quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Desejo













Autora: 
Elizabeth Vargas Marcondes

Entre mil sóis o calor de um...
Abraço estreito que cala alma,
Acalma!

Me dá a calma de que preciso
No momento impreciso do amor
Que se fez na primavera...
Percorreu décadas outonais.
Viu flores e espinhos...
Espalhados no quintal da vida.

Desejo!...
O frio de todos os invernos...
Que se fora e hão de vir,
Na sonata de dois corações 
Que desejam os mesmos acordes
Da mais bela canção que a vida fez!

Desejo!...
A profusão de corpos que esperam
Na ânsia deste querer. 
E o tempo sabedor de nós...
Apesar dos Nós...
Nos presenteou.

Desejo, apenas desejo 
A troca dos olhares ...
...Que ainda não trocamos
Mas que embevecida espero...
No afago das mãos
No beijo molhado...
O cuidado de nada perder.

Autora: Elizabeth Vargas Marcondes - Londrina/PR

Olha o Grito - Texto: Peter Peterson

A farmácia de Seu ¨Ontonho¨ estava repleta de habitués. Alí, além de desportistas, estava o Dr. Renato, digníssimo juiz de direito da comarca.  Foi chegando um cliente da farmácia, o Bertino, velho matuto de muita cara feia. Deu boa noite a todos e falou:
- ¨Ô Seu Ontonho, tem xarope de tulu?
- ¨Tem!¨
-  ¨Traga um vidro.¨
Enquanto o velho farmacêutico foi buscar o tal xarope, Dr. Renato – que mesmo sendo um magistrado, gostava de atuar como policial, tal como prender gente, desarmar, etc – observou que Bertino tinha na cintura uma peixeira.  O juiz não titubeou, indo ao encontro do pacato matuto, dizendo:
- ¨Você está armado? ¨
E sem esperar a resposta, arrancou a 12 polegadas do Bertino, quase partindo-lhe o cinto.
Sem esquentar a cabeça, Bertino disse:
-  ¨Embrue o xarope Seu Ontonho. Taqui os onze mi réis.¨
 Recebeu o xarope, virou-se para o Dr. Renato e, na maior ingenuidade deste mundo, disparou a pergunta:
-  ¨O Seu Zé, si má pergunto, cum quem tô falando?¨
 -¨ Com o juiz de direito da comarca!¨
Bertino, que nunca foi de levar ¨mangação¨ para casa, com toda indignação explodiu para não implodir. De chofre, do mesmo modo, arrancou a peixeira da mão do Dr. Renato, botou-a em sua cintura e disse para quem quizesse ouvir, alto e bom som:
- ¨Pensei qui era um sordadi, ora tá bom basta!¨
É amigos, parece que essa função de desarmar os Bertinos não é para juiz de direito – é para ¨sordadi¨, mesmo.

Ps. Texto publicado no Jornal ¨O Grito¨, na página ¨Nossa Terra¨, em setembro de 1979.

A filha do Coronel (Texto Registrado no INL: 610.545 Livro 1.170, folha 321)


