terça-feira, 29 de maio de 2012

A outra - Autora: Maria Olimpia

Quando eu era bem jovem era também muito fantasiosa. Eu não gostava nem um pouquinho de mim e por isso inventei outra para ser eu. A outra era tudo que uma adolescente podia sonhar: perfeita. Era linda, branquinha e cheia de sardas charmosas, com os cabelos avermelhados e olhos azuis como os de Elizabeth Taylor. Tinha nome e sobrenome, aliás um nome bem cafona para os meus padrões atuais. Criei para ela uma vida completa, tinha até uma casa maravilhosa, um carro esporte sem capota e uma grande paixão. Não era uma menina boboca como eu. Viajava pelo mundo inteiro, conhecia pessoas interessantes que faziam questão de sua amizade. Era só a vida ficar chata que ela aparecia, sem pedir licença, até que certa altura da vida ela se tornou tão presente que tive medo que me ofuscasse. Não que eu agisse como ela, minhas atitudes continuavam a ser as de uma roceirona caipira. No entanto dominava de tal forma os meus pensamentos que tive medo que ocupasse por inteiro o meu corpo e aí eu nem seria eu nem ela.E olha que naquele tempo eu nem sabia que pensamentos têm vida própria, como sei agora,e por isso cuido deles com cuidado.

Foi por isso que tive de matá-la. Não foi suicídio, mas assassinato mesmo. Como foi legítima defesa, nunca senti culpa, nem ninguém me condenou, pois se nem sabiam que ela existia como iriam saber que tinha morrido assassinada por mim? Mesmo assim o seu fantasma veio assombrar-me. Vi o filme As Barreiras do Amor, onde Michelle Pfeiffer, como a texana Lurene, vivia uma fantasia semelhante – ela fantasiava ser Jacqueline Kennedy e só parou com essa idéia obssecante quando sua própria vida se transformou em uma aventura. Eu não cheguei a tanto, nunca quis ser outra pessoa de verdade, inventei para mim uma pessoa perfeita, mas acabei dando cabo dela. Tive que fazer uma escolha entre ser eu ou ser outra e ser eu venceu. Como não estava satisfeita comigo tratei foi de transformar-me em uma eu melhorzinha. Não pela aparência, afinal nada como a juventude e seu viço. Mas pela alegria de viver e a certeza do poeta das múltiplas faces: tudo vale a pena quando a alma não é pequena.

Autora: Maria Olimpia Alves de Melo - Lavras/MG

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Publicação autorizada pela autora

domingo, 27 de maio de 2012

Dos nossos medos - Autora: Zélia Maria Freire

Existem tantas maneiras de sentir medo e muitas vezes ele se manifesta através da angustia, do pavor, da inquietação, temor e outras tantas formas inquietantes.

E o que dizer do medo que se passa a sentir de alguém? Há quem afirme que, quando estamos sentindo medo de alguém, provavelmente este alguém também está com medo de nós.

Li de Fábio Ferreira Balota, uma descrição sobre o medo, onde ele diz que o medo é o movimento fantasioso que a mente faz, na tentativa de repelir, de impedir que um acontecimento indesejável do passado ocorra novamente no futuro. Esta repulsão acaba por reforçar a lembrança da dor. É o apego a dor, apego a idéia da dor, da punição, da vergonha, da humilhação. Tal repulsão é o desejo, a expectativa, a ansiedade de que estas coisas não se repitam. Tal repulsão é o desespero para evitar que venhamos a sentir dor , que venhamos a sofrer. É o apego ao pior, ao ruim”.

E acrescenta: “ O medo nasce da comparação entre nossas ações e nossos conceitos, padrões e valores ou das comparações que fazemos entre nós e as outras pessoas o que na realidade também acaba por se remeter a nossos padrões, conceitos, valores, aos nossos julgamentos”.

Existe um outro conceito sobre o medo, que diz: “ O medo embota a mente. Impede-nos de agirmos de forma correta, de forma reta, impede-nos de falarmos diretamente e nos leva à mentira e à falsidade . “Com medo não podemos ser retos”.

Pelo jeito, tem medo para todos os gostos, mas que não é fácil senti-lo, ah, isso não é.




