Geraldinho do Engenho
Ninguém aprende a escrever bem sem ser um bom leitor. Alguns
escritores são unânimes em afirmar que a escrita está intimamente ligada à
leitura, a mais variada possível. Porém é imprescindível a dedicação, a
perseverança de trabalhar duro para transformar o material acumulado em nova
matéria literária. Escrever é estar em constante aprimoramento. Creio também
que escrever bem é pensar no leitor ao fazer ao escolher as palavras certas e
isto não significa escrever de forma rebuscada, pois, quem escreve assim, não
comunica, e sim exclui. Nossas leituras ao longo da vida alimentam e constroem
o que carregamos em nossos pensamentos.
O
entrevistado da semana é de Bom Despacho/MG, muito sábio, com ar tranquilo,
paciente, vivido. Um mineiro escritor de histórias, que sabe registrar a cultura de um povo, entoando os seus causos, contos e poesias com
calma, respeito e mansidão. Conhece a vida das cidades, mas sua origem
sertaneja o envolve deixando transparecer em seus textos, as crenças, hábitos,
modos de agir do povo de Minas Gerais... Esse é jeitão do escritor e amigo de
todos, Geraldinho do Engenho.
1 - Pergunta: Quando e como surgiu seu
interesse pela leitura e escrita?
Geraldinho do Engenho - Adquiri o hábito da leitura ainda criança, frequentando a
escola... Quanto a escrita foi motivada também pela
escola. Eu já maduro com meus quarenta e seis anos
de idade, atendendo a solicitação da diretora da escola Maria Guerra em
nossa comunidade, pedindo-me para fazer um pequeno relato do nosso Distrito,
numa palestra aos seus estudantes. Uma vez que até aquele
momento no decorrer do ano de 1988 não havia qualquer tipo de registro, sobre
sua origem e formação. E os alunos a cobravam constantemente a respeito
desse fato. Senti-me tão gratificado com o interesse das
mais trezentas crianças que me assistiram. Decidi então rascunhar sobre o
acontecimento e engavetar para que mais tarde alguém capacitado pudesse usá-lo
com fonte de informações para escrever nossa historia. Quinze anos mais tarde,
Em 2003 minha filha Silvane encontrou o Rascunho cujo titulo é (Gavetas da
Mente) o mostrou a uma sua colega que trabalhava numa editora em Brasília.
Vierem me convencer a publicá-lo, recusei é claro, achei a ideia
absurda, mas acabaram me convencendo. Assim nasceu meu primeiro livro Gavetas
da Mente!
2- Quais foram seus livros preferidos
quando era criança e os livros favoritos
atualmente?
Geraldinho do Engenho - Foram vários, mas os que mais me marcaram foram: Na
Fazenda, Minhas Lições, e um livro cujo titulo é Historia Geral, o qual me fez
apaixonar pela historia do Brasil colonial.
Atualmente fica até difícil mencionar os preferidos, são tantos
os bons escritores, devoro todos eles, vou citar apenas dois A
CABANA E NÃO HÁ SILENCIO QUE NÃO TERMINE DE HINGREDY BITHENCOURT.
3 - Quais escritores são suas fontes de
inspiração?
Geraldinho do Engenho - Darcy Ribeiro, Jorge Amado, Casto Alves, e outros mais incluindo
alguns bom-despachenses meus conterrâneos.
4 - De que forma o conhecimento
adquirido, seja pelo senso comum, ou pelo meio acadêmico, ajuda na hora de escrever?
Geraldinho do Engenho - O ser humano não atinge nenhum objetivo sem o
conhecimento, seja ele na prática ou na teoria, aliás são dois fatores que só
atingem o alvo almejado se estiverem assimilados!
5- Segundo o escritor Rubem Fonseca, “a
leitura, a palavra oral é extremamente polissêmica. Cada leitor lê de uma maneira diferente. Então cada um de nós
recria o que está lendo, esta é a vantagem da leitura". É isso mesmo? Concorda com essa posição?
Geraldinho do Engenho - Exatamente. Muitos leitores tem uma capacidade extraordinária de
ilustrar mentalmente aquilo que está lendo, enquanto outros são
conduzidos aos locais que imaginariamente são criados por
sua interpretação. É deste contexto de interpretação que nasce a capacidade de
escrever alguns de forma tão perfeita, capaz de prender o leitor ao
texto afazendo com que ele sinta como se estivesse assistindo a um filme!
