quinta-feira, 27 de junho de 2013

Meu Amigo Duende

Autora: Ana Bailune

Nunca fui muito popular na escola, quando criança. Eu era um nerd. Usava óculos, era muito magro e franzino, e gostava de usar camisas de xadrez de mangas longas, abotoadas até o pescoço, mesmo quando estava quente. Tinha cabelos lisos penteados para o lado, e eu usava um pouco do fixador de minha mãe para manter a franja bem esticada. Não tinha amigos. As outras crianças apenas me toleravam, quando não estavam troçando de mim. Minhas notas eram sempre excelentes, mas nem mesmo este fato fazia com que eu fosse um pouquinho popular, apesar de ajudar os colegas quando estavam em dificuldades com as matérias. Pelo contrário; eles me usavam, tratavam-me bem antes das provas, quando precisavam de minha ajuda, e depois voltavam a tratar-me da mesma forma, ou seja, algo entre a total indiferença e a pura grosseria.

Eu era apenas um garotinho inseguro, de dez anos de idade, quando o vi pela primeira vez. Como sempre, meu irmão, cinco anos mais velho e muito popular, chegou em casa no final da tarde com sua trupe de amigos – vale lembrar que ele estava vivendo aquela fase da adolescência na qual irmãos mais novos são sempre insuportáveis e só trazem aborrecimentos. Eu estava acostumado a ser totalmente ignorado por ele quando seus amigos estavam por perto, e seus amigos também faziam questão de deixar bem clara para mim a minha não existência. Só se lembravam de mim quando precisavam de alguma coisa da cozinha – um refrigerante, um sanduíche ou outra coisa parecida.

Estranhei quando um dos garotos que estava com Pedro, meu irmão, acenou para mim e sorriu. Foi simpático. Eu nunca o tinha visto antes. Meu irmão e seus amigos entraram no quarto e fecharam a porta, mas ele permaneceu do lado de fora do quarto, de pé no corredor, olhando para mim.

Ele era um pouco mais baixo que os outros meninos. Vestia uma camiseta lisa verde-musgo, calça jeans e tênis surrados. Tinha cabelos castanhos cacheados, cujas pontas saíam de sob o estranho chapéu, que parecia um gorro de lã preto e meio-pontudo.

Fiquei ali, na porta de meu quarto, sendo encarado por aqueles enormes e simpáticos olhos azuis. Foi quando ele cumprimentou-me, dizendo meu nome.

-Olá, Paulinho!

Não respondi. Aquilo só poderia ser algum truque! Logo, meu irmão e seus amigos estariam ‘aprontando alguma’ para cima de mim! Virei-lhe as costas e entrei em meu quarto.

Na tarde seguinte, lá estava ele novamente, desta vez, sozinho na sala de estar.

-Olá, Paulinho!

Fui até a cozinha pegar um pacote de cereais, passando por ele sem responder. Ele foi atrás de mim.

-Por que não responde quando eu falo com você? Não está me vendo?

Respirei fundo:

-É claro que eu estou! Mas os amigos de meu irmão nunca falam comigo, e se falam, é porque querem alguma coisa de mim. O que você quer?

Ele sentou-se à mesa da cozinha, os dedos da mão esquerda tamborilando sobre a mesa, o rosto apoiado na outra mão, me olhando fixamente.

-Eu? Não quero nada! E você? Quer alguma coisa de mim?

-Você está maluco? Eu não!

Ele colocou as duas mãos sobre a mesa – percebi que tinha dedos muito finos e mais longos que o normal. As orelhas eram um pouco longas e pontiagudas, mas fora estes detalhes, parecia um garoto como qualquer um.

Dei um passo para trás, pois ele agora me olhava fixamente, tendo as sobrancelhas cerradas. Inclinou-se em minha direção, perguntando:

-Então por que me chamou?

-EU?! Nem conheço você!

-Na semana passada, voltando da escola, depois que aqueles grandalhões te empurraram e você caiu naquela poça de lama, você não se lembra?...