Autor: Jussara Burgos

Percival Matos era um sujeito que tinha uma forte personalidade, visão empresarial e muita disposição para o trabalho. Ele viveu na década de quarenta, no sertão de Pernambuco. Era casado com Edith e tinham seis filhos. Entre eles, apenas uma meiga menina de olhos da cor de mel, Gerusa era seu nome. Ela era o xodó do pai.
Percival comprou terras às margens da rodagem, esse era o nome das estradas de chão que ligavam a Capital ao interior do estado, pois naquela época não havia pistas asfaltadas. Havia um rio e a localidade era favorável ao cultivo de caroá ou caruá, como dizem os sertanejos. Os negócios prosperavam, Percival construiu uma confortável casa para sua família e se mudaram para Santa Felicidade. Logo veio a necessidade de uma escola para suas crianças e para os filhos dos seus empregados. Ele construiu uma escola e trouxe um professor do Recife.  Depois construiu uma usina de beneficiamento, uma vila de casas geminadas para os seus empregados, um hotel para atender os caminhoneiros que escoavam a produção, uma igreja e um posto de combustível. Percival ficou tão importante na região que ganhou o titulo de coronel, o que o deixava muito envaidecido.
Quando Gerusa ficou mocinha, ficou acertado que ela se casaria com o Antônio Matias, filho de um rico fazendeiro da Lagoa de Baixo. Ela casou no dia do seu aniversário de quinze anos e foi a maior festa da região. Quando terminaram os festejos, o noivo levou Gerusa embora, montada na garupa de um burro. O Coronel respirou sossegado, tinha cumprido a missão de casar sua única filha.
No dia seguinte na hora do almoço, a família estava reunida em torno da mesa, quando o Coronel Percival ouviu Antônio lhe chamar, do terreiro da casa. Esse ficou intrigado com a visita fora de hora. Chegando à porta, o Coronel escutou seu genro dizer: “Coronel vim devolver sua filha, ela não é moça”. Essa foi a maior desfeita que o Coronel sofreu na vida. Gerusa era a imagem da desolação. Cabisbaixa,  ficou parada diante do seu pai, que a surrou com chicote de cavalo, até ela ficar ensanguentada e desfalecer. Depois que ele saiu bufando feito um bicho, Edith levou a filha para dentro de casa e lavou os ferimentos com água de sal. Gerusa quando acordou do desmaio, falou para a mãe que jamais tivera contato com um homem. Edith aconselhava a filha dizer a verdade, para o próprio bem, mas ela negava veementemente, nunca tinha estado com um homem. De volta para casa, o Coronel deu ordens que não queria ver Gerusa enquanto vida tivesse. Ela iria viver trancada dentro de um quarto. E assim foi.
Gerusa foi tornando-se a cada dia, mais acabrunhada, sentia falta do convívio paterno, das brincadeiras com os irmãos e das amigas do vilarejo. Um dia enquanto a família estava na igreja assistindo à missa, ela foi até a usina e se enforcou com uma corda de caroá. A missa foi interrompida com o grito de um operário que dizia: - Acuda Coronel, Gerusa se matou! Foi aquela correia e desolação. Ninguém esperava por isso em Santa Felicidade.
Edith era prima do Dr. Célio, médico da cidade vizinha que apareceu para trazer suas condolências. Ela vivia inconformada com a situação da filha. Seu coração dizia que havia alguma coisa errada nesta história e quis tirar isso a limpo. Chamou o doutor no canto e pediu que ele examinasse Gerusa antes do sepultamento, pois ela havia criado a menina nas barras de sua saia, conhecia bem o seu temperamento calmo e jamais presenciou algum assanhamento.  O corpo da jovem estava sobre a cama para  vestir a mortalha, Edith pediu que as mulheres presentes se retirassem,  ficando apenas ela e o seu primo médico.
Após o exame o médico chamou Coronel e Edith e explicou que Gerusa era virgem, ela tinha hímen complacente. O Coronel prostrou-se diante da filha, pedindo perdão.
Junto com Gerusa o Coronel enterrou sua vontade de viver, deixou de cuidar da usina, dispensou os empregados, não quis mais ir à igreja, se isolou de tudo e de todos. Dizia sempre que o caroá lhe rendeu fortunas, mas também serviu para tirar a vida do seu maior tesouro.  Viveu corroído pelo remorso até o dia de sua morte.
Santa Felicidade ficou abandonada, não havia ninguém na região com recurso financeiro para comprar todo aquele patrimônio. A viúva e os filhos do Coronel Percival Matos  foram embora para São Paulo, sem nem mesmo vender as terras. As construções viraram ruínas ao longo das décadas e estão lá até hoje, a chamar a atenção dos que por ali, raramente, passam e até se benzem, ao perceber que Santa Felicidade tornou-se uma cidade fantasma. Entretanto, nem sequer imaginam que ali se enforcou a filha de um Coronel, para tornar-se para sempre na vida dele, o fantasma da tristeza e desilusão. 

Autora: Jussara Burgos - Luziânia/GO 

O texto ¨A filha do Coronel¨, foi Registrado no Instituto Nacional do Livro (Fundação Biblioteca Nacional), em nome de Jussara Burgos, número de Registro 610.545, Livro 1.170, folha 321.


