sábado, 27 de fevereiro de 2016

Troca de carros


Autor: Gilberto Dantas

Jersey  e Tobias eram amigos inseparáveis. Os dois eram casados. Nesta época de extravagâncias, preciso explicar.  Casados com suas respectivas esposas. Na década de 50 quase todos os carros eram americanos: Chrysler Imperial, Oldsmobile, Cadillac, Buick, Dodge e tantos outros, além das tradicionais marcas Ford e Chevrolet.
O Jersey era um homem moreno, tipo galã, um Clarck Gable da época. Já o Tobias, por sinal primo do meu pai, não era bonito, mas ficava charmoso dentro de um Buick azul, hidramático (naquele tempo não diziam automático, era hidramático).
Ficava surpreso, ainda menino inocente,  quando os dois trocavam de carro. Quer dizer: o Jersey, com seu Oldsmobile invejava o Buick do Tobias. Eles não hesitavam e trocavam mesmo os seus carros. Era sempre a mesma coisa, entrava ano saía ano. Eles aguentavam apenas seis meses. Aí pintava a inveja ou cobiça de um pelo carro do outro. 
Muito tempo depois, tive  um amigo maluco que havia lido toda a obra de Freud, e vivia analisando todo mundo que ele conhecia.  Era chamado de Freudinho. Um dia, o maluquinho resolveu fazer hipnose comigo. Explico: estava em alta crise com meu primeiro casamento. E o Freudinho me convenceu a me sujeitar à hipnose. Disse-me ele que regredi até os cinco anos. Foi quando dei um basta nas maluquices do meu amigo. Precisava chegar aos meus cinco anos, quando meu problema era aos trinta anos?
Lembrei-me do Freudinho, sabedor dessa história antiga dos amigos, morador  do Leme, no Rio de Janeiro, exatamente porque ele aventou a hipótese...  Aliás, hipótese, não! Ele tinha certeza que o Jersey e o Tobias trocavam de carro todo ano, num ato de sublimação, evitando uma possível troca de suas mulheres. Assim, trocavam de carro para continuarem fiéis às suas esposas.  
O que tenho mais visto nesta época de extravagâncias é a troca de casais, num despudor sem igual. Não respeitam nem mesmo a hierarquia. A última troca que soube,  foi incrível:  o soldado ficou com a mulher do tenente e o tenente com a mulher do soldado.
Tudo bem, não tenho nada com isso, mas para o bem talvez das famílias, não seria o caso de tentar, antes , trocar de carros?  Ou pelo menos de motos?


Autor: Gilberto Dantas - Miracema/RJ
Publicação autorizada pelo autor

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