Minha memória voltou ao sofrível momento do ‘acidente’ que me deixou de castigo, depois que minha mãe me viu chegando em casa completamente enlameado. Lembrei-me que enquanto eu limpava os óculos, sentado no meio da poça e os outros meninos iam embora rindo muito, eu fizera um pedido; mas fora apenas um pedido idiota, eu jamais acreditaria que ele pudesse se realizar. Não; aquilo só poderia ser um truque de Pedro e seus amigos!

-Não sei do que você está falando – eu disse, saindo da cozinha.

Novamente, ele me seguiu até a sala, mas subi as escadas correndo e entrei em meu quarto, batendo a porta, ofegante. Encostei-me contra a porta fechada e fechei os olhos, aliviado por ter finalmente me livrado dele. Quando abri os olhos, ele estava de pé na minha frente!

Levei um susto tão grande, que dei um berro. Ele nem se alterou. Perguntou:

-Lembra-se do pedido?

Eu balbuciei:

-Si...sim! Eu... eu desejei ter alguém que me defendesse desse tipo de coisa, ou que pelo menos, me ensinasse a  me defender. Meu irmão nem liga... ter um irmão mais velho é o mesmo que nada, no meu caso!

Ele cruzou os braços:

-Pois é para isso que eu estou aqui. Meu nome é Zap, embora você não tenha perguntado!

-Zap?! Que nome estranho! E de onde você veio?

-Eu sou um duende!

-Um duende?

-Um duende! Sabe, aquelas criaturas dos contos de fadas, que vivem em florestas e perturbam seres humanos... alguns são verdes e muito feios. Mas eu não.

Depois daquela tarde, Zap passou a visitar-me todos os dias. Conversávamos durante horas, e ele me dava lições de defesa pessoal e me ensinava alguns truques de mágica, que começaram a fazer com que as outras crianças na escola se interessassem mais por mim. Na verdade, eu nem sabia o que estava fazendo quando tentava os truques, eu apenas pensava e eles davam certo. Fazia surgirem borboletas de dentro das bolsas das meninas, fazia desaparecerem objetos que reapareciam nos lugares mais estranhos – por exemplo, dentro das mochilas dos colegas. As crianças se interessavam, e até aplaudiam.

Um dia, meu irmão me viu conversando com ele no jardim. Zap já tinha me avisado que só eu podia enxergá-lo, e que bastava que eu pensasse no que queria dizer para que nos comunicássemos, mas eu às vezes me esquecia, e falava com ele em voz alta. E foi numa dessas ocasiões que Pedro nos flagrou. Imediatamente, começou a zombar d emim, perguntando se eu estava maluco, e foi contar à mamãe.

Ela passou a observar-me, e acabou, ela mesma, presenciando uma das minhas conversas com Zap (só percebi que ela estava lá tarde demais). Contou a papai. Os dois decidiram levar-me a um psicólogo, que acabou convencendo-os de que era normal que garotos na minha idade, muito tímidos como eu, tivessem amigos imaginários. Eu nem tentei fazer com que eles acreditassem que Zap era real, pois sei que de nada adiantaria, e entrei no jogo deles, dizendo que tinha um amigo imaginário.

O único problema, foi que Pedro espalhou a história pela escola, o que deixou meus pais furiosos com ele. Defenderam-me, e obrigaram-no a desmentir tudo. Fiquei exultante! Afinal, não era tão ruim assim ser maluco!

Certo dia, quando saí da escola, fui novamente abordado pelos valentões do pedaço, mas Zap me ensinara a reagir. O bando de garotos me cercou. Olhei em volta, e vi Zap encostado a uma árvore, e seu olhar confiante me fez, de repente, dar uma cambalhota incrível, e saindo do meio da roda de meninos, desferi-lhe golpes surpreendentes. Eles não entenderam nada, mas saíram correndo, e nunca mais fui abordado.

Mas, mais do que tudo, eu gostava de Zap porque ele me ouvia. Queria saber tudo sobre mim: as coisas que eu gostava e não gostava, meus filmes e músicas favoritos, o que eu gostava de ler. Passávamos horas conversando. Aos poucos, eu percebi que Zap estava se tornando muito parecido comigo fisicamente, e me admirei, mas ele disse que era tudo impressão minha; quando a coisa tornou-se óbvia demais, ele alegou que aquilo era normal; duendes ficavam muito parecidos com os seres humanos, se ficassem perto deles durante muito tempo. Era uma questão de essência, segundo Zap.

