segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Boi fantasma salvou da morte o carreiro


Autor: Geraldinho do Engenho

Esta estória ocorreu há muitos anos, quando a agricultura era praticada com as ferramentas rudimentares. E a força motora se restringia a base da tração animal. No tempo dos coronéis.

Em uma mega fazenda, havia muitos bois, vários carros e carreiros. Dentre eles, Maneco, um mulato de fala mansa que tratava os animais com muito carinho. Desaprovando os métodos usados pelos demais colegas na jornada de trabalho, ele criticava a crueldade no uso de ferrão e chicote para tanger os bois na labuta diária nos carretos.

Enquanto seus colegas massacravam os bois para transpor os obstáculos, nos atoleiros e nos aclives, deixando-os sangrando, picados de ferrão na maior crueldade, apenas conversando com os animais ele realizava sua tarefa com toda facilidade. Seu procedimento e sua critica irritava seus colegas. Enciumados vez por outra se queixavam ao patrão.  Querendo uma punição para o colega. A resposta sempre à mesma. -- Desde que sua tarefa seja executada, não importa os métodos usados por ele, dizia o patrão.

A afinidade entre o carreiro e os animais, se tornou admirável chamando a atenção e cobiça de vários vizinhos, fazendeiros, querendo contratar Maneco. Ele sempre afirmava, jamais deixaria aquela fazenda, por fidelidade ao patrão e apego aos bois.

Ao término da tarefa diária o carreiro acariciava cada animal, que o retribuía lambendo-lhe as mãos. Todos carinhosos, mas o boi malhado parecia mais afetivo, acompanhava o amigo até seu casebre, que situava a margem da estrada cortando a pastagem, onde eles viviam. Pela manhã ao despertar, Maneco deparava com o malhado à sua porta, já a sua espera, seguiam juntos, como dois seres humanos pasto afora, juntando os demais bois.

Certo dia malhado não apareceu. A noite anterior fora tomada por um temporal muito forte e a chuva torrencial prosseguiu por vários dias interrompendo as atividades na fazenda. Passada a chuva, ao retomar sua atividade Maneco não encontrou seu fiel companheiro. Avisado, o patrão colocou toda a peonada no seu campeio, e nada, nem sinal. Vários dias de busca, sem nenhum sucesso. Triste e deprimido o carreiro nem se alimentava mais, naquela busca incansável.  Por fim desistiu. Abatido, como se a perda fosse humana, entrou em profunda depressão. O patrão tentava reanimá-lo de todas as formas, em vão, sem resultados. Na cidade em cujo município situava a fazenda, residia um amigo do patrão, sabedor da estória, querendo ajudar o carreiro, solicitou ao amigo seu empréstimo. A lhe pastar serviços em seu sitio, nas proximidades da cidade. Seriam apenas alguns dias. Tudo arranjado entre amigos. A finalidade era reabilitá-lo de sua depressão.

Tudo combinado lá se foi Maneco com sua trochinha apanhar a jardineira que o conduziria até a cidade. Caminharia cerca de dois quilômetros, atravessaria o ribeirão até à estradinha mal conservada por onde trafegava a famosa jardineira.

Qual não foi sua surpresa, ao chegar à ponte, bem na entrada la estava o seu amigo, o boi malhado. Feliz da vida jogou sua trochinha de lado e correu a abraçá-lo. Recebeu uma cornada, caindo a vários metros distantes. Mugindo e babando, malhado parecia louco. Impedindo sua passagem. Amedrontado Maneco correu até a fazenda, avisou ao patrão. Julgando ser hidrofobia, lá se foram armados para abatê-lo. Mas encontraram apenas os vestígios do animal. Saíram pasto afora a procura dispostos a eliminá-lo a fim de evitar a disseminação da raiva.  A esta altura, o carreiro já nem mais lembrava da viagem, aliás, nem queria mesmo. Naquela incansável busca, avistaram certo numero de urubus sobrevoando muito além, onde havia uma cratera enorme provocada pela chuva. Dirigiram até lá. Sabe o que encontraram? - O boi malhado morto há vários dias em adiantado estado de putrefação.

Boquiabertos ninguém aceitava aquele fato, imaginado terem sido tomados por uma loucura coletiva, Voltou á ponte, e confirmaram os vestígios e rastos do animal muito visíveis.

No dia seguinte desvendaram o mistério. Proveniente da cidade chega um mensageiro a cavalo, a mando do amigo, convocando o coronel a irem resgatar Maneco. A jardineira caiu dentro do rio bem próximo à cidade, ao estourar um pneu, e ninguém se salvou. Somente ele, o Maneco, que a esta altura já havia ganhado até missa encomendada pelo amigo da cidade.

Acredite se quizer!... Escrevi o que deu na teia!



Geraldinho do Engenho - Bom Despacho/MG




Publicação autorizada pelo autor

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