segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

A Quinzena do Autor: Celêdian Assis de Sousa

Autora: Celêdian Assis de Sousa

PERFIL

Não sou uma poetisa se procurarem pelo rigor literário e nem tenho a pretensão de ser, apenas escrevo o que dita a minha alma, com a simplicidade e emoção de uma menina nascida entre as montanhas de Minas, numa pacata cidadezinha, Piracema, onde vivi até os 15 anos. Recordo-me com saudades da minha fascinação por declamar, aprender e descobrir novas poesias. Gostava também da prosa e aprendi a gostar lendo clássicos da literatura ainda no início da adolescência. Mais tarde já morando em Belo Horizonte, uma vida diferente na metrópole e acabei por extraviar um pouco deste caminho, embora tivesse desenvolvido um outro gosto, o de escrever textos, poemas, uns poucos contos, talvez influenciada por estar cursando Letras. Posteriormente, parei de escrever por um bom tempo. Vale lembrar que não havia computadores disponíveis e arquivava somente no meu caderninho de “anotações”, que se perdeu e lá se foram os meus arquivos. Daí em diante a vida tomou outros rumos, outras prioridades e os sonhos da menina que queria ser poetisa foram se distanciando. Depois que perdi minhas anotações, muito tempo se passou sem que eu escrevesse algo digno de registro, até que em 1998 escrevi um poema para meu filho (Amor Ímpar), o que de novo despertou-me para a poesia. Entretanto, ainda escrevia pouco. Retomei e acredito que para não mais parar, em 2007. Aventurei-me também em prosa, escrevendo contos, crônicas, ensaios. Formei-me aos 50 anos em Nutrição Humana, divido o meu tempo entre a profissão que exerço e o prazer de escrever. E nesta busca da simbiose do bom alimento para corpo e do bom alimento para a mente é que "ressurgiu" a paixão pela poesia. Eis aí um pouco da minha criação.

1 – CRIAÇÃO

Fundem-se o criador e criatura no supremo momento da criação. O criador seduz e submete a criatura aos caprichos da inspiração. A criatura desnuda seu âmago, despe-se de todos os preconceitos. O poeta abraça a poesia, entrega-se inteiramente aos seus efeitos.
Da flor extrai o néctar, aroma, tornando-os alimento e cheiro do amor; como os pássaros, alça voos em seus sonhos de paixão; com ardor, surrupia o brilho das estrelas e preenche de luz os porões da alma; deixa fluir em rios, os sentidos, ora como correnteza, ora como água calma.
O criador sutilmente se apossa da criatura, cria a ação de transmutar-se em versos e deixa-os livres, para que as criativas mentes sorvam da poesia, o sumo da alma dos poetas, a essência do que os leva ao sublime exercício da criação.

2 – AMOR ÍMPAR

Amo-te, não sei quanto
Sei que é tanto
Que o meu acalanto
É amar-te enquanto
Durar o encanto
Do meu amor
Amo-te, na alegria
No sorriso de tanto encanto
Na beleza de uma alma e tanto
E cantar-te ia um canto
Na poesia de amar-te enquanto
Tu és o dono do meu amor
 .
Amo-te na dor, no pranto
E com um véu, ou um manto
Cobrir-te ia como a um santo
Para embalar-te, no afã e tanto
De proteger-te enquanto
Amar-te é o meu mais puro amor
(Abril de 1998)

3 - SUTIL ALMA DE POETA

Quem é, oh poeta!
Que surge do nada,
que em cada verso soletra,
amor e dor, à rima atada.

Quisera sabê-lo mais, seu mundo,
mas da alma não se extrai o sumo,
cada palavra  apenas extrai do fundo,
pouco da vida  que traça-lhe o rumo

Intriga, confunde, encanta...
Não se sabe o que lhe vai ao íntimo,
ora chora em versos, ora canta.

Meandros da mente, caminhos,
despertados do inerte inconsciente
brota poesia, onde o poeta faz ninhos.

4 – CANÇÃO DO AMOR REAL

No acaso do destino, lá no mundo virtual,
mostrou-se uma flor, entre todas a mais bela,
o jardineiro abriu a alma, dispôs-se a cuidar dela,
e na magia da vida torna-se tudo tão real.

Tão ao longe vão as vibrações,
tão ao longe ecoam os sentimentos,
tão perto se entrelaçam almas, em momentos,
tão perto se encontram e se unem os corações.

Não importa, longe ou perto, enfim...
Distância, tempo, nada desencantou,
apenas porque a flor um dia implorou:
vem jardineiro, vem cuidar do meu jardim!