Meu amigo duende foi fundamental para que eu adquirisse autoconfiança e passasse a ter uma vida mais feliz. Um dia, eu disse a ele:

-Zap, é muito legal ter um amigo duende! Gostaria de fazer alguma coisa por você... algo que pudesse mostrar o quanto eu estou grato!
Ele sorriu, e disse:

-Não se preocupe. Não quero nada de você por enquanto! Quando o momento chegar, pedirei que você me faça um favorzinho, só isso.

Assim, passaram-se muitos anos. Eu cresci. Zap foi meu maior amigo durante o começo de minha adolescência. Tornei-me um garoto popular, e até bonito, pois fui tornando-me cada vez mais parecido com Zap, enquanto ele se tornava cada vez mais parecido comigo. Consegui até ganhar a admiração e o respeito de meu irmão mais velho!

Na noite antes do meu aniversário de quinze anos, fui dormir sentindo-me estranhamente fraco. Achei que estava pegando algum resfriado forte, e mamãe deu-me uma aspirina. De manhã cedo, eu me sentia bem melhor. Fui até o banheiro escovar os dentes, e tive o maior susto de minha vida ao olhar-me no espelho: o rosto que me olhava de volta, não era o meu! Eu tinha o rosto de Zap, as mesmas orelhas longas e pontiagudas, e meus dedos estavam finos e longos.

Soltei um grito desesperado, e desci as escadas correndo para pedir ajuda, mas quando cheguei na sala de jantar, constatei que eu e minha família tomávamos o café da manhã despreocupadamente... ou seja, havia alguém se passando por mim, aquele garoto não era eu! Vi, atônito, o momento em que minha mãe chegou da cozinha com um bolo de aniversário cheio de velas acesas, e todo mundo começou a cantar Parabéns para mim, enquanto eu sorria e agradecia.

Eu gritei. O mais alto que eu podia. Tentei tocar em meus pais e meu irmão, mas minhas mãos passavam através deles, que não me enxergavam! Ao mesmo tempo, Zap – que tomara meu lugar – olhou diretamente na minha direção, enquanto agradecia a todos pela surpresa, e entre os agradecimentos, murmurou um ‘obrigado’ que eu sei, foi para mim.

E foi assim que eu me tornei um duende.


Autora: Anabailune - Petrópolis/RJ

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domingo, 23 de junho de 2013

