sábado, 27 de fevereiro de 2016

O marido da minha mulher

Autor: Gilberto Dantas

Atualmente, me sinto como um garoto travesso que vai descobrindo brinquedos novos no parque de diversões da cidade.
Ando conversando, na minha imaginação, com escritores do passado, que fizeram, como dizemos hoje, a diferença.
O meu espírito geminiano inquieto, como um personagem de Pirandello, está à procura de seus autores.
Já conversei muito com o Machado de Assis, crítico irônico da sociedade;   e já frequentei o terreno baldio do Nelson Rodrigues,  que    nos afirmava não ser possível amar e ser feliz ao mesmo tempo. Afirmação irônica, tal como a vida como ela é...   
Parece uma declaração cínica, mas como é verdadeira, basta olharmos em torno de nós mesmos. Mas eu queria passar para meus amigos  leitores é que estou me deliciando com o italiano Pirandello, que me parece o pai ou o avô do Machadinho e do Nelson Rodrigues. Que percepção a dele com relação ao ser humano.
Era ele quem dizia que o que falamos,  o outro vai entender como ele sente, o que quase sempre será diferente da minha maneira de sentir.  Agora entendo melhor os comentários dos amigos e amigas. Volta e meia alguém vê um sentido no que escrevo que jamais suspeitei ou imaginei esse sentido visto pelo  outro.
Assim é, se lhe parece, já dizia Pirandello. Observou ele também que nossos pensamentos, que nem sempre temos controle sobre eles (digo eu), muitas vezes são contraditórios e pensamentos estranhos surgem de repente, criando até uma estranheza em nós mesmos.  Isso é o ser humano.  Não foi à toa que Einstein dizia que somos inconsistentes.
Peço aos amigos e amigas que não entendam que cheguei a alguma conclusão. Não, não cheguei!
Já me assustei com essas observações realistas, mas agora vejo diferente: é partindo de como somos que poderemos melhorar, essa a minha esperança.  Aliás, há uma frase genial do personagem mexicano Cantinflas, ao começar um jogo de damas com um amigo. Disse ele: - “ Vamos jogar como cavalheiros ou como somos?”
O título da minha crônica é o nome de um conto de Pirandello. Não consegui ainda ler o conto, mas fiquei sabendo que se trata de um marido, chegando na velhice,  e que começa a suspeitar que sua mulher tem como amante o  melhor amigo seu.  Isso se dá na cabeça do cara, não sei se ocorreu o fato realmente. Preciso urgentemente ler o conto, pra contar depois...  No entanto, até as traições não são mais como antigamente. Os costumes mudam e talvez o impacto da traição seja menor nos nossos dias. A frase do Machadinho sobre o amor ainda causaria alguma comoção hoje?  Perguntado sobre a duração do amor dele com a fulana de tal, respondeu o escritor: - “ O amor dela por  mim durou exatamente um ano e cinco meses e vinte mil reais” (o dinheiro foi atualizado, naturalmente).
Não sei se estou ácido ou bem humorado, mas o fato é que a vida ainda tem muito de imponderável e de acaso, apesar da afirmação contrária dos religiosos.  E é isso que nos desnorteia...


utor: Gilberto Dantas - Miracema/RJ
Publicação autorizada pelo autor

Um comentário:

Ana Bailune disse...

Olá, Dantas. Um prazer passar por aqui e ler sua crônica!