A Feira - Paisagens da memória - Autor: Fernando José Carneiro de Souza

No início dos anos 60 a pequena cidade de Custódia, como toda cidadezinha do sertão pernambucano, vivia em relativo isolamento quebrado apenas pelas ondas do rádio  (Rádio Cardeal Arcoverde e Rádio Pajeú de Afogados da Ingazeira). Ainda não chegavam aos remotos lugarejos deste sertão os jornais e a televisão. Esse meio isolamento preservou uma cultura ímpar. Resquícios da idade média ainda podiam ser sentidos na religião, no comportamento, nas paródias, nas histórias de cordel, nos cantadores de viola, nas ladainhas e nos cantos populares. Tudo isso sintetizado num acontecimento extraordinário: a feira.
No seu fundamento histórico, versa uma das tradições que Custódia nasceu da necessidade de um ponto de apoio entre o vale do Pajeú e o vale do Moxotó .
Havia necessidade de uma ligação por terra entre um vale e outro. No intercurso entre essas duas ribeiras, surgiu a estalagem de Dona Custódia, propiciando aos tropeiros uma pausa restauradora do cansado caminhar nas veredas sertanejas da época. O crescimento rápido da localidade, deveu-se à sua localização devido à passagem de almocreves e viajantes, pois Custódia tem grande parte do seu território encravado no vale do Moxotó e uma pequena porção  no Pajeú (Pajeú: lendário rio sertanejo e um dos poucos rios do mundo que tem parte do seu curso correndo em sentido contrário ao mar). Isso favoreceu o aparecimento de pessoas de outras localidades para habitar o  sítio. Foram erguendo-se habitações e novos comércios.  Com isso o povoado foi se formando. Os fazendeiros mais abastados ergueram casas na vila para virem aos domingos à missa e  fazerem compras. Custódia cresceu das  feiras livres que até os dias atuais são de grande importância para sua economia.
Aos domingos ia dormir com ansiedade do dia seguinte: era a segunda, dia da feira! Dia extraordinário, atípico, o único em que qualquer um podia se perder na multidão. A monotonia era regra, quebrada apenas por esse evento semanal que virava a cidade de ponta cabeça.
Logo cedo saltava da cama com o barulho daquele acontecimento que toda semana quebrava a quietude e pasmaceira do lugarejo. Tomava um café rápido e corria para a rua. Nessa época, para mim o tempo era tão relativo quanto à teoria de Einsten. O tempo não existia! (Oh que saudade). Primeiro ia namorar os caçoás de frutas que vinham dos brejos de Triunfo, nos contrafortes da Serra da Borborema. Depois corria para o pátio do bar Fênix  onde malandros e otários se enfrentavam nas mesas de esplandim e bacará. Passava horas absorto naquele jogo de malandragens em que os competidores diziam frases manhosas.
Em seguida descia pela rua Nemésio Rodrigues, onde no seu terço final ficava a feira das  verduras e, incompreensivelmente, no meio daquelas barracas e toldos verdes encontrava-se a barraca do raspa-raspa cuja coleção de litros de cores vivas e atraentes  prendiam minha atenção (naquela época em cada rua comercializava-se um só tipo de produto). Uma grande pedra de gelo era retirada de um caixote, envolta por pó de madeira, usado como isolante.  Esse gelo era raspado, colocado num copo e misturado com essências de cores vivas. Perdia horas olhando aqueles movimentos (ou ganhava).
Um dos mais interessantes era o homem da cobra. Falava o dia todinho, mas não mostrava a cobra. Esta ficava num caixote de madeira no meio da roda formada pelos matutos que tão ansiosos quanto eu esperavam pelo momento máximo. Esse intervalo de expectativa e espera era maliciosamente aproveitado para a venda da banha do peixe boi e outros produtos afins, destinados  à cura de todos os males.
O ventríloquo me encantava, pois era incompreensível e ao mesmo tempo fantástico para um menino de sete anos que um boneco de madeira falasse. Porém sua voz até hoje repercute em minhas lembranças como um Pinóquio sertanejo  dos contos de fadas.
A dupla de irmãos cegos. Um tocava sanfona, o outro, pandeiro. Formavam uma enorme roda na Praça Padre Leão onde interpretavam músicas do cancioneiro popular. Uma me marcou para sempre. A música chama-se “Fogo do Paraná”. Uma história trágica em que uma família de imigrantes sertanejos é envolvida por um grande incêndio e o caçula da família, Toinho, morre nesse sinistro.  Até hoje, jamais, vi interpretação igual.
A malícia do vendedor de remédios, porque antes de apresentar o produto, ele nos deliciava com lúdicas brincadeiras para atrair os curiosos. Plateia formada, enormes lombrigas enroladas e expostas em garrafas de vidros transparentes eram apresentadas e impressionavam os nativos. (Até hoje sou reticente em comer macarrão). Cenas medonhas dessas verminoses eram expostas em páginas retiradas de revistas diversas sem um contexto lógico, mas que impressionavam e ajudavam a vender os medicamentos contra vermes.
A poética do declamador de cordel. Enorme multidão se formava em torno desse poeta popular. Muitos até analfabetos, mas em poses de poeta dissertavam os versos simples e envolventes das fantásticas histórias do imaginário sertanejo. Eram versos modestos, às vezes com rimas pobres, tendo grande apelo emocional e começando por temas apaixonantes. Lembro que ouvi numa das vezes em tom teatral a declamação do cordel “A chegada de Lampião no inferno”. O próprio título já impressionava e o desenrolar da história nem se fala. O contador gesticulava tentando dar uma interpretação verossímil aos fatos narrados. No intervalo entre os versos, o orador tecia alguns comentários aguçando ainda mais a curiosidade dos ouvintes para o desenrolar da trama. Contudo a história não chegava ao fim. No melhor da narrativa, em que praticamente todos prendiam a respiração para ouvir o desfecho final, a leitura era interrompida causando frustração momentânea aos espectadores. Quem quisesse saber como terminava a história, teria de comprar o cordel. Que decepção! Eu saía caminhando absorto em devaneios imaginando qual seria o grande final. Naquela época, através do cordel, era como as notícias de fatos importantes chegavam às comunidades rurais. Por muito tempo foi um dos meios de comunicação entre essas populações.  
O romantismo da malandragem. Os malas me fascinavam pela destreza e astúcia com que ludibriavam os mais incautos. Nunca usando a violência, apenas a lábia. “Essa ganha, essa perde” é a lembrança mais viva que tenho dos irmãos Chia e Dadá pela sua nobre arte de “ganhar o outro”. Quando questionados sobre a lisura de suas ações, respondiam com presteza que a intenção do adversário era derrubá-los. Com esse jogo de cartas marcadas, eram invencíveis e sobreviviam dessa prática.
As bancas de rolos de fumo de Arapiraca. Enfileiradas, ficavam em frente ao bar da sinuca de Jurandir. Atraía-me o olhar aqueles enormes rolos negros de fumo parecendo cobras pretas enrodilhadas. Às vezes com os colegas fazíamos cigarro de fumo e íamos fumar escondido. O efeito entorpecedor nos causava náuseas e o forte cheiro nos deixava impregnados. A volta para casa era adiada para que ninguém percebesse. Ao chegar em casa, todos já tinham almoçado. Levava uma tremenda bronca, como acontecia toda segunda-feira.
Hoje, nos anos dois mil e tanto, a feira subsiste. Ainda é de grande importância, porém sofreu modificações impostas pelas transformações que o mundo moderno impõe. Rareiam essa miríade de tipos característicos cuja magia de suas atuações em breve ficarão como uma simples lembrança.