6- Ainda segundo o Escritor Rubem
Fonseca: “um escritor tem de ser louco, alfabetizado, imaginativo, motivado e paciente.” É o suficiente para ser um
bom escritor?
Geraldinho do Engenho - Não necessariamente que ele seja louco, mas alfabetizado sim,
muitas vezes ele tem o dom para escrever e não encontra a forma correta para se
expressar isso o que faz a diferença em um bom escritor.
7 - Para qual público se destina sua
criação?
Geraldinho do Engenho - Escrevo de forma que qualquer leitor possa ler sem se sentir
ofendido. Talvez meu linguajar caboclo e coloquial não agrade os intelectuais
detentores da literatura clássica. Mesmo assim não deixo
de escrever, pois é na humildade e nas coisas simples que
encontramos a gratuidade da vida!
8 - Como funciona o seu processo de
criação? Quais sãos suas manias (ritual da escrita)?
Geraldinho do Engenho - Dependendo das circunstâncias, e da inspiração. Às
vezes numa palavra ou uma simples frase de um amigo, eu encontro motivação para
criar um texto, uma critica construtiva a determinados fatos. Um
gesto solidário é sempre um bom motivo para escrever. Meu ritual é sempre
histórico fundamentada em nossas raízes na natureza, em nossos
antepassados mais humildes que geralmente levam com eles para o
túmulo sua história.
9 - Em geral, os seus personagens são baseados em pessoas que você conhece, ou são
ficcionais?
Geraldinho do Engenho - Em se tratando da realidade histórica escrevo
sobre nossa gente com os quais eu convivi e convivo atualmente. No
caso de estórias ficcionais, como alguns romances, contos e fábulas são
personagens fictícios.
10 - No seu processo de criação já
atravessou alguma crise de falta de inspiração?
Geraldinho do Engenho - Sim já perdi a ponta da meada por falta de inspiração,
inúmeras vezes, mas de repente vem a luz e eu retomo a direção certa.
11 - Você tem outra atividade, além de
escrever?
Geraldinho do Engenho - Na verdade não me considero um escritor, sou apenas um
simples escrevinhador apaixonado por História, não tenho nenhuma formação
superior, cursei apenas o primário. Minha faculdade foi o cabo da
enxada, lavrando a terra na escola da vida. Essa foi minha
atividade principal até 1980 quando mudei para o comercio.
12 - Você faz parte das Coletâneas
Gandavos. Qual a sensação de participar ao lado de escritores de várias regiões do país?
Geraldinho do Engenho - Com muita honra, participei de todas as adições, graças ao
carinho do Grande patrono desta coletânea o nobre amigo Carlos Alberto
Lopes, esse Mecenas da literatura brasileira que merece nosso
carinho respeito e gratidão pelo seu trabalho voluntário, arrebanhando
escritores do Brasil inteiro, e nos dando a honra e o prazer de formar uma
grande família, cujo objetivo principal consumou-se nesta publicação coletiva
realizando o sonho de muitos escritores em ver seus textos publicados em
livros.
13 - O financiamento coletivo e a
publicação independente têm se mostrado a opção das publicações Gandavos. Quais são os pontos positivos e negativos
desse tipo de publicação?
Geraldinho do Engenho - Não vejo pontos negativos.
Vejo sim união e paz. Um por todos e todos por
um, este é o fundamento que norteia o agrupamento solidário. O alicerce do bem comum independente.
Uma irmandade capaz de atingir seu objetivo e realizar o sonho de muitos que unidos como os grãos de areia sustentam grandes edificações, e caminharam juntos pelas trilhas da literatura
dividindo conhecimentos e realizando sonhos.
Sempre que sou acolhido em ambientes nobres e
sadios como o projeto Gandavos, me vem a recordação do conselho de minha
saudosa mãe: ¨Filho nunca queira ser melhor
do que seus amigos, procure sempre acatar os ensinamentos dos bons, seja sempre o menor e mais humilde deles¨.
A todos os meus colegas que de uma forma ou de
outra caminhamos juntos nesta empreitada literária, meu carinho e meu abraço de
gratidão, e aos que partiram chamados por Deus para compor no reino celestial minha fé em oração!
14 – Você já fez publicação de livros sozinho,
seja impresso ou virtual? Quais e como o leitor pode adquiri-los?
