sexta-feira, 20 de julho de 2012

Sem tempero - Autor: Iratiense Joel Gomes Teixeira

Edmundo, o "Mundico", era  esposo  de  Cândida, a "Nhá  Candoca", que  de  candura  tinha  muito  pouco. Pelo  contrário, era  tinhosa, caboclinha do  sangue  quente e  "adubava  o lombo" de  Mundico  na  maioria das vezes em  que  êste  chegava  de  porre  em casa.
Magrinha, olhar  enferuscado,sempre  de  lençinho  à cabeça, costumava postar-se  defronte  ao  casebre onde moravam espiando pra  ver  se  o  Mundico vinha  "tocando os  gansos" como  dizia. Quando  isso  acontecia, e  era  frequente, o pau  comia sempre  com  larga vantagem  para  a  tinhosinha da  pá virada.
Atributos não  faltavam  à  Nhá  Candoca. Cozinhava  muito  bem. O  trivial, é  claro, mas  com  capricho e  um  tempero  especial. Cuidava  bem  do  ranchinho  e  dispensava um  cuidado todo  especial quando  da  lavagem  das  roupas.
Num  certo  dia,tendo  cuidado dos  afazeres,tomou  os  panos  de  prato, lavou-os  e  os  colocou num  balde  a  ferver com  água  e  sabão. Após  um  longo  dia de  trabalho, já  muito  cansada, deitou-se e  caiu  num  sono profundo.
Mundico, que  passara  a  tarde  "bebendo tôdas", adormeceu  num  barranco e  ao  acordar  deparou-se  com  uma  lua  cheia  belíssima iluminando  a  campina. Levantou-se e, errando  passadas, acabou  chegando em  seu  rancho. Era  noite  alta,tudo  estava  muito  quieto e, então, pensou:
-Se  eu  não  fizer  barulho, a  Candoquinha não  me    chegar  e consequentemente  não  me  senta  o  braço.
  ante  pé, ainda  meio  tonto, adentrou  e, faminto, sem  acender a  luz dirigiu-se  até o  fogão.
Candoca roncava  no  quartinho  ao  lado. O  bêbado tateando  com  as  mãos se  deu  conta  do  caldeirãozinho  de  feijão, do  qual serviu-se e percebendo  ao  lado dêste  um  grande  panelão, meteu o  garfo  e  sentiu  o  peso de  algo  que  vinha  fisgado. Passou  a  mão e  levou  aquela  coisa  à boca. Mastigou, puxou  com  os  dentes e... Nada. Apenas  uma  coisa  sem  sabor, rija  e insossa.
Que  comida  mal  feita!... Candoca está  ficando  desmazelada, pensou  com  seus  botões. Tentou outra  mordida, e... Nada. Acabou por  comer    o  feijão.
Manhã do  dia  seguinte:
Candoca, enfurnada, empurra-lhe  com  grosseria  o  prato de  polenta  frita que  acompanha  o café da manhã. Mundico   serve-se e  com  ar  pensativo dirige-se  à  mulher:
Candoca, não  me  leve  a  mal, mas  daqui pra  frente quando  fizer courinho de  porco com  feijão cozinhe-o  melhor e  jogue  sal  e  uns  temperinhos  por  cima. Aquêles  que  você  me  deixou  ontem  à  noite, estavam  em  pedaços  muito  grandes, rijos  e  sem  sal. Tinham  um  gosto  de  sabão e  desculpe-me, mas  não  consegui  come-los.
Um  ar vingativo desenha-se  no  sorrisinho  diabólico de  Candoca antes  de  responder-lhe:
_"Vô  pensá  no  teu  caso!... Vô  pensá!

Autor: Iratiense Joel Gomes Teixeira - Irati/PR

http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=57640
Publicação autorizada através de e-mail de 19/07/2012

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