Custódia, 04 de dezembro de 2011
Autor: Fernando José Carneiro de Souza - Custódia/PE
Dedico a Jussara

Tela: A Feira em Custódia
Pintor: Edmar Salles

Publicação autorização através de e-mail de 04/12/2011

O Coreto da Lua

Suzo Bianco

Reviver aquilo, que nos aconteceu quando nos conhecemos, me traz um misto de nostalgia, melancolia e felicidade, mesmo depois de tantos anos.
Eu caminhava sem rumo por uma passarela de madeira suspensa, desses tipos de caminhos construídos sobre plantas e moitas, no intuito de sentir melhor o bosque sem formar trilhas. Era um lugar lindo e calmo, chamado Por da Lua, uma área grande de mata preservada bem no coração da cidade de Clinzândia, ao norte do Deserto Cinzento, lugar esse que quase ninguém ousava mencionar.
Por da Lua era um parque bastante procurado por todos devido sua essência mágica e qualidade calmante, sob as copas verdes, as pessoas se sentiam mais relaxadas, abrigadas, tranquilas para caminhar e caminhar sem rumo certo, aproveitando a atmosfera entorpecente a qualquer hora do dia.
Bom exemplo desse costume era eu mesmo, que mesmo sob o manto imperioso da noite e da luz fantasmagórica da soberana Lua, andava a passos lentos, fazendo ranger as ripas de madeira, pensando em nada demais, apenas uma sombra ambulante em meio aos focos de luz branca, derramados pelos postes que se dispunham de metros em metros, de cada lado da trilha. Foi quando avistei o Coreto da Lua.
Um lugar aconchegante e fresco, todo branco, muretas bem trabalhadas com ornamentos que, num padrão suave, lembravam folhas de árvores e animais silvestres. O telhado era bem cuidado, a tinta anil das telhas ainda parecia fresca, embora coberta por folhagem seca, plantas rasteiras e trepadeiras. Em seu cume, um cata-vento na forma de uma Lua prateada girava lentamente ao gosto da brisa noturna. E sob o telhado, lá embaixo, bancos curvos, moldados de forma que acompanhassem a curvatura do coreto, convidavam silenciosamente os possíveis transeuntes a algumas horas de meditação ou reflexão. E isso fazia todo sentido, já que, quando ali cheguei, percebi uma jovem de cabelos longos e escuros. Sentada, cabisbaixa, concentrada em um ponto invisível no meio do pequeno salão que o coreto disponibilizava, ela nem sequer notou quando me aproximei. Parecia triste, e associei aquela situação com a do homem que ia embora, por outra abertura, também de ombros caídos, quieto e aparentemente melancólico.
Possivelmente a moça sentia algum recente aperto no peito ou decepção amorosa.
Pensei em abordá-la com um cumprimento reconfortante quando ela de repente me notou, com olhos arregalados, fazendo-me estacar em meu lugar. E ali de pé, vi a jovem espiar mais uma vez o homem, que se distanciava por outra trilha suspensa do bosque, como se não acreditasse no que lhe estava acontecendo. Ela tornou a reparar em mim, como se eu fosse algum tipo de fantasma. Antes que ela pudesse dizer algo, arrisquei:
— Parece triste, posso lhe ajudar?
— Quem é você? – Ela logo perguntou.
— Ninguém, eu estava apenas caminhando quando a vi aqui e... Pareceu-me triste.
— Na verdade não. – Sorriu. – Não estou triste. Estava apenas pensando na loucura que acabou de me acontecer, quando você apareceu. E, sinceramente, isso só me deixou mais confusa ainda.
— Não entendi.
— O homem que acabou de sair daqui.
— O que tem ele, era seu namorado, ou algo assim?
— Não sei o que dizer, não agora, depois que você apareceu.
— Não compreendo.
