Autor: José Bueno Lima
*Curitiba. Carnaval de 1958. Eu e o
Pedro Martin estávamos na capital paranaense, a fim de prestar o vestibular de
medicina. Ficamos por lá durante uns dois meses, desde o início de janeiro
daquele ano. Tínhamos aulas de Física com um professor de origem alemã, o Max.
Eram dadas na casa de um andreense, o Dr. Menotti Panunzzio, lá radicado há um
bom tempo, representante da Rhodia e professor da Faculdade de Farmácia da
Universidade Federal do Paraná. Desse modo, passamos o carnaval longe de Santo
André, nós que éramos ferrenhos simpatizantes do Panelinha, que grandes
carnavais realizava, juntamente com o rival Ocara. E, o que aconteceu, muito
foi motivado pela nossa ausência, por não podermos estar em nossa cidade,
participando, mesmo que apenas no apoio, daqueles maravilhosos momentos. Era o
sábado dos festejos de Momo. A aula havia acabado no início da noite. O Pedro,
bom de papo, comentava o fato de estarmos ausentes de Santo André, naquele dia,
quando se realizaria o desfile. Quanto mais falávamos, mais intenso era o
vazio, por não podermos estar lá presentes, depois de tanto envolvimento o ano
todo com tudo o que se relacionava com a apresentação do Panelinha. Então, não
sei como, até hoje não posso explicar, apareceu o lança-perfume. Sempre gostei
de ter uma em mãos, nos bailes, no vaivém da Oliveira Lima. Somente para
inocentes divertimentos. Nunca havia “cheirado”, como muitos amigos faziam! Nunca
tinha ouvido o “sininho”, como eles definiam a sensação produzida pela
aspiração do perfume. Então, como sempre existe a primeira vez, numa almofada
do sofá onde estávamos, espirrei o líquido perfumado e aspirei. Foi um rápido
devaneio, e ouvi as badaladas.
Depois, nunca mais. Mesmo porque,
após uns dois ou três anos, o Jânio proibiu a fabricação e uso do produto.
*São Bernardo do Campo. Carnaval dos
anos 40/50. A história foi contada pela Ivani Morais, no encontro mensal de
memorialistas da cidade. Seu pai, o Gino, da pizzaria do mesmo nome, gostava de
dar umas fugidinhas durante os folguedos de Momo. Na cidade, naquela época,
havia poucos salões onde se realizavam os bailes.
O da Sociedade Italiana era um
deles. Outro, ficava na indústria de móveis do Pelosini, na rua Marechal
Deodoro, a principal da cidade, que o proprietário explorava especialmente para
o fim. Certa ocasião, o folião Gino esteve nesse último, onde se divertiu “pra
valer”. Rasgou a fantasia. Naqueles anos, era comum as famílias tradicionais
frequentarem o cinema nas quintas, sábados e domingos. Dias após o carnaval, a
mãe da Ivani foi ao cinema, e num dos documentários que antecediam o filme,
passou a reportagem do baile acontecido no salão do Pelosini. E, não é que,
para a surpresa dela, apareceu seu marido o Gino, pulando a mais valer. Ao
chegar em casa, foi tirar satisfação com ele, que negou tudo, dizendo que não
se tratava dele. Mesmo ela voltando ao cinema no sábado, para confirmar, ele
continuou negando, dizendo ser alguém parecido. Era um sósia...!
*Santo André. Um carnaval dos anos
70. O Paulo Roberto Oliva, no sábado, saiu de casa dizendo para a esposa que ia
buscar uma pizza para o jantar. Passou na pizzaria, provavelmente a Joia, ou a
Queiroz, não sei qual delas, mas isso não vem ao caso.
Achando ser um pouco cedo, pensou e
foi dar uma espiadinha no desfile de rua, naquele tempo acontecendo na Avenida
Dom Pedro II. Parou bem no local da concentração das escolas. No momento estava
para iniciar a apresentação a Estação Primeira de Camilópolis, presidida pelo
amigo Aladino Pisaneschi, o Nenê. Conhecido de todo mundo, logo o Paulo se
ambientou, e naquela altura, para “esquentar” e descontrair, os componentes da
escola tomavam uns goles. Corriam solta a cachaça, o uísque, e outros. O Paulo,
que não era de ferro, como ninguém é, entrou nos aperitivos, dizendo que era
para abrir o apetite, pois, logo, estaria comendo a pizza. Como havia ainda
algumas fantasias sem dono, os amigos insistiram com o Paulo, que fizesse parte
do desfile, pois, na disputa pelos prêmios, a escola poderia perder pontos, se
não houvesse número suficiente de foliões. Não teve jeito. Ele caiu na
“gandaia”!
Chegou em casa de madrugada, bêbado,
e, dá para imaginar como estava a pizza.
JOSÉ BUENO LIMA é advogado, escritor,
com três livros publicados, UM PASSADO SEMPRE PRESENTE, COMO SE FOSSE HOJE e
CRÔNICAS E CONTOS DE UM SAUDOSISTA. Membro da Academia de Letras da Grande São
Paulo – ALGRASP. Quer ler crônicas do Lima? Blog:buenolima.prosaeverso.net
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