segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Falando de igualdade

Há alguns anos atrás no  sepultamento de um amigo da família eu estava junto ao túmulo do morto, quando observei quatro sacos de lixo, desses de cor preta,  no chão.Curiosa perguntei para o coveiro o que era. Ele me respondeu que eram os ossos dos  parentes do falecido. Agora já é pó dona, disse o  homem.Mais curiosa ainda, peguei um dos sacos para ter a percepção do peso. Muito leve, quase nada, talvez menos de meio quilo. Confesso, aquilo foi um choque! Jamais havia tomado consciência do preceito bíblico que diz: do pó viemos e ao pó voltaremos. Ali, naqueles sacos de lixo, estava tudo o que restara  de pessoas que haviam sido bonitas, ricas, talentosas amadas e bem sucedidas na vida...E será tudo o que restará de todos nós, sejamos brancos, negros, pardos, mulatos etc... Ou ainda, ricos, pobres ou remediados.
Quero acreditar que o corpo físico tem no pó a sua redutibilidade, mas que deve existir algo alem desse pó.Ocorre-me que por conta de irmos todos ao pó, não haveria porque ser solidário,
participativo, tolerante, idealista. Afinal para quê? E ai volto a uma questão que me é presente todos os dias da minha vida: meu corpo é a forma mais bem acabada da existência de uma inteligência superior, que para mim é Deus.Essa perfeição está presente em todos os nossos irmãos, sejam eles de qualquer cor, raça ou religião e por isso me pergunto: porque o preconceito,   a intolerância, o ódio racial,  a ganância, a violência e a lei do olho por olho, dente por dente?
É só pensar que é lá, naquele saco de lixo que está a essência da igualdade humana! Do pó viemos e ao pó voltaremos!

Autora: Conceição Gomes - Curitiba/PR

Página da autora:

http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=54344

domingo, 28 de setembro de 2014

Neblina - Autor: Gerson Carvalho Silva

O ônibus chegou no horário de sempre. Preciso. O motorista era o mesmo,  assim como a maioria dos passageiros. A novidade era a neblina bastante intensa naquela manhã. A viagem até o trabalho de Gilberto, era a mesma rotina de sempre.

Entretanto, algo estava estranho. Ele jamais dormia em transporte público. Ainda mais agora que conseguira mais um emprego, o quinto em dois anos. Depois do acidente que o deixara em coma por quase dois meses, ele jamais fora o mesmo. Sua capacidade de raciocínio não era a mesma. A cada novo emprego, uma função mais simples. Era que era economista por formação, agora organizava o estoque de uma pequena empresa de cosméticos. Estivera internado em clínicas para resolver seus surtos de ausências. Clínicas que em sua opinião não passavam de novas versões dos antigos sanatórios. O sono foi chegando, pesado, irresistível. Tentou não dormir, tinha medo de chegar atrasado e perder novamente o emprego. Não conseguiu. Dormiu.

Ao acordar não reconheceu o lugar onde o ônibus parara. A neblina cada vez mais densa. O motorista não mais estava. Ninguém estava. Desceu. Andou pela rua quase sem visibilidade alguma até avistar um lugar iluminado. Era um pequeno bar. Entrou e pediu um café ao homem gordo atrás do balcão. Olhou ao redor e estranhou a clientela. Estavam fantasiados para o carnaval: um Pierrô, um Arlequim e na outra mesa vários Bate-bolas (Clóvis).