— Era um senhor, um senhor de meia idade, gentil, mas de olhar tristonho. — Percebendo que eu ainda não a entendia, explicou: - Bem, eu estava aqui, lendo meu querido diário, quando ele apareceu, bem ali. — Apontou para a outra abertura do coreto. — Ficou me olhando como se me conhecesse há anos, olhos cristalizados de lágrimas. Fiquei um tanto desconsertada, assustada até, não sabia o que fazer ou o que falar quando ele me disse: “Sei que deve estar assustada, sei que não me reconhecerá, sei que deve me achar um mendigo louco ou algo assim, ou só um velho carente e esquisito, sei que provavelmente irá ignorar esse encontro daqui algumas horas, sei de tudo isso, mas ainda tenho esperança de realizar meu sonho, de lhe abraçar pela última vez e de me lembrar como eu poderia ter sido feliz, e desperdicei isso...” Então ele chorou abertamente, de maneira tão tocante que me apiedei e o abracei com toda a sinceridade que eu poderia oferecer. Ele então me afastou gentilmente, e disse: “podemos dançar?” Sorri, limpei minhas próprias lágrimas e dançamos por um tempo, como pai e filha que há muito tempo não se viam. Até que nos afastamos. Ele me olhou nos olhos. “Obrigado, e me perdoe, minha querida. Adeus!” – Sorriu a jovem ao lembrar daquilo. – Então ele simplesmente foi embora, quando você chegou.
— Nossa! — Falei, me aproximando. — Que estranho. — Tomei coragem e me sentei ao lado dela. Era linda. – Essa cidade é cheia de gente maluca.
— Tem razão! — Ela concordou, voltando a sorrir.
Nossos olhos brilharam naquele momento; os dela eu pude ver, os meus eu mesmo os senti.
Naquele dia nunca poderia imaginar que aquela jovem se tornaria a minha companheira, amada de uma vida inteira.
Tivemos muitas coisas juntas depois daquilo; alegrias, viagens, lembranças, tristezas e arrependimentos. Eu mesmo, hoje, reconheço o quanto a fiz mal. Pois com o tempo a paixão diminuiu, e isso me distraiu. Tornei-me negligente, arrogante, iludido e idiota. Ela, coitada, acompanhou minha áurea tornando-se tão tola quanto eu. Começamos a brigar demais, a discutir demais, a querer sem merecer demais, até que num dia fatídico, minha tão amada companheira veio a falecer num acidente de balão.
Ela só queria ver a Lua mais de perto, para ver os problemas mais de longe.
Aquilo viria a me recuperar do modo mais doloroso possível. Passei desesperadamente a procurar uma forma de reverter àquela situação, a da morte de alguém que eu não soube aproveitar, amar, enquanto viva.
Procurei tanto que acabei achando.
Uma bruxa, oriunda das cavernas do Deserto Cinzento, ficara sabendo de minha agonia e me propôs um acordo:
— Se o senhor me der sua vida, posso fazer com que você a veja mais uma vez, e assim, além de revê-la, poderá finalmente descansar em paz...
E inundado de tristeza, movido pela dor da perda e do amor perdido, aceitei o acordo.
Fui levado para o passado, e a revi.
Linda, sozinha, minutos antes de me conhecer, sob aquele lindo coreto mágico. O primeiro contato quase me fez gritar de dor e saudade saciada. Mas não podia. Enchi-me de coragem, aproximei-me e lhe disse:
— Sei que deve estar assustada, sei que não me reconhecerá, sei que deve me achar um mendigo louco ou algo assim, ou só um velho carente e esquisito, sei que provavelmente irá ignorar esse encontro daqui algumas horas, sei de tudo isso, mas ainda tenho esperança de realizar meu sonho, de lhe abraçar pela última vez e de me lembrar como eu poderia ter sido feliz e desperdicei isso.
Então desabei abertamente, de maneira tão tocante que me senti uma criança arrependida por ter feito algum mal imperdoável.
Ela me abraçou, com força. Eu a afastei gentilmente, falando:
— Nós podemos dançar?
Ela sorriu, limpou suas próprias lágrimas, e dançamos por um bom tempo, até que nos afastamos. Eu a amava, imensamente, e sem poder me revelar só pude olhá-la nos olhos:
— Obrigado, — Suspirei controlando meus sentimentos que pareciam querer-me afogar. — E me perdoe, minha querida. — Me virei de vez, para evitar novo pranto aberto. Apenas conseguindo murmurar minha última palavra, aquela que há anos não pude ter dito:
— Adeus!
E agora, mesmo prestes a doar minha vida para aquela bruxa, reviver aquilo, que nos aconteceu quando nos conhecemos, me traz um misto de nostalgia, melancolia e felicidade, mesmo depois de tantos anos.

