quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

A Quinzena do Autor: Alberto Vasconcelos

Autor: Alberto Vasconcelos



Nasci numa festa de aniversário... 
Dia de muita chuva...
Cheguei para o almoço... 
Virgem no zodíaco, macaco (de madeira) no chinês.

Dentada na língua, coqueluche, sarampo e caxumba na infância, amigdalite operada na adolescência; catapora, circuncisão, lesão do manguito rotador do membro superior direito e vasectomia, já adulto.

Fui menino comportado, obediente, amorfo... 

Brinquei de pião, papagaio, badoque (fabricado e destruído por arrependimento diante da agonia do primeiro animal atingido), bola de gude, garrafão, bola queimada, barra bandeira... 
Raramente futebol...

Colecionei borboletas (o fungo quase destrói a pele das mãos e braços). Fabriquei gaiolas, criei preás e passarinhos, peguei Beta no riacho Guarulhos (morto pela poluição), roubei frutas em quintais, mel de abelhas do apiário do Padre Estevão (convento da Sagrada Família), aprendi cerâmica de torno, tomei banho no riacho Uchoa (hoje esgoto a céu aberto)... 

Morei no Barro até meu casamento em 1970.

Católico, cantei no coro e fiz parte de equipe de liturgia.

Fiz teatro durante onze anos e fui professor de História do Brasil.

Sócio número quatro do Umuarama Tênis Clube do Barro.
Dançadorzinho como um peste estive sempre presente em assustados,
quadrilhas juninas (as autênticas), bailes de formatura.

Fui presidente do Grêmio Literário (a ditadura proibia Diretório de Estudantes) do Colégio Porto Carreiro onde formei-me Contabilista (orador da turma).

Beijei, namorei (ainda não se “ficava”), noivei, casei, duas filhas, duas netas, separei, noivei outra vez, divorciado e hoje casado com Márcia Adriana Barboza, consóror do Recanto.

Desde abril/12, mudei para Santo André/SP.

Fui comerciário, securitário, industriário e aposentado.

Bacharel em Ciências Biológicas pela UFRPE (orador da turma).

Em janeiro 2011, dei fim às minhas plantas, (- quanta pretensão! Elas não eram minhas, apenas moravam comigo) não cultivo mais orquídeas (apesar de me considerar orquidófilo) e desisti de fazer bonsai.

Sou ateu convicto, gosto de viajar, de estudar biologia, de escrever,
de ler, de pintar, de modelar, de poesias, de música erudita, folclórica, regional e ópera, de política, de conversas inteligentes, de ouvir e de contar histórias, de beber cerveja, vinho, cachaça e de cozinhar.

Tenho o mau costume de acreditar nas pessoas... 

Amigo é amigo; inimigo é inimigo. (Incondicionalmente). 

O atual foco da atenção intelectual é a influência da estrutura antropológica do imaginário no comportamento humano.

Sempre gostei de ler, de conversar, de escrever, de ouvir e de contar histórias...

O que escrevo, são "causos" que ouvi, sonhos ou histórias verídicas vividas por mim ou por conhecidos meus...

Vez por outra, histórias inventadas mesmo, situações forjadas em ambientes onde nunca estive e nem sei se existem. Talvez memórias do DNA, herdada dos milhares de ancestrais, que viveram antes de mim e dos quais carrego os códons que a ciência, ainda, não sabe interpretar.

Agradeço a todos que se dispõem a ler o que publico e gostaria, se possível, de um comentário para poder melhorar, porque sempre há o que corrigir.

O que escrevemos e publicamos são os filhos do nosso intelecto e é bom sabermos como esses filhos estão se comportanto em sociedade...


ARTIGO – classificação: Geral

ENERGIA VITAL
Na total escuridão da tuba uterina, o espermatozoide “nada” em direção ao óvulo, atraído pelos sinais químicos, intermitentes, como os de um farol.

O flagelo freneticamente agitado, consome a cada movimento a provisão de adenosina trifosfato (ATP), que foi acumulada na espermiogênese, para que as mitocôndrias transformassem a energia química em energia cinética.

A penetração, facilitada pelo cone proteico, desencadeou o estímulo que alterou a polaridade da membrana celular do óvulo e, em obediência à Teoria da Evolução, onde apenas o mais apto sobreviverá, os espermatozoides retardatários serão eliminados pelos fluidos uterinos, depois de mortos pela inanição decorrente do esgotamento das reservas alimentares.

No microcosmo celular, as cariotecas se desfazem e os cromossomas são liberados. Os lisossomos digerem os restos do espermatozoide e as fibras de actina do cito esqueleto do óvulo formam o fuso acromático, onde os cromossomas alelos formarão as duplas.

Uma vez pareados, realizam o “crossing over”, o maior artifício da natureza, para que cada ser seja único, genética e psicologicamente.

Nesse fenômeno os genes trocam sequências e a combinação resultante torna o ser diferente de todos outros que já existiram, existem ou existirão.

Refeita a carioteca, o ovo está pronto.

Lentamente, impelido pelo movimento ciliar da tuba uterina, o ovo recém formado é guiado para o fundo do útero onde o endométrio, escamoso, aguarda a nidação.

Agora pleno de energia vital esse ser unicelular toma sua primeira decisão.

Multiplicar-se.

Multiplicar-se milhões de vezes para formar um ser humano que, na idade adulta terá em torno de cem quatrilhões de células, iguais no genoma, mas com quase duzentas formas diferentes para atender funções específicas.
Imensos grupos de células iguais irão formar os tecidos, os órgãos, os aparelhos, os sistemas, obedecendo aos modelos e padronagens, definidos por ensaios, erros e acertos, em sucessivas gerações desde os primatas inferiores.
Todos os passos serão, outra vez, executados nos mínimos detalhes.

Os genes desfazem a forma espiralada e duplicam-se. Seguem-se indefinidamente, as fases prófase, metáfase, anáfase, telófase e as células filhas vão se aglomerando para que o embrião adquira a forma de amora.
Da mórula, o passo seguinte é a blástula para daí surgirem os folhetos embrionários no fenômeno chamado gastrulação.

Realizada a nidação, formam-se o saco amniótico e a placenta, ponte entre a gestante e o embrião, por onde transitarão os nutrientes, anticorpos, hormônios, gases O² e CO² e as toxinas resultantes do metabolismo do novo ser.

Desde o momento da fecundação até a morte celular total, o ser humano funciona como um gerador, transformando as energias que recebe numa energia de padrão próprio, único, cujas ondas se propagam em todas as direções tal qual a luz de uma vela.

Consideremos que um ser humano viva por sessenta anos, desde o momento da fecundação até a morte celular. A energia emanada de seu corpo tem sessenta anos luz de comprimento e permanecerá vagando no universo por tempo indeterminado, até que, como a luz das estrelas, seja captada por algo e transformada noutro tipo de energia, conforme preconiza a Lei de Lavoisier.

Pela teoria de Einstein, energia é matéria em movimento descrita pela fórmula E=MC², onde “M” é a matéria e “C” é a constante universal da velocidade da luz (+/- 300.000km/s) elevada ao quadrado. O mesmo Einstein define o universo como “uma esfera reversa”.