Ao servir o café o balconista disse o preço. Gilberto procurou pela carteira e não a encontrou. Ficou sem graça. O homem gordo jogou o café na pia e lavou o copo. Gilberto envergonhado já ia se retirar do bar, quando uma Colombina e uma bailarina entraram e levaram consigo o Pierrô e o Arlequim. Está parecendo folhetim barato, pensou ele. Mal estes pensamentos lhe atravessaram a mente. Ele estremeceu. Na saída do bar os Bate-bolas o cercaram e começaram a agredi-lo com suas barulhentas bolas. Cercado e desnorteado não sabia o que fazer. Foi salvo por um homem de enormes bigodes, portando um bumbo, que provocou a dispersão dos Bate-bolas e que se apresentou como Zé Pereira, a seu dispor. Saiu cantando e batendo seu bumbo:

O Pierrô apaixonado, que vivia só cantando,
Por causa de uma Colombina, acabou chorando... 
 
Passou um bloco. Todos cantam e dançam.

Quanto riso, oh! Quanta alegria.
Mais de mil palhaços no salão...

De repente, gritaria. Um palhaço se suicidara no meio da rua. Gente ao redor do cadáver. Alguém pegou a arma.

- É de brinquedo! Afirmou.

O palhaço suicida, então, levantou-se deu uma bela gargalhada e saiu cantando:

Alegria de palhaço é ver o circo pegar fogo...

Sumiu na neblina e bloco avançou até desaparecer da visão de Gilberto, que ficou pensando: é carnaval? Não me lembro. Tentou voltar ao local onde o ônibus estava. Não o encontrou. Lá estava uma menina cantando uma cantiga de roda. Aproximou-se e perguntou:

- Onde está o ônibus?

-Não sei. Foi embora o moço levou.

- Para onde, perguntou Gilberto.

- Sei lá, como vou saber? Saiu pulando e cantando Ciranda, cirandinha.

E agora, onde estou? Parece um dessas cidadezinhas onde há carnaval de rua. Mas é carnaval? Seus pensamentos começaram dar lugar ao medo. Seria uma alucinação? Tivera algumas, até ser internado. Sentou um leve torpor veio chegando.

- Cavalheiro, disse uma voz. O senhor está bem?

- Não sei. Onde estou? Não obtendo resposta.

- Vamos leva-lo até a delegacia. Ele não está falando coisa com coisa.

Na delegacia uma moça parecida com Lúcia, sua antiga namorada fez uma série de perguntas. Ele nunca soube o que respondeu.

A moça parecida com Lúcia disse que ele não parava de citar personagens do carnaval e que estavam em Setembro. Falara de um ônibus que o abandonara em uma cidadezinha, não sabia qual. Ela só não sabia explicar a grande quantidade de confete e serpentina que estavam em seu cabelo e no bolso do paletó. Tentaram em vão encontrar sua família e acabaram por encaminhá-lo ao Centro de Atendimento a Problemas Mentais. Ficou internado por algum tempo e, sem lugar para ir, não se lembrava, passou a morar nas ruas. Passou a ser conhecido como o maluco que tocava um tambor de lata e dizia ser o novo Zé Pereira...

Autor: Gerson Carvalho - Santo André S/P

sábado, 27 de setembro de 2014

Viver como casal é um carro em movimento

Autor: Carlos Costa

Casamento é contrato comercial infinito, regido pelo interesse do casal que busca perpetuar a espécie (O HOMEM DA ROSA, de Carlos Costa)

Dedicado a minha esposa Yara Queiroz, pelos nossos 17 anos de casamento.
Viver como um casal, é como se fosse um automóvel em movimento, enfrentando um trânsito pesado em uma autoestrada. É possível se chegar ao final do percurso sem atropelos, mas será difícil e exigirá muita atenção e muito cuidado do condutor para não atropelar alguém e nem ser atropelado por outro carro dirigido por motorista imprudente, talvez inebriado por novas experiências fúteis e inúteis!

Viver a dois, não é nada fácil, mas é possível. Como automóvel em movimento em uma autoestrada bem asfaltada, perigosa exigirá sempre de muito cuidado, atenção, correção de rumos, sempre respeitando a sinalização da pista, freando quando  necessário, correndo quando permitido, enfrentando sol e chuva, permitindo passagens aos mais velozes, desviando-se de buracos que sempre existirão em uma relação e evitando cair dentro deles. O carro pode quebrar na via, o guarda poderá multar, mas o importante e chegar a um final feliz, com todos os passageiros vivos.

