domingo, 11 de setembro de 2016

A botija de ouro

João Batista Stabile

Nos bons tempos do café quando a cultura estava no seu auge, existiu um grande fazendeiro que começou sua vida como tropeiro transportando café para o porto de Santos. Homem trabalhador logo conquistou a confiança dos fazendeiros da região e com isso ganhou muito dinheiro, esperto nos negócios começou a comprar terras e depois casou-se com a filha de um fazendeiro tornando-se em um curto espaço de tempo um grande produtor de café.
Desse casamento ele só teve um filho, o menino apesar de inteligente e educado não demonstrava ter o tino do pai para negócios, foi crescendo mimado pela família mais pela mãe, tias e avó que pelo pai que tentava por todos os meios torná-lo um fazendeiro como ele e talvez o chefe político da cidade, mas logo percebeu que sua tarefa não seria fácil, o menino agora já rapazinho gostava mais da vida boa e dos privilégios que a posição do seu pai proporcionava-o.
E como não adianta dar conselho falar que o jovem está agindo errado, ele só vai aprender quebrando a cara, mas quando isso acontece geralmente é tarde para recuperar o que perdeu.  Um dia o pai já convencido que o filho não daria conta de administrar os negócios quando ele morresse chamou-o para conversar, levando-o para um quarto do casarão, abriu a porta à chave e entraram, era um quarto espaçoso com pouca mobília, num canto um armário que estava vazio, duas poltronas velhas   e mais alguns trastes noutro canto.
Esta casa antiga tinha o forro de madeira e no centro do quarto havia uma corda que pendia do forro com um laço na ponta e um banquinho na altura certa para um homem enforcar-se. Mostrando isso o velho disse ao filho, está vendo isso, quando eu morrer e você dissipar nossa fortuna com essa vida de boêmio que você leva, quando tiver sem dinheiro e sem amigos, não desonre meu nome vivendo na miséria venha aqui e enforque-se.
Feito isso o pai chamou o rapaz para sair do quarto e disse que não voltasse ali até que chegasse a hora de acabar com tudo, saíram do quarto e o pai o trancou à chave e a guardou no cofre junto com os documentos mostrando para o filho, o rapaz não levou muito a sério aquela conversa mas não querendo chatear o pai prometeu que faria o que ele pediu, achou esquisito aquele pedido mas esqueceu e foi curtir sua vida.
Depois de alguns anos daquela conversa seu pai morreu, ficando para ele a responsabilidade pelos negócios da família. O rapaz acostumado na boa vida não quis pegar no batente, levantar cedinho como o pai fazia para organizar e acompanhar os trabalhos da fazenda e fazer as compras e vendas, foi deixando na mão de empregados.
Como diz o ditado o olho do dono que engorda o boi, nesse caso não tinha o olho do dono e os negócios já não rendiam como no tempo do velho, o rapaz sem experiência e sem muita vontade de trabalhar, gastando mais do devia e alguns negócios mal sucedidos em poucos anos estava afundando em dividas.
Para piorar a situação no último ano deu uma geada forte na região que queimou grande parte de sua lavoura ele sem saber o que fazer foi abandonando a lavoura, os empregados antigos de confiança foram embora. A situação chegou ao ponto de perder a fazenda só havia uma saída entregá-la ao banco para pagar as dívidas.
Um dia o rapaz desesperado com a situação, sem amigos porque acabando o dinheiro os companheiros de festas o abandonaram, sem ter a quem recorrer foi ao cofre pegar dos documentos da fazenda para negociar com o banco, viu a chave e lembrou-se da conversa com o pai.
Pegou a chave abriu o quarto olhou a corda pendurada pensou não posso dar este desconto à memória do meu pai entregando a fazenda, vou cumprir o que prometi subiu no banquinho pôs a corda no pescoço e pulou, o forro quebrou ele caiu e do seu lado caiu uma botija que se quebrou esparramando pelo chão uma fortuna em moedas de ouro.
Agora já experiente depois de tudo que aconteceu pegou o dinheiro pagou todas as dívidas salvando a fazenda. Daí por diante mudou completamente seu modo de viver, passou ele próprio administrar a fazenda fazendo-a produzir não mais esbanjou dinheiro, tornando-se assim o fazendeiro que seu pai sonhava que fosse.
João Batista Stabile - Marília/SP, 

2 comentários:

Marina Alves disse...

rsrs... Excelente. Muito bem escrito esse "causo", João. Quando se tem que ir às últimas consequências para se dar valor ao que se tem. E como acontece!

Anônimo disse...

Parabéns João, por fazer do causo uma lição de vida para a vida de todos nós. abraço.

Alberto Vasconcelos
Santo André da Borda do Campo/SP, 12 de setembro de 2016