Autor: Suzo Bianco - São Paulo/SP

Livro: Dedos de prosa - Uma homenagem de: Maria Olimpia


Tenho feito bons amigos na internet e as amizades acontecem de formas diferentes. Um dia recebi um e-mail pedindo permissão para publicar um texto meu no blog Gândavos – Os Contadores de Histórias. Foi assim que conheci Carlos Lopes. O pedido se repetiu e outra autorização para ser publicado foi dada. Depois ele me disse que estava publicando um livro e queria permissão para publicar no livro comentários meus aos seus textos. Permissão concedida. Semana passada o livro chegou como um presente e eu fiquei encantada com a qualidade: edição e texto.


Dedos de Prosa é o nome do livro. De conto em conto Carlos Alberto dos Santos Lopes desfia seus contos, como se os contasse nos dedos, das mãos e dos pés. Ou só das mãos, indo e vindo. São histórias que viveu e que refletem sua formação moral e cultural. E que mostram, em cada página, a pessoa que é: Um amigo generoso capaz de repartir o que tem de bom com todos.

O livro ficou bonito.Seus amigos compartilhando. Ali está a orelha escrita pelo carioca Gilberto Dantas. O fluminense Nêodo Ambrósio de Castro, escreve a contra capa. Na introdução, Carlos afirma ser um sujeito de sorte por ter recebido colaborações de amigos das mais diferentes partes do país. E relaciona todos.

Edmar Sales é o responsável pelas ilustrações, muito bonitas por sinal. Cada conto é precedido de uma ilustração, emoldurada em preto. Nas costas de cada ilustração, nossos comentários, em branco sobre preto. E aí vem os contos, todos ilustrados com a mesma figura colorida da capa, agora em preto e branco. Eu digo – surpreendeu-me pela beleza.

Gosto de ler contos e crônicas porque posso ler um, parar e deixar o resto para depois – mas contei todos os dedos dessa prosa saborosa em uma única noite.

Um dos comentários que fiz foi sobre o conto A esposa virgem. Escrevi:”Comecei a ler o conto, bem escrito, de fácil leitura e fui pensando – simplesinho, onde estará o choque? Porque conto tem que ter esse elemento, o que nos surpreende e muda todo o roteiro para onde estávamos sendo conduzido. E ele veio antes do que eu esperava. A reviravolta, onde tudo o que parecia ser deixou de ser. Era outra coisa, muito diferente e surpreendente.A simplicidade com que a história está sendo contada é mais um elemento perturbador. O próprio Maquiavel não faria melhor. Uma história boa de ler do princípio ao fim. Traz a marca da boa literatura”.

Presto aqui minha homenagem a esse escritor e homem de cultura pernambucano que espero breve conhecer pessoalmente. É que Recife é um dos meus destinos favoritos. Parabéns Carlos e obrigada por sua amizade e confiança.


Autora: Maria Olimpia Alves de Melo - Lavras/MG

http://marilim.net/
http://vidasetechaves.wordpress.com/


http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=27042

Publicação autorizada pela autora


Entrevista: Alice Gomes

Alice Gomes 

¨Há quem acredite existir uma diferença entre escrever e ser escritor, porém se alguém tem ideias originais para criar boas histórias, se elas têm o potencial de despertar o interesse das pessoas; o autor desenvolveu a habilidade de prender o leitor em sua narrativa, da primeira palavra até o ponto final. Assim sendo, com certeza é um bom escritor! As palavras são um grande instrumento transmissor de ideias e pensamentos, com poderes de transformar o mundo em um lugar melhor e mais bonito".
A escritora Alice Gomes nasceu em Arapongas, no Paraná, residente em Porto Velho, Rondônia. Como a própria se define: Contabilista por profissão (aposentada), além de alguns trabalhos em outras áreas, e poeta por predestinação. Uma filha, três netas. Muito trabalho, pouca renda. Que já conheceu intimamente o lado mais doce e o mais vil do ser humano. Enfim, uma vida pessoal medíocre como a maioria dos brasileiros.