Então essa energia emanada pelo ser humano, quando chegar ao limite do universo, vai refletir e, no sentido contrário, fatalmente atingirá a Terra.

Os seres vivos, em menor ou maior escala, são suscetíveis às variações das cargas energéticas, podendo sofrer danos em suas estruturas, conforme pode ser observado nos casos de “Olhado” ou “Quebranto”.

Esse desequilíbrio energético, que pode levar o organismo à morte, é objeto de estudo desde a mais remota antiguidade pelos asiáticos, notadamente chineses e indianos, cujas práticas da medicina popular (não alopática) estão muito bem documentados nos textos do Do-in, do Feng Shui e da Acupuntura.

O legado mouro, quando do domínio na península Ibérica, foi trazido pela colonização luso-espanhola e aqui, no Novo Mundo, miscigenada com a cultura dos nativos e dos africanos trazidos para o trabalho nas lavouras, no fenômeno que Gaston Bachelard e Gilbert Durand chamam de “Bacia Semântica”.

A troca de energia entre os seres, largamente explorada em rituais religiosos, em sacrifícios, imposição das mãos, passes, benzeduras, bebidas, unguentos, banhos, defumações e correntes de orações, muitas vezes surtem o efeito desejado porque, também pela fé, esses atos liberam os estímulos cerebrais para a produção de hormônios ou o desencadeamento das ações do sistema imunológico do indivíduo afetado pelo mal.

Há pessoas que, por treinamento ou espontaneamente, são capazes de identificar o desequilíbrio energético em seres ou ambientes.
São os conhecidos “médiuns” que, supostamente, fazem a ponte entre os seres vivos e as diversas frequências energéticas em constante movimento pelo universo.

Não há prova científica desse poder de decodificação motivo pelo qual, há muito charlatanismo no campo das “Ciências Ocultas”, mas como disse Miguel Cervantes Saavedra (in Dom Quixote de La Mancha), “Yo no creo em las brujas, pero que las hay, las hay.”

CARTA

SOBRE ATEÍSMO
Caríssimo amigo PAULO MORENO, em atenção ao seu pedido deixado no comentário da crônica Lembrança XII, acredito que falar sobre ateísmo ou dizer-se ateu é muito fácil, entretanto tornar-se ateu é um processo lento que demanda muitas horas de estudo, coragem para “afrontar as verdades” aceitas pela esmagadora maioria e determinação para permanecer na condição de pária.

Um ateu sempre foi, é e será visto como excluído da sociedade ou portador de doença infectocontagiosa, ou criminoso capaz de todas as maldades. Um ser que desconhece o significado do sentimento amor, que é inescrupuloso e prestes a cometer as mais vis atitudes, incapaz de ter quaisquer gestos de bondade para com o próximo, vez que, por ser um sociopata egocêntrico, nada nem ninguém tem o mínimo valor, sendo também, potencialmente, pedófilo, libertino, iconoclasta, apátrida, homicida, ladrão...

Mas é livre.

E essa liberdade que o conhecimento proporciona é quase sempre invejada pelos teístas que apesar de cumprir todos os preceitos religiosos, como pagamento de dízimos, abster-se de alimentos ou diversões, levando uma vida austera e cheia de renuncias e compromissos para com a religião, têm os mesmíssimos problemas ou doenças que os infames ateus.

É bom que se diga que não existe nenhum livro explicando o que é o ateísmo (sem que seja tendencioso) nem um simples manual do tipo, ATEÍSMO SEM MESTRE EM 10 LIÇÕES, portanto as minhas conclusões sobre a crença nas falácias dogmáticas, estão descritas nos textos já publicados no Recanto das Letras: 1 – Jesus Imaginário (T1875712 de 19.10.09); 2- Terapia de Vidas Passadas (T1641300 de 10.06.09); 3 – Energia Vital (T2748909 de 24.01.11).

Um dos primeiros argumentos dos teístas para justificar a existência de deuses é o fato de que em todas as culturas, os mitos e as lendas, “explicam” o surgimento do homem; falam da grande inundação; do extermínio pelo fogo; pragas para dizimar plantações e do salvador que resgatará os escolhidos para a glória da vida eterna.

O ser humano, por ser dotado de raciocínio abstrato, procura entender o porquê da existência das coisas que o cerca. Nosso cérebro funciona fazendo comparações e associações entre as coisas novas e tudo aquilo que foi visto desde o nascimento.
Exemplo: som=> palavra=> conceito
pa- lá- ci- o => palácio=> casa grande;
á- gua=> água=> líquido; etc.

Entretanto existem coisas para as quais não existem referências anteriores e, para explicá-las, há o recurso abstrato do sobrenatural. Uma entidade intangível e criadora é a explicação óbvia para o surgimento de tudo aquilo que é, até então, inexplicável.

Criou-se assim o deus e com ele, todas as artimanhas capazes de manter a comunidade unida e controlada. Entram nessa dança os fenômenos naturais como os oceanos e rios, as tempestades, o fogo, os astros, as florestas, etc.

As sociedades atuais são descendentes daquelas que assistiram ao fim da última glaciação, mais ou menos, dez mil anos antes do presente. As camadas de gelo, com quilômetros de espessura, foram derretendo e as áreas baixas sendo invadidas. Esse volume foi de tal magnitude que a zona intertidal brasileira, ocorria mais ou menos a cem metros da atual.

Não há registro de cidades americanas sendo “engolidas” pelas águas, mas há de áreas de caça e de povos que ficaram ilhados e destruídos assim como as cidades da mesopotâmia, do entorno do Mediterrâneo e do sudoeste asiático.

É o dilúvio referido nos textos Vedas, chineses e assírios/caldeus com a figura de Utnapishtim, metamorfoseado no Noé (bíblico) e em muitas lendas das tradições orais dos povos do mundo em todos os continentes. Muitas lendas falam em destruição de povos e cidades pelo fogo, sem ênfase para os movimentos tectônicos que originaram os vulcões responsáveis por essas extinções, porque não há interesse religioso nessa simplificação.

Uma das coisas mais comuns para o intelecto humano, é a associação entre  um fenômeno natural e a ira de um deus raivoso, mas quando você faz a análise desses textos à luz das circunstâncias históricas, é capaz de detectar as verdadeiras mensagens subliminares neles contidas como fizeram os evangelistas, que foram obrigados a escrever o que fosse conveniente aos interesses de Constantino.

Desses textos pseudo religiosos, o mais comum para nós é a bíblia, cujo único valor é ser o registro da ética e da moral do povo judeu, quando saiu do Egito, em torno de seis mil anos antes do presente.

Dela há que se destacar, além dos citados na crônica, os versos de Mt. 13:11 a 16 e o Gn. 3:19 que acaba de vez com essa historinha de vida eterna.

E foi assim, lendo e interpretando os textos à luz do contexto histórico que me livrei dos dogmas, das perseguições, das culpas e barganhas religiosas.

