sábado, 23 de maio de 2015

Terceiro Concurso do Blog - Texto 27: Uma noite como lembrança

Quando se conheceram, Lúcia tinha quatorze anos e Júlio dezoito. Ela era só uma menina e ele quase homem feito, com extensa lista de namoradas.  Ela ainda via os meninos de uma maneira meio desconfiada, mas com ele foi diferente. Talvez tenha sido o seu primeiro amigo do sexo oposto. Vizinhos de rua, logo começaram a conversar todo dia.
Júlio apaixonou-se quase que imediatamente. Chegou a falar em namoro com os pais da garota. Estava certo que com o tempo, ela   também o enxergaria como homem e eles se entenderiam. A felicidade   seria só uma questão de paciência.
Lúcia era uma menina inocente e insegura, oposto de sua irmã Isabel, mais velha dois anos e bastante atirada. Não demorou muito Júlio perceber um certo interesse da cunhada por sua pessoa. No início se fez de desentendido. Estava certo de seu amor por Lúcia, mas o assédio de Isabel o desconcertava. Lutava para manter-se fiel, pois tinha medo de gerar atritos na família e acabar perdendo a namorada.
Assim foi levando o namoro inocente por vários meses, sentindo-se   cada vez mais envolvido pelas artimanhas de Isabel. Seus amigos diziam não entender aquele romance com uma menina. Por que ele não namorava alguém da idade dele, ou pelo menos uma moça mais madura? Para que esperar por alguém que ainda não sabia o que querida da vida?  Mesmo sentindo estranha atração pela cunhada, sabia que por Lúcia nutria um amor maior que ele.
Tudo ao seu redor, até as músicas lembravam o jeito dela.  Contava as horas, os dias para o final de semana chegar logo e passearem juntos, tomar sorvete e irem ao cinema. Tudo na maior inocência, até os beijos eram de adolescentes.
Inesperadamente houve uma tarde em que um furacão passou por cima desse amor. Júlio não resistiu às investidas da tinhosa cunhada, que naquele dia estava sozinha em casa. Entre muitos beijos, abraços e mãos inquietas, ela confessou que não parava de pensar nele, que não aguentava esperar mais e estava louca de desejo. Sem pensar direito, subiram as escadas e foram para ao quarto. Apesar de jovens, ambos eram experientes e o inevitável aconteceu...
Atordoado pelo inusitado daquele momento de desejo incontido, ele sabia que não era aquilo que almejava para sua vida!  Naquela madrugada saiu caminhando pela rua, debaixo da chuva fina, como se a água   pudesse lavar seu corpo e sua alma.   Sentia na boca o beijo de Isabel, mas era um sabor amargo e cheio de dúvidas...
Nunca soube se ela contou à irmã, porém o namoro esfriou. Tempos depois Lúcia encantou