domingo, 14 de julho de 2019
domingo, 7 de julho de 2019
segunda-feira, 24 de junho de 2019
Sobre o livro ¨Dedos de prosa¨ - Por: Jussara Burgos

Havia um trato, o filme só começava depois da missa. O bom cristão tinha que assistir a missa toda semana. Minha mãe católica convicta levava sua prole à igreja depois da missa passávamos correndo na farmácia para nosso pai nos dar o dinheiro dos ingressos e íamos ao cinema com o coração saindo pela boca. Quem chegasse primeiro pegava os melhores assentos. Era emocionante ficar esperando o Leão da Metro Goldwyn Mayer abrir a boca anunciando que a película ia começar. Uma ocasião o padre se estendeu muito na homília e nos avisos. Estávamos ansiosos para irmos ao cinema ver um clássico da sétima arte: Bonanza. Meu irmão Marcelo ficou impaciente, pois não queria perder nenhum pedacinho do filme. Finalmente quando o padre falou: Vão em paz e que o Senhor os acompanhem. Meu irmão gritou em alto e bom tom: AMÉM. Diante daquela insubordinação nossa mãe ficou brava e não deixou que ele fosse ao cinema. Ele foi para casa chorando na maior frustação. Por causa dessa e outras ele se tornou ateu.
Lembro-me do filme polêmico que foi apreendido pelas autoridades. O comentário da cidade no dia seguinte era que após o filme os marmanjos fizeram fila na Rua do Sipitinga, a procura das meretrizes.
Sempre digo que a poesia não existe apenas em versos. Vejo fotos e gravuras que considero poemas visuais. Na hora que vi a capa do livro fiquei encantada com a cena. Gostei de saber que aquela menininha da gravura é minha amiga Das Neves, irmã de Carlinhos. Também gostei de ver a gravura de dona Celeste, aquele sorriso eu conheço bem. Ele me acolhia quando eu ia à casa de dona Celeste estudar com Nevinha. Parabenizo o artista Edmar Sales pelo belo trabalho e a você Carlinhos pela gentileza de compartilhar comigo suas boas prosas, Um abraço da sua irmã sertaneja, Texto: Jussara Burgos - Luziânia-GO
segunda-feira, 20 de maio de 2019
Sobre velas e esperanças
Michele Calliari Marchese
Talvez os cemitérios, longe de somente guardar os
mortos guardam também as inesgotáveis angústias dos vivos, o cheiro das velas
acesas e o riscar inclemente das ceras caindo incólumes em todos os tipos de
chãos, terra, cimento, azulejos, gramas e lágrimas e o vento faz as árvores
gemerem no lamento profundo da solidão.
De solidão se fazem os incansáveis corredores que
levam de jazigo a jazigo, de jazigo a jazigo trazendo a dor e a desesperança
nas fotos estampadas, muitos altaneiros, outros em preto e branco, carcomidas
que são pela ação inexorável do tempo; números presos somente por pequenos
parafusos que refletem a luz do sol da vida. Um paradoxo. Uma contradição.
Era nisso que pensava quando finalmente cruzou o
portão do cemitério. Tinha ido colocar flores no túmulo da vizinha que havia
lhe ajudado tanto com os filhos. E agora havia partido, para cair no
esquecimento daqui a alguns anos, ou décadas talvez, mas haverá um tempo que
ninguém mais se lembrará daquela mulher, do que morreu o que fez e talvez não
haja mais herdeiros - pois na corrida muitas vezes lamentável do espaço - que
chorem por ela e aquela foto não passe somente de uma foto e suas inscrições
apagarão para todo o sempre. Como tudo na vida.
Lá fora o sol brilhava mais forte e pareceu que se
transportava automaticamente para outro mundo: o dos vivos com o crepitar dos
trabalhos aqui e acolá, ônibus apressados levando gentes mais apressadas ainda
e a tinta dos paralelepípedos que se desgastam pouco a pouco, de chuva em chuva,
como nós.
Passou em frente a uma casa amarela, com janelas
marrons, muito cuidadas, um extenso jardim de rosas que se desdobravam à medida
que seus passos iam avançando pela calçada e as pessoas que tomavam o chimarrão
e falavam de outras pessoas no julgamento pertinente de todo ser humano.
