segunda-feira, 5 de setembro de 2016

A sereia e o navegante

Autora: Rosana de Pádua

Vivia a Sereia na imensidão do mar. Passava seus dias pensando ser feliz, ora em águas calmas, ora em águas turbulentas.  Distraia-se nadando delicadamente, entre o colorido e a beleza dos corais infinitos, que contrastavam com as milhares de espécies ali existentes. 
Um dia, enquanto ela descansava sobre o mar, aproveitando os raios de sol que aqueciam seu corpo metade peixe, metade mulher, deparou-se com um Navegante que por ali passava. Ele acenou para ela, que fugiu assustada num ímpeto, mas, tomada de um sentimento estranho voltou desconfiada, e ficou ao longe tentando decifrar aquele misterioso ser.
Aos poucos foi se aproximando, e quando seus olhares se encontraram a Sereia ficou totalmente encantada, pois, ele tinha os olhos mais azuis que o mar, e seu sorriso brilhava mais que sol, que ela via nascer todas as manhãs.
Nesse instante o Navegante falou com ela, de um jeito hipnotizador, que de tão irresistível a levou a se aproximar ainda mais, correspondendo ao aceno. Houve um longo silêncio entre eles, enquanto deixaram que só os olhos falassem, depois foram surgindo palavras, e na troca de diálogos perceberam que muito tinham em comum. 
Daquele dia em diante, o Navegante voltava sempre para encontrá-la, e a serena Sereia o esperava ansiosa, contando os minutos para de novo vê-lo. Falavam de tudo, de suas vidas, de seus sonhos... Um dia, ele disse olhando dentro de seus olhos, que a amava, e a Sereia de tão feliz pensou que ia explodir, pois, sentia pelo Navegante algo jamais experimentado, que ela ainda não sabia decifrar, mas, a partir daquele momento soube, que era um sentimento nobre e imensurável, chamado Amor.
Passaram então, a estarem sempre juntos, ele fazia planos para o futuro e dizia que ela faria parte deles, trocavam juras, dividiam sonhos, passaram assim, a fazer parte um da vida do outro, inebriados em momentos de amor e caricias. Eram mais que dois, eram apenas um. Quando o Navegante partia, a Sereia quase morria de saudades, quando ele voltava, a saudade ia-se embora, dando lugar para o amor, que era responsável pela felicidade que contagiava a ambos.

Foi num dia nublado, que o Navegante fez a Sereia despertar de tantos sonhos, dizendo que ia partir para nunca mais voltar. Ele falava de uma tal de “segurança” que precisa ter, e que com ela não teria, e que seria impossível compartilharem o mesmo mundo, eram coisas que ela não entendia.  A Sereia ficou apavorada e confusa, tentando entender essa decisão repentina do ser amado. Ela implorou, insistiu e chorou, numa tentativa inútil de convencê-lo a não deixa-la. Mas o insensível Navegante partiu sem maiores explicações.
Durante vários dias a solitária Sereia esperava em vão pelo Navegante, depois daquela despedida, ela começou a achar que o mar era cinza, e que não havia mais belezas para serem admiradas, resultado de algo que ela jamais conseguiria entender: “Porque quem ama, fere?"   
Conta-se, que a partir daquele desencontro, é possível em noites de lua cheia, ouvir ao longe, o triste canto de uma sereia, enquanto nota-se, que as marés se tornaram muito mais intensas, devido às muitas lágrimas que caem dos olhos, da desencantada Sereia.

Autora: Rosana de Pádua

3 comentários:

Anônimo disse...

Uma lenda cujo final dói no coração.Muito bem narrada. E na medida certa.Conceição Gomes.

Anônimo disse...

Uma lenda perfeitamente contada e perfeitamente dentro dos parâmetros do concurso.

A moral dessa lenda seria desaconselhar a união entre diferentes?

Parabéns a quem a produziu.

Alberto Vasconcelos

Marina Alves disse...

Pelas linhas do imaginário, um lindo conto narrado com toques de romantismo, dor, saudade e abandono, como em muitas histórias de verdade.