Autora: Zélia Maria Freire - Natal/RN

http://sentimentoszeliafreire.blogspot.com/

Publicação autorizada através de e-mail de 23/05/2012

quarta-feira, 23 de maio de 2012

God save the Euro - Autor: José Cláudio Cacá

Numa reunião entre uns vinte estavam presentes irresponsáveis, aventureiros, descontrolados, sobreviventes e também os desprovidos de recursos. Eles tinham uma única coisa em comum na pauta: eram todos pobres. Cada um dando seu jeito de, primeiramente, justificar a pobreza. Uns transferindo a culpa para os ricos, “aqueles egoístas”. Outros se lamuriando de que não conseguiam vender nada para quem tinha dinheiro, pois sempre queriam pagar menos do que o que seu produto valia. Havia os megalomaníacos, que diziam ser  seu endividamento causado por “aquelas grandes obras”, mas que ainda haveriam de dar um bom retorno algum dia. O objetivo era encontrar uma saída honrosa e em conjunto para a situação, seja ajudando-se uns aos outros, seja traçando metas comuns de agir. Esbarravam sempre nas resistências dos ricos em ajudar com empréstimos ou perdão das dívidas. Não houve nenhum acordo até que apareceu o Sr. Fundão, aquele que dizia ter uma procuração dos mais ricos do mundo para ajudar aos pobres a se manterem de pé. Chegou, olhou aquela bagunça de papeis amassados pelo chão, copinhos que descartavam por todos os lados, muita fumaceira de cigarro e já foi dando logo um aviso. “Primeiro, arrumem a casa, depois eu volto.” Voltou e já com tudo em seus devidos lugares impôs condições duríssimas para  fornecer ajuda. Ela viria em primeiro lugar com consultorias e com determinações rígidas em como gerir os poucos recursos (de preferência fazendo aquela famosa realocação, tirando de um lugar para colocar em outro mais carente). Por exemplo, falou para um homem mal arrumado à beça: você pode, em vez de usar esse terno caríssimo, um mais baratinho e , em compensação, comprar um sapato mais apresentável do que esse. Em vez de ostentar esse relógio de ouro (foi lá no braço conferir se era mesmo um rolex legítimo), pode usar daqueles que vem com um monte de pulseiras coloridas para variar e todos pensarem que é relógio novo. Depois disso tudo, aí, sim, nós emprestamos dinheiro novo ou perdoamos parte dos juros de quem cumprir tudinho à risca. Meio ensaiando alguns protestos, a reunião foi encerrada e o acordo assinado para os próximos seis meses (com acompanhamento quinzenal por uma equipe de metas do Sr Fundão).
Num outro lugar não muito distante, em outra ocasião não muito distante, estavam reunidos uns outros vinte com dificuldades financeiras - que eles preferem chamar de desajustes pontuais. Tinha lá até representante real, reinos unidos, parlamentos inteiros, gente graúda mesmo, dona de mais da metade da riqueza que circula pelo mundo afora. Tinha também irresponsáveis, megalomaníacos, descontrolados e aventureiros. Mas o comum entre eles é que eram todos ricos, muito ricos. Nunguém queria justificar nada, achando que não deviam dar satisfações do que fizeram com seu dinheiro. Sequer admitiam alguns de possuírem dívidas. Veio o Sr. Fundão dar palpite e quase é enxotado da reunião. Onde já se viu vir querer falar para os ricos que deve-se gastar assim e não assado? E ainda por cima, o Sr fundão era o próprio procurador deles mesmo. Quanta petulância!
Resolveriam eles mesmos e a seu modo como sempre foi depois que ficaram ricos. Antes até aceitavam ajuda de um certo Tio Sam. Mas ele agora também estava em sérias dificuldades.
O Fundo Monetário Internacional (FMI, aqui chamado de Sr Fundão) já mandou e desmandou no mundo chamado subdesenvolvido, agindo acintosamente com as economias pequenas e países pobres. Os Estados Unidos sempre controlaram-no junto com os europeus. Os EUA hoje estão “sem bala na agulha” como se diz no jargão das finanças quando alguém está sem dinheiro. Os europeus estão  tentando a todo custa salvar o Euro (sua moeda única). França e Alemanha lideram as tentativas de entendimento sob a resistência da Inglaterra( e todo o Reino Unido). Afinal eles já foram um império mas perderam o trono e  boa parte das jóias da coroa. Não estarei aqui para presenciar o desfecho mas isso não vai terminar bem. Nem EUA nem Europa. Na história os grandes impérios nunca caíram em situação de paz.
Autor: José Cláudio - Cacá - Belo Horizonte/MG
Publicação autorizada através de e-mail de 22/05/2012
Publicada originalmente no blog emquantos.blogspot.com

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Novos amores - Autor: Marcio Jr

Adolescência, fase adulta ou idosa. Não importa muito a idade quando o assunto é amor. Ele chega de vários jeitos, seja de mansinho, sem que o procuremos, ou num rompante estrondoso, tomando-nos totalmente despreparados. E nessa hora, o que menos importa é a idade.