A sacola que carregava, pois não queria carregar as
velas na mão, agora pesava em seu braço, porque as velas não foram acesas no
túmulo daquela vizinha, não achou jeito de fazer isso, mesmo tendo no
pensamento que além das flores – uns crisântemos brancos dentro de um vaso –
acenderia as velas e rezaria e também passaria um bom tempo por lá a lhe fazer
companhia na solidão dos corredores do cemitério. A sacola que carregava pesou em seu braço,
roçando-lhe as costas, fisgando seu rim. E não foi capaz de ficar cinco minutos
em frente ao esquife da vizinha.
Ela encontrou adolescentes aos beijos cabulando
alguma aula. Um ônibus passou levantando a poeira daqueles dias secos e lembrou-se
de quanta coisa tinha que fazer em casa, varrer as calçadas, limpar os
armários, espanar o pó, secar a roupa, encontrar o marido aposentado sentado
numa cadeira de palha vendo o tempo passar e o mato crescer por entre o cimento
da garagem.
O trinado de um passarinho que ela esquecera o nome
aliviou o pensamento sombrio que estava tendo naquela manhã, fora os beijos
apaixonados e agora esse trinado em hora tão propícia, andava pensando
bobagens, que tudo sobrava para ela fazer e sorte os filhos terem crescido e
pensando melhor, sorte não ser um deles aos beijos na outra esquina, não
saberia o que faria e a sacola pesou mais um pouco em seu braço, pedindo
arrego, uma troca de braço e foi o que ela fez.
Faltava duas quadras para chegar em casa e mais uma
vez um ônibus passou pela rua levantando migalhas de outras vidas e pensou em
quanta gente havia passado por ali com as mesmas passadas que dava ou nas
pessoas que tinham aberto aquela rua há muito tempo atrás, um retrocesso de
memória invadiu sua mente e invocou recordações minúsculas de um tempo que nem
sabia precisar se existira ou não, um vazio sem precedentes: e aqueles que se
foram? Um dia iria também, mas à essa ideia arregalou os olhos, estremeceu e
disse de si para si, falando alto mesmo para que alguém, mesmo que fosse ela
mesma, escutasse que ainda não estava preparada, que não podia partir, queria
ver tantas coisa, talvez um filho formado, ou um neto. Não se achava velha, mas
vendo o marido da esquina, sentado onde achava que ele estaria sentado, imerso
em pensamentos vazios, por que não acendera as velas no túmulo da vizinha?
Faltava pouco para chegar e resolveu comprar pães
no mercadinho ao lado de sua casa. Tinham saído do forno. Cheiravam a infância,
cheiravam a calor humano e pegou uma pontinha para saciar a fome de vida que
tinha ao entrar naquele cemitério de outrora, quando tinha ido mesmo? Mastigava
enquanto pensava no marido e nas velas que incomodavam sobremaneira; um peso
incomum, uma inverdade que não foi capaz de levar adiante, não foi capaz de
acender as velas em seu túmulo de amiga, não foi capaz de cumprimentar o marido
sentado naquela cadeira de palha, onde acharia que estaria e de fato estava, o
que fazia aquele inócuo?
Pendia para o lado, quase caindo, dormindo talvez,
muito sol na cabeça dá nisso e como está quieto. Cutucou-lhe o braço para
acordar, porém não acordou, caiu no chão como caem os pássaros abatidos e sem
defesas, esperando por ela talvez. Caíram os pães e todo o frescor infantil,
caíram as vidas, dele e a sua por não ter derrubado a sacola com as velas não
acendidas no cemitério. Caiu a noite em plena manhã de sol. Seria preciso
acender as velas agora, sem mais tardar.
Autora: Michele Calliari Marchese - Xanxerê/SC
sábado, 4 de maio de 2019
domingo, 7 de abril de 2019
Falando de amor - Autora: Maria Olimpia
Falar de amor é chover no molhado. Pois se fala de amor desde tempos que não podem ser relembrados. Como não falar desse sentimento que transforma as pessoas em seus opostos? Tudo já se falou sobre o amor. Mas nada ainda foi suficiente para explicá-lo. Fala-se e cala-se. Porque muitas vezes é o silêncio que mais fala sobre o amor.
Por amor tudo se faz. Por amor tudo se justifica. Por amor se vive e por amor se morre. E também se mata. Sem amor ninguém vive. Mas só de amor, também não.