O Rei Leão a Pomba e o Bicho Preguiça

Autor: Geraldinho do Engenho

Durante muitos anos não havia organização e a floresta não produzia o suficiente para a sobrevivência dos animais. O rei leão era um tirano sem coração e não se preocupava com as demais espécies. Certo dia uma pombinha pousada sobre uma frondosa arvore visualizou o todo poderoso devorando cinco filhotes de capivara de uma única vez.
Revoltada ela o adverte dizendo -, como pode você o rei da selva com atitude tão inconsciente? – Quem é você sua pomba incherida para vir me dar lição de moral-, vá se catar, procure seu bando, eu sou rei e faço o que bem entendo! – Majestade desculpe a intromissão, mas consciência sustentável e educação ambiental é uma questão de sobrevivência! – Oba! Você me chamou de majestade!-Sabe que gostei? Ninguém nunca me tratou assim! – Desculpe-me excelência palpitar na sua refeição, mas devorar cinco filhotes de uma só vez! Imagine daqui a um ano seriam cinco adultos,  em vez de uma cinco refeições, alem das crias que eles deixariam para futuras refeições!Desculpe-me se estou sendo itrometida, mas pense nisso. Ora! Ora! Sabe que não pensei nisso; você é palpiteira, mas tem razão!
A esta altura o rei leão já derretia de amor pela pamba. -Sabe que você é muito simpática de onde vieste? – De onde eu vim não importa -, é cedo para revelar, mas saiba que vim apenas para ajudar a botar ordem nesta floresta e salvar as espécies em extinção! – Acho esta missão muito difícil para uma pomba tão frágil! – E quem diz que sou eu que irei reformular? – São vocês basta cada um cumprir com sua parte que a natureza completa resto. Ela sim tem poderes mais do qualquer ser vivo que habita o planeta! – Tudo bem sua sabichona então me apresente um plano! Olha majestade façamos o seguinte vamos promover uma grande convenção! Reuniremos todos os animais e proporemos as regras a serem seguidas, elaboramos um estatuto, e cada um cumprindo sua parte em pouco tempo esta floresta será um verdadeiro paraíso encantado – Boa idéia. Mas como reunir tantos animais a floresta é imensa!- Deixe comigo meu soberano me encarrego de tudo.
E assim a pombinha conseguiu reunir não só animais vertebrados como todos os insetos da floresta. O rei leão todo garboso abriu a seção dando a palavra para a pomba que após ouvir cada animal o aconselhava como seria sua conduta a partir daquela data.
Criaram três forças tarefas para manter a sustentabilidade da floresta. Aos esquilos e outros roedores coube a missão de replantar as sementes, as formigas fizeram o compromisso de utilizar somente as folhas das arvores que estivesse no ponto de maturação, e já não eram mais necessárias na captação de clorofila e oxigenação da atmosfera. As abelhas ampliariam seu contingente de operarias para maior produção de mel própolis cera e geléia real, além é claro de uma politização mais eficiente e os frutos se multiplicarem. E assim teriam alimentação farta em todo o tempo. A abelha rainha como chefe de laboratório assumiu o comando na produção dos medicamentos alternativo, até as minhocas assumiram sua parcela de responsabilidades, ficando na incumbência de fertilizar a terra.  E assim todos ficaram admirados com a sabedoria da pomba.
Apenas o bicho preguiça não compareceu. Preocupada a pombinha bateu asas até sua casa, para resgatá-lo também. Sua meta era unir todos para o mesmo objetivo, “todos por um e um por todos”; este foi slogam criado por ela. Mas antes de bater à porta ouviu a preguiça velha dizer -, valha-me oh deus da floresta há três dias preguiça saio para buscar remédio para preguicinha ele vai morrer a mingua, preguiça não aperece santo deus! – Deixa de muita conversa senão volto pra trás, respondeu preguiça que ainda estava na porta da sala. A pombinha ouvindo a conversa imaginou que com o bicho preguiça seria perda de tempo, não iria obter sucesso algum. Retornou para o local da reunião. Com tudo acertado, ela encerrou agradecendo a presença de todos. Passando a palavra ao rei leão.
Muito contente ele  alisou sua juba com as  mãos e disse -, Quero apenas uma única palavra, quem és tu sua pomba sabida?
- Eu sou o espírito da floresta vim a mando do deus da ecologia! E thiau pra todos vocês-, e sejam felizes!

Geraldinho do Engenho - Bom Despacho/MG


Publicação autorizada pelo autor

sábado, 22 de junho de 2013

Para uma grande amiga!