Um carro pode ser trocado, mas na vida a dois é preferível uma boa revisão do que a troca. Mas quando é inevitável, a troca pode ser feita antes do desgaste das peças para poder seguir em frente porque nem sempre o carro que se adquire é o que desejávamos comprar. Falhas existem também na escolha de parceiros. Errar é permitido, permanecer no erro é burrice!

O convívio a dois, precisa sempre ser revisado, tal qual um carro em movimento. A elevada velocidade ou a lentidão excessiva são um perigo: pode-se sofrer um acidente ou atropelar alguém e tudo precisa funcionar como se fosse uma engrenagem perfeita para continuar sempre justa, lubrificada para continuar exercendo sua função com perfeição. Existirão consertos que necessitarão de reparos no decorrer da viagem, como um pneu furado, uma olhada pelo retrovisor, uma ultrapassagem em local proibido. Olhar para o lado, rapidamente, para ver pelo retrovisor, é permitido, mas precisa ter cuidado.

A vida a dois é como se fosse uma estrada bonita, longa, bem asfaltada, mas muito perigosa, sem acostamento, com placas furadas por tiros, outras nem sempre visíveis, escondidas pelo mato das rodovias e quase sem sinalização adequada, qualquer descuido poderá ser fatal. Pode-se cair em um barranco, quebrar para sempre o automóvel ou pode-se sair do carro ou permanecer dentro dele, dependendo de atitudes que tomamos para corrigir os rumos de uma relação a dois. Mas como em uma estrada, viver o casamento tem que passar por uma profunda revisão, onde deverão ser verificados o nível de óleo do motor, o nível de água, os limpadores de para brisas, extintor de incêndios, estepe e a parte elétrica para evitar incêndios no decorrer da viagem. O casamento tem que permitir passagem a outro automóvel que esteja andando mais veloz que o casal, respeitando a e aceitando a individualidade e a velocidade de quem tem pressa e não invadindo o direito de ultrapassagem do outro, para não estragar a engrenagem, sofrer um acidente. O automóvel, como o casal,  precisa ser constantemente reajustado, lubrificado e poder evitar os desgaste do tempo e não deixar que a vida se transforme em uma monotonia total. Se ocorreram – e sempre ocorrem, nunca se deixar abater ou se inferiorizar diante da troca. Paciência! Sinta-se forte e determinada porque os frutos do produto que estão sendo transportados no automóvel não podem ser estragados.

O carro pode chegar ao fim da estrada, velho ou parar pelo caminho ainda novo, fazer uma revisão e voltar à estrada novamente, mais seguro do que deseja fazer em sua nova viagem perigosa. Com tempo, aprende-se que a vida não gira em torno dos desejos individuais, mas das vontades e de um querer melhor para o outro. Na vida a dois, temos que vivê-la como permite que a vivamos, nos esforçando sempre para sermos cada vez melhores para os outros e para nós mesmos. Isso é totalmente possível com muito amor, entrega e respeito.

Na vida a dois, temos que transformá-la em uma constante vida de aprendizado, lubrificando cada peça, não permitindo que as fricções do tempo e as desavenças naturais permitam que desgastem, sofrendo rupturas e problemas irreparáveis. Sempre devemos recuperar a peça defeituosa antes que ela se quebre e se torne irrecuperável. É, portanto, um aprendizado constante, uma lubrificação permanente para que a peça da engrenagem que se chama casal não se desgaste pelas fricções do tempo ou pelas desavenças naturais que ocorrem. Viver a dois, é difícil, mas é possível! O que precisa ser entendido, compreendido e aceito por todos é que tudo pode acontecer de bom ou de ruim em uma relação a dois: ou se chega ao final da estrada ou se recomeça tudo de novo, desde o início. Me desviei da estrada uma vez, quis experimentar outro veículo mais novo, mas me arrependi porque nunca deve-se trocar um carro que já se conhece por um outro que ainda será conhecido e que logo poderá apresentar defeitos. 

