Autora: Conceição Gomes
Lucila,
25 anos, morena bonita de cabelos lisos e olhos cor de mel guardados por
espessos cílios, ainda não conhecera o amor por um homem. É certo que quando
passava por aquela construção, os peões mandavam calorosos fius-fius e ela não
dava a menor atenção. Tinha seu ideal de homem que em nada parecia com aqueles
operários. E em frente ao Corpo de Bombeiros então? Todos os dias, mesmo que
trocasse de calçada, ouvia generosos galanteios. Mas, os soldados do fogo não
lhe interessavam. De vez em quando
mudava de caminho e passava em frente ao mais famoso colégio da cidade. As
vezes sentava-se no banco da pracinha do colégio, nas só rapazes muito jovens,
que não se encaixavam no seu perfil. Ia ao cinema, pic-nic, quermesses da
igreja, bailes dos clubes da cidade e nada de se encantar por nenhum dos moços
que a ela se achegavam. O que há de errado comigo, pensava. Olhava-se no
espelho e se achava mais do que bonita. De bikine, parecia uma sereia. No
trabalho notava os olhares compridos dos colegas, especialmente do seu chefe, o
senhor Nelson, mas nada lhe tocava o coração. Sua amiga Diana dizia que quando encontramos
o amor da nossa vida, vemos estrelas, o coração agita-se como se estivesse
afogando-se num rio bravo, que as pernas bambeiam, que somos capazes de desmaiar de tanta
emoção. Se nada disso sentia, como podia ser amor? É que seus sonhos estavam
ligados aos romances açucarados de Madame Delly e outros dos livros da coleção
Sabrina. Sempre que tinha tempo, alimentava seus sonhos nessas revistas.
Foi
num certo final de semana. Diana convidou-a para uma regata do clube da cidade.
Ao chegar no cais que amparava as águas da baia, ela o avistou! Lá estava ele,
moreno, alto, musculoso, cabelos ao vento e belos olhos azuis. Foi uma descarga de mil volts! O tempo fez-se
estátua naquele momento e ela, completamente atordoada, não sabia o que fazer.
Respirou fundo, contou até dez e um plano mirabolante surgiu em sua mente. Caminhou
até o belo homem, fingiu olhar para as águas da baia e bem perto do seu Adonis,
deu um jeito de torcer o pé e cair bem em frente dele. Tentou levantar-se mas
não conseguiu, torcera o pé de verdade. Amélio, esse era o nome do moço,
socorreu Lucila na hora. Quando os olhares se encontraram, estrelas brilharam,
sinos ribombaram, anjos tocaram suas harpas, coração acelerou, o arco-íris
apareceu sorrindo e o céu coloriu-se de rosas vermelhas...Fique calma, disse Amélio,
vou levá-la ao pronto-socorro. E carregou Lucila nos braços até seu carro.
Engessado o pé da nossa heroína restava levá-la até em casa, o que foi feito
com muito gosto por Amélio. Seis meses depois estavam noivos e o casamento não
demorou muito, ao som She, cantada por Charles Aznavour. Foram felizes para
sempre.
Autora: Conceição Gomes - Curitiba/PR
2 comentários:
Muito bom. Texto direto, bem contado e de agradável leitura. Parabéns a quem o produziu.
Alberto Vasconcelos
Como manda o figurino do amor, tudo nos conformes e seus devidos lugares. Uma história feliz que o próprio amor contaria orgulhoso de si mesmo. Parabéns!
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