Autora: Ana Bailune
Quando eu era pequena, tínhamos
muitos cães em casa, e não consigo lembrar-me de alguma fase de minha vida em
que eles não estivessem presentes - a não ser, assim que eu me casei, pois
moramos em apartamento por sete anos. Mesmo assim, tinham os cães de minha
irmã, com quem eu brincava quando a visitava.
Houve um tempo em que uma das cadelas
era apelidada de "A Fábrica", que era o título de uma novela que
passava na falecida Rede Tupi (pronto! acabo de revelar a minha idade!). Bem,
demos este nome a ela porque A Fábrica sempre tinha muitos filhotes de uma só
vez, que nós doávamos para os vizinhos.
Ela era uma enome vira-latas preta, e
tinha uma peculiaridade, ou seja, duas: a primeira, é que ela sabia sorrir. Logo que nos via, arreganhava
os dentes, abanando a cauda. Era só a gente pedir: "Fábrica! Ri!" E lá vinha ela, dentes de fora, toda faceira.
A segunda peculiaridade (acreditem ou
não) é que ela... voava! Não, não é lorota, não! Ela voava mesmo, por cima da plantação de bananeiras e
depois, ainda passava pelos galhos mais altos de um bambuzal, que lhe amparavam a queda. Bastava que ela visse uma galinha. Era campeã de Caça às Galinhas da Dona Teresa!
Também... a Dona Teresa era uma folgada,
que mesmo sabendo que todos os vizinhos tinham cachorros em casa, deixava suas
galinhas soltas pelo terreiro, e elas sempre acabavam indo parar no meio da rua
ou no terreno de outros vizinhos. Era sempre a mesma história: a Fábrica escutava
um cacarejar no morrinho (lugar onde brincávamos quando crianças, logo acima de
nossa casa e da plantação de bananeiras e bambus de meu pai) e corria atrás. Não
tínhamos como segurá-la, pois ela parecia totalmente possuída por alguma força
atávica incontrolável.
A galinha, na tentativa de salvar-se,
voava desajeitadamente por sobre as bananeiras, e A Fábrica, que jamais desistia, voava atrás dela, lá de cima do morrinho.
Daí, escutávamos um agoniado
"Cóóóó..." e lá vinha A Fábrica, com a pobre coitada na boca.
Na manhã seguinte, lá vinha a Dona
Teresa perguntar: "Ruth (minha mãe), não viu uma galinha carijó por aí não?" E minha mãe, com ar distraído: "Não... por que, sumiu?"
Mas acho que a Dona Teresa acabou
descobrindo sobre o paradeiro de suas galinhas, pois um dia, A Fábrica
amanheceu morta: envenenada...
Autora: Anabailune - Petrópolis/RJ
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7 comentários:
Puxa, que legal! rs... Amei a Fábrica nesta simpatia toda. E habilidosa que só ela, hein? Ah, como esquecer um bichinho desse? Não dá mesmo. Obrigada por nos contar a historinha dela. Marina Alves.
Eu também adorei A Fábrica, muito leve e descontraído esse vira-latas; e pensar que ele sorria e voava... isso pra não falar no lado trágico... que o digam as coitadas das galinhas. Excelente! os animais tem disso, nos faz rir ou penar, ou as duas coisas juntas.
Olá, Carlos. Essa cadelinha existiu mesmo. Os bichos lá de casa eram sempre muito peculiares.
É verdade, Ana. Eu crio Porquinhos da India, estão aos poucos morrendo, bem além da expectativa de vida, isso porque lhes dou muita atenção e conforto. Porém mesmo criados juntos, cada um tem seu encanto, parecem gente. Um deles é encrenqueiro, porém chora pelos meus braços, outro é descontraído e o mundo pode se acabar que não liga, morro de medo de lhe causar danos pois qualquer lugar tá bom pra se acomodar de forma engraçada; O ¨Nordestino¨ é medroso e vive se escondendo de mim... ou brincando de se esconder, sei lá o quê? O que importa é que são as belezas daqui de casa.
muito bom Ana!
"Fábrica". Eu gostei do nome, nunca vi cachorro com este chamamento. Caçador de galinhas, conheci alguns. Tiveram o mesmo destino da vira-latas.
Abraço.
Jorge
Muito Boa.
'A Fábrica" acabaria assim...
Muito boa sua crônica.
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