Os filhos nascem, crescem, ganham asas, constroem seus próprios ninhos e passam a dirigir seus próprios carros, continuando um aprendizado que receberam. Não importa o tipo ou a marca do carro: o que é importa que tenha direção defensiva e ofensiva, quando estiver na estrada. Defensiva para prever os riscos e se defender dos outros; ofensiva, para gozar a vida intensamente, superando os riscos de se viver como um casal que se ama e que se quer bem!

Autor: Carlos Costa - Manaus/AM

Publicação autorizada pelo autor através de e-mail.

Título vencedor: Gandavos - Um bicho para chamar de meu

(azul cobalto)

As informações contidas na capa acima (título e autores) são apenas ilustrativas, referem-se ao livro anterior Gandavos 4

Votação:

Opção: 10 Um bicho para chamar de meu 
(Título sugerido por Maria Mineira)

Votaram:  Maria Mineira; Conceição Gomes; Flávio Fernandes; Ana Bailune; Nêodo Ambrósio de Castro; Michele Calliari Marchese; Lediene Nunes e Felipe Augusto F dos Santos.



terça-feira, 16 de setembro de 2014

Lançamento: Histórias de Uma Vida



Tenho em mãos, o livro do meu amigo Nêodo Ambrósio de Castro: “Histórias de Uma Vida.” A obra apresenta contos do cotidiano que nos remete a uma atmosfera rica e saudosista, histórias que podem acontecer a qualquer um de nós. Como disse Maria Santino, na contracapa: ¨A linguagem é de fácil assimilação, a narrativa fluída, e as descrições dos cenários nos colocam instantaneamente no universo dos personagens, que transitam em ambientes desde o mais humilde, como uma cidadezinha rural, à correria de uma grande metrópole¨.

Nêodo, além de ser um grande escritor é membro ativo da família Gandavos, é colaborador do Blog desde o início e tem participado com frequência das publicações.

Por mim, recebi com alegria o convite do amigo para ler em primeira mão os originais do livro. Assim, pude antes do público leitor, encantar-me com o universo da criação desse grande mestre da literatura brasileira.

Carlos A Lopes

O mais novo livro de Geraldinho do Engenho: A MULHER NO TEMPO DOS CORONÉIS



¨Sujeito sábio, com ar tranquilo, paciente, vivido. Um mineiro escritor de histórias, que sabe registrar a cultura de um povo, entoando os seus causos, contos e poesias com calma, respeito e mansidão. Conhece a vida das cidades, mas sua origem sertaneja o envolve deixando transparecer em seus textos, as crenças, hábitos, modos de agir do povo de Minas Gerais... Esse é o meu amigo Geraldinho do Engenho¨.


sábado, 13 de setembro de 2014

Vamos escolher o título do livro?

Já temos a ilustração da capa do livro Gandavos 5; também escolhemos a cor azul cobalto para capa... Só falta o título. Vamos votar até o dia 25/09/2014, e definir qual entre as opções abaixo será o desejo da maioria. Ah! Até o dia 18/09/2014, você pode incluir outras opções... Sugira e vote comentando nesta matéria, ou no endereço: gandavos@hotmail.com. IMPORTANTE: ANTES DE VOTAR, CONSULTE A RELAÇÃO ATUALIZADA NO BLOG (caso tenha recebido o convite através de e-mail).