Autora: Lenapena

Como começar a escrever ! Aqui sentada as lágrimas correm, feito uma represa que guardou por muito tempo, uma água muito especial, e mesmo sem vontade teve que deixá-la ir.
As comportas do meu coração estão assim, feito essa represa, que se abriu e esta deixando verter um líquido morno.
Alguns, aqui nesse planeta ainda discutem se você tem ALMA. Ou se você é um ESPÍRITO! Pobres mortais esses seres humanos, que pouco sabem, mas acham que muito sabem.
Preciso seria, para modificar essa forma de pensar, somente, terem te conhecido e compartilhado de sua doce e sábia convivência.
Os cães tem sentimentos ? Questionam alguns.
E eu respondo a todos eles: E como os tem !
Os cães tem alma ? Duvidam outros.
E eu digo, sem medo de errar: Tem, e que bela alma possuem !
Você, Kauai, possui uma alma linda, sensível, amorosa, leal, doce.
Digo possui, porque o que se extinguiu foi seu corpo. Lindo corpo, coberto de um pelo dourado e sedoso. Porque, seu ESPÍRITO, continua sua jornada no caminho evolutivo.
Sei bem que "Amor conquistado, nunca é perdido". E você com seu amor imenso, conquistou meu coração, para toda eternidade.
Quanto tempo, vou ficar sem sua companhia física ? Nem imagino.
Sei bem, que estamos perto uma da outra, por laços estreitos, que somente podem sentir e crer, quem possui sensibilidade, para tanto.
Por vezes, tenho vontade  de poder acariciar com minhas mãos sua pelagem linda e macia, como sempre eu fazia. Porém, sei que isso não posso mais fazer. Mas,  sinto você pertinho. Com meus olhos espirituais, posso te ver, me olhando, com seus olhinhos meigos e amorosos.
Agora, que escrevo esse texto, te imagino a sorrir, como você fazia, quando estava muito feliz. E isso, acontecia quase sempre, pois, você era muito feliz !
A sala de televisão, onde você passava a maior parte de seu dia, e toda sua noite. Ficou imensa, com sua partida.
A Maui, sua mãe, e sua grande companheira, te procura, olhando-me com olhos de saudade e tristeza.
Pensei até, que fosse perdê-la também, pois dava pena, ver a desolação, que acometeu a Maui, com sua partida.
Mas, nosso amor, está fazendo com que cicatrize a dor de sua ausência no coração dela.
O meu coração ainda esta arrombado !
Ele clama por sua presença amiga, por seu carinho sincero.
Ele sente falta, de sua cabeça a pousar nos meus joelhos, sempre que me sentava no sofá.
Meus ouvidos andam ocos, sem o som de seu suave latido.
Pela manhã ainda na cama, fico a pensar: que não mais te encontrarei, ao pé da escada a me esperar, de rabo abanando, risonha por me ver.
Meus pés, não querem daqui sair, para ao regressar, não te achar a minha espera, e feliz me puxar pela mão, com uma suavidade incrivel, sem nunca me machucar nem de leve.
Como pode, dentes tão afiados, encostar em minhas mãos e somente carícia produzir ?
Só mesmo o tempo, será capaz, de suavizar a saudade doida que hoje há em meu coração.
E, mais uma vez te digo: que você perdeu seu corpo físico, mas sua alma contínua prosseguindo, e está repleta de amor, gratidão, bondade e ternura.
Um dia muito em breve ou não, a vida nos unirá novamente !
Laços estreitos nos ligam, laços de amor sincero.
E o amor, é força coesiva, agregadora que imanta em um grande laço aqueles que se estimam.
Você minha amiga, é um amor especial que meu coração vai guardar por toda a eternidade.
A morte conseguiu arrebatar seu lindo corpo, mas nunca será capaz de extinguir o grande e especial amor, que sinto por você.
E tenho certeza, que nem o seu por mim.
Quanto ao vazio que ficou em nossa casa sem você......O que fazer ?
Dar tempo ao tempo, pois somente ele alivia a dor da perda, e vai deixando só a saudade.
Ela, a saudade que sinto de você, será minha companheira, enquanto eu viver.

