Autor: Carlos Costa
“Ainda
bem que me abriram os meus olhos para a realidade porque mulher apaixonada fica
igual à deusa da justiça: nada vê, a não ser o que o que deseja ver e lhe é
mostrada como prova pelos advogados envolvidos na lide processual”, pensou
durante o demorado banho e disse para ela mesmo: “isso não é para mim, chegou
ao fim! Basta! Vou recomeçar de onde parei, mas passando por outros caminhos
porque não se pode voltar ao passado”.
Depois
do demorado banho, telefonou para algumas amigas e doou tudo o que lhe fizesse
lembrar Evandro: panelas, presentes e tudo o que adquiriram com o dinheiro que
ela também lhe dava, mas sua decisão não extirparia todas as lembranças boas de
sua vida . “Chega”, dizia de novo para si mesmo enquanto a água talvez
contaminada pelo que estava tentando retirar de Evandro, escorria pelo ralo do
banheiro. Luana se livrava de todos os objetos que adquiriram juntos, por
doação e não venda. “Se for vender, ninguém vai comprá-la. É melhor doar tudo sem
cobrar nada”, Luana continuava dizendo para si mesma, enquanto fazia a entrega
dos objetos que lhe faziam lembrar de seu ex-amado. Não doou o colchão em que
dormiam porque não teria aonde dormir em seu condicionador de ar naquela noite.
No colchão, Evandro lhe dissera muitas mentiras de amor, mas “isso ficará no
passado porque passarei a ser outra mulher a partir de agora”.
Mesmo
já tendo rompido a barreira dos “enta”, Luana ainda era uma mulher atraente,
mas não estava disposta a procurar homem com desespero, porque já tinha sido
casada duas vezes e vivia seu terceiro relacionamento. Lembrou com saudades de
sua juventude, quando viajava a serviço da empresa da família em que trabalhou
como diretora comercial, pelos municípios do Estado. Nesse período, embora não
procurasse, mas por ser muito bonita e paquerada, talvez pela posição que
ocupasse ou pelo destaque e importância que o cargo tinha, conheceu e se
relacionou com pessoas de bom caráter. Contudo, “mas isso era passado”, dizia
para si mesmo. “Tenho que viver meu presente porque o passado já passou e não
voltará mais”. Desejou entrar em uma máquina do tempo e voltar aos seus 20, 30
anos: talvez não tivesse casado como fez a pedido do pai, aos 15 anos, não
tivesse casado uma segunda vez aos 27 e, depois, não tivesse perdido tanto
tempo ao lado de um homem que ajudou a criar seus filhos, educando-os nos
momentos mais difíceis da juventude e rebeldia deles. Mas, isso, também já era
passado. Certa vez, seu companheiro de jornada pela vida queria levá-la a um
psicólogo, achando que tivesse algum problema. Ele era diabético e ela não
tinha nada. Tinha certeza que nada tinha. Luana só tinha medo de pegar doenças
sexualmente transmissíveis do companheiro. Ela nunca fora promíscua, ao
contrário de Evandro, que se banqueteava com vários pratos, em corpos
diferentes. Luana sabia de tudo, mas fingia que de nada sabia e o aceitava de
volta, sempre!
Ah,
quantas lembranças e quantas saudades tinha. As decepções que tivera com todos
seus maridos e companheiro. Essas coisas tinham transformado Luana em uma
mulher determinada. Voltou à Faculdade por duas vezes e estava decidida: “não
quero mais ninguém, não vou procurar ninguém, mas se aparecer, não dispensarei,
afinal, ainda sou mulher e tenho desejos, não tanto como antes, mas ainda não
estou morta”, continuava dizendo para si mesmo, como querendo compensar os anos
de ilusão que vivera. Mas não foram tempos totalmente perdidos, mas apenas
amores que não a compreenderam. No fundo, Luana se achava e era uma excelente
pessoa, com amigos com os quais ela podia contar.
Enquanto
tomava novo banho para tentar livrar-se do resto que ainda achava tinha
impregnado de Evandro dentro de seu corpo, Luana continuava dizendo para si
mesmo: “tudo que não fiz na minha adolescência, com medo de doenças sexualmente
transmissivas, e me anulei por casar muito jovem, farei agora porque adoro
danças, gosto de martini com cerejas e decidi voltar à vida boemia na data do
meu aniversário, porque gosto de boa companhia e ninguém jamais vai se me segurar”.
Do banheiro onde tentava se livrar dos últimos resquícios de Evamdro, o CD a
música de Cauby Peixoto, “...ah, como é cruel cantar assim...e no fundo do
salão, os homens a se rasgar por mim...” era ouvido e Luana, passava sabonete
em seu corpo ainda jovem e repensava toda sua vida ainda jovem e, chegara à
conclusão que os homens bons que namorara no passado estavam todos casados com
o passar dos anos e concluiu que eram todos trigos no meio do joio e ela teria
que separá-los para encontrar um que ainda tivesse na esquina!
Autor: Carlos Costa - Manaus/AM
Autor: Carlos Costa - Manaus/AM
3 comentários:
Muito bom texto, perfeitamente dentro dos parâmetros do concurso. Parabéns a quem o produziu.
Alberto Vasconcelos
Nunca é tarde para o recomeço e o espírito sempre vivo do amor há de prevalecer a cada desejo de recomeçar e ser feliz. Um conto que conta deste desejo. Muito bom!
O amor vive em nós e recomeçaer é preciso. Muito bom texto. Conceição Gomes.
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