Título 1  - Gandavos – Rabo de gato e olho de cão
Título 2 - Gandavos - Amor desinteressado
Título 3 - Gandavos – Quem ama quem? 
Título 4 - Gandavos – "É o bicho!"
Título 5 - Gandavos –  HumANIMAL
Título 6 - Gandavos – O homem e seus bichos
Título 7 - Gandavos – Histórias Animais
Título 8 - Gandavos – Uma questão de estimação
Título 9 - Gandavos – Nós e eles: Todos somos animais
Título 10 - Gandavos – Um bicho para chamar de meu
Título 11 - Gandavos – Soltando o verbo e os bichos
Título 12 - Gandavos – Os humanos e seus animais
Título 13 - Gandavos – Animais de estimação
Título 14 - Gandavos – Ração e Emoção
Título 15 - Gandavos - Contando histórias de animais
16 - Quatro patas e um amor
17 - Queridos quadrúpedes
18 - Encantadores de animais
19 - Alados amados e queridos quadrúpedes


Votaram:

Opção 02 - Nadir Alves;

Opção 03 - José Bueno Lima;

Opção 04 - Adriane Morais; Marina Alves; Denise Coimbra; Alice Gomes;

Opção 07 - Carlos Costa;

 Opção 08 - Tati Auad Lemos; Helena Frenzel; Paulo Sérgio; Celêdian Assis de Sousa;

Opção 09 - Gerson Carvalho Silva; Alberto Vasconcelos;

Opção: 10 - Maria Mineira; Conceição Gomes; Flávio Fernandes;Ana Bailune; Nêodo Ambrósio de Castro; Michele Calliari Marchese; Lediene Nunes; Felipe Augusto F dos Santos;

Opção 13 - Nancy Gonçalves Dias;

Opção 15 - Jussara Burgos; Patricia Celeste Lopes;

Opção 18 - Willes S. Geaquinto



sexta-feira, 12 de setembro de 2014

A partida

O passeio estava perfeito. Os dois casais estavam num carro conversível, com a capota aberta. Dinah estava de joelhos no banco de trás, cabelos ao vento, embevecida pela paisagem da estrada ladeada  de  manacás floridos, com as folhas douradas banhadas pelo sol da manhã.. De repente, surgido do meio da mata,  um garoto tenta atravessar para o outro lado, sem dar a mínima atenção para  o veículo. Augusto, o motorista freia violentamente para evitar o choque. Dinah é projetada para fora do carro a vários metros de distancia e seu corpo fica estendido no asfalto, morto. E então,  acontece o inusitado.Ela  sai de seu corpo  sem vida e observa  o aglomerado  de  curiosos querendo  ver de perto o acidente.Vê  o seu corpo e o desespero dos amigos. Consola-os,  mas eles não a ouvem. De repente, uma mulher vestida de branco, de rosto translúcido aproxima-se, toma- lhe e mão  e diz: venha comigo, vou levá-la para seu novo lar.Dinah deixa-se levar  por alamedas floridas em direção a um bosque iluminado por uma luz  azul, onde várias pessoas  caminhavam tranquilamente. A mulher mostra  a Dinah sua nova casa.Encanta-lhe o lago de águas cristalinas e a ponte que tem de atravessar para   chegar até lá. Dinah sabe que está morta, mas está calma, em paz. Isto é o céu? Pergunta Dinah. Digamos que seja, responde a mulher de branco. Aqui é a eternidade, a sua nova vida.

Autora: Conceição Gomes - Curitiba/PR

Página da autora:

http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=54344


Obs: baseado em um sonho   tido há alguns anos.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Texto: 48 (do concurso) - O vira do Moretti