Autora: Lenapena - São Paulo/SP

Publicação autorizada pela autora

Burrim Véi

Autor: Maria Mineira

Havia um sitiozinho solitário perdido na imensidão da Canastra, casa de avós, onde crianças alegres passavam as férias. Toda manhã tinham leite puro, leite que estava diretamente ligado à grama que é consumida e ruminada lentamente em horas de silencioso mastigar dos animais com seus grandes olhos voltados para o chão e para o céu, olhos enormes e quietos. Daquele ruminar ao entardecer, dependia o leite tão saboroso na manhã seguinte.
Além das vacas, cabritos e aves, havia ali um burrinho velho deixado pelo boiadeiro que pediu pouso e ao tentar pagar a hospedagem, o avô se recusou a cobrar. O animal era de cor marrom, pelo ralo e olhos mansos. Virou montaria de intrépidos cavaleiros e amazonas, passava  os dias pastando a grama que crescia verdinha, ali em volta da casa. Deram-lhe o nome de Burrim Véi.     
A menina começou a protegê-lo, tão manso e indefeso parecia ser. Até convenceu o avô a construir um cocho, onde depois dos passeios pelos pastos, o deixavam ficar comendo farta e sossegadamente o milho, as canas e até cenouras que as crianças traziam da horta.
Dizem que os burros têm mais intuição que os cavalos, principalmente para distinguir o perigo, em estrada molhada, para descer morro e até para atravessar rio, o burro é mais garantido. Nas férias de final do ano a menina foi a primeira a chegar, procurou no gramado onde o burrinho ficava  e não o encontrou. Com o coração apertado perguntou ao avô:
—Cadê o Burrim Véi, vovô?
O avô nunca mentia para os netos e com semblante triste contou:
—Seu tio vendeu ele...
—Vovô, cumé qui o sinhor teve corage de deixá vendê ele? Por
quê?
—Ieu num dexei minha fia, sabia qui ocêis tinha amor nele. Foi seu tio qui vendeu no dia qui o vô num tava im casa.
O tio apareceu e sem um pingo de dó foi logo dizendo aos sobrinhos:
— O burro véi docêis, uma hora dessas já virô salame. Oia as butina novinha qui ieu comprei com os cobre.
A menina chorou sem parar. Se recusava olhar para o tio, não falava com ele. Não pedia mais a benção. Era seu inimigo. Não gostava nem de ver as roupas dele no varal. Um dia o tio ficou doente e quase morreu.    . 
O avô pegou a neta pela mão e  levou-a até o tio. Ela  olhou-o  e saiu do quarto correndo. Sentia um mal estar enorme diante dele, uma coisa inexplicável.
Depois de algum tempo a convenceram voltar a falar com o tio. A benção ela tomou de longe, com medo que ele  morresse. Não disse mais nada. Sua presença a magoava, isso durou anos.
A cicatriz ficou, apesar de o tempo ter se encarregado de amenizar, fazer doer menos.
Restou a saudade do Burrim Véi... Em volta da casa a grama cresceu. 



Autora: Maria Mineira - São Roque de Minas/MG


Página da autora:

       http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=86838

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quinta-feira, 20 de junho de 2013

