quem escreve assim, não comunica, e sim exclui. Nossas leituras ao longo da vida alimentam e constroem o que carregamos em nossos pensamentos.

O entrevistado da semana é de Bom Despacho/MG, muito sábio, com ar tranquilo, paciente, vivido. Um mineiro escritor de histórias, que sabe registrar a cultura de um povo, entoando os seus causos, contos e poesias com calma, respeito e mansidão. Conhece a vida das cidades, mas sua origem sertaneja o envolve deixando transparecer em seus textos, as crenças, hábitos, modos de agir do povo de Minas Gerais... Esse é jeitão do escritor e amigo de todos, Geraldinho do Engenho.

1 - Pergunta: Quando e como surgiu seu interesse pela leitura e escrita?
Geraldinho do Engenho -  Adquiri o hábito da leitura ainda criança, frequentando a escola...  Quanto  a escrita foi motivada também pela escola. Eu  já maduro com  meus quarenta e seis anos de  idade, atendendo a solicitação da diretora da escola Maria Guerra  em nossa comunidade, pedindo-me para fazer um pequeno relato do nosso Distrito, numa palestra aos seus  estudantes. Uma  vez que até aquele momento no decorrer do ano de 1988 não havia qualquer tipo de registro, sobre sua origem e formação. E os alunos a cobravam constantemente  a respeito desse fato. Senti-me tão gratificado  com  o interesse das mais trezentas crianças que me assistiram. Decidi então rascunhar sobre o acontecimento e engavetar para que mais tarde alguém capacitado pudesse usá-lo com fonte de informações para escrever nossa historia. Quinze anos mais tarde, Em 2003 minha filha Silvane encontrou o Rascunho cujo titulo é (Gavetas da Mente) o mostrou a uma sua colega que trabalhava numa editora em Brasília. Vierem  me convencer a publicá-lo, recusei é claro, achei a ideia absurda, mas acabaram me convencendo. Assim nasceu meu primeiro livro Gavetas da Mente!
2- Quais foram seus livros preferidos quando era criança e os  livros favoritos atualmente?
Geraldinho do Engenho -  Foram vários, mas os que mais me marcaram  foram: Na Fazenda, Minhas Lições, e um livro cujo titulo é Historia Geral, o qual me fez apaixonar pela historia do Brasil colonial.
Atualmente fica até difícil mencionar os preferidos, são  tantos os bons  escritores, devoro todos eles, vou citar apenas dois  A CABANA  E NÃO HÁ SILENCIO QUE NÃO TERMINE DE HINGREDY BITHENCOURT.
3 - Quais escritores são suas fontes de inspiração?
Geraldinho do Engenho -  Darcy Ribeiro, Jorge Amado, Casto Alves, e outros mais incluindo alguns bom-despachenses  meus conterrâneos.
4 - De que forma o conhecimento adquirido, seja pelo senso comum, ou pelo meio acadêmico, ajuda na hora de escrever?
Geraldinho do Engenho -  O ser humano  não atinge nenhum objetivo sem o conhecimento, seja ele na prática ou na teoria, aliás são dois fatores que só atingem o alvo almejado se estiverem assimilados!
5- Segundo o escritor Rubem Fonseca, “a leitura, a palavra oral é extremamente polissêmica. Cada leitor lê de uma maneira diferente. Então cada um de nós recria o que está lendo, esta é a vantagem da leitura". É isso mesmo? Concorda com essa posição?
Geraldinho do Engenho -  Exatamente. Muitos leitores tem uma capacidade extraordinária de ilustrar mentalmente aquilo que está lendo,  enquanto outros  são conduzidos aos locais  que imaginariamente são  criados por sua interpretação. É deste contexto de interpretação que nasce a capacidade de escrever alguns de forma tão perfeita, capaz de  prender o leitor  ao texto afazendo com que ele sinta como se estivesse assistindo a um filme!
6- Ainda segundo o Escritor Rubem Fonseca: “um escritor tem de ser louco, alfabetizado, imaginativo, motivado e paciente.” É o suficiente para ser um bom escritor?
Geraldinho do Engenho -  Não necessariamente que ele seja louco, mas alfabetizado sim, muitas vezes ele tem o dom para escrever e não encontra a forma correta para se expressar isso o que faz a diferença em um bom escritor.
7 - Para qual público se destina sua criação?
Geraldinho do Engenho -  Escrevo de forma que qualquer leitor possa ler sem se sentir ofendido. Talvez meu linguajar caboclo e coloquial não agrade os intelectuais detentores  da literatura clássica. Mesmo  assim não deixo de escrever, pois é na humildade e nas coisas  simples que encontramos a gratuidade da vida!
8 - Como funciona o seu processo de criação? Quais sãos suas manias (ritual da escrita)?
Geraldinho do Engenho -  Dependendo das circunstâncias, e da   inspiração. Às vezes numa palavra ou uma simples frase de um amigo, eu  encontro  motivação  para criar um texto, uma critica construtiva  a determinados fatos. Um gesto solidário é sempre um bom motivo para escrever. Meu ritual é sempre histórico fundamentada em  nossas raízes na natureza, em nossos antepassados mais humildes que geralmente levam com eles  para o túmulo sua história.
9 - Em geral, os seus personagens são baseados em pessoas que você conhece, ou são ficcionais?
Geraldinho do Engenho -  Em se tratando da realidade  histórica  escrevo sobre nossa gente com os quais eu convivi e  convivo atualmente. No caso de estórias ficcionais, como alguns romances, contos e fábulas são personagens fictícios. 
10 - No seu processo de criação já atravessou alguma crise de falta de inspiração?
Geraldinho do Engenho -  Sim já perdi a ponta da meada por falta  de inspiração, inúmeras vezes, mas de repente vem a luz e eu retomo a direção certa.
11 - Você tem outra atividade, além de escrever?
Geraldinho do Engenho -  Na verdade  não me considero um escritor, sou apenas um simples escrevinhador apaixonado por História, não tenho nenhuma formação superior, cursei apenas o primário. Minha  faculdade foi o cabo da enxada, lavrando a terra na escola da vida. Essa  foi  minha atividade principal até 1980 quando mudei para o comercio.
12 - Você faz parte das Coletâneas Gandavos. Qual a sensação de participar ao lado de escritores de várias regiões do país?
Geraldinho do Engenho -  Com muita honra, participei de todas as adições, graças ao carinho do Grande patrono desta coletânea o nobre amigo Carlos  Alberto Lopes, esse Mecenas da literatura  brasileira que merece nosso carinho respeito e gratidão pelo seu trabalho voluntário, arrebanhando escritores do Brasil inteiro, e nos dando a honra e o prazer de formar uma grande família, cujo objetivo principal consumou-se nesta publicação coletiva realizando o sonho de muitos escritores em ver seus textos publicados em livros.
13 - O financiamento coletivo e a publicação independente têm se mostrado a opção das publicações Gandavos. Quais são os pontos positivos e negativos desse tipo de publicação?
Geraldinho do Engenho - Não vejo pontos negativos. Vejo sim  união e paz. Um por todos e todos por um, este é o fundamento que norteia o agrupamento  solidário.  O alicerce do bem comum independente. Uma irmandade capaz de atingir seu objetivo e  realizar o sonho de muitos que unidos  como os grãos de areia sustentam  grandes edificações, e caminharam juntos pelas trilhas da literatura dividindo conhecimentos e realizando sonhos. 
Sempre que sou acolhido em ambientes nobres e sadios como o projeto Gandavos, me vem a recordação do conselho de minha saudosa  mãe: ¨Filho nunca queira ser melhor do que seus amigos, procure sempre acatar os ensinamentos  dos bons, seja sempre o menor e mais humilde  deles¨.
A todos os meus colegas que de uma forma ou de outra caminhamos juntos nesta empreitada literária, meu carinho e meu abraço de gratidão, e aos que partiram chamados por Deus para  compor no reino celestial minha fé em oração!

