João Batista Stabile
Atualmente percebo com
tristeza o que tem acontecido nas escolas, principalmente nas públicas. É
lamentável! Agressão de alunos a professores, violência e drogas entre os
jovens, depredação dos prédios e outras tantas barbaridades...
Fala-se em militarizar
as escolas, colocar policiais armados, rondas da Polícia Militar. Coloca-se
câmeras de segurança nos pátios, tudo na tentativa de inibir a ação de alunos
sem interesse nos estudos. Eles vão à escola para passar o tempo e fazer
arruaças e assim, atrapalham aqueles desejosos de aprender.
Em minha opinião, tudo isso é consequência de
décadas de descaso com a educação pública no país por parte dos governantes,
agravada na década de noventa com a implantação da progressão continuada que,
na verdade, implica aprovação automática.
Vou
recordar como era na década de setenta, quando eu cursei o chamado na época de
Ginásio e Colegial, que correspondem agora ao Ensino Fundamental Ciclo II e
Ensino Médio respectivamente.
Não sou contra a evolução dos tempos! Muitas
coisas facilitaram muito nossas vidas, mas junto com isso, vieram os problemas
que desafiam as autoridades da área da educação.
A escola que frequentei fica no município de
Presidente Alves, interior do estado de São Paulo. Chamava-se Escola Estadual
de Primeiro e Segundo Grau “Cel. José Garcia”. Depois, na década de oitenta,
teve seu nome mudado para Escola Estadual de Primeiro e Segundo Grau
“Professora Maria Aparecida Coimbra”. Houve mudança também do prédio escolar.
Ela ficava em uma esquina. Era um terreno
grande com um declive para o fundo. O prédio fora construído afastado da
calçada. Em frente, nas duas ruas, havia apenas uma mureta baixa e entre ela e
o prédio havia muitos canteiros de flores.
Os alunos entravam por
um portão lateral ao fundo que dava para um pátio coberto ligado ao prédio por
um corredor também coberto. Na saída do pátio, havia dois degraus, um lance,
mais dois degraus, outro lance e chegava a uma escada de aproximadamente seis
ou sete degraus que dava num saguão. Nos dois lados encontravam-se salas de
aula, à frente perto da saída, a secretaria, depois uma escada para o piso
superior. Subia-se um lance, fazia-se uma curva e outro lance para chegar ao
andar de cima, onde existiam mais salas de aulas.
Ao pé da escada, devido à curva em cima,
ficava um vão entre a escada e a sala da diretora, em seguida era a sala dos
professores. Nesse vão, de aproximadamente, dois metros de largura por três de
fundo, havia um armário para guardar materiais escolares, uma mesa e uma cadeira. Lá era o posto de trabalho
do responsável pela ordem e pelo cumprimento dos horários da escola.
Ele não era fortão, não lutava artes marciais,
não usava arma e nem levantava a voz com ninguém. Pelo contrário, era um homem
de meia idade, de estatura pequena e calvo. Seus instrumentos de trabalho eram
apenas um relógio de pulso de pulseira de couro preta para marcar a hora de
trocar as aulas, um sino de bronze com cabo de madeira, para dar o sinal de
entrada, troca de aulas e saída e uma régua de madeira de trinta centímetros.
Era o inspetor de alunos, Sr. Alcides Moreira
de Oliveira, conhecido pelos professores, funcionários, alunos e pais de
alunos, apenas por seu Dadi.
Seu Dadi impunha respeito pela sua postura
séria. Era enérgico, sem ser autoritário. Chamava a atenção sem humilhar
ninguém. Os adolescentes e jovens o respeitavam, mas não o odiavam, pelo
contrário, estimavam-no.
Meu irmão, minha irmã, eu e outros colegas
morávamos na fazenda e estudávamos à noite, assim como muitos de outras
fazendas e mais os alunos da cidade. Seu Dadi conhecia os pais, se não de
todos, da grande maioria dos alunos.
Na hora do recreio, o pátio e os espaços entre
o prédio e o pátio ficavam cheios de alunos de quinta série a terceiro
colegial. A idade variava de 11 a 18 anos, e havia alguns repetentes com mais
de 18.
Quando as vozes e risadas estavam alta demais,
ou havia correria dos meninos, seu Dadi chegava no alto da escada e ficava
batendo com a régua na mão, até que os barulhentos viam e uns avisavam os outros e a ordem era
restabelecida rapidamente.
Não digo que nunca houve problemas.
Esporadicamente acontecia sim alguma briga entre os meninos, ou um mau
comportamento por parte de algum aluno, mas nesse caso, seu Dadi, sem
dificuldade, os encaminhava para a sala da diretora.
Nas formaturas, tanto do ginásio como do
colegial, todo ano, seu Dadi estava entre os escolhidos pelos alunos, como
paraninfo, patrono ou homenageado de honra da turma. Em minha formatura do
terceiro colegial em 1979, nossa turma o escolheu como homenageado de honra.
Eram outros os tempos! Os jovens de hoje
jamais entenderão! Não tínhamos celular, tablet
ou notebook. Não possuíamos mochila
de marca nem material sofisticado. Cada um se virava como podia, de acordo com
o poder aquisitivo dos pais. Mas existia
algo que não dependia de dinheiro, posição social ou tecnologia. Havia respeito.Em
primeiro lugar aos mais velhos. Isso já dava uma enorme vantagem ao seu Dadi.
Depois, devido ao seu cargo, pois ele era uma autoridade constituída dentro
daquelas dependências.
Os alunos se dirigiam aos professores sempre
respeitosamente. Usavam o tratamento de “senhor” ou “senhora’. Seria
inimaginável um adolescente tratar um professor ou professora de “você”. Quando
a diretora entrava em uma sala de aula, todos ficavam em pé até que ela os mandasse
sentar. No corredor, se seu Dadi, ou um professor ou mesmo um servente da
escola chamasse atenção de um aluno, este dificilmente responderia alguma
coisa, sentir-se-ia envergonhado.
Infelizmente esse tempo passou e não volta
mais.Ele só existe na memória de quem viveu essa época. Termino este relato com
o coração apertado de saudade e também de tristeza por saber das condições de
nossas escolas atuais! Que pena!
Autor
João Batista Stabile - Marília - SP
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