Minha terra natal

Autor:  João Batista Stabile

Antes de começar o texto, quero deixar claro que não sou contra a evolução dos tempos nem tampouco contra o avanço tecnológico, apenas tenho saudades dos tempos que vivi com minha família e meus amigos, uma vida simples e saudável na zona rural.          
A humanidade está em constante evolução, é natural que seja assim a tecnologia também, e tem facilitado muito a vida moderna em todos os sentidos em contra partida tem gerado problemas de difícil solução que se não for resolvido poderá comprometer seriamente a vida de todas as espécies no planeta, a questão ambiental como o aquecimento global, o lixo, o esgoto  e outros mais.
Dentre tantos fatores que mudaram completamente a nossa vida, vou citar apenas um, a televisão.
Minha infância na fazenda até inicio da década de 1970, ninguém tinha televisão, as pessoas chegavam a tarde da roça tomava um banho de bacia, chuveiro de balde  ou em alguns casos apenas (si lavava), jantava ouvia radio AM eu me lembro que tínhamos um velho radio de caixa de madeira que pegava muito bem rádios de São Paulo e de  outros estados, deve ser porque naquele tempo tinha poucas rádios, não havia tantos sinais, ouvíamos programas sertanejos.
Na colônia que eu morava, quase todas as noites o pessoal reuniam-se num gramado em frente, cada um levava um saco de estopa vazio para sentar. Os adultos homens e mulheres conversavam contavam casos e as crianças brincavam, até no máximo  nove horas da noite horário que o fiscal batia o sino nove badaladas que significava silencio, somente aos sábados e vésperas de dias santos isto é que ninguém trabalharia no outro dia aí o sino não tocava e teoricamente havia liberdade para entretenimento até mais tarde.
Já que falei em sino, vou contar algumas coisas sobre isso. Havia antigamente nas fazendas um sino que ficava geralmente junto à casa do fiscal, este servia para a comunicação com todos os empregados, pois quando soava  ouvia-se em qualquer lugar que tivesse da área habitada ou seja das colônias, além de avisar que era hora  de ir descansar (não era obrigatório e sim simbólico) para o trabalho no outro dia,  servia também como sinal de alerta que era usado em caso de incêndio em qualquer parte da fazenda.   
Lembro-me quando criança de ouvir-mos à noite o sino tocar aceleradamente, às vezes estávamos já deitados, mas todos sabiam o que significava. Meu pai levantava vestia uma roupa, calçava o sapatão de  serviço, pegava uma ferramenta, enxada ou foice ou as duas e saia.
Minha mãe e nós meus irmãos e eu saiamos na porta da casa e já víamos os outros homens da mesma forma saindo de suas casas para cumprir o dever de todos que era independente do dia ou da hora dirigir-se imediatamente ao local do incêndio, que dependendo da distancia de casa dava para ver o clarão das chamas, às vezes era longe porque a fazenda era grande ou então era em outra fazenda  pois o dono tinha outras fazendas da região.
Depois quando eu já era jovem tive a oportunidade de participar destas tarefas algumas vezes.
Sempre tinha uma ou duas vezes ao mês terço em alguma casa a noite, fora aqueles em dias de festa, por promessa ou para agradecimento  a algum santo. Aos sábados ocasionalmente tinha um bailinho em alguma casa da colônia, onde colocava uma vitrola que chamávamos  de sonata  com alguns discos antigos e o povo dançava homens e mulheres, rapazes e moças.
Nestas ocasiões sempre circulava um litro de pinga com uma xícara de louça para os homens tomar um traguinho. Era gostoso e havia respeito era um ambiente familiar, os jovens aproveitavam para namorar. A dança ia até aproximadamente duas ou três  horas da madrugada nunca mais que isso.
Outro costume que havia, e esse eu já jovem fiz muitas vezes, era aos sábados jogar truco, em quatro ou seis pessoas, aqui também sempre estava presente  o litro de pinga com a xícara de louça, que ficava no pé da mesa ao alcance do dono da casa que de vez em quando parava o jogo para uma rodada de pinga.
Outra coisa que era comum não só nas fazendas mas também na cidade, era os homens fumar, não se tinha consciência dos malefícios do tabaco, os meninos começavam a fumar muito cedo, foi o caso do meu irmão e eu. Então quando íamos jogar truco, já fazíamos um cigarro de fumo de corda e palha de milho já bem grande para não perder tempo fazendo depois que começava o jogo.
Esse jogo começava sempre após a janta, por volta das oito horas da noite e  ia até aproximadamente duas ou três horas da madrugada.
Aos domingos muitos iam à cidade, que chamávamos simplesmente de (vila), alguns iam a missa como meu pai e eu ia muitas vezes com ele, os jovens ficavam passeando no jardim em frente a igreja paquerando, os mais velhos conversando, sempre encontravam algum amigo que morava em outra fazenda, ficávamos até umas dez horas ou pouco mais e depois íamos embora.
Com a entrada das televisões na década de 70 nas colônias, os costumes foram aos poucos mudando, como era novidade todos ficavam ansiosos para assistir aos programas, novelas, filmes e infelizmente as famílias e vizinhos já quase não se reuniam mais para bater papo, mas para assistir televisão.
Os terços, bailinhos e jogo de truco continuaram ainda, mas tornaram-se mais raros.
Com a decadência da cafeicultura na região no final desta década, aos poucos as famílias foram mudando para a cidade, nós também mudamos em 1982, depois de mais alguns anos já não havia mais lavoura de café na fazenda, apenas gado.
Mais para frente à fazenda foi dividida, parte  ficou para um herdeiro do velho fazendeiro e a parte que ficava a sede e tudo ao em torno e as colônias foi vendida.
Hoje já não existe mais nada, a sede foi transformada não tem mais o terreirão, o secador e a máquina de beneficiar  café, também não tem o rancho das carroças e dos carros de boi com suas mangueiras para os animais.
Das colônias não se vê nem vestígios, quem passar por lá nem imagina que naquele local havia três colônias grandes que viviam ali muitas famílias.
Quantas histórias de vidas de felicidades e tristezas, como eu quantas pessoas  lá nasceram e foram criadas, muitos vieram de fora passaram um tempo e foram embora novamente, alguns lá morreram.
De tudo isso como eu já disse antes não há nem sinal, existe apenas na lembrança daqueles que viveram, amaram como eu, aquele pedaço de chão, minha terra natal.

Autor: João Batista Stabile - Marília/SP

http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=111693

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