Estávamos na fazenda de um amigo, em Trabiju, interior de São Paulo. Éramos em vinte amigos. Entre outros passatempos, o costume é nos reunirmos ao redor de mesas situadas no galpão da piscina, para os bate-papos. Sobre música, cinema, esportes, política...Menos negócios!
O Moretti, médico cirurgião plástico, recuperado de sérios problemas de saúde, mineiro de Lavras, voltava ao nosso convívio, demonstrando não ter perdido sua enorme veia humorística, sempre contando casos com finais inesperados. Toda sua conversa tem início que prende o ouvinte. O final...!
Naquela ocasião, o assunto girava em torno de animais domésticos, quando ele lembrou-se do vira, nome vulgar do pássaro preto, que vivia em sua casa em Lavras. Domesticado, a gaiola tinha sua porta sempre aberta, e a ave circulava livre pela casa, voltando somente para comer e dormir. O Moretti nutria verdadeira paixão por ele. Tinha-o sempre em seu ombro.
Num determinado dia, estando o Moretti ausente, ao voltar para a casa vindo da fazenda, encontrou a gaiola no chão, e o vira deitado com uma das pernas fraturada. Estava vivo! Provavelmente, obra do gato que vez ou outra circulava pelo pedaço, e que por algum motivo não teve tempo de comê-lo. Não havendo outro material disponível, pegou dois palitos de fósforo da caixa sobre o fogão, partiu-os ao meio, e com linha fina, fez uma tala no membro fraturado da ave. Trabalho perfeito, dada a sua habilidade como cirurgião. Com o passar do tempo, o vira começou a executar breves voos, e dar alguns passinhos sobre a mesa da cozinha.
Feliz, a ave passou até a cantar, atraindo uma fêmea, e assim ambos ensaiavam uma dança.
Numa tarde, ao chegar, o Moretti encontrou seu amigo assadinho! Não é que o vira ao dar determinado passo, as cabeças de fósforo se tocaram em fricção, produzindo uma faísca de fogo. Palitos em chamas causaram a morte do bichinho, com queimaduras de terceiro grau em todo corpo.
Restou-nos uma sonora gargalhada! Só o Moretti mesmo!
Pena que, hoje, infelizmente, ele não encontra mais entre nós!

domingo, 7 de setembro de 2014

Regulamento do Concurso

1.             Objetivo do concurso

Incentivar a leitura, recompensar autores e publicar em livros de papel, os melhores textos.
            ¨Os animais não são enfeites, eles percebem o que sentimos. Deles, não conseguimos esconder nossas emoções...¨ 

            a) A nossa intenção ao lançar esse desafio é homenagear um ser especial que fez ou faz parte de nossas vidas, marcando de verdade o nosso coração: Eles, os animais! Relatar histórias que priorizem o convívio entre o homem e o animal, relevando o envolvimento afetivo presente em tal relação. Os textos deverão conterpelo menos um personagem do reino animal, mesmo que este animal não seja o protagonista da história, porém há de ter papel relevante no contexto, abordando uma relação de amor, carinho ou de convivência no cotidiano.

b) A participação do autor não o obriga pela aceitação do seu texto, quando da publicação do livro, uma vez que os livros editados no Blog são custeados pelos próprios autores.
c): O Blog Gandavos não detém fonte de renda (nem deseja ter), tampouco recebe incentivos financeiros de instituições de quaisquer natureza, daí só ofertar pequenos incentivos como premiação.
2.  Quem pode participar

Autores do Blog Gandavos e convidados dos mesmos.
3. Quantidade de texto permitida:

           Até 03 (três textos), por autor.
4.  Critério de escolha dos vencedores/Votação

4.1 Cada autor deverá votar e ser votado em todos os textos, sob pena de desclassificação, dando-lhes pontuação de 1 a 10, exceto no seu próprio texto. Serão vencedores os textos que obtiverem maior pontuação.
4.2 No caso de um autor vencer com mais de um texto (no primeiro e segundo lugar), o texto de menor pontuação (deste autor) será considerado o terceiro colocado e o texto subsequente será considerado o segundo lugar do concurso.
4.2   No caso de empate:

Para o desempate será utilizado um concurso de loteria a nível nacional.
4.3   Quem poderá votar:

           Os autores e os avaliadores convidados. Tal os autores, os julgadores convidados darão o mesmo tratamento dos autores, ou seja, dando-lhes notas de 01 a 10, a cada texto. No entanto, cada julgador convidado se limita a julgar apenas 10 textos.
           Importante:

          Alguns pontos que podem servir como critérios no momento da avaliação de um texto:  

a)      Aspectos técnicos
Os aspectos técnicos incluem ortografia, gramática, estrutura de frases, pontuação.
b) Originalidade e criatividade.
Um texto original, criativo, é aquele que reflete o estilo e a visão do autor de maneira vívida. Mesmo que um novo autor inspire-se em um escritor renomado, ainda assim, ele deve colocar o próprio toque original nas histórias.
c) Enredo e temas
Observar se a trama é convincente e em que proporção ela carrega o leitor para o mundo da história. Avaliar também se a história traz os elementos do suspense, se é convincente, excitante ou emocionalmente comovente, dependendo dos temas.
d) Desfecho
Avaliar como a história termina, se o leitor atento entende por que está terminando naquele momento. Mesmo que um texto inclua pouca coisa da forma de ação tradicional, o seu desfecho deve sinalizar uma mudança de algum tipo no personagem principal, uma mudança de consciência ou um aprofundamento que deixe o leitor sob a impressão da leitura, pensando nela, refletindo sobre ela.
5.     Hospedagem dos textos no Blog

Os textos serão hospedados no blog Gandavos, identificados apenas pelo título e número. Importante: COMENTÁRIOS OFENSIVOS AOS AUTORES DE TEXTOS serão excluídos tão logo percebidos.
6.      Resultado 

Período do envio de textos -  De 16/05 a 30/09/2014
Período de votação - De 01 a 15/10/2014.
Divulgação do resultado: Dia 17/10/2014.
7.      Premiação

Primeiro lugar: Publicação do texto no livro GANDAVOS, cujos trabalhos deverão ser iniciados ainda em 2014 e públicado em 2015; o vencedor receberá 20 exemplares e pequenas lembranças da cultura pernambucana (camisa, chaveiro, artesanato, etc).
Segundo lugar: Publicação do texto no livro GANDAVOS, cujos trabalhos deverão ser iniciados ainda em 2014 e públicado em 2015; o vencedor receberá 15 exemplares e pequenas lembranças da cultura pernambucana (camisa, chaveiro, artesanato, etc).
8.             Outras disposições: Os casos não previstos por este regulamento serão resolvidos pelo Coordenador do projeto. A inscrição implicará, por parte do concorrente, a aceitação dos termos do presente regulamento, bem como a cessão, sem ônus, dos direitos autorais dos trabalhos inscritos, para eventual publicação, até 08 (oito) anos após o encerramento do concurso.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Texto: 59 - (do concurso) - Selva de luto

Ariel morreu. O bom Ariel. Dentre os filhos de mamãe Geyse era o mais comportado. Obediente, o melhor parceiro dela. Auxiliava-a em todos afazeres. Dificilmente se afastava dela. Não era dado a aventuras, como seus irmãos, que desde a mais tenra idade, já apresentavam os dotes de caçadores em busca da subsistência.

Essa situação fez com que virasse uma espécie de vítima dos demais habitantes do lugar. Uns o taxavam de tímido, outros de gay. O fato é que ele trazia algo de diferente em seu modo de viver.

Na verdade, Ariel não deveria ter nascido leão. Jamais sentaria no trono de “rei das selvas”. Sua vinda ao mundo nessa condição, foi um mero acaso. Sua índole era de um ser que só deveria fazer o bem. Daqueles seres, como alguns humanos, enviados para cumprir um papel do bem. Ser igual a um membro de entidade religiosa voltada para os trabalhos catequéticos, voluntários, missionários, nas comunidades nativas mais afastadas da civilização.

Além de tudo, o quê de ruim a natureza lhe premiou, foi ele ser desprovido de boa saúde. Vivia necessitando dos cuidados de veterinários. Ora problemas respiratórios, ora gástricos, sempre estava em tratamento.

