Como
tantos outros, voltaria para casa, apenas por voltar, sem qualquer motivo. Ou
simplesmente para não dormir nas ruas.
Para
que voltar? Por quê?
O
que poderia ser, para ele, a casa? O lar?
Julio
já não podia distinguir. Não sabia a diferença entre a casa, lar ou local de
trabalho. Para ele existia a repartição e o seu dormitório, que infelizmente
estavam em locais diferentes e distantes. Uma realidade que exigia dele aquela
rotina de ir e vir.
Como
nada havia para pensar, Júlio se concentrava nesses detalhes. Mas sabia ele que
se lá houvesse alguém que o esperasse tudo seria diferente. A viagem de ônibus
até a casa seria uma prazerosa aventura. A chegada seria compensada com um
abraço amoroso de boas vindas.
O
que resta para Júlio?
Depois
de tudo, nenhuma esperança ou sonho alimenta. Acostumado com aquela rotina já
nem sentia saudade. Tornou-se um ser robótico, sem sentimentos.
Mas
sua vida já havia sido diferente.
Teve
alguém. Um amor, quem sabe? Mas certamente alguém que lhe fazia companhia no
café da manhã, sempre preparado com carinho.
Alguém
que sempre o aguardava à porta quando do trabalho voltava. Que gozava a
preferência da sua companhia em agradáveis passeios pelas montanhas, onde
admiravam a natureza e a exaltavam, comparando aquela harmonia ao seu amor.
As
caminhadas pela areia da praia, as ondas atingindo seus pés que permaneciam
molhados enquanto percorriam a linha da água, sempre de mãos dadas, com
comentários agradáveis que os animavam e os conservavam envoltos naquela
felicidade que parecia não ter fim.
Vivia
Júlio uma felicidade, para ele, infinita.
Pela
intensidade do amor que nutria por Danny, jamais poderia imaginar que um dia
houvesse um fim.
Danny,
também, pensava assim. Um anjo em sua vida, alguém que sarou seu coração e lhe
fez ver as flores ao longo de sua estrada. Um anjo que lhe deu a mão e a ajudou
nas subidas. Um anjo que removeu as pedras de seu caminho. Aquele que a
protegia de tudo e de todos. Tantos eram seus cuidados que chegavam a
incomodar.
Danny,
às vezes, preferia correr algum risco a ser objeto de tantos cuidados. Com a
preocupação de dar a ela a preferência de tudo, Júlio esqueceu de si. Não
imaginava que para prosseguir precisava de uma luz que iluminasse seu caminho.
Danny cercada de cuidados e carinho, jamais se preocupou com esse detalhe.
Imaginou Júlio um ser superior, capaz de tudo providenciar para seu bem estar.
Imaginava ela que jamais precisaria de qualquer cuidado, nem mesmo de uma
palavra de conforto ou aprovação. Para quê, se ele era tão completo e que havia
entrado em sua vida para proporcionar-lhe o que pudesse haver de melhor.
Por
isso Júlio sentia-se frustrado, quando esperava algum retorno ou no mínimo,
algumas palavras de incentivo. Palavras que jamais vieram.
A
sabedoria do tempo foi implacável. Num certo momento, Júlio pretendeu uma
contrapartida que não existiu. Pediu, argumentou e esperou, mas Danny, incapaz
de compreender, não deu.
Então
resolve partir e deixar tudo que lhe parecia tão importante. Inconformado e
carente vai em busca de alguma coisa, que nem imaginava o que pudesse ser.
Julio,
desde então, procurou substituir sua carência de um amor por dedicação
exagerada ao trabalho.
Quando
voltava para casa, nada mais pensava ou esperava. Só a cama o consolava.
Mas
naquele dia foi diferente.
Júlio
descia do ônibus, no ponto costumeiro.
No
trajeto até sua casa, passava pela padaria, onde comprava pão fresco para o
lanche noturno.
Tudo
estava normal, até que atingiu a portaria do seu prédio.
Lá
estava Danny.
Ele
custou a acreditar. Uma confusão mental e nada fez com que se lembrasse o que
havia acontecido. Danny, abriu os
braços, aguardando sua aproximação. Assim seus corpos se encontraram. Tudo
parecia estranho. Por que não tinha acontecido antes?
Promessas
e incontroladas juras de amor foram gritadas, naquele momento, Júlio perdido e
Danny apaixonada se abraçavam e beijavam jurando amor eterno.
—Um
anjo, repetia Danny. Meu anjo.
—Descobri que você é o anjo que me foi enviado. Não para me proteger, mas para
me ensinar a amar. Um anjo para me ensinar o significado do amor.
—Você é o meu anjo, o meu amor.
—Jamais se afaste de mim outra vez.
Autor: Nêodo Ambrósio de Castro - Eugenópolis/MG
Autor: Nêodo Ambrósio de Castro - Eugenópolis/MG
3 comentários:
Nunca é tarde para começar tudo de novo. Felizes os que conseguem. Um belo conto, muito bem elaborado. Gostei, Conceição Gomes
O que está traçado ninguém pode mudar. Uma bela história de amor. E que bom que o anjo foi plenamente reconhecido em seu valor. Muito bom!
Muito bom texto, desenrolar envolvente e perfeitamente dentro dos parâmetros do concurso. Parabéns a quem o produziu.
Alberto Vasconcelos
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