Autor: Gilberto Dantas
Atualmente,
me sinto como um garoto travesso que vai descobrindo brinquedos novos no parque
de diversões da cidade.
Ando
conversando, na minha imaginação, com escritores do passado, que fizeram, como
dizemos hoje, a diferença.
O
meu espírito geminiano inquieto, como um personagem de Pirandello, está à
procura de seus autores.
Já
conversei muito com o Machado de Assis, crítico irônico da sociedade;
e já frequentei o terreno baldio do Nelson Rodrigues, que nos afirmava não ser possível
amar e ser feliz ao mesmo tempo. Afirmação irônica, tal como a vida como ela
é...
Parece
uma declaração cínica, mas como é verdadeira, basta olharmos em torno de nós
mesmos. Mas eu queria passar para meus amigos leitores é que estou me
deliciando com o italiano Pirandello, que me parece o pai ou o avô do
Machadinho e do Nelson Rodrigues. Que percepção a dele com relação ao ser
humano.
Era
ele quem dizia que o que falamos, o outro vai entender como ele sente, o
que quase sempre será diferente da minha maneira de sentir. Agora entendo
melhor os comentários dos amigos e amigas. Volta e meia alguém vê um sentido no
que escrevo que jamais suspeitei ou imaginei esse sentido visto pelo
outro.
Assim
é, se lhe parece, já dizia Pirandello. Observou ele também que nossos
pensamentos, que nem sempre temos controle sobre eles (digo eu), muitas vezes
são contraditórios e pensamentos estranhos surgem de repente, criando até uma estranheza
em nós mesmos. Isso é o ser humano. Não foi à toa que Einstein
dizia que somos inconsistentes.
Peço
aos amigos e amigas que não entendam que cheguei a alguma conclusão. Não, não
cheguei!
Já
me assustei com essas observações realistas, mas agora vejo diferente: é
partindo de como somos que poderemos melhorar, essa a minha esperança.
Aliás, há uma frase genial do personagem mexicano Cantinflas, ao começar um
jogo de damas com um amigo. Disse ele: - “ Vamos jogar como cavalheiros ou como
somos?”
O
título da minha crônica é o nome de um conto de Pirandello. Não consegui ainda
ler o conto, mas fiquei sabendo que se trata de um marido, chegando na velhice,
e que começa a suspeitar que sua mulher tem como amante o melhor
amigo seu. Isso se dá na cabeça do cara, não sei se ocorreu o fato
realmente. Preciso urgentemente ler o conto, pra contar depois... No
entanto, até as traições não são mais como antigamente. Os costumes mudam e
talvez o impacto da traição seja menor nos nossos dias. A frase do Machadinho
sobre o amor ainda causaria alguma comoção hoje? Perguntado sobre a
duração do amor dele com a fulana de tal, respondeu o escritor: - “ O amor dela
por mim durou exatamente um ano e cinco meses e vinte mil reais” (o
dinheiro foi atualizado, naturalmente).
Não
sei se estou ácido ou bem humorado, mas o fato é que a vida ainda tem muito de
imponderável e de acaso, apesar da afirmação contrária dos religiosos. E
é isso que nos desnorteia...
utor: Gilberto Dantas - Miracema/RJ
Publicação autorizada pelo autor
Um comentário:
Olá, Dantas. Um prazer passar por aqui e ler sua crônica!
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