CONTO – Classificação: cotidiano

DOCE DE ARAÇÁ 
- Vicência! ... Oh! Vicência!...
- O que é Sanana?
- Eu tô com vontade de comer doce de araçá...
- Ave Maria Sinhá! Adonde é que eu vô arrrumá doce de araçá prá sinhá cumê?
- Acabou tudo foi?
- E apois! O resto que tinha o coroné mandou botá na lata prô nhô Venâncio levá.
- E o coronel não sabe que papai não pode comer doce?
- Sabê ele sabe, mas quem é qui pode negá as coisa a nhô Venâncio? Quando ele cisma...
- Mas eu quero comer doce de araçá. Desde manhãzinha que tô com uma vontade doida. Estava me segurando porque tô muito gorda, mas eu acho que é o bucho que tá pedindo.
- Se é desejo tem que fazê logo se não faz má à criança.
- Vai apanhar araçá Vicência... Faz o doce prá mim.
- Já vô fazê Sanana. Sinhá num sabe que eu faço tudo. Desde que vossa mãe foi pro céu, quem cuida de vosmecê num sô eu?
- Mas eu queria agora, Vicência...
- Eu faço pouquinho. Num instante fica pronto.
- Ah! não. Pouquinho não. Eu quero um tacho cheio pela boca.
- Se Sanana comê muito pode improvocá. Aí em vez de fazê bem vai fazê é má.
- Vai Vicência, vai... Faz meu doce.
- Espere um pouquinho, já já tá pronto.
Sentadas no alpendre da casa grande, Sanana grávida de sete meses, na cadeira de balanço bordando uma camisinha de cambraia de linho. Vicência no chão com a almofada de 25 pares de bilros entre as pernas, fazendo as rendas que seriam aplicadas nas roupinhas do neném. (A linha de algodão ela mesma fiara na roca mais que centenária) Dalí, as duas podiam ver Antonio Fabrício, primeiro filho de Sanana, brincando de jogar carrapeta com dois meninos escravos praticamente da mesma idade que ele. Sem levantar do chão, Vicência gritou;
- Bastião,  Gerê!...
Atendendo ao chamado, os meninos interromperam a brincadeira e vieram até a escadaria.
- Inhora madrinha, disseram em coro.
- Vai os dois caçá araçá. É prá trazê os maduro. Leve a perdoe. Vou cuspir no chão, é prá vortá antes do cuspe secá.
- Posso ir também, minha mãe? Perguntou nhô Toinho com voz chorosa.
- Vá! Pode ir.
- Sanana, o coroné pode num gostá do sinhozinho tá no meio do mato com esses moleque.
- Tem nada não. Eles vão voltar logo e Nossa Senhora não vai deixar acontecer nada com eles não.
Gerê, o mais esperto dos dois escravos correu, por fora da casa grande, até a cozinha e pegou a cesta de vime que fecha quando se pega nas duas alças ao mesmo tempo e que era artefato indispensável dos frades pedintes de esmolas.
[O costume nessa época era pedir perdão, ao frade, quando o solicitado nada tivesse para dar. Daí a frase “rogo que me perdoe por não poder ajudar” foi aglutinada para “perdoe” e a cesta ficou com o nome]
No rastro de Gerê, nhô Toinho e Bastião também saíram em desabalada carreira.
Logo após o primeiro talhão de cana, havia uma capoeira preservada onde se encontravam com facilidade, araçás, pitomba, mangaba, gogoia, cambará, ubaia... Mais para dentro do mato um pé enorme de cajá com seu tronco rugoso era um convite constante para subir nele e apreciar, lá de cima, a vista de quase todo engenho com sua chaminé de tijolo vermelho, o rio, a roda e o pilão d’água, a casa de farinha, a casa de purga, a capelinha caiada no alto da colina com as cruzes das sepulturas de escravos do lado esquerdo (diziam que de noite tinha alma penada vagando por ali), mas dessa vez não podiam subir na árvore. Os araçás estavam grandes e saborosos. Uma jaca madura despencou do pé e causou um grande susto nos três meninos quando se espatifou no chão. Entre risos se empanturraram com os bagos amarelos, mais doces que mel. Com a perdoe quase cheia, voltaram para a casa grande.
- Me dê logo um bocado desses Vicência, pediu Sanana.
- Deixe lavá premeiro sinhá.
- Carece não. Eu quero assim mesmo. E Sanana encheu a boca com as frutinhas de sabor acridoce.
- Sinhá vai improvocá...
Dizendo isso, Vicência levantou do chão e foi para a cozinha preparar o doce. Pegou o tacho de cobre na despensa e levou para o lado de fora. Depois de examinado, viu que precisava ser areiado para tirar a grossa camada de azinhavre que deixava azulado todo o interior do utensílio.
- Felicidade, cace limão galego e vá areiar esse tacho no rio. Vorte logo prá me dar adjutóro nos araçá.
Vicência voltou para a cozinha e despejou o conteúdo da perdoe dentro de uma gamela grande com água. Com faca de bambu, para não empretar, foi limpando as frutinhas, tirando a casca, abrindo ao meio e raspando as sementes para dentro de outra gamela. Uma vez limpas e sem sementes, as bandinhas eram colocadas noutra gamela com água enquanto o tacho de cobre estava sendo lavado.
Felicidade foi correndo até o pomar, pegou dois limões dos grandes e seguiu para a beira do rio. Colocou um punhado de areia fina molhada no meio do tacho junto com um limão e pisou com toda força para estourar a fruta que iria servir de esfregão. Depois de enxaguado, repetiu a operação e o tacho ficou brilhando como se fosse feito de ouro. O enorme calor da tarde em contraste com a água fria do rio era um convite ao mergulho que Felicidade não teve forças para resistir. Com o vestido colado ao corpo e o tacho na cabeça, a moça subiu o barranco. As formas exuberantes da adolescente vinha de há muito tirando o sono de Bento, o capataz, que estava no alto do barranco admirando o espetáculo da pele escura em contraste com o pano branco molhado que deixava à mostra todos os detalhes.
- Venha cá negrinha.
- Vô não senhor.
Felicidade fez menção de correr, Bento guiou o cavalo para impedir a passagem.
- Vou lhe comer agora...
Enquanto Bento descia do cavalo, Felicidade soltou o tacho e correu para a casa grande gritando,
- Mãe, me acuda pelo amor de deu!
Bento tornou a montar no intuito de agarrar a negrinha pelos cabelos antes que alguém pudesse ouvir. Felicidade vinha correndo entre dois talhões de cana já bastante altos, quase no ponto de corte. Felicidade era ágil e conhecia muito bem o lugar onde nascera. Apesar do medo que estava sentindo, entrou num talhão e se escondeu no meio da palha seca do canavial. Bento desesperado entrou no talhão do lado contrário e estava como louco, fazendo o cavalo pisotear as canas e gritando...
- Vou lhe pegar, vou lhe pegar...
Só parou quando deu de frente com o cavalo do Coronel.
- Que é isso homem? Você endoidou?
- Foi, foi, foi o guará, Coronel. Foi um guará que eu vi.
------------------
Vicência terminou de limpar todo araçá e nada de Felicidade voltar. Chegou à porta da cozinha e gritou...
- Bastião, Gerê...
- Inhora madrinha...
- Vá no rio e diga à Felicidade prá trazê o tacho. Já tá bom de tanto lavá.
Os dois meninos foram correndo. Encontraram o tacho largado no barranco, mas nem sombra de Felicidade. Voltaram com a novidade: Felicidade havia sumido.
- Minha Nossa Senhora, Felicidade deve de ter morrido no rio.
- Pare com isso Vicência. Mande chamar o Coronel. Meu doce já está pronto?
- Ainda não sinhá...
O coronel mandou recado para que o pescador, seu velho fornecedor de carito, procurasse para ver se encontrava o corpo da negrinha que todos julgavam ter morrido afogada. Somente Bento, o capataz, insistia em que Felicidade havia fugido.
Vicência voltou para a cozinha e cumprindo sua sina de escrava, obediente como cão, colocou no tacho, uma cuia de açúcar e meia de água misturada com as sementes. O  fogo alto rapidamente ferveu a mistura separando as sementes da parte macia que se desfez na calda que foi despejada na gamela e desta, através da peneira de volta para o tacho agora com as bandinhas do araçá, outra cuia de açúcar e um punhado pequeno de cravos da índia. A colher de pau de cabo longo não parou de mexer até que o doce apresentasse o brilho dourado e a calda ponto de fio. O tacho foi colocado na tina com água para o choque térmico finalizar o cozimento. Do tacho para a compoteira de cristal.
