Autora: Conceição Gomes
Todos
os anos, ao final do inverno, Maya iniciava os preparativos para receber a
primavera, estação que lhe enchia a alma de incontáveis emoções.Especial
era seu jardim, com seus canteiros de flores, todos com nomes de pessoas
amadas. Maya cuidava pessoalmente de cada detalhe,fazia tudo
sozinha,desde que Ciro, seu companheiro de longos e felizes anos se fora,
deixando apenas a suave lembrança do tempo em que dividiam cada pensamento,
cada momento de alegria.O jardim era o espaço mágico onde Maya contava dos
seus sonhos para Ciro e dos recados que ele mandava para cada uma das
flores.A boa Nancy, companheira de Maya no grande casarão já não
pensava que a patroa era louca por conversar e rir com as flores.O jardim
era o espaço de sanidade de Maya.Era lá que encontrava ânimo para mandar
a solidão embora, para encontrar-se com Ciro e manter a lucidez..Se
tivesse filhos, teria a quem dedicar-se. Num mundo onde as pessoas têm
tão pouco tempo para momentos afetuosos, o encontro com seu jardim e suas
flores era o ganho de energia que lhe dava diariamente o sopro de vida.A
primavera era o coração aberto para o calor aconchegante, o cheiro
orvalhado das manhãs e as caminhadas contemplativas , quando
cumprimentava outras pessoas que talvez sentissem nessa estação,os mesmos
prazeres. Não que Maya não gostasse do inverno, onde podia negligenciar-se sem
culpas embaixo das cobertas, ou do outono, com suas cálidas tardes de calor e
douradas folhas espalhadas pelo chão. Ou do verão, com o sol
desabrochando todos os sentidos.Mas era a primavera que a
deleitava, era quando Maya deixava fluir em suas veias todas as virtudes
humanas, até mesmo a tolerância com os dissabores do mundo. A natureza tudo
embeleza, tudo renova e a primavera era a síntese de tudo isso para
Maya.Ela queria ser um pouco que fosse , como a natureza, como a
primavera.Não desejava nada mais naqueles momentos em que ela e suas
flores fundiam-se em unicidade para reverenciar a natureza.
Em uma dessas santas manhãs, Maya
estava cuidando de seu jardim, quando ele apareceu.Era jovem ainda, mesmo
tendo os cabelos grisalhos. Cumprimento-a com um jovial bom dia. Pediu a
atenção de Maya para uma consulta. Disse que havia comprado um casarão ali
perto e que estava restaurando o jardim. Como admirava o jardim de Maya,
gostaria de ter um semelhante. Maya aceitou o desafio e as semanas
seguintes foram excitantes com o prazer de discutir cada detalhe do
novo jardim. Passaram a caminhar juntos, trocar idéias e experiências. Os cafés
no meio da tarde tornaram-se mais freqüentes ao som de músicas que ambos
gostavam. Combinaram passar um final de semana em algum lugar aprazível para os
dois. Maya sentia um novo ânimo. Ansiava pela presença de Ramon a cada dia,
como se ele fosse a chama a acender brasas adormecidas em seu
corpo.
Finalmente o jardim ficou
pronto.Parecia o mais belo jardim que Maya já vira.Era como um filho gestado
com todo o amor do mundo e que necessitaria de cuidados dali para a frente.É a
vida, pensou Maya. A noite, Maya conversou com Ciro, disse que gostava de
Ramon, que os dois tinham os mesmos gostos, que estavam se entendendo bem... A
fotografia do porta-retrato manteve o sorriso, maior charme de Ciro. Era como se
dissesse: vá em frente, você merece seu jardim, suas flores e um novo amor em
sua vida.
Autora: Conceição Gomes - Curitiba/PR
Página da autora:
http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=54344
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