quinta-feira, 30 de junho de 2011

Coisas de quem não tem o que fazer - Texto e Fotos: Carlos Lopes

No final da década de setenta com Antônio Remígio tínhamos algo em comum, além de bons amigos, gostar de caminhar pelas ruas da cidade. Sempre que o sol dava sinal de cansaço, percorríamos longos trechos, seja pelas ruas ou nos arredores de Custódia. Não havia nenhum motivo específico, apenas uma rotina tipo comer doce de leite no Posto de Seu Nivaldo e beber cajuina numa bodega na rua da bomba. Era andar pelo prazer de bater perna, tão somente e, simplesmente isso. Durante o trajeto a conversa girava em torno dos nossos sonhos futuros além dos limites municipais. Antônio falava de Cáceres no Mato Grosso e eu de prosperar em Americanas, SP. Foi não foi, surgia de espanto: ¨Epa! Já passamos por aqui.¨ Sabe que fazíamos? Atirávamos um chinelo ao céu e aonde apontasse ao cair seria o nosso norte, mesmo que já tivéssemos passado naquela rua.

Muitos anos se passaram e, nessa sexta-feira santa passada, ao percorrer a Rua José Thomás, esbarrei na curiosidade de rever ¨o curral de Luizito¨, como assim é conhecido. Não me contive e tirei algumas fotos. Aquela porteira bem ali a minha frente me conduziu a uma outra Custódia que carregava o estigma de encalhada por ficar localizada entre cidades maiores. Lembrei de Dona Terezinha e minha mãe preparando lanches e tudo mais para com Jefferson caçar de arco e flecha naquela verdadeira floresta que surgia logo depois da casa de Seu Belchior, chamada ¨As Baraúnas¨. Não foi sem propósito a permanência de uma baraúna em frente ao Colégio Polivalente. Pra encurtar a história, resolvi percorrer as ¨outroras pontas de ruas¨ da cidade, só pra ter certeza de como estava cada local da meia-volta em nossas andanças.

As fotos que se seguem a essas lembranças é o resultado da surpresa dessa semana santa de 2011: A maior parte das pontas de ruas de outrora ainda permanecem lá, intactas. É evidente que a cidade cresceu em dobro e no melhor e mais bonito estilo possível. Mas, parece que por pirraça ou coisas da vida, em alguns casos sequer há indícios de que algo foi alterado. No caso onde residia Dona Áurea, mãe de Luciana, até parece que o tempo parou, a não ser pelo visual de um condensador de split que nos remete aos novos tempos. A Custódia que parava ali, dali mesmo nunca saiu. Outros casos, só de olhos bem arregalados pra perceber que ainda existe, no caso o curral de Zé Nazaro, próximo ao cemitério. Não sou vaqueiro nem criador mas fiquei feliz pela permanência das tantas cancelas e do odor causado pelas fezes animais dos tantos currais. Aqueles que passam pelos ¨cantos¨ citados, nem devem me entender, mas se forem bem atentos perceberão que falo a verdade. Lá estão, um ¨caminhão¨ de cancelas em meio a uma cidade moderna. A bem da verdade, o custodiense de um modo geral não costuma poupar seus monumentos históricos. A secular calçada da igreja foi recentemente desfigurada, sepultando parte de um projeto arquitetônico e também as milhares de lembranças das gerações que se sucederam ao longo dos anos.

Um comentário:

João Bosco de Andrade Araújo disse...

Carlos,
O seu magnífico texto "Coisas de quem não tem o que fazer" me transportou, automaticamente, ao meu longínquo Piauí. Principalmente,após apreciar as várias fotos postadas por você, que me lembraram o meu distante torrão natal, Simplício Mendes - PI. Residente nesta São Paulo gigantesca desde o início dos anos 70, trago no meu âmago nítidas recordações do lugar onde nasci. E agora lendo o seu belo texto e vendo estas fotos tudo se consumou mais rápido. Você está de parabéns e terá doravante um grande admirador e seguidor. Eu acho que você já deve alguns livros publicados. Ou será que ainda estão "engavetados" como os meus? Rogo a Deus que não. Você merece ser lido por milhare de pessoas de bom gosto e, modéstia a parte, me candidato como seu leitor.
Abraços,
João Bosco