São muitas as formas para se falar de amor. Falam de amor os artistas em todas as suas manifestações. As manifestações da arte e as manifestações do amor. E o tema nunca se esgota. Fala de amor o homem do povo e o homem da elite. As linguagens podem ser diferentes, o sentimento não. Cientistas, filósofos, o milionário e o sem nada nos bolsos. O crente e o descrente. Não há quem não fale, fala até o envergonhado, o sem jeito, o destrambelhado. Eu falo de amor e você também. Nós todos falamos, de um jeito ou de outro.
Se temos asas, é o amor que nos dá. E é com essas asas que voamos para o mundo da fantasia.. Para o amor tudo é possível.Mas, o amor ao mesmo tempo que liberta, escraviza. Nos faz servos e senhores. Os ouvidos são surdos quando se fala o que parece ser contra o amor. Mas isso não pode ser esquecido: há o amor que eleva e o amor que reduz o ser amante a menos que nada. É preciso escolher, escolher sempre entre essas formas de amor. Quem escolhe a forma rastejante está perdido, sempre estará á sombra, nunca será sol. Quem escolhe a forma que eleva está salvo. Livre para voar, livre para criar. Livre para amar.Mas como escolher se o amor sempre pega de jeito de um jeito que deixa tudo de pernas para o ar?
Amam os que são iguais e os que são diferentes. O côncavo e o convexo. Ama o feio e o belo, o novo e o velho. Não existem regras para os sentimentos embora possa haver para os envolvimentos.
Todos os amores são bem vindos. Mas o maior de todos os amores deve ser o amor a si próprio porque é esse amor que propicia o amor sadio ao outro. Quem não se ama não se respeita. Quem não se respeita também não sabe respeitar o outro. Quem não sabe respeitar não sabe amar. Utiliza em suas relações um arremedo do amor. Um amor cambeta. Um amor que não vale a pena ter. Nem falar sobre ele.
Por amor tudo se faz. Por amor tudo se justifica. Por amor se vive e por amor se morre. E também se mata. Sem amor ninguém vive. Mas só de amor, também não.
São muitas as formas para se falar de amor. Falam de amor os artistas em todas as suas manifestações. As manifestações da arte e as manifestações do amor. E o tema nunca se esgota. Fala de amor o homem do povo e o homem da elite. As linguagens podem ser diferentes, o sentimento não. Cientistas, filósofos, o milionário e o sem nada nos bolsos. O crente e o descrente. Não há quem não fale, fala até o envergonhado, o sem jeito, o destrambelhado. Eu falo de amor e você também. Nós todos falamos, de um jeito ou de outro.
Se temos asas, é o amor que nos dá. E é com essas asas que voamos para o mundo da fantasia.. Para o amor tudo é possível.Mas, o amor ao mesmo tempo que liberta, escraviza. Nos faz servos e senhores. Os ouvidos são surdos quando se fala o que parece ser contra o amor. Mas isso não pode ser esquecido: há o amor que eleva e o amor que reduz o ser amante a menos que nada. É preciso escolher, escolher sempre entre essas formas de amor. Quem escolhe a forma rastejante está perdido, sempre estará á sombra, nunca será sol. Quem escolhe a forma que eleva está salvo. Livre para voar, livre para criar. Livre para amar.Mas como escolher se o amor sempre pega de jeito de um jeito que deixa tudo de pernas para o ar?
Amam os que são iguais e os que são diferentes. O côncavo e o convexo. Ama o feio e o belo, o novo e o velho. Não existem regras para os sentimentos embora possa haver para os envolvimentos.
Todos os amores são bem vindos. Mas o maior de todos os amores deve ser o amor a si próprio porque é esse amor que propicia o amor sadio ao outro. Quem não se ama não se respeita. Quem não se respeita também não sabe respeitar o outro. Quem não sabe respeitar não sabe amar. Utiliza em suas relações um arremedo do amor. Um amor cambeta. Um amor que não vale a pena ter. Nem falar sobre ele.
Autora: Maria Olimpia Alves de Melo - Lavras/MG
http://marilim.net/
http://vidasetechaves.wordpress.com/
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Publicação autorizada pela autora através de e-mail de 10/10/2011
domingo, 20 de janeiro de 2019
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