Cada pessoa tem um jeito próprio de lidar com a paixão e o amor. Alguns fingem que nada está acontecendo, e resistem o máximo possível, mas pouco adianta. E quando se dão conta, já estão tomados por completo. Outros, no entanto, se entregam logo, ávidos por vivenciar as benesses que isso pode trazer. E assim a vida segue, com amores surgindo todos os dias. No entanto, os amores também acabam, cessando muitas vezes da mesma forma como começaram: de mansinho ou abruptamente.

Alguns defendem que “se o amor acabou, é porque nunca existiu”. Não pretendo entrar nesse mérito, mas sim no que diz respeito a amar novamente. Raramente, as relações amorosas terminam de forma tranquila, e num grande número de vezes, alguém absorve traumas profundos, e se sente receoso ou incapacitado para amar novamente. A amargura aparece e essas pessoas entristecem, fechando completamente as portas do coração para qualquer sentimento mais profundo que possam vir a sentir por alguém. E por quê? Pelo medo que sentem em se “ferir” de alguma forma num novo relacionamento.

No entanto, o amor não liga muito para isso, e do nada, ele brota novamente, seja nos corações mais abertos para ele, ou naqueles trancados e fechados para balanço. A diferença é que todo aquele que aceita um novo amor em sua vida, o aproveitará em sua plenitude, e saberá absorver cada momento de felicidade que se apresentar com a nova relação. Já aqueles que se sentem receosos, irão sofrer. Tentarão repudiar cada assédio de outras pessoas no sentido de uma nova paixão, e se por acaso se sentirem presos por esse sentimento (que não pede licença), lutarão de todas as formas para se livrar dele, tentando se manter na solidão. E isso, unicamente na intenção de se eximir de possíveis sofrimentos, que podem sequer vir a existir. No fim das contas, sofrem da mesma maneira ou até mais, pois passarão a enfrentar duas novas brigas, a paixão por alguém, e o medo de amar novamente.

Nunca vi o divórcio como um pecado, e nem entendo aqueles que consideram seu par como uma propriedade ou uma posse. Ninguém é dono de ninguém, e todo aquele que tenta obrigar o parceiro ou parceira a ficar ao seu lado, mesmo quando infeliz, é a pessoa mais egoísta do mundo. Vejo isso como um desvio profundo de caráter e uma atitude doentia. Casamento indissolúvel? Somente enquanto o amor estiver presente. Se ele deixar de existir, somente duas pessoas muito educadas (em todos os sentidos) é que conseguirão manter a relação. E caso o amor e o respeito mútuo deixem de existir, o melhor a fazer é separar ou optar pelo divórcio, para evitar confrontos mais árduos e até a insensatez.

Todo aquele que teme um novo relacionamento, pelo motivo que for, deveria rever seus conceitos. Sei das dificuldades de superar um medo, ainda mais quando a ferida provocada por relacionamentos antigos ainda está aberta, mas também sei o quanto um novo amor ajuda a cauterizar essas feridas. Cicatrizes sempre existirão, claro, mas é mais fácil lidar com elas do que com as feridas latentes. Então, procure orientação psicológica, ou tente se abrir para a vida e para novos relacionamentos. Não é vergonha alguma admitir que precisa de ajuda, ainda mais quando o assunto é amor. E saiba que ninguém, ninguém mesmo, tem o direito de cercear a felicidade de outras pessoas, ainda mais por motivos toscos, doentios e mesquinhos, como o ciúme e a possessão.

E amar novamente, além de trazer felicidade, é rejuvenescedor. É muito comum as pessoas dizerem que seus hormônios “enlouqueceram”, que seus corpos começam a reagir mais rapidamente a impulsos que antes sequer eram percebidos, que os dias ficaram mais claros e quentes, mesmo no inverno. Enfim, as pessoas se percebem mais ativas, como se estivessem vivenciando bons tempos passados.

Tão comum ver adultos agindo como adolescentes. Chegam a ser criticados por isso, mas, quer saber? Às favas com o quê as pessoas pensam ou deixam de pensar. Se você está amando, e se sente um adolescente, aja assim mesmo, saia, brinque, passeie, ande de mãos dadas, dê aquele beijo cinematográfico na pessoa amada, em público mesmo. Tem algo de errado nisso? Pense bem antes de responder. Você pode ser tachado de recalcado, e não será culpa minha.

