domingo, 23 de abril de 2017

As aventuras de ¨A Fábrica¨

Autora: Ana Bailune

Quando eu era pequena, tínhamos muitos cães em casa, e não consigo lembrar-me de alguma fase de minha vida em que eles não estivessem presentes - a não ser, assim que eu me casei, pois moramos em apartamento por sete anos. Mesmo assim, tinham os cães de minha irmã, com quem eu brincava quando a visitava.
Houve um tempo em que uma das cadelas era apelidada de "A Fábrica", que era o título de uma novela que passava na falecida Rede Tupi (pronto! acabo de revelar a minha idade!). Bem, demos este nome a ela porque A Fábrica sempre tinha muitos filhotes de uma só vez, que nós doávamos para os vizinhos.
Ela era uma enome vira-latas preta, e tinha uma peculiaridade, ou seja, duas: a primeira, é que ela sabia sorrir. Logo que nos via, arreganhava os dentes, abanando a cauda. Era só a gente pedir: "Fábrica! Ri!" E lá vinha ela, dentes de fora, toda faceira.
A segunda peculiaridade (acreditem ou não) é que ela... voava! Não, não é lorota, não! Ela voava mesmo, por cima da plantação de bananeiras e depois, ainda passava pelos galhos mais altos de um bambuzal, que lhe amparavam a queda. Bastava que ela visse uma galinha. Era campeã de Caça às Galinhas da Dona Teresa!
Também... a Dona Teresa era uma folgada, que mesmo sabendo que todos os vizinhos tinham cachorros em casa, deixava suas galinhas soltas pelo terreiro, e elas sempre acabavam indo parar no meio da rua ou no terreno de outros vizinhos. Era sempre a mesma história: a Fábrica escutava um cacarejar no morrinho (lugar onde brincávamos quando crianças, logo acima de nossa casa e da plantação de bananeiras e bambus de meu pai) e corria atrás. Não tínhamos como segurá-la, pois ela parecia totalmente possuída por alguma força atávica incontrolável.
A galinha, na tentativa de salvar-se, voava desajeitadamente por sobre as bananeiras, e A Fábrica, que jamais desistia, voava atrás dela, lá de cima do morrinho.
Daí, escutávamos um agoniado "Cóóóó..." e lá vinha A Fábrica, com a pobre coitada na boca.
Na manhã seguinte, lá vinha a Dona Teresa perguntar: "Ruth (minha mãe), não viu uma galinha carijó por aí não?" E minha mãe, com ar distraído: "Não... por que, sumiu?"
Mas acho que a Dona Teresa acabou descobrindo sobre o paradeiro de suas galinhas, pois um dia, A Fábrica amanheceu morta: envenenada...


Autora: Anabailune - Petrópolis/RJ



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7 comentários:

Anônimo disse...

Puxa, que legal! rs... Amei a Fábrica nesta simpatia toda. E habilidosa que só ela, hein? Ah, como esquecer um bichinho desse? Não dá mesmo. Obrigada por nos contar a historinha dela. Marina Alves.

Carlos A. Lopes disse...

Eu também adorei A Fábrica, muito leve e descontraído esse vira-latas; e pensar que ele sorria e voava... isso pra não falar no lado trágico... que o digam as coitadas das galinhas. Excelente! os animais tem disso, nos faz rir ou penar, ou as duas coisas juntas.

Ana Bailune disse...

Olá, Carlos. Essa cadelinha existiu mesmo. Os bichos lá de casa eram sempre muito peculiares.

Carlos A. Lopes disse...

É verdade, Ana. Eu crio Porquinhos da India, estão aos poucos morrendo, bem além da expectativa de vida, isso porque lhes dou muita atenção e conforto. Porém mesmo criados juntos, cada um tem seu encanto, parecem gente. Um deles é encrenqueiro, porém chora pelos meus braços, outro é descontraído e o mundo pode se acabar que não liga, morro de medo de lhe causar danos pois qualquer lugar tá bom pra se acomodar de forma engraçada; O ¨Nordestino¨ é medroso e vive se escondendo de mim... ou brincando de se esconder, sei lá o quê? O que importa é que são as belezas daqui de casa.

ricardo alves / são paulo,brasil disse...

muito bom Ana!

Jorge Sader Filho disse...

"Fábrica". Eu gostei do nome, nunca vi cachorro com este chamamento. Caçador de galinhas, conheci alguns. Tiveram o mesmo destino da vira-latas.
Abraço.
Jorge

chagoso disse...

Muito Boa.
'A Fábrica" acabaria assim...
Muito boa sua crônica.