5 – PINGOS DE SOL NA POESIA

Nunca antes brindara ao sol
Em versos dos meus poemas
Sentia só das estrelas, do luar
A luz, dom, magia de inspirar

Elas, estrelas mudas que ouço
Que ouvem os meus desatinos
Cedem ecos de minh’alma nua
Para fantasias em noite de lua

Conheço do sol, sua nobreza
Astro rei por toda excelência
No calor intenso que aquenta
Talvez meus versos afugenta

Nos ciclos que ora se alternam
Neste descanso que doa à noite
Louvo-lhe a luz que traz no dia
Vida, calor, em pura harmonia

Não tenha ciúmes das estrelas
Tampouco de meu amor a lua
É apenas amor transcendente
Ao sol amo de jeito diferente

Brindo-lhe em tempo, oh Sol!
Consagro-lhe em minha poesia
Ainda que inspiração nascente
Antes que se deite no poente

6 – ESSÊNCIA FEMININA

Mulher é um ser tão diferente
Tão forte na sua fragilidade
Tão frágil na sua fortaleza
Triste se esvai em lágrimas
Na alegria em prantos iguais
Ama com a força da alma
Intensa se entrega forte
Agasalha, aninha, protege
Despe-se de si e se doa
Com igual simplicidade
Veste-se e ousa pedir
Sabe que quer carinho
Afeto, ternura, amor...
Entende da sutil diferença
Entre o amor e o querer
Se preterida, sofre sua dor
Querida, ama desvairada
A mulher mãe é toda pura
É feliz por tão pouco
Sorriso de filho, apogeu
Felicidade tamanha, ímpar

Que seja a mulher vista
Feminina, erótica e louca
Que almeja não ser a santa
Sonha, fantasia, deseja
Espera, se guarda, se poupa
Acredita, perdoa, às vezes grita
Compreendida, se agiganta
E se não, retrai-se, recua
Tímida, acuada, com pudor
De súbito reergue-se, forte
Altiva, nobre, é força do afeto
Mulheres diversas, mulheres mil
Bravas e mansas, fortes e fracas
Bonitas e feias, amargas e doces
Amadas ou não, novas e velhas
Vaidosas ou sem viço
A mãe, a filha, esposa ou amante
Namorada ou amiga
São todas tão únicas, tão belas
Indispensáveis, inigualáveis
Não importa esta ou aquela
São na essência apenas mulheres.

7 – CALOR DO ABRAÇO

Braços que se estendem
Se curvam e cingem
Do peito se acercam
E os corpos se fundem

Do aconchego e calor que ofertam
Os abraços fraternos, amigos, amantes
E no sublime prazer que despertam
São belos e únicos momentos marcantes

É no abraço amigo que se encontra
Um porto de alegria, cura de desalentos
O riso garante, para lágrimas, cura pronta
Na simbiose perfeita dos sentimentos

No elo que ata o amor à compreensão
Abraço fraterno é solidariedade
Afeto doado em um aperto de mão
Caminho tão certo para a felicidade

No frêmito que faz arder o desejo
Os corpos chamam ardentemente
Abraço amante, doce ensejo
De possuir e amar loucamente

Nas dores regadas de pranto
Nas alegrias ornadas de amor
O abraço é essencial acalanto
Ternura, afeto, exalando calor

Ai...ai! Que delícias de abraços
Que suscitam na alma, a calmaria
Que sustentam e estreitam os laços
Sem abraços tão fortes, morreria!

8 – ELOS DE AMOR

Atam-se nós, elos em nós mágico
Ligação de amor afeito ao afeto
Corrente da vida, do mundo estrábico
Atam, desatam e atentam ao desafeto.

Inauditos caminhos, meandros sem fim
Sombras cinzentas, luzes brilhantes
Enganos da alma em busca de mim
Cruéis desenganos e acertos marcantes.

Nos anéis em cadeia, entremeados
Tímida sensatez, ousada loucura
Laços cegos, elos fracos encadeados
Enlaçados dão corpo à forte mistura.

No mundo sem viço, pobre de amor
Enaltecido o ego, glorifica o poder
Cadeias de ideias que levam a dor
Espírito frágil, pobreza do ser.

No mundo terreno, aparente prazer,
Entende a alma, não findará
Carência de fé, nem busca entender
Que além desta vida outra terá.

Plantado, regado, nutrido, o fruto prospera
Na terra fecunda de amor, só há que crescer
Ter não importa, é fútil, ser que impera
Espírito forte, grandeza do ser.

Abraço fraterno é algo de mim
Sorriso sincero, sincera amizade
Amor verdadeiro, simples assim
Atam-se nós, elos fortes de lealdade.