Sanana sentada no banco longo da cozinha, comeu toda a raspa do tacho. Comeu também quatro taças bem cheias do doce com a sofreguidão de um náufrago. De pé, enchendo a quinta taça, sentiu tontura. Sentou e pediu água. Vicência pegou a moringa no peitoril da janela e antes que Sanana bebesse o primeiro gole, vomitou tudo o que havia comido, sujando o chão da cozinha e o vestido. Segurando o estômago disse com voz sumida...
- Ai!... Que dor Vicência...
- Eu disse prá Sinhá que num comesse nessa danação. Agora tá aí, com dô...
- Mãe!
- Felicidade minha fia, onde vosmecê tava?
- Tava iscondida no mato. Seu Bento queria me pegá-me. Disse que ia me cumê.
- Que história é essa? Perguntou o Coronel que estava comendo uma taça de doce.
- Foi coronel. Quando eu tava areiando o tacho.
- Esse cabra parece um jumento no cio. Vou mandar dar-lhe uma pisa de cipó de boi agora mesmo... guará, pois sim que era guará...
O coronel saiu da cozinha deixando as três mulheres mudas, sem entender o porquê da última frase.
Qual a relação do que havia acontecido com o guará que estava comendo as canas maduras?
---------------------------------------
O dote de casamento que o Coronel da Guarda Nacional Fabrício de Miranda recebeu ao casar com Sanana, incluía o escravo Ignácio, excelente reprodutor, cujos filhos machos tinham boa compleição física e podiam, a partir dos dez anos, serem incorporados aos trabalhos na lavoura e as fêmeas, muito valorizadas pela beleza de corpo, boas parideiras e com possibilidade de serem alugadas como amas de leite devido à grande produção além de boa disposição para os trabalhos tanto domésticos quanto no campo.
O Coronel cobrava cem mil réis para que Ignácio emprenhasse escravas de outros senhores. Era prenhez garantida. A mocinha vinha para o engenho na semana seguinte depois da regra e ficava na senzala cruzando com Ignácio, uma ou duas semanas. Se o dono da escrava tivesse sorte poderiam nascer gêmeos, como já havia acontecido diversas vezes. Ignácio tinha mais de cem filhos espalhados pela redondeza e na capital da província, nascidos quando ele pertencia ao Coronel Venâncio, pai de Sanana, e principalmente nesses últimos dez anos que estava em poder do Coronel.
Por causa disso, Ignácio tinha o privilégio de morar numa parte da senzala separado dos demais escravos. Dormia numa tarimba com colchão de palha enquanto os demais dormiam em esteiras.
A convivência, fidelidade e dedicação fizeram de Ignácio a extensão do braço do Coronel.
Sob as ordens desse, Ignácio com mais dois escravos pegaram o capataz e o amarraram no mourão de prender bicho brabo. O Coronel mandou tirar a roupa do capataz e ordenou sessenta chibatadas.
- Isso é para vosmecê aprender a respeitar minha casa. Escrava minha só cruza quando eu mandar.
E para Ignácio,
- Deixe ele amarrado ai até amanhã no cagar dos pintos. Bote um cabra tomando de conta. Não ganha nem água de beber.
Bento aguentou calado as primeiras chibatadas, depois gemia e por último respondia com grito de dor ao assovio do cipó de boi, seco e duro como vara de bambu.
Depois da última chibatada o Coronel ordenou.
- Sacuda água de sal nas feridas para não arruinar...
-----------------------
Sanana, depois do doce de araçá havia vomitado diversas vezes e Vicência estava preocupada quando perguntou ao Coronel que era que iam fazer.
- Dê álcool canforado para ela cheirar e bote minha ceia. Onde estão Toinho e Suzana. Quero os dois na mesa.
Depois da oração de agradecimento, a ceia transcorreu em silêncio, pois o Coronel não admitia crianças conversando durante as refeições. A sala estava fracamente iluminada por uma candeia sobre a mesa.
- Vicência, acenda as outras candeias. Quero essa sala bem iluminada.
Obediente, a escrava foi buscar as outras candeias. Eram duas peças de bronze com três bicos alimentados por óleo de rícino feito no engenho.
Os caroços de mamona eram triturados no monjolo e espremidos na prensa para retirar o óleo que iria iluminar a casa grande. Para iluminar a senzala, o caroço da mamona era batido junto com a fibra de algodão até se transformar numa massa homogênea que era moldado no formato de velas e colocadas nas candeias suspensas do travejamento do teto.
Um trovão ribombou por cima da casa grande fazendo tilintar os vidros das janelas e o conteúdo das duas cristaleiras. Suzana correu e se abraçou com o pai. O Coronel pegou-a no colo e foi para a janela mostrar à filha o espetáculo da chuva desabando sobre o lajeado em frente à casa grande.
Vicência entrou na sala com um lençol para cobrir o espelho grande a fim de evitar que os raios fossem atraídos por ele.
- Leve as crianças para a cama. Sanana melhorou?
- Melhorô Coroné. Graçadeu tá drumino...
O Coronel pegou um charuto no armário e foi para a varanda olhar o tempo. Ia ser chuva forte a noite toda. Ignácio subiu alguns degraus da escadaria e perguntou
- Coroné e o sô Bento. Posso sortá o homi?
- Não. Ele vai ficar onde eu mandei até amanhã.
Ignácio desceu de costas os degraus que havia subido e foi para a cocheira de onde podia ver o sentenciado sem ter que levar a chuva que não deu trégua durante toda a noite. Se continuasse assim, fatalmente, haveria cheia.
Pela manhã o Coronel mandou soltar o gado, eles sabiam melhor que ninguém as partes altas do engenho. As vacas leiteiras foram trazidas para o curral que ficava ligado com a cozinha da casa grande. O capataz foi tirado do mourão e levado para o casebre onde vivia, aonde ficou entregue à própria sorte.
Havia muito serviço a ser feito para proteger o açúcar já pronto e o que estava em processo de purga. Tudo teria que ser trazido para a casa grande que ficava no alto do morro onde a água nunca, nem as maiores cheias, haviam chegado.
- Coroné, o capataz tá se acabano de febre.
- Bote arnica nas feridas, dê um caldo quente prá ele beber, mas deixe ele lá.
Choveu forte durante todo dia. Noite alta se ouviu o som lúgubre do búzio tocado nessas ocasiões, para anunciar que a cheia estava se aproximando. Os escravos pegaram seus pertences e vieram para o porão da casa grande.
O som da cabeça da cheia arrasando tudo era assustador. Nada mais havia para ser feito. Apenas esperar que a chuva parasse e que a água seguisse seu curso em direção ao distante mar.
O Coronel sentou na cadeira de balanço da sala de visitas e cercado pelos filhos Antonio Fabrício de sete anos; Maria Suzana de cinco; Maria Laura de três e João Antonio de um ano, no braço, contou que a chuva era por causa da festa que ia ter no céu e os anjinhos, lavando tudo, deixavam a água cair. Que os trovões eram os móveis sendo arrastados e os raios eram as velas sendo acesas para iluminar tudo. Sanana entrou na sala e perguntou
- O Coronel não vai mandar trazer o capataz para cá?
- Não Sanana. Aqui ele não entra.
- Mas senhor, e a cheia?
- Não é problema meu.
- Mas...
- Chega Sanana! Seu Bento é assunto encerrado.
O Coronel Venâncio chegou à porta com a capa encharcada. Logo atrás dois escravos carregando o enorme baú com as roupas. As crianças correram para abraçar e tomar abênção ao avô.
- Bença meu pai... Vicência veja outra roupa para meu pai trocar essa molhada...
----------------
Dois dias depois, quando o rio havia voltado para sua calha, o Coronel pode avaliar o estrago. Canavial, roçado, pomar tudo coberto por grossa camada de lama.
Da senzala só o travejamento de madeira que segura a taipa. Em pontos esparsos do telhado algumas telhas que não haviam sido arrastadas pelas águas mantinham equilíbrio precário sobre o travejamento oscilante.
E por toda parte, nem sinal de Bento, o capataz...