Amar não é pecado, e muito menos é restrito a alguma faixa etária. Amor não vem em dose única, e nem deixa de existir dentro das pessoas. Ele só fica esquecido, ou muitas vezes preso, por medo de se amar novamente.

Ame sim, ardentemente, e jamais tenha medo de demonstrar esse amor, de corresponder o sentimento de quem lhe dá amor. O amor é um sentimento abstrato, mas é físico também, e que me perdoem aqueles que carregam mais pudor do que eu, mas não existe nada melhor do que “fazer amor” com a pessoa amada. O corpo fica leve e o cérebro mais ativo. Lamento por aqueles que se prendem em sentimentos de culpa, medo, ou argumentos religiosos, na intenção de bloquear novos amores. Estes tenderão a se tornarem solitários e mais amargos. Eu quero mais é amar novamente, e amar sempre.

Autor: Marcio JR - Curitiba/PR

Publicação autorizada através do e-mail de 16/04/2012

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Pedro Maraváia - Texto de José Soares de Melo

Dentre as muitas figuras folclóricas que povoaram o mundo infantil de centenas de crianças custodienses, o mais famoso sem dúvida foi Pedro Maraváia. Branco, alto, já chegado nos anos, como todo doente mental tinha uma obsessão: sanfona. Jamais se afastava de um velho “oito baixos” que carregava sempre enrolado em sacos. Seu porte nada tinha a ver com as características físicas dos sertanejos, na sua maioria caboclos baixos, atarracados e morenos. Pedro, ao contrário era branco, olhos esverdeados, alto, enfim tinha muito mais o porte de um europeu do que de um sertanejo da ribeira do Moxotó. Adorava usar capa, e na ausência de uma, não se importava em agüentar o calor do sertão vestindo um capote grosso e quente. Tinha uma rivalidade com o Rei do Baião: é que ele sabia o velho Lua ganhava, como ele dizia, “rios de dinheiro”, enquanto ele tocava e ninguém lhe pagava nada.

Percorria várias cidades do Moxotó e Pajeú. Era visto com freqüência em Custódia, Sertânia, Iguaraci, Afogados da Ingazeira, etc. Não sei exatamente sua origem, porém sabe-se que era muito conhecido na região. Tanto que Maciel Melo, o grande compositor natural da cidade de Iguaraci, cita seu nome em uma de suas músicas.

Como todo doido, Pedro Maraváia era diariamente atacado pela molecada das cidades. Quando zangado, largava a sanfona e corria atrás de todos, atirando pedras a esmo, por vezes atingindo inocentes.

Lembro de Pedro Maraváia já nos seus últimos tempos de vida. Velho, alquebrado pelo tempo, já não corria atrás dos meninos. Mal se arrastava carregando seus trecos, sacos, sua sanfona, um lençol e um velho bastão, única ameaça a quem se atrevesse a lhe importunar.

Esse foi um dos personagens mais marcantes da infância de muitos custodienses. A exemplo de tantos outros, na sua demência certamente ajudava a formatar a paisagem das cidadezinhas do interior. Afinal, já se disse que toda cidade que se preze tem que ter seu “doido oficial”. Se Pedro Maraváia não era o doido oficial de Custódia, era mais ainda: era o Doido Oficial da Região, pois seu instinto aventureiro o levava a uma permanente peregrinação por sítios, fazendas, povoados e cidadezinhas do sertão.

Autor: José Melo - Custódia/PE


Publicação autorizada pelo autor

terça-feira, 15 de maio de 2012

Agradecimentos ...





Agradeço a gentileza dos amigos Celêdian Assis, Ana Bailune e Paulo Joaquim, pelas postagens em seus blogs, referente ao livro ¨A saga de um Pedro - Amor e luta traçando destinos¨, de minha autoria.

Ana Bailune
http://ana-bailune.blogspot.com/
Celêdian Assis
http://sutilezasdaalmaemente.blogspot.com/
Paulo Joaquim
http://custodia-pe.blogspot.com/

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Palavras... - Autora: Sonia Biasus

Gosto de palavras, elas expressam sentimentos dos mais variados gêneros. Ora alegres...ora tristes...as vezes eufóricos, outros nem tanto. As palavras, quando sentidas ou faladas, têm poderes que nem se pode imaginar.
Eu as uso para liberar minhas emoções, para expressar sentimentos que às vezes me sufocam, outras vezes me alegram, uso-as para comunicar e fazer o bem aos que me rodeiam, se bem que aos que estão ao meu redor não precisam de palavras para me entender e para saber do afeto que lhes tenho.
Estes sentem em meu olhar, veem em minha expressão ao sorrir ou ficar de cara fechada. Neste momento meu semblante deixa de iluminar e meu sorriso se apaga. Mas, mesmo assim, lanço palavras ao vento para amenizar possíveis sofrimentos, até mesmo o meu.
A importância de uma palavra é tão forte quanto estar vivo; é vital para quem precisa ouvi-las; é o elixir para quem está só...
Palavras, palavras, palavras...quantas palavras tenho pra dizer?
Quantas palavras tenho para ouvir?
Preciso de suas palavras que me dão alento, que me confortam que me fazem sentir bem, que me levam além.

