Magrelo, comprido, espichado, botaram-lhe o apelido de “Lingüiça” logo começou a trabalhar no escritório da fábrica, como “Office-Boy”. Luiz Alberto era o seu nome, mineirinho do interior, natural de Cachoeira de Curvelo.
Garoto inteligente, não perdeu tempo e agarrou a oportunidade com unhas e dentes. Esmerou-se no trabalho, aprendeu rápido o ofício e em pouco tempo foi promovido, saindo do serviço de rua para o trabalho interno no escritório da companhia. Passou por diversos setores no escritório, Contabilidade, Departamento do Pessoal, Faturamento, sempre correto nas atitudes e com excelente desempenho profissional, ganhando assim a confiança dos superiores.
Alguns anos depois o “Lingüiça” tinha engordado bastante, mas o apelido continuava. Ele conheceu uma moça bonita, Desiré, funcionária da empresa também, namoraram, noivaram e se casaram em questão de três anos.
O tempo correu e o “Lingüiça” viu os filhos nascerem, para alegria sua e da Desiré, sua mulher adorada. No trabalho, seguia firme e sempre bem conceituado entre os superiores, galgando devagarzinho as promoções da carreira. Foi indo assim até chegar à idade madura, quando começaram os problemas de saúde.
Aos cinqüenta anos sofreu um infarto brabo, quase partindo desta para melhor. Superou a doença, recuperou-se e insistiu trabalhando. A princípio fazia dieta alimentar, largara o fumo, a bebida e tomava seus medicamentos. Mas, com o tempo, foi relaxando, voltou a fumar, a tomar seus goles, a comer suas feijoadas, costelas e rabadas, o fato é que ele perdeu totalmente a noção do perigo.
Num domingo, foi à missa na Igreja de São Sebastião com a mulher e os filhos, rezou bastante, comungou, gordão, compenetrado e, ao término do culto, falou pra mulher e filhos na pracinha defronte à Matriz:-
“- Desiré, querida, pode ir descendo pra casa com os meninos, sabe? Eu vou procurar o que comer, porque hóstia não mata minha fome! Vou ver o que tem lá no fogão do Jorge, meu primo.”
Esse Jorge era um sujeito taciturno, seu primo, que vivia sozinho, enfurnado num barracão na beirada do rio. O “Lingüiça” chegou, trocaram as saudações costumeiras e o dono da casa indagou:-
“- E aí, primo? O que você tá mandando? ...”
“- Jorjão, tou a seco e com fome! Tem aí aquela branquinha pura?”
“- É pra já, primo. Vou buscar também um costelão assado que fiz ontem de noitinha.”
Chegou com a garrafa da “marvada” e os copos americanos (aqueles canelados), encheu-os até a borda, cortou um pedação de costela bem gordurosa pro “Lingüiça”, ele emborcou de vez a pinga e caiu de queixo na carne assada. E assim foram, de gole e costela, de costela e gole até de tardezinha. Lá pelas dezesseis horas, desmaiados, foram acudidos pelos parentes. O “Lingüiça” foi levado em padiola pra casa e de lá pro hospital, donde só saiu pra falar diretamente com São Pedro, alguns dias depois.
Autor: Roberto Rêgo - Belo Horizonte/MG
Publicação autorizada através de e-mail de 10/10/2011
3 comentários:
Pois é mestre Roberto Rego seu texto é um exemplo, um alerta de vida, uma bela crônica e, sobretudo, um aviso ao seu colega aqui de Olinda. Tal Linguiça, perdi a noção de perigo mas ainda tenho tempo para me cuidar mais. Um abraço.
Pode-se dizer que pelo menos o Linguiça morreu fazendo as doidices que gostava. Quanto a crônica, excelente! Um presente de Roberto Rego.
Esse Linguiça devia ser uma figura e tanto!
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