(nas falas dos personagens escravos, procurei reproduzir a forma de falar dos quilombolas, meus conhecidos.)

CAVERNA – Classificação: aventura
“Nas grutas, só se tiram fotos, só se levam lembranças, só se deixam rastros” – Princípio espeleólogo.


Eu não tenho a mínima idéia das circunstâncias que fizeram e com que aquele folheto viesse parar em minhas mãos.

A impressão não tinha grande impacto visual, mas o papel era de boa qualidade e pessoas sorridentes como em propaganda de margarina ou de creme dental, faziam o convite para a excursão às famosas grutas da Chapada Diamantina, no centro do centro do Brasil.

Para pessoas com alma cigana, como eu, aquele era um convite irresistível e, três dias depois estava eu, sendo sacolejado, a caminho da Chapada, dentro de um ônibus velho que, por seu aspecto e estado de conservação, devia ter feito parte da comitiva real, quando Dom João, ainda príncipe regente andara pela Bahia nos idos de 1808 e, acredito, naquela época ele já devia ter bastante tempo de uso assim como o seu motorista, seu Fulgêncio que também era cobrador (recebeu o pagamento das nossas passagens no momento do embarque, com a recomendação que deveria ser em espécie porque ele não dispunha de dinheiro miúdo para trôco); mecânico (porque vez por outra o ônibus fumaçava, tossia, apagavam-se as luzes e o motor morria); borracheiro (porque os pneus não chegavam a rodar 50km, estouravam e ele, pacientemente fazia o remendo, enchia com uma bomba manual, montava tudo outra vez e seguíamos em frente) e cozinheiro (porque nosso ônibus tinha serviço de copa e cozinha, limitada logicamente, a água tão quente como se tivesse escapado do radiador, bolacha mais dura que os seixos da beira da estrada, feijão de tropeiro, carne seca frita e aquele arroz no melhor estilo “santa casa de misericórdia”), mas aventura que se preza tem que demonstrar as dificuldades logo de início para ver se o cabra é macho capaz de enfrentar...

E seguíamos nós, lépidos e fagueiros em direção à bela cidade de Lençóis, cortada pelo riachinho que leva seu nome (ou seria a cidade que herdara o nome do rio bem mais velho que ela?) e que na época das chuvas se transforma num dragão capaz de tragar tudo o que encontra em sua frente.

Mais quebrado do que arroz de terceira preenchi a ficha do Hotel Pousada onde me esperava uma cama macia, recheada de festivos percevejos que me deram as boas vindas com um banquete onde o prato principal era o meu sangue.

Tentei inutilmente afastá-los usando quase todo o tubo de repelente de insetos.

Mas percevejo não é inseto e todos, absolutamente todos, fizeram questão de demonstrar a superioridade da espécie em não levar em consideração o princípio ativo do repelente.

Enfim consegui dormir, afinal foram três dias de viagem entre Salvador e Lençóis em companhia de seu Fulgêncio e sua incrível máquina exterminadora de aventureiros metidos à besta.

Lapa Doce é o nome da gruta cuja entrada mais parece a porta de um hangar onde entrariam facilmente dois aviões Boeing, daqueles grandões, ao mesmo tempo.

É um mundo incrivelmente diferente de tudo aquilo que nossos olhos estão acostumados a ver.

As avencas levemente embaladas pela brisa matutina se mostram exuberantes, como cortinas no umbral daquele mundo subterrâneo que aprendemos a temer desde a primeira infância.

Escuro, misterioso, onde o som constante do gotejamento nos lembra milhares de relógios marcando, em contagem regressivamente cadenciada, os segundos que nos restam de vida.

Tudo é lindamente impressionante naquele local de magnas proporções, onde a cada passo, nos sentimos menor, mais vulneráveis, mais indefesos.

O chão brilha quando a luz da lanterna incide sobre os cristais de calcita. É como se estivéssemos vendo a via Láctea de cima para baixo, com miríades de estrelas cintilantes.

Os estalactites e estalagmites se aproximando lentamente, a cada gota da água, rica em carbonato de cálcio, formam estranhas figuras que nosso cérebro, acostumado a examinar as coisas por comparação, vai identificando as formas de cálice, elefante, pizza, torres de catedrais, asas de morcegos, peitos de mulher, tronos, cajados, velhos curvados pelo peso dos anos...

Numa das colunas havia um bando de grilos das cavernas.

São animais perfeitamente adaptados ao ambiente sem luz tanto que perderam a cor e substituíram a visão por aumento considerável no tamanho das antenas, que funcionam como as bengalas dos humanos cegos e através delas pode localizar o excremento dos milhares de morcegos, onde microrganismos, seu alimento preferido, executam em perfeita harmonia o processo de reciclagem da matéria.

Embevecido nessa contemplação e acompanhando o movimento dos grilos perturbados pela luz de minha lanterna, enveredei por galerias fora do circuito onde o nosso guia tinha deixado parte do grupo enquanto providenciava socorro para uma mocinha, claustrofóbica, que dera um piripaque.

De repente estava perdido, sem saber como voltar.

O fato é que eu ouvia as vozes, mas não sabia como voltar para a trilha, naquele labirinto incrivelmente igual.

- O senhor se perdeu do grupo, não foi?

Olhei para todos os lados na intenção de identificar de onde tinha partido aquela voz, mas não consegui ver nada, além das belas formações cristalinas de cores variadas.

- Estou ouvindo coisas (pensei em voz alta) aqui não tem ninguém.