1-             Quando e como surgiu seu interesse pela leitura e escrita?
Alice Fomes - O interesse pela leitura foi através dos gibizinhos do Tio Patinhas, bem antes da escola. Pela escrita, na adolescência, quando percebi a possibilidade de ter um mundo só meu.
2-             Quais foram seus livros preferidos quando era criança e os livros favoritos atualmente?
Alice Gomes - Meu primeiro livro foi A Casa dos Sonhos, que ganhei aos sete anos da minha professora, por bom comportamento na sala de aula. A partir daí, todos os que pude ler na Biblioteca, aleatoriamente.  Na minha casa não havia livros e ninguém, exceto uma das minhas irmãs, me incentivou a ler e muito menos a escrever.  Sou um ponto fora da curva. Por ler de tudo um pouco aprendi sozinha a depurar o meu gosto literário. Hoje prefiro os autores portugueses. Apenas para citar um, gosto muito do Saramago.
3 - Quais escritores são suas fontes de inspiração?
Alce Gomes - Nenhum, em particular.
4 - De que forma o conhecimento adquirido, seja pelo senso comum, ou pelo meio acadêmico,  ajuda na hora de escrever?
Alice Gomes - Não falo de outra coisa que não venha do conhecimento empírico. Coisas que vivi ou vi, seja em prosa ou verso, sejam reais ou metafóricos. Eu penso que a vida é um constante aprendizado, venha de onde vier a teoria será sempre o nosso olhar quem estará em nossas palavras.
5- Segundo o escritor Rubem Fonseca, “a leitura, a palavra oral é extremamente polissêmica. Cada leitor lê de uma maneira diferente. Então cada um de nós recria o que está lendo, esta é a vantagem da leitura". É isso mesmo? Concorda com essa proposição?
Alice Gomes - Concordo, em parte. Como leitora eu busco sempre me aproximar ao máximo do que o autor quis, efetivamente, dizer. É claro que, à primeira leitura, buscamos sempre o nosso reflexo, baseados em nossas experiências, mas já aprendi a me policiar para não incorrer no mesmo erro que não gostaria de ver em relação aos meus escritos. Mas, Quintana já dizia que o autor pensa uma coisa, escreve outra e o leitor entende uma terceira...  O importante é conseguirem se comunicar de alguma forma  autor e leitor.
6- Ainda segundo o Escritor Rubem Fonseca: “um escritor tem de ser louco, alfabetizado, imaginativo, motivado e paciente.” É o suficiente para ser um bom escritor?
Alice Gomes - Sobretudo paciente, o que não sou mas deveria... rsrs Faltou aí a verdade. Dificilmente me interesso em conhecer mais textos de um autor quando  não senti  a sua verdade. Não que eu não goste dos loucos, eruditos, imaginativos e motivados, porém, já admirei textos que de loucos não tinham nada, já obtive grandes ensinamentos em textos coalhados de erros gramaticais, já chorei em textos absolutamente concretos, já senti empatia por linhas desconexas  de autores completamente desmotivados, mas, não contendo a sua verdade, serão meras palavras.
7 - Para qual público se destina sua criação?    
Alice Gomes - Para os meus iguais, quando e onde estiverem.
8 - Como funciona o seu processo de criação? Quais sãos suas manias (ritual da escrita)?
Alice Gomes - Não tenho processo, talvez por isso não escreva tanto quanto gostaria. Como já disse só escrevo o que me vem à cabeça e nem sempre o que me vem à cabeça pode ser escrito naquele momento, depois esqueço. As minhas maiores criações ainda nem comecei a escrever, justamente pela indisciplina . Não sei se posso classificar como mania, mas gosto de escrever ouvindo música, tv, e com duas ou três abas abertas no computador, tudo ao mesmo tempo.
9 - Em geral, os seus personagens são baseados em pessoas que você conhece, ou são ficcionais?
Alice Gomes - As minhas personagens são todas eu, inclusive as que eu nem conheço...rsrs
10- Você tem outra atividade, além de escrever?
Alice Gomes - Financeira, atualmente não. A minha atividade primordial é observar o mundo, escrevo só nos momentos em que me canso dele.
11 - Você faz parte das Coletâneas Gandavos. Qual a sensação de participar ao lado de escritores de várias regiões do país?
Alice Gomes - É uma grande oportunidade de aprender com outras culturas. Repito o que disse no prefácio do Encantadores de Histórias: Gandavos é um pequeno grande barco, do qual somos todos marinheiros, saídos um de cada porto do Brasil, com nossas  bagagens de vida, nossas experiências e influências, e  que ao final de cada viagem convergimos para o mesmo cais, trazendo na mala o sentimento de parceria, que somente quem compartilha sabe o valor que isso tem.
12 - O financiamento coletivo e a publicação independente têm se mostrado a opção das publicações Gandavos.  Quais são os pontos positivos e negativos desse tipo de publicação?
Alice Gomes - O ponto positivo é o baixo custo da nossa vaidade de ver publicado um texto ou dois em cada livro, já que individualmente é muito oneroso. O negativo (para mim) é o constrangimento de ter que votar e ser votado durante a fase de amostragem dos textos. 
13 – Você já fez publicação de livros sozinho, seja impresso ou virtual? Quais e como o leitor pode adquiri-los?
Alice Gomes - Eu tenho um e-book com alguns poemas, “A umas que sou nas almas que fui”, disponível para download gratuito no site Recanto das Letras, presente da minha amiga e editora Helena Frenzel.
14 - Qual mensagem você deixaria para autores iniciantes, com base em suas próprias experiências.
Alice Gomes - Escreva, sem receio. Aprenda com os seus erros, invente outros. Seja você mesmo, o mundo anda cheio de cópias. Mostre-se mas não se venda. E lembre-se: raros escritores são lidos enquanto vivos.