Autora: Sonia Biasus
Blog: http://soniabiasus.blogspot.com/(poesias e textos literários de minha autoria)
Blog: http://sb-assessoriapedagogica.blogspot.com/(postagens da escola)
Blog: http://writermontblanck.blogspot.com (Me conta um conto?(conteúdo infantil)
Blog: http://http://transtornodohumoroubipolaridade.blogspot.com/ (informativo)
Cronista/colunista: www.revistasemlimites.com.br
Colaboradora do blog:http://gandavos.blogspot.com/
Publicação autorizada pela autora

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Será que as coisas mudaram tanto? - Autor: Ciro Fonseca

Quero que fique bem claro que já tenho 68 anos bem vividos, já vi e também já fiz muita coisa que às vezes não tinha muito sentido na vida. Fui da geração do Rock’N Roll, e em 1955 quando eu tinha apenas doze anos, Bill Halley gravou “Rock around the clock”, logo depois Elvis Presley gravou “The sum sessions” e depois vieram Little Richard, Chuck Barry. E outros.

Os Beatles só apareceram em 1962 com “please, please me”. Mesmo ano em que apareceram Bob Dylan e os Beach Boys. Vivenciei o movimento “Paz e amor” dos Hippies, como uma grande maioria dos que escrevem por aqui. Eles defendiam um mundo de paz, sem armas nucleares, defendiam a natureza, o nudismo e a emancipação sexual.

Às vezes fico a imaginar uma comunidade como a nossa, reunida naquele tempo. Vejo o amigo Luiz (Yamânu) de cabelos longos e barba comprida (não mudou nada), junto com o Gilberto Dantas de rabo de cavalo preso por um tira de couro, o Paulo Rego com o seu violão com uma cruz de madeira no pescoço, O Seminale, enrolado numa bandeira do flamengo, cantando mantras em louvor a Shiva e, juntos, ao redor de uma fogueira, Tomando um inocente chá de cogumelos (Do sol).

Não tomo nenhum tipo de medicamento, pois não sou portador de nenhuma doença crônica, atualmente não pratico nenhum esporte, mas joguei futebol até os meus cinquenta anos de idade. Gosto muito de estar atualizado com o que acontecendo na minha cidade e no mundo. Mas, quero dizer que tem algumas coisas no mundo de hoje, que eu tenho uma tremenda dificuldade em compreender.

Querem um exemplo? Caso você estiver andando num Shopping e se deparar com um tênis sujo e surrado na vitrine, não se assuste. O tênis sujo velho e surrado trata-se do mais novo lançamento da Nike. Isso mesmo, Lançamento! A Nike recuperou o modelo do clássica Nike Air Tailwind 79, o primeiro tênis da marca que recebeu a tecnologia de amortecimento a ar, e o reproduziu com a aparência de velho, isto é desbotado e sujo.

Já é bastante comum encontrar nos shoppings e lojas para jovens, jeans novos com aparência de velho e devidamente rasgados em vários lugares. Isto mesmo rasgados!

No meu tempo a coisa era diferente, mas confesso, já passei muita agua sanitária nas calças Lee para que elas ficassem mais claras na bunda e na parte das coxas, Já as ralei com aquelas pedras de fogo para que ficassem mais macias e com a aparência de velhas.

É, pensando bem a coisa não mudou muito não, eu é que estou ficando velho, e acabo me esquecendo das muitas merdas que eu aprontava junto com o meu Fusquinha o “ Geribaldo”. Vestindo a minha desbotada calça Lee, camiseta branca, blusão de couro, com um cigarro Minister no canto da boca, fazendo pose de James Dean suburbano.

É, acho que as coisas não mudaram tanto assim.

Bons tempos aqueles...

Autor: Ciro Fonseca - Rio de Janeiro/RJ




Blog do autor: http://cirofons.blogspot.com/
http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=98617
Publicação autorizada através de e-mail de 07/05/2012