- Tem sim, Ninguém é o meu nome.

E surgiu diante de mim um homem bem mais alto do que eu com os cabelos e barba quase pelos joelhos, segurando um cajado de madeira escura. Sua idade era impossível de determinar.

A pele que se via, do rosto e membros superiores e inferiores, era branca como se fosse uma estátua de mármore.

- O senhor mora aqui? Perguntei curioso.

- Desde que era um rapaz. Não sei quanto tempo faz que estou aqui dentro. Me refugiei para não ser preso por conta do crime que cometi, mas me condenei à prisão perpétua porque não pertenço mais ao mundo lá de fora.

- E como é que o senhor faz para viver? Como é que come?

- Como grilo e às vezes morcego novinho quando cai dos braços da mãe.

- E o senhor consegue ver com seus olhos brancos assim?

- Não. Fiquei cego há muito tempo. A água me cegou, mas aprendi a viver no escuro e a interpretar os sons que escuto como o do seu coração, que está batendo assim com medo de mim. Mas não tenha medo, eu não lhe farei mal. Eu sou inofensivo como tudo que tem aqui na gruta. Só lhe peço um favor...

Aquele homem, se é que se pode chamar assim, tinha toda razão, eu ainda permanecia ali porque não sabia como voltar para a trilha e principalmente, porque desde a sua chegada, eu deixara de sentir minhas pernas, tal o medo que tomara conta de mim.

- Eu sinto que estou morrendo e quero pedir um favor ao senhor.

- Pode falar. Eu farei o que o senhor pedir.

- Eu quero que o senhor entregue essas alianças a uma moça que mora em Marimbus. O nome dela é Branca. Diga que foi o noivo dela quem mandou.

- Eu entregarei pode confiar.

E o homem de pedra tirou dos dedos, com muito sacrifício, um par de alianças de ouro que, por causa do ambiente ácido, estava brilhando como se tivesse acabado de ser polida por ourives competente.

- Para voltar para a trilha, passe por baixo da perna daquele elefante ali na sua frente e ante para a direita.

Dizendo isso o homem colocou a mão no peito e desabou no chão de pedra batendo com a cabeça numa elevação com um ricto de dor no rosto. Abaixei-me junto a ele e num fio de voz ele disse:

- Não me tire daqui.

Enquanto voltava para a trilha, lembrei do princípio do espeleólogo. Eu não tinha o direito de tirá-lo dali porque ele era parte da gruta.

Fui para o hotel emocionalmente abalado por ter sido testemunha da morte de um homem que havia se refugiado na gruta e que não queria sair de lá mesmo depois de morto, ouvi um sermão do nosso guia, um veadinho que mais parecia uma libélula saltitante com crise histérica, por conta da minha transgressão às normas de segurança.

Nessa noite, depois de uma deliciosa sopa de batata da serra, fui registrar tudo em meu diário e depois dormir para estar inteiro no dia seguinte.

O faxineiro tinha feito o serviço que eu encomendara com querosene e óleo diesel em todo quarto, chão, móveis, porta e janela e comprado o colchão novo que eu dera o dinheiro e que seria dele quando eu fosse embora.

Os percevejos não apareceram para o jantar e, vitorioso, dormi até depois das 10h00 da manhã do dia seguinte.


Contratei um jeep da segunda guerra e fui para Marimbus cumprir o prometido.

A estradinha é péssima, mas chegamos ao antigo quilombo e eu fui procurar a mocinha chamada Branca.

A única pessoa que tinha esse nome era uma senhora que pelos meus cálculos estava já na casa dos noventa e tantos anos. A pele negra contrastava com o vestido e os cabelos brancos, ela estava sentada numa esteira de palha no chão batido da varandinha da casa toda feita de palha de piaçava. Sentei num caixote de madeira perto dela.

- Quem é o senhor e o que quer comigo?

- Eu trouxe um recado para a senhora.

E tirando as alianças do bolso algibeira, entreguei repetindo as palavras do homem da caverna.

- Essas alianças foi seu noivo quem mandou.

A dona Branca olhou as jóias brilhando na palma da minha mão e num gesto vacilante, pegou, observou longamente, como se naquele momento toda uma história antiga houvesse se liberado do mais recôndito espaço do seu cérebro.
A sequência de alterações faciais devia ter sido filmada porque nem Leonardo da Vinci seria capaz de reproduzi-las e eu me amaldiçoei mil vezes por não ter ligado a câmera antes de fazer a entrega.
Da curiosidade quase infantil, seu rosto demonstrou surpresa, alegria, tristeza, horror e me entregando as alianças disse num fio de voz.

- Eu não posso ficar com isso moço. Nessas alianças tem o sangue do meu pai que foi assassinado por aquele homem. Ele não queria o nosso casamento.

- Mas ele já está morto. Morreu ontem pouco depois de me entregar as alianças.

- Eu ia fugir com ele, mesmo contra a vontade de minha família, mas aí eles se encontraram, brigaram e eu fiquei, até hoje, sem meu pai e sem meu amor.

- Quanto tempo faz que isso aconteceu?

- Acho que faz mais de oitenta anos...

No dia seguinte, voltei à Lapa Doce e sem que ninguém visse, depositei as alianças numa piscina natural tão funda, que fez desaparecer o brilho do ouro...

OBS: Esse texto foi produzido a partir do HaiKai XVI da consóror Marina Alves que gentilmente permitiu a publicação, a quem dedico a como forma de agradecimento.

                         "Caverna escura/ entre pedras gotejantes/ ramo de avenca"

AMIGO OCULTO – classificação: surreal
Eu ainda era um bebê quando minha família mudou para o bairro do Monteiro.
Nossa casa ficava na avenida, bem próxima ao açude de Apipucos, quase em frente à igreja do engenho que se transformara em bairro.
O quintal atrás da casa terminava na margem do rio Capibaribe onde haviam banheiros construídos desde o tempo dos escravos.
O piso era feito com tijolos bem grandes de barro cozido que tinham cintilações verdes por conta da vitrificação feita com sal.
As paredes eram de taipa de sopapo porque, periodicamente, o rio enchia e derrubava tudo. Só o piso resistia à fúria das águas.
Havia muitas árvores frutíferas nos duzentos e tantos metros de quintal que começava nos batentes da cozinha e se estendia, com inclinação suave, até os banheiros. Era o meu sítio, onde passei os melhores anos de minha vida.

Ainda no berço eu ficava por muito tempo, depois de acordado, brincando com Agnus Dei, o meu amiguinho preto que aparecia quando eu estava só e desaparecia quando alguém se aproximava de mim. Agnus gostava de tocar o chocalho e me ensinava canções numa língua que ninguém entendia.
Eram palavras que contavam histórias da boa vida, numa aldeia que ficara muito distante e aonde as pessoas sentavam à sombra dos baobás para beber da água doce do rio, cheio de hipopótamos que bramiam em noites de lua cheia.
Antes de completar um ano, meu amigo Agnus me ensinou a andar. Ele segurava as minhas mãos e andava de costas me guiando para o terraço fresquinho ao lado da casa.
Cresci brincando com Agnus, mas como ninguém conseguia vê-lo deixei de dizer que ele estava brincando comigo.
Quando alguém dizia:
– Esse menino passa o dia todo brincando só, se não chamar ele é capaz de passar o dia todo com fome – eu nem ligava.
Agnus trazia uma cesta pequena cheia de bolinho de goma bem branquinho que a mãe dele fazia e nós comíamos tudo.
Nos domingos quando eu ia assistir a missa com minha família, Agnus ficava do lado de fora da igreja.
Quando eu chamava para ele ficar no banco, ele chegava perto e dizia: - Sinhá num dêxa nego entrá... E saía correndo.

Com sete anos fui matriculado na escola de dona Filomena, Agnus ia comigo e ficava sentado no banco do jardim esperando que a aula acabasse. Foi nessa época, conversando com Suzana, minha colega de classe, que também via Agnus e ficava toda arrepiada, que eu entendi que ele era uma assombração.

Às vezes eu pedia a ele para dar susto nas pessoas e a gente ria muito se lembrando das caras assustadas que elas faziam. Todas as vezes que estávamos brincando na casa da árvore que tio Tonho construiu para mim, no pé de fruta pão, lembrávamos dos sustos e riamos muito.

Eu estudava falando bem alto que era para Agnus decorar e me ajudar nas sabatinas, mas ele era burrinho não aprendia nunca e eu fiquei muitas vezes de castigo por conta das respostas erradas que ele me dava, principalmente na tabuada que ele mais se confundia e eu levava bolos de palmatória.
Mas eu não tinha raiva dele. Ele era meu amigo, meu companheiro, meu amigo oculto que estava sempre disposto a me ajudar em todas outras coisas.

No dia em que eu fiquei olhando a prima Matilde tomar banho, ele me avisou que tia Emília estava chegando nas pontas dos pés para me pegar. Se eu tivesse sido descoberto, teria levado uma surra daquelas!

Com onze anos me matricularam no seminário de Olinda. Fiz de tudo para Agnus ir também, mas ele dizia que tinha medo de padre e que também sinhá não deixava entrar na igreja.
Uma vez por mês eu vinha passar o final de semana no Monteiro. Enquanto eu estava vestido com a batina negra de faixa azul, Agnus não se aproximava.
Ficava meio escondido atrás da porta me olhando com aquele olhar desconfiado de criança que fez algo errado e espera o castigo que, certamente, virá.

Com muita conversa, aos poucos fui desfazendo aquele medo e repassando ao meu amigo os conceitos da teologia e de filosofia que estudava no seminário e, coisa engraçada, parecia que a cada mês meu amiguinho ia crescendo, se tornando adolescente, depois jovem, depois como homem perdeu a cor escura, ficou diáfano.
Todos os dias nas orações matinas, terças, sextas, noa e vésperas eu pedia com todo fervor que deus desse entendimento ao meu amigo para que ele encontrasse o caminho da paz e da iluminação.
Numa noite, quando todos já haviam se recolhido, eu vi Agnus junto à minha cama. Ele disse:
- Vem comigo, vamos lá fora.
- Não posso sair.
- Então, abre a janela.
- Eu vou abrir a janela do corredor. A do dormitório somente o padre prefeito pode abrir.
Tentando fazer o mínimo ruído possível, abri uma das janelas do imenso corredor. Havia uma luz etérea no pátio e Agnus me disse:
- Graças às suas preces, esses mestres vieram me ensinar os caminhos espirituais e eu vou agora com eles. Somente iremos nos encontrar quando você tiver concluído essa encarnação.

Com os olhos cheios de lágrimas vi meu amigo perder a forma humana e juntamente com outros vultos se dissipar entre a folhagem do jardim. Nesse momento, eu senti uma vibração muito forte inundar meu corpo e aquela sensação de paz e harmonia impossível de se transformar em palavras.

- Não chore meu filho, seu amigo agora está no caminho da luz. Vá dormir e não comente isso com ninguém.

Era o padre prefeito que, tirando a mão do meu ombro, fechou a janela e se dirigiu para sua cela.
Olhando as costas do padre que se afastava, julguei ver um feixe de luz sobre a sua cabeça.

Formei-me padre e fui trabalhar na Zona da Mata de Pernambuco numa comunidade pobre e analfabeta. Trabalhei com afinco para que meus paroquianos saíssem daquela vida de sacrifício inútil.
Por causa disso, era chamado de comunista.

Durante a ditadura fui perseguido, preso, torturado e expulso do país. No meu exílio forçado, pedi aos meus superiores para servir na África, onde o povo falava algumas das palavras das canções da minha infância.
Com a anistia, voltei para minha terra e trabalhei até mês passado quando foi diagnosticado câncer na cabeça do pâncreas e me deram no máximo três meses de vida.
Hoje quando acordei na UTI vi Agnus Dei junto à cama. Ele sorriu para mim e perguntou:
- Vamos?
- Espere um pouco. Quero terminar a nossa história que estou ditando para o gravador.
- Eu prefiro que os leitores façam o final que eles acharem melhor.
- É. Você tem razão...
E o bip intermitente do monitor cardíaco foi substituído pelo som contínuo...

CRÔNICA

FILHOS DO LIXO
A TV Globo mostrou hoje no jornal Bom dia Brasil, a primeira de uma série de reportagens sobre o submundo do lixo.
No interior de Pernambuco, numa cidade tão grande a ponto de produzir quinze toneladas de lixo por dia, três crianças de dois a quatro anos, filhos de uma jovem que por ser catadora de lixo e por não ter creche no município, é obrigada a leva-los para o seu “ambiente de trabalho” numa carroça puxada por jumento, onde são transportados os materiais para reciclagem.
Essa mulher que mora num barraco miserável, onde falta tudo, levanta antes de clarear o dia, dá banho e veste as crianças, atrela o jumento à carroça e vão para o lixão da cidade onde as crianças podem comer restos de alimentos que foram jogados fora, contaminados pelo contato com material em decomposição, como aves mortas descartadas de criatórios, cujas carcaças apodrecidas são disputadas pelos demais catadores que as levam para terem o que comer em casa. No mesmo espaço, urubus disputam algo que os humanos não puderam aproveitar pelo adiantado estado de putrefação. Cada caminhão que chega, provoca uma corrida dos catadores para conseguir algo reciclável de valor comercial ou mesmo um reforço para alimentação do dia.
Essas cenas, dignas de compor as obras de Victor Hugo ou Dante Alighieri, são o retrato vil do descaso com a vida humana, da hipocrisia dos homens que se dizem cristãos, do descalabro com que são administradas as verbas públicas.
Onde está o Poder Judiciário?
Onde está o respeito aos direitos humanos?
Onde está o Estatuto da Criança e do Adolescente?
(que deveria atuar mais na prevenção que na punição)
Onde estão as verbas públicas para a construção e manutenção das creches e das escolas?
Outras duas moças foram mostradas. Os seus sonhos frustrados eram de arranjarem serviço no mercado formal de trabalho, uma delas, em lágrimas, verbalizou o desejo que tinha de ser Secretária, mas não pode estudar (faltou escola) e hoje, estão presas na vida degradante que nossa sociedade omissa, lhes destinou.
O que vai ser desse pessoal, sem comer, sem saúde, sem instrução?
Que outro futuro os espera além da miséria?
Até que o manto da droga os acolha, continuarão comendo lixo “morrendo um pouco a cada dia”*
Tenho vergonha de minha geração que fez com que chegássemos a esse ponto e, por minha omissão, tenho vergonha de mim.
*Verso de João Cabral de Melo Neto em Morte e Vida Severina.

HAIKAI – classificação: Senryus

HAIKAI 4

Mão estendida, ao pé da ponte,

        Moedas tilintando na tigela.

                  Cão vadio, adormecido.
HAIKAI 7

Livros empilhados
 
       Conhecimento condensado

              Povo analfabeto

MENSAGENS –classificação: amizade

OUTRA VEZ É NATAL
Uns dizem que o ano passou muito rápido, que não deu tempo para nada, que parece que foi ontem a festa do último natal.

Outros consideram que os dias se arrastaram, e que parecia, que o ano não queria acabar.

Tudo ilusão...

Os dias foram tal qual os do ano anterior e o anterior do anterior por todo o sempre, afinal, todos eles tiveram, e terão, as mesmas vinte e quatro horas.

O que provoca essa sensação de urgência ou de lerdeza do tempo é, exclusivamente, o ponto de vista.

O ano que passa célere, como o clarão do raio, para o estudante que vai prestar vestibular e tem toda a matéria para passar em revista é o mesmo que se arrasta, como tartaruga sonolenta, para os que estão hospitalizados ou encarcerados.

Mas independente do ponto de vista, o fato é que estamos, outra vez, no limiar de um novo ano e é nessa ocasião que renovamos, a todos, os nossos votos de felicidades, saúde, dinheiro, alegrias, grandes (e pequenas) realizações e acima de tudo paz de espírito.

E é exatamente tudo isso que eu desejo a todos os meus companheiros dessa viagem maravilhosa à qual chamamos vida.

PENSAMENTO

QUERIA
Queria que você fosse meu eterno bem,

Queria ver crescer a fraternidade,

Queria saber que não mais existe a miséria,

Queria ver florescer a amizade.

Queria viver um milhão de anos,

Queria que o organismo não envelhecesse,

Queria estar mais perto dos amigos,

Queria que o egoísmo desaparecesse.

Queria ler todos os livros do mundo,

Queria saber falar todas as línguas vivas,

Queria conhecer todas as línguas mortas.

Queria ver todos os museus,

Queria ver todos os parques do mundo,

Queria conhecer todas as praias,

Queria mergulhar no oceano profundo.

Queria correr pelos campos como louco,

Queria me perder nas florestas,

Queria ver de perto todos os animais,

Queria sentir o aroma de todas as flores,

Queria ser surpreendido pela chuva torrencial,

Queria andar a pé por todas as estradas.

Queria experimentar de toda culinária do mundo,

Queria um gole de todas as bebidas,

Queria sorrir de orelha a orelha,

Queria gargalhar com todos os dentes,

Queria chorar lágrimas de felicidade

Queria que na estrada da vida...

Eu estivesse no portão da entrada,

E não na porta de saída...

POESIA – classificação: desilusão


ESPERA
Esperei por ti inutilmente,
Em cada rosto eu via num repente,
Teu lindo olhar, teu riso, teu semblante,
Mas não vieste e sem dizer o porquê,
Destruíste neste gesto todo o meu viver.

Íamos fugir para bem longe,
Viver a vida que havíamos sonhado,
Os planos todos, a nós mesmos dedicados,
Pontilhados de ventura e felicidade.
Vivendo a aventura da alegria,
Onde ninguém sequer nos conhecia,
Vida cigana, completa, sem saudade.

Mas não vieste e sem dizer o porquê,
Destruíste neste gesto todo o meu viver.

Ainda hoje choro a desventura,
De ter sonhado e não realizado,
A vida a dois que tu abandonaste.
Aquela noite permanece ainda,
Fez-se eterna, tornou-se infinda.

Pois não vieste e sem dizer o porquê,
Destruíste neste gesto todo o meu viver.

PROSA POETICA

AREIA, TESTEMUNHA.

Nossos castelos de areia enfeitados com sargaço
Sempre foram os mais bonitos
Na nossa infância, desinibidos
Passávamos as horas construindo, sem cansaço.
Você, a princesa que a bruxa aprisionou
Eu, o herói cavalgando as ondas
Derrubando muralhas inexpugnáveis, que sempre lhe salvou.

Adolescente a areia lhe incomodava,
Trazida pelo vendo no bronzeador se pregava,
O banho rápido e a reposição do creme
Que em minha mão, a sua pele macia massageava
Com o prazer de sentir as curvas generosas
Deliciosamente quentes e olorosas.

Eu te amo, escrito em relevo com areia e sargaço
Em ondas, o mar levou
Mas nosso compromisso selado num abraço
Nada, nem o tempo, apagou.

Nossas sombras projetadas na areia
Sua barriga grávida revelava
Tantas vezes, ela foi mostrada
Seguidamente, éramos dois, éramos três,
Éramos quatro, éramos cinco, éramos seis.
Nossas pegadas seguidas de pegadas pequeninas
Outros castelos, outras princesas
Nossas crianças, nossas filhas, nossas meninas
Que cresceram e foram fazer outros castelos
Muito além do horizonte, bem longe de nós
Deixando apenas a saudade atroz.

Incansável, o mar apagou todos os dias
As pegadas que deixávamos nas areias
Mesmo vacilantes, nossos velhos pés
Não deixaram de marcar nosso caminho.
A morte repentina parou seus passos
E estando longe do alcance dos meus braços
A lua hoje imprime na terra
Uma sombra solitária, que encerra
A imensa dor de caminhar sozinho.



Autor: Alberto Vasconcelos - Santo André - SP

Página do autor:


http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=41760

Relógio de acesso inicial: 146.735 a 149.333, total: 2.598


5 comentários:

Marina Alves disse...

Desde a primeira vez que li Alberto Vasconcelos no Recanto das Letras, imediatamente eu soube que ali estava um escritor incomum. Tenho acompanhado seu trabalho também em outros espaços, e cada vez mais me convenço de que não estava errada na minha primeira avaliação. Gosto muito de seu estilo próprio, da sua espontaneidade, da sua forma única de se expressar, sem contar a profunda bagagem de conhecimento que, sabemos, este autor detém. Desta forma, resta dizer que a Quinzena do Autor nos contempla com mais uma pérola no campo literário. Parabéns, Alberto, parabéns Carlos, pela iniciativa. Abraço.

Marina Alves disse...

Alberto, parabéns pela versatilidade, haja vista, a gama da diversidade de sua criação. Obrigada, em especial, pela referência à inspiração a partir de meu Haikai. E não posso deixar de citar, minha simpatia especial por esse maravilhoso "Doce de Araçá". Sempre um prazer te ler! Abraço.

Anônimo disse...

Parabens Alberto. Além de conhece-lo um pouco mais, foi um prazer ler seus textos.

Anônimo disse...

Parabens Alberto. Uma obra relevante. Conceição;

Giustina disse...

Oi, Alberto! Tua bela obra eu já conheço do Recanto das Letras e sei que és eclético, como bem o demonstras aqui. Contos, haikais, poemas diversos, artigos, crônicas... em tudo te sais maravilhosamente bem. Merecida essa quinzena neste expressivo site! Abraços.