14 – Você já fez publicação de livros sozinho, seja impresso ou virtual? Quais e como o leitor pode adquiri-los?
Geraldinho do Engenho - Tenho nove livros publicados e o décimo em andamento, que deverá ser lançado até o final do ano. Uma obra completamente diferente de todas que já publiquei.  Inspirada numa viagem que fiz a Europa em março de 2015. São lendas e contos da península Ibérica. Minhas publicações são todas independentes. Os interessados em adquiri-los, entre em contato pelo E-MAIL- geraldo_er@yahoo..com.br.
15 - Qual mensagem você deixaria para autores iniciantes, com base em suas próprias experiências.
Geraldinho do Engenho - Não é por caso  que Deus concedeu a você esse maravilhoso  Dom de se tornar um escritor para sua posteridade. Ele o escolheu no meio de tantos outros, porque aqueles que virão após precisam de sua contribuição. É a história que identifica uma sociedade. E se coube a ti essa missão, procure sempre fazer o melhor. Escreva com ética e respeito, sem preconceito sem discriminação, Escreva a seu modo de ser, sem plagiar a literatura alheia, "inspirar nos bons sempre! Copiar jamais!"

A  atitude de escrever, além de ser uma boa terapia para quem habitualmente faz uso dessa prática, tona-se numa importante contribuição social, mesmo que não haja acontecimentos de grande relevância. É no dia  a dia do cotidiano  da sociedade em que se vive,  que a historia acontece.  E se alguém  não a registra através da escrita  sua identidade se perde no tempo. Escrever é um gesto nobre para com o leitor que busca alimentar a alma através da leitura, fazendo dela uma terapia ocupacional.

Academia Bom Despachense de Letras