Quando se conheceram, Lúcia tinha quatorze
anos e Júlio dezoito. Ela era só uma menina e ele quase homem feito, com extensa
lista de namoradas. Ela ainda via os
meninos de uma maneira meio desconfiada, mas com ele foi diferente. Talvez
tenha sido o seu primeiro amigo do sexo oposto. Vizinhos de rua, logo começaram
a conversar todo dia.
Júlio apaixonou-se quase que
imediatamente. Chegou a falar em namoro com os pais da garota. Estava certo que
com o tempo, ela também o enxergaria como homem e eles se
entenderiam. A felicidade seria só uma questão de paciência.
Lúcia era uma menina inocente e insegura,
oposto de sua irmã Isabel, mais velha dois anos e bastante atirada. Não demorou
muito Júlio perceber um certo interesse da cunhada por sua pessoa. No início se
fez de desentendido. Estava certo de seu amor por Lúcia, mas o assédio de
Isabel o desconcertava. Lutava para manter-se fiel, pois tinha medo de gerar atritos
na família e acabar perdendo a namorada.
Assim foi levando o namoro inocente por
vários meses, sentindo-se cada vez mais envolvido pelas artimanhas de
Isabel. Seus amigos diziam não entender aquele romance com uma menina. Por que
ele não namorava alguém da idade dele, ou pelo menos uma moça mais madura? Para
que esperar por alguém que ainda não sabia o que querida da vida? Mesmo sentindo estranha atração pela cunhada,
sabia que por Lúcia nutria um amor maior que ele.
Tudo ao seu redor, até as músicas lembravam
o jeito dela. Contava as horas, os dias
para o final de semana chegar logo e passearem juntos, tomar sorvete e irem ao
cinema. Tudo na maior inocência, até os beijos eram de adolescentes.
Inesperadamente houve uma tarde em que
um furacão passou por cima desse amor. Júlio não resistiu às investidas da
tinhosa cunhada, que naquele dia estava sozinha em casa. Entre muitos beijos,
abraços e mãos inquietas, ela confessou que não parava de pensar nele, que
não aguentava esperar mais e estava louca de desejo. Sem pensar direito,
subiram as escadas e foram para ao quarto. Apesar de jovens, ambos eram
experientes e o inevitável aconteceu...
Atordoado pelo inusitado daquele
momento de desejo incontido, ele sabia que não era aquilo que almejava para sua
vida! Naquela madrugada saiu caminhando
pela rua, debaixo da chuva fina, como se a água pudesse lavar seu corpo e sua alma. Sentia na boca o beijo de Isabel, mas era um
sabor amargo e cheio de dúvidas...
Nunca soube se ela contou à irmã, porém
o namoro esfriou. Tempos depois Lúcia encantou-se por um outro rapaz. Júlio
não acreditou... Insistiu. Insegura
como sempre, ela ficou sem saber o que fazer. Apesar da confusão bem comum na
cabeça de uma jovem, ela decidiu algo inusitado que encheu o coração de Júlio
de esperanças.
Disseram aos pais que acampariam com
amigos, mas foram sozinhos passar o final de semana numa cabana a beira de um
rio. Tiveram uma inesquecível noite de amor... Incrível a sensação de realizar
algo tão aguardado, mas os dois sabiam que era o fim. Algo havia se quebrado de
maneira irreparável. Como se fechassem uma
página da vida e abrissem outra. Ele esperou que ela mudasse de ideia, porém o tempo
passou. Ela não voltou, só ele não a esqueceu.
Júlio recebeu um convite de casamento e
soube por uma amiga em comum da gravidez de Lúcia. Chorou, derramou lágrimas
solitárias. Seu amor não era mais aquela menina inocente, se casaria, teria um
filho e não era dele...
A dor foi minimizada pelos anos. Restaram as lembranças dos bons momentos. A
fantasia daquele amor adolescente e a certeza de que todo amor vale a pena, mesmo quando só nos resta a
saudade e uma história para contar.
3 comentários:
Muito bom texto.
Perfeitamente dentro dos parâmetros do concurso.
Parabéns a quem o produziu.
Alberto Vasconcelos
Um ótimo texto falando de amores não concretizados, mas inesqueciveis.Conceição gomes
O amor e seus desencontros, muitas vezes tornados em saudades para serem lembradas a vida toda. Um belo conto. Parabéns!
Postar um comentário