domingo, 14 de julho de 2013

A Tosa do Pepe

 Autor: Roberto Rêgo

O “Pepe”, um cachorrinho vira-latas, pelagem grande, cor do mel, foi deixado com menos de um mês na garagem lá de casa.
Pela manhã, ao ligar o carro, ouvi um chorinho fraco bem próximo, de cachorro desamparado. Só podia ser.
Agachei-me e vi o danado debaixo do carro, meio desconfiado. Fiz uma graça e o chamei, ele abanou o rabinho mas negaceou. A custo, logrei tirá-lo de sob o veículo.
Levei-o à minha esposa, Maria Mari que, de cara, se encantou com o cãozinho e resolvemos adotá-lo.
Tive um rompante, liguei para São Paulo e falei com os netos Izabela e Victor, contando a novidade. Encostei o aparelho ao focinho do animal e os meninos ouviram os seus ganidos, a mais de seiscentos quilômetros de distância, ficando ainda mais ouriçados do que eu!...
Daí pra frente, nossa casa ficou mais agitada com o “Pepe”, já por natureza um cãozinho levado da breca. Rodos, vassouras, tapetes, pequenos objetos e tudo o mais que estivesse ao seu alcance era simplesmente destruído.
A Dona Maria Mari, sempre muito organizada com as suas coisas, seu jardim e suas flores, surpreendeu-me ao tolerar as peraltices do cachorro, relevando tudo o que ele aprontava. E como aprontava!
O Igor, nosso primeiro neto, tomou-se de amores pelo “Pepe”, brincava com ele, rolavam na grama do jardim simulando briga feia, porém jamais foi sequer arranhado pelo animal de boa índole.
E assim a vida correu um ano e meio, até o dia em que eu, achando o “Pepe” muito cabeludo, resolvi levá-lo à “Dog’s House” para uma tosa.
Deixei-o com recomendações diversas, mas não imaginava o que fariam com ele, pois era a sua primeira vez (eu mesmo lhe dava banho e o tratava, mas sem tosa, é claro).
À tardinha, tocou a campaínha lá de casa e deparamos com a camioneta da “Dog’s House” estacionada. Um garoto desceu com o “Pepe” na coleira, todo pelado e cheiroso que só!
Levamos um baita susto, pois ele ficou magrelo à beça, com as costelas à mostra, sem pelos, e foi reconhecido apenas pela sua cara sem vergonha, de focinho preto, seu ar brejeiro e sua enorme alegria.
De consolo, botaram-lhe uma gravata de seda grená no pescoço pelado, com nó caprichado. Ficou chique!...

Agora é dar tempo ao tempo e esperar crescer sua bonita pelagem dourada (“crocante”, como diz o Igor), para que nos sintamos todos, de novo, felizes e orgulhosos do nosso mascote.

Autor: Roberto Rêgo - Belo Horizonte/MG

Publicação autorizada pelo autor

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