Autora: Viviane Rodarte
Fui levado para o canil
e consegui fugir. As condições lá não eram boas. Mesmo com o cuidado de alguns
funcionários não havia uma estrutura decente. Na rua pelo menos podia correr
livre de um lado para outro.
Apesar dos perigos, às vezes me davam carinho
em forma de comida, água e até no jeito de me olhar, mas no fundo sonhava com
um lar quentinho para morar... Seria o melhor cão do mundo! Obediente, atencioso, companheiro e amaria
muito as pessoas. Iria espera-las sempre no portão com a mesma alegria todos os
dias, para que elas soubessem o quanto são especiais para mim.
Pedia ao "Papai do Céu dos cães” que
colocasse no meu caminho alguém para me adotar. Muitos dos meus amigos já haviam
conseguido um lar. Não era inveja! Só estava
triste de viver sozinho e cansado da liberdade das ruas.
Um dia depois de tentar achar o que comer, resolveu
descansar e deitei-me numa porta sem querer perturbar. Fiquei quietinho até dormir, porém o que era
só um descanso transformou pra sempre minha vida.
Um senhor chegou à casa
bêbado, depois de um dia de trabalho. Revoltado com a vida descontou em mim
toda a sua raiva. Agrediu-me brutalmente com uma foice. Não me deu chance de
fugir ou tentar me salvar... Senti uma
dor imensa, gritei pedindo perdão por estar ali na sua porta, não queria
incomodar, mas a raiva dele era tanta que só aumentava as batidas com a foice.
Foram minutos intermináveis,
até que graças a Deus, pessoas ouviram meu pedido de socorro e interferiram ,
afastando o agressor e me pegando no colo. Tentava mover as patas e elas não me
obedeciam mais. Senti uma dor intensa enquanto minha vida se esvaía através do
sangue que escorria pelo meu corpo inerte...
Levaram-me para uma
clínica veterinária. Fui prontamente
atendido e salvaram minha vida, mas fiquei sem uma das patas. Amputaram uma das patinhas traseira e por pouco
não há perdi também a outra. Foram meses de tratamento e cuidado, as pessoas lá
me tratavam com muito carinho, que me recuperei antes mesmo do previsto.
Logo após começou uma
nova luta. Precisava de uma lugar para morar. Não podia mais ficar na clínica. Correria o risco de infecção nos meus
ferimentos. Enviaram-me para uma ONG e fiquei na fila de adoção. Já era difícil encontrar um lar e agora com
essa deficiência eu não acreditava ser possível. Pensava que ninguém iria
querer me adotar. Todos sentiam pena de mim, da minha historia, mas ninguém
queria me levar para casa.
Nessa ONG recebi o nome
de "Guerreiro". Estranhei, mas
me senti feliz porque até então nunca tinha ganhado um nome. Fui percebendo que
esse nome era devido a minha vontade de viver e voltar a ter minha vida de
novo. Um dia levaram-me pra casa, uma moça boazinha que me chamou de Chico. Ela
já tinha outro cãozinho que não gostou muito de mim. Ela me olhava com tanta
ternura, mas bateu o desespero quando soube que ela não podia ficar comigo. Será
que depois de ter um lar, teria que voltar para rua?
Não, ela não seria
capaz! Levou-me para a casa de uma amiga
e na primeira noite chorei muito. Mas parecia que minha nova companheira também
gostava de mim, mudou meu nome outra vez, passou chamar-me de
"Fredy", sorria ao falar meu nome. Ela se transformou na minha melhor
amiga. Deu-me uma cama, cobertor quentinho e tanto carinho que jamais pensei receber.
Hoje apesar de todo o sofrimento e solidão que vivi, sou muito feliz, tenho
pessoas que me amam de verdade.
Na hora do banho faço
bagunça, sou muito brincalhão. A minha nova vida me proporcionou algo chamado
felicidade! É uma alegria quando minha dona me leva a passear usando aquela
confortável coleira. Fico tão empolgado que mal deixo colocar e já saio
correndo...
Passeamos pelo bairro,
os vizinhos gostam de mim. Alguns não e
nem eu deles, mas não mordo, sou muito educado! Hoje de tão agradecido a Deus,
já quase esqueci as provações pelas quais tive que passar. Elas são apenas
marcas que vão se apagando da memória. As três patinhas restantes se juntaram à
minha perseverança e me levam aonde quero ir.
Consigo até dar
saltinhos, minha amiga sorri pra mim e diz "só você Fredy pra me fazer
sorrir assim"! Ai, na minha
linguagem respondo "só você pra me fazer ser assim"!
Entendemo-nos no olhar e juntos para sempre
iremos ficar!Autora: Viviane Rodarte - Piumhi/MG
2 comentários:
(Padrão usado em todos os textos comentados para dar a todos um tratamento igual). Fazendo pois uso dos critérios apontados no regulamento deixo aqui minha impressão: ortografia, gramática e pontuação: pequenos detalhes (uns três no máximo) pedem revisão, mas nada que prejudique o entendimento do texto. Uma história que cativa porque, além de comovente e bela, está sendo entregue da perspectiva do animal, recurso que, automaticamente, aproxima o leitor dos sentimentos do narrador do conto, que neste caso é o próprio cão (e como a literatura nos dá liberdades desde tipo, ninguém melhor do que o bicho para falar de seus sentimentos e de como percebe o mundo ao seu redor). Pareceu-me totalmente de acordo com a proposta do concurso. Avaliação pessoal: ótimo! Parabéns à autora ou ao autor e muito boa sorte! (Torquato Moreno).
Muito boa a historinha de Fredy Guerreiro. Pequenas incorreções de digitação não comprometem o texto que está perfeitamente dentro dos parâmetros do concurso. Parabéns a quem o produziu
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