Agora Geyse não pode mais desfrutar da companhia de seu filho amado, que não mais aguentando tanto sofrimento, partiu para o lugar onde moram os bons, deixando uma saudade imensa em todos aqueles que gozaram de sua companhia tão gostosa!

Descanse em paz, Ariel!

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Texto: 47 - (do concurso) - Chico e Bento na Pedra Branca

Trabiju, município paulista, fica a uns trezentos e poucos quilômetros da capital, oriundo da separação de Boa Esperança do Sul, do sul para não ser confundida com a homônima mineira. Em suas verdejantes paisagens, está localizada a Fazenda Pedra Branca, digna de cinema, devido às suas belezas naturais e às mãos e bom gosto de seus proprietários.
Ali viveram Chico, um cocker spaniel e Bento, um labrador. Toninho e Ana, caseiros da fazenda, tinham a companhia deles o dia inteiro, sendo testemunhas das algazarras e peraltices que eles promoviam nos arredores da casa onde moram. Ora correndo atrás das angolas, ora querendo alcançar o papagaio Loro, que ensinado pela Cíntia, filha do casal, entoa o hino nacional, e vive chamando o pessoal da casa pelo nome. Até as seriemas, presença diária nos arredores, se deliciando com as macadâmias que a menina acostumou a lhes dar, eram sempre acossadas pelos dois cães. Eles não davam sossego para ninguém. Eram da paz. Todavia, desconhecidos que se cuidassem, pois, aí, eles avançavam para morder.
Um grupo de velhos amigos liderado pelo dono da fazenda, costuma passar certos finais de semana do ano, no paradisíaco lugar.
Sempre o Chico e o Bento recebiam essa turma com muita alegria, pois todos já eram seus conhecidos. Para os filhos, netos, sobrinhos e até os adultos parentes dos donos, então, os dois tornaram-se como partes da família, pela maneira carinhosa com que se tratavam uns aos outros.
Certa ocasião, o Chico sumiu, ninguém tendo a mínima noção de onde estaria o safado do cachorro. Ficou vários dias ausente, todos pensando: será que ele morreu? Será que foi levado por alguém? Por fim, para a alegria geral, certo dia reapareceu como se nada tivesse acontecido. Provável que tenha sido levado por alguma paixão...! Quem sabe? Estava muito magro.
Passado um tempo, tornou ele a desaparecer. Dessa vez não teve retorno. Foi assim. Chico e Bento saíram pela noite, quiçá para uma caçada, ou em busca de uma aventura amorosa. Chico nunca mais voltou. Toninho, o caseiro, acha que ele foi morto por um animal selvagem, eis que, com certeza, ali eles existem, inclusive há nas imediações, um morro coberto por fechada vegetação. Verdadeira floresta. Volta e meia, um gato do mato deixa seus rastros. É uma hipótese não descartada. Outra hipótese, teria ele sido engolido pela sucuri que o caseiro abateu, tempos depois, lá pelos lados do açude. O fato é que ele nunca mais deu sinal de vida, para o desespero de todos os que com ele conviviam!
Com o Bento, também, aconteceu um fato interessante. Uma noite saiu para a costumeira caçada, tendo sido encontrado, no outro dia, com o focinho todo espetado, na certa ocasionado por uma luta com um ouriço. Grande sofrimento. Houve necessidade de ser anestesiado para a remoção dos espinhos.
Certa ocasião, um fazendeiro vizinho que possuía uma labradora, levou Bento com a finalidade de cruzamento. Nascendo alguns filhotes, um deles veio morar com o pai.
Ultimamente, notou-se uma queda de qualidade muito grande em sua saúde. A idade, já bem avançada, pesava-lhe, e, de fato, pouco depois Bento morreu.
Chico e Bento deixaram muita saudade em todos os que com eles conviveram na Fazenda Pedra Branca.