9 – SEGREDOS CALADOS

Não perguntarei coisas que não saibas,
Nem tampouco sobre coisas que não creias.
Não perguntarei sobre o tênue fio ligante,
Da lúcida consciência e a consciente loucura,
Tão íntimas que de ti fazem teu próprio rei.

Não perguntarei sobre a tua sapiência,
Nem tampouco se importa o teu saber.
Da tua sabedoria, só o que interessa,
Se és sábio, se buscas sempre entender,
Onde habita a parte mais simples de ti.

Não perguntarei sobre o rio que nasce,
Que às vezes escorre dentro de ti,
Nem tampouco por onde deságuam as águas,
As calmas ou as caudalosas que ora escoam,
Ou, ora represam-se dentro de ti.
Do rio, da água que corre, só o que interessa,
Que a ti, ora irrigam, ora inudam,
Trazem o feitio, tão próprios de si.

Não perguntarei do que vem do teu âmago,
Do imerso que subitamente emerge,
Do leitor que és, do mundo à tua volta,
Tampouco do teu próprio mundo interior,
Que livre, lês, interpretas como bem entender.
Nem se por vezes esta “leitura” do mundo,
Indigna-te tanto, se te rebelas e gritas,
Mesmo que, nem sempre teu grito se faça ouvir,
Neste tão surdo mundo, às vezes cego,
Que não escuta e não vê a tua ânsia ousada,
Tomando o lugar da tua simplicidade.

Não perguntarei onde nasce o teu sol,
Se o calor que emana dele ainda te aquece.
Se será fértil a terra, quando vier a chuva,
Nem tampouco se o céu que te cobre,
De azul, ainda colore o ar e deixa voar a ave.
Se a terra lavrada e molhada por chuva,
É teu deserto ou teu solo fecundo.

Não me suponhas farta e contentada,
Sem perguntar e da resposta ignorada.
Néscio! Ainda resta-me muita ambição.
Perscrutar tua alma, entender teu coração,
Guardar teus segredos e torná-los meus,
O céu e a terra como eternos cúmplices.

10 - AMOR POÉTICO

Seiva bruta da alma
Escorre líquida nos versos
Tal tinta na página branca
Desenhando figuras do sentimento
Ainda disformes, ora borradas
Conflituosas tramas d'alma e mente
Absorvidas, diluídas no poema
Tomam corpo, ganham coração
De inspiração, encharcado
No exercício do poeta
Visceral, derramando sedução
Por outro coração captado
Sequestrado, cativo
Fundem-se em paixão
Evocados os sentidos
A poesia tornou-se musa
Nos ditames da imaginação
Nos anseios mais profundos
De possuí-la inteira, em fogo
Ardem em chamas, duas almas
Pelas fagulhas do amor poético

Autora: Celêdian Assis de Sousa
Belo Horizonte - MG
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9 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns Celêdian por essa pequena amostra da sua obra literária. É admirável o poder dos poetas em condensar em tão poucas palavras todo sentimento, cores, sabores, sons e imagens literárias. Parabéns também ao Carlos Lopes, que através do Gandavos, semeia literatura num país de analfabetos.

Giustina disse...

É sempre um prazer renovado te ler, Celêdian! Teus poemas repassam o sentir da alma, são escritos com alma e a gente se identifica com eles. Gosto demais também dos teus textos, em forma de prosa ou crônica. Parabéns pelo belo trabalho! Beijão.

Celêdian Assis disse...

Obrigada Alberto,pela leitura e pela atenção. Um abraço.

Obrigada minha querida Giustina, sabe o quanto é gratificante para mim, contar com a sua apreciação. Aliás, nossas trocas literárias são sempre muito agradáveis, pois assim como você, gosto demais do que escreve. Um abraço.

Anônimo disse...

Meus parabens Celedian. Uma página de beleza impar.odas as poesias tocam o mecoração. Conceição Gomes.

Anônimo disse...

Parabens Celedian, Suas poesias tocaram meu coração. Conceição Gomes.

Celêdian Assis disse...

Obrigada Conceição Gomes, é muito bom poder tocar o coração das pessoas através da poesia.
Um abraço.
Celêdian

Celêdian Assis disse...

Amigo Carlos Lopes, passando para agradecer por mais esta oportunidade de expor um pouco do que escrevo, neste espaço de grande visibilidade e que reúne tantas pessoas que realmente valorizam os escritores ainda desconhecidos do grande público, mas que escrevem sempre pelo amor à literatura. Obrigada! Sou muito feliz por fazer parte da família Gandavos.
Um grande abraço.
Celêdian

Ana Bailune disse...

Parabéns a esta grande autora! Linda postagem!

Celêdian Assis disse...

Obrigada, Ana Bailune, sua opinião como grande poetisa/escritora que é, é muito importante.
Um abraço.
Celêdian