João Batista Stabile
Desse casamento ele só
teve um filho, o menino apesar de inteligente e educado não demonstrava ter o
tino do pai para negócios, foi crescendo mimado pela família mais pela mãe,
tias e avó que pelo pai que tentava por todos os meios torná-lo um fazendeiro
como ele e talvez o chefe político da cidade, mas logo percebeu que sua tarefa
não seria fácil, o menino agora já rapazinho gostava mais da vida boa e dos
privilégios que a posição do seu pai proporcionava-o.
E como não adianta
dar conselho falar que o jovem está agindo errado, ele só vai aprender
quebrando a cara, mas quando isso acontece geralmente é tarde para recuperar o
que perdeu. Um dia o pai já convencido
que o filho não daria conta de administrar os negócios quando ele morresse
chamou-o para conversar, levando-o para um quarto do casarão, abriu a porta à
chave e entraram, era um quarto espaçoso com pouca mobília, num canto um
armário que estava vazio, duas poltronas velhas e mais alguns trastes noutro canto.
Esta casa antiga tinha
o forro de madeira e no centro do quarto havia uma corda que pendia do forro
com um laço na ponta e um banquinho na altura certa para um homem enforcar-se.
Mostrando isso o velho disse ao filho, está vendo isso, quando eu morrer e você
dissipar nossa fortuna com essa vida de boêmio que você leva, quando tiver sem
dinheiro e sem amigos, não desonre meu nome vivendo na miséria venha aqui e
enforque-se.
Feito isso o pai
chamou o rapaz para sair do quarto e disse que não voltasse ali até que
chegasse a hora de acabar com tudo, saíram do quarto e o pai o trancou à chave
e a guardou no cofre junto com os documentos mostrando para o filho, o rapaz
não levou muito a sério aquela conversa mas não querendo chatear o pai prometeu
que faria o que ele pediu, achou esquisito aquele pedido mas esqueceu e foi
curtir sua vida.
Depois de alguns anos
daquela conversa seu pai morreu, ficando para ele a responsabilidade pelos
negócios da família. O rapaz acostumado na boa vida não quis pegar no batente,
levantar cedinho como o pai fazia para organizar e acompanhar os trabalhos da
fazenda e fazer as compras e vendas, foi deixando na mão de empregados.
Como diz o ditado o olho
do dono que engorda o boi, nesse caso não tinha o olho do dono e os negócios já
não rendiam como no tempo do velho, o rapaz sem experiência e sem muita vontade
de trabalhar, gastando mais do devia e alguns negócios mal sucedidos em poucos
anos estava afundando em dividas.
Para piorar a situação
no último ano deu uma geada forte na região que queimou grande parte de sua
lavoura ele sem saber o que fazer foi abandonando a lavoura, os empregados
antigos de confiança foram embora. A situação chegou ao ponto de perder a
fazenda só havia uma saída entregá-la ao banco para pagar as dívidas.
Um dia o rapaz desesperado com a situação,
sem amigos porque acabando o dinheiro os companheiros de festas o abandonaram,
sem ter a quem recorrer foi ao cofre pegar dos documentos da fazenda para
negociar com o banco, viu a chave e lembrou-se da conversa com o pai.
Pegou a chave abriu o
quarto olhou a corda pendurada pensou não posso dar este desconto à memória do
meu pai entregando a fazenda, vou cumprir o que prometi subiu no banquinho pôs
a corda no pescoço e pulou, o forro quebrou ele caiu e do seu lado caiu uma
botija que se quebrou esparramando pelo chão uma fortuna em moedas de ouro.
Agora já experiente depois
de tudo que aconteceu pegou o dinheiro pagou todas as dívidas salvando a
fazenda. Daí por diante mudou completamente seu modo de viver, passou ele
próprio administrar a fazenda fazendo-a produzir não mais esbanjou dinheiro,
tornando-se assim o fazendeiro que seu pai sonhava que fosse.
João Batista Stabile - Marília/SP,
2 comentários:
rsrs... Excelente. Muito bem escrito esse "causo", João. Quando se tem que ir às últimas consequências para se dar valor ao que se tem. E como acontece!
Parabéns João, por fazer do causo uma lição de vida para a vida de todos nós. abraço.
Alberto Vasconcelos
Santo André da Borda do Campo/SP, 12 de setembro de 2016
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