Aos olhos do observador - Autora: Ana Bailune

Dois amigos passeavam pelo jardim da casa de um deles - mais favorecido pelas posses. Este último tinha convidado o primeiro para visitá-lo, pois sentia-se vazio e infeliz, e necessitava de alguém com quem conversar. Vamos chamá-los de Zé (o mais feliz) e Chico (o infeliz).

Enquanto Zé caminhava pelo jardim, reparava na beleza das árvores: seu amigo tinha plantadas várias fruteiras: goiabeiras, pitangueiras, limoeiros, laranjeiras, jabuticabeiras, pessegueiros e ameixeiras, onde pousavam passarinhos de todas as cores, cantando felizes. Algumas frutas maduras tinham caído no chão e permaneciam sob as copas das árvores, e alguns esquilos alimentavam-se delas. Logo, Chico reclamou:

"Não sei mais o que faço para acabar com esses pássaros malditos! Comem todas as frutas!"

O amigo Zé percebeu, mas ficou calado, que se não fossem pelos pássaros, as frutas apenas apodreceriam nas fruteiras, pois o amigo não as colheria jamais.

Passaram por um lindo córrego, pequeno, mas que dava ao jardim um ar de beleza e frescor, além de emitir um ruído reconfortante. Zé achou aquilo maravilhoso, mas Chico observou com amargura:

"Estou pensando em mandar aterrar este riacho. O barulho me incomoda durante a noite."

Enquanto caminhavam, eram seguidos de perto por Bibo, o cão vira-latas de Chico. O animalzinho cheirava as moitas, corria, brincava e pulava; de vez em quando, trazia um galho seco, que Chico jogava para ele, que saía correndo e latindo atrás do galho, trazendo-no de volta para que Chico o jogasse novamente. De repente, Chico bradou com impaciência:

"Sai daqui, animal estúpido! Deixe-me em paz!"

O animalzinho assustou-se, e saiu correndo com a cauda entre as pernas, indo esconder-se sob uma moita. Penalizado, Zé entendeu que provávelmente, Bibo estava acostumado àquele tipo de tratamento, pois parou de seguí-los.

Finalmente, o passeio terminou na varanda, onde havia uma rede, duas cadeiras confortáveis e uma jarra de refresco de frutas esperando por eles em uma mesinha. Após servir-se de um copo, Zé falou:

"Você tem um belo espaço aqui, Chico! Uma beleza só... árvores de frutas, flores, passarinhos, um cão... e até um riacho! Luxo só!...

Suspirando fundo, Chico respondeu:

"Quer saber? Comprei este espaço para fugir da vida agitada da cidade grande, onde não aguentava mais viver. Tanta poluição e barulho, competição... mas acho que me decepcionei, não consigo ser feliz aqui, assim como não era feliz por lá. Minha mulher finalmente me deixou, levando os meninos, e fico aqui sozinho o tempo todo."

Desejando animar o amigo, mas sabendo que qualquer coisa que dissesse poderia ser inútil, Zé pensou bem antes de falar. Depois, tomando um gole de suco e olhando em volta, para a beleza do lugar, ele disse:

"Amigo, me desculpe, mas se você não é feliz aqui, não será em lugar nenhum! Olhe só em volta, tanta beleza e riqueza... sabe, eu acho que o que lhe falta, é deitar naquela rede ali, que está balançando sozinha pelo vento desde que cheguei... e de lá, observar o que você tem, e dar mais valor, ser mais grato por tudo. E ter paciência com as pessoas, pois você sempre foi tão 'estourado,' que acabou afastando todo mundo."

Chico olhou para o amigo, pensando no quanto aquelas palavras eram simplórias... só mesmo o Zé para ter um pensamento tão bobo! Mesmo assim, sabia que ele estava tentando ajudar. Para agradá-lo, foi até a rede e deitou-se - algo que nunca tinha feito antes. E não é que a paisagem de lá era mesmo bonita?

De mansinho, Bibo foi se aproximando, e deitou sob a rede. O dono começou a acariciá-lo. O 'barulho' do rio tornou-se bem mais agradável, até que virou um ruído relaxante e delicioso. Dali ele podia enxergar os passarinhos, e começou uma conversa com o amigo, na qual ambos, lembrando os tempos de infância em que brincavam perto de uma mata, começaram a identificar algumas espécies.

No final da tarde, Chico estava com as mãos sujas de terra - passaram algumas horas capinando canteiros e replantando mudas de flores - suado, e sentindo-se revigorado pelo trabalho. Além de tudo, sentia por dentro uma sensação que nunca tivera: a felicidade.


Descobriu-a dentro dele, ao deitar-se naquela rede.

Autora: Anabailune - Petrópolis/RJ


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Publicação aurorizada pela autora em 29/07/2012