Geraldinho
do Engenho - Tenho
nove livros publicados e o décimo em andamento, que deverá ser lançado até
o final do ano. Uma obra completamente diferente de todas que já
publiquei. Inspirada numa viagem que fiz a Europa em março de 2015. São
lendas e contos da península Ibérica. Minhas publicações são todas
independentes. Os interessados em adquiri-los, entre em contato pelo
E-MAIL- geraldo_er@yahoo..com.br.
15 - Qual mensagem você deixaria para autores
iniciantes, com base em suas próprias experiências.
Geraldinho do Engenho - Não é por caso que Deus concedeu a você esse
maravilhoso Dom de se tornar um escritor para sua posteridade. Ele o
escolheu no meio de tantos outros, porque aqueles que virão após precisam
de sua contribuição. É a história que identifica uma sociedade. E se coube a ti
essa missão, procure sempre fazer o melhor. Escreva com ética e respeito, sem
preconceito sem discriminação, Escreva a seu modo de ser, sem plagiar a literatura
alheia, "inspirar nos bons sempre! Copiar jamais!"
A atitude de escrever, além de
ser uma boa terapia para quem habitualmente faz uso dessa prática, tona-se numa
importante contribuição social, mesmo que não haja acontecimentos de grande
relevância. É no dia a dia do cotidiano da sociedade em que se
vive, que a historia acontece. E se alguém não a
registra através da escrita sua identidade se perde no tempo. Escrever
é um gesto nobre para com o leitor que busca alimentar a alma através da
leitura, fazendo dela uma terapia ocupacional.
Academia Bom Despachense de Letras
9 comentários:
Grealdo, parabéns pela entrevista!Suas sábias palavras demonstram que é na simplicidade que se constroem as grandes obras.Sou leitora de seus textos desde que comecei a publicar no Recanto das Letras e já li muitos de seus livros. Você não é apenas um escrevinhador, como afirmou na entrevista. Você, na verdade faz um trabalho de resgate da cultura mineira,valorizando as nossas raízes e deixando para os mais jovens um grande legado! Grande abraço!
Parabéns Geraldinho, menino do Engenho que se fez Homem Escritor e que nos dá aulas em cada um dos seus trabalhos.
Parabéns e agradecimentos ao Carlos Lopes por nos proporcionar esses bons momentos.
abraço
Alberto Vasconcelos
Santo André/SP, 04/06/2016
Ótima entrevista. Foi bom conhecer um pouco mais de Geraldinho do Engenho.
Mais uma estupenda entrevista. Prazer em conhecê-lo um pouco mais Geraldinho. Belo Exemplo!
Grande abraço...
Parabéns pela entrevista e por nos dar a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a pessoa e o escritor Geraldinho do Engenho. Sei de toda a importância histórica de seu trabalho, tive inclusive o prazer de assistir a uma matéria na TV Integração sobre a contribuição cultural de sua literatura. Meus cumprimentos, sucesso sempre!
Parabéns pela a entrevista. Uma bela semana
Muito bom poder conhecê-lo um pouco mais através desta entrevista. Desejo-lhe muito sucesso.
... Alice Gomes ...
Ao grande amigo Carlos Lopes meu apreço e gratidão e aos amigos que se manifestaram com suas palavras de apoio e incentivo eu deixo aqui um afetuoso abraço! Peço a Deus faça por mim, a eles, tudo de bom que meu coração lhes desejam!
Com todo carinho// Do amigo Geraldinho!//
Parabéns ao escritor Geraldo Rodrigues da Costa, Geraldinho do Engenho, do mundo literário.
São várias questões, às vezes, interpretativas, com finalidade a identificação do estrutural da língua, do compreender da lógica no momento em que uma palavra a mais inserida ao texto pode-se flexibilizar entendimento em conformidade ao contexto.
Geraldinho do Engenho sabe buscar na fonte de sua sabedoria o sentido verdadeiro em que aproxima o texto ao momento real, embora, verifica-se também forte atribuição do figurado sentido em que ricas fantasias estabelecem-se novas relações entre “significante” e “significado”, com interpretações diferenciadas entre texto, conto, crônica e livro.
Parabéns ao amigo escritor e idealizador do Blog Gandavos – Os Contadores de Histórias, Carlos Alberto Lopes.
Bom Despacho/MG.
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