terça-feira, 1 de abril de 2014

As Cuecas e o amor

Autor: Ciro Fonseca

Eu não sou absolutamente um retrógado. Apesar de ter nascido no final da segunda grande guerra mundial, acompanhei todos os avanços tecnológicos e todos os avanços científicos do mundo de hoje. Andei de bonde, lotação, charrete e bicicleta, hoje tenho o meu carro com ar condicionado, freios ABS, trava e vidros elétricos. Tenho os meus cartões de crédito, celular, tablet, computador devidamente turbinado pelo meu filho, que é um expert no assunto. Mas se tem uma coisa que eu tenho resistido através de todos estes anos, é o uso dessas cuecas tipo Zorba, que o pessoal chama de sunga. Sabe, eu sou daqueles que gosta de criar o bicho solto, a vontade. Eu gosto mesmo é da minha velha cueca samba canção, coisa que deixava a Arlete minha mulher, bem à vontade, segura, com relação a outras mulheres. Pensava ela: - “homem que usa cueca samba canção, não trai. Você pode desconfiar de alguma coisa de um homem assim? Vou dizer uma coisa, cueca é caráter”. E esta segurança durou até que a cueca samba canção virou moda de novo. A princípio eu resisti às cuecas de seda, estampadas, mas finalmente, me rendi aos ditames da moda, e hoje já uso cuecas samba canção de todas as cores. Mas a partir daí, percebi claramente uma mudança no comportamento de minha mulher, ela passou a ficar desconfiada, ciumenta, e dizia para as amiga: - “Ele não vai ter mais vergonha de tirar as calças na frente de outra. Pode até dizer que ele não tem culpa. Não foi ele que mudou, foi a moda. Continua o mesmo homem sério e conservador. Não foi ele que resolveu sair para a vida, a vida é que veio atrás dele. Vou ter que ficar de olho. Agora sim. Olho vivo!” Eu continuo a viver a minha vida, completamente integrado aos dias de hoje, mas fazendo e vestindo o que gosto e acho mais confortável. Mas dou a razão as desconfianças e cuidados da minha mulher, pois afinal, quem vê cueca não vê coração.

Autor: Ciro Fonseca - Rio de Janeiro/RJ