A recompensa dos
mortos é não morrer nunca mais, como afirmou Nietzsche, mas há uma outra frase,
da qual gosto muito e sempre penso nela no dia de finados: Deve-se consideração
aos vivos; aos mortos apenas se deve a verdade, que foi dita por Voltaire.
Hoje, ao amanhecer
do dia voltei meus pensamentos para os meus mortos, revendo-os. Minha avó, meu
pai, meus tios, primos, meu irmão que eu nem sequer lembro, alguns amigos, uma
criança abandonada por entre os escombros do terremoto que devastou o Haiti e muitos
outros. Um primo que faleceu recentemente. Para todos eles, um instante de
reflexão. Depois, me veio a vontade de ir a uma igreja, mas, aqui perto, na
zona rural de Riacho das Almas, a única igrejinha estava fechada e não pude, de
maneira mais formal, rezar por eles. Ao meio-dia tive que ir à cidade e
encontrei uma verdadeira multidão na entrada e ao redor do Parque dos Arcos, o
moderno cemitério de Caruaru. Na volta, perto das 17:00 horas, poucas pessoas
ainda continuavam no local, mas estas traziam os semblantes entristecidos e
denotavam o medo de perder a hora de prestar homenagem aos entes queridos.
Longe do lugar aonde estão enterrados meus ancestrais, tive vontade de parar e
entrar e rezar por todos os mortos do mundo, inclusive por alguns conhecidos
que sei que ali repousam, entre eles, Isabela, uma linda menina que se foi
precocemente. Subi a Serra Verde, aqui para Riacho das Almas, pensando em
Isabela e na dor de sua morte. Logo depois, a lembrança de Isabela e dos meus
outros mortos se dissiparam e aproveitei para apreciar meus filhos pequenos
brincando e me alegrei com a chegada dos mais velhos, inclusive de Luiza, minha
neta, filha de Tiago, que era casado com Isabela. Clarice, minha filha mais
velha, chegou com o namorado depois que Tiago e família foi embora. Enquanto
isto, os meninos pequenos brincavam com a participação de um menino aqui do
sítio, órfão de pai e mãe, que vive sob os cuidados de um casal do qual não é
parente. É Pedro, um galego de apenas 09 anos de idade, mas que sabe montar e
cuidar de cavalos. Meu filho caçula, Heitor, lhe chama de Predo. Predo!
Agora, aproveito a solidão para escrever, da varanda, contemplando as luzes distantes de Caruaru, enquanto meus pensamentos se voltam para os meus mortos, novamente. Sei que eles nunca mais morrerão. Isso é fato, diria uma jovem amiga. Mas, a eles, também, confesso apenas as verdades das minhas dores, sofrimentos, alegrias e esperanças.
A é noite fria e o silêncio é acompanhado pela harmonia dos grilos, outros isentos e aves noturnas. Sopra um vento gostoso que deve vir do mar distante e assim, aproveito para pedir que ele leve meus pensamentos aos meus mortos, sem contudo, lhes despertar, vez que, agora, eles estão dormindo profundamente, mas tenho a impressão de minha avó sorriu.
Autor: Augusto N Sampaio
Angelim - São Bento do Una/PE
Publicação autorizada
através de e-mail de 04/03/2012
5 comentários:
Muito oportuno seu texto meu caro Augusto Angelim, você mistura o sentimento com o poeta pronto em sua composição. Seu texto faz bem a nossa alma e as lembranças dos nossos antepassados. ¨Dormindo profundamente¨ é muito saudável de ler. Espero que todos os leitores deste blog tenham a oportunidade de ler o seu texto maravilhoso.
Obrigado pelo comentário Robson.
O respeito aos nossos mortos é muito saudável. Bem lembrado Augusto. Leituras assim faz bem e nos faz relembrar nossos mortos. Você me fez lembrar um por um os meus antepassados. Obrigado.
Penso igual ao tio Carlos ... Parabéns Augusto Angelim. Excelente texto.
Como mensagem de subtexto, assim entendi o seu magnífico texto, meu amigo Augusto: Que as nossas lembranças acordem e passeiem silentes pelos meandros de nossas mentes, para não despertar os mortos de seu sono profundo, mas que os nossos pensamentos de saudade, lhes visitem, como se fossem sonhos deles, bons e que os façam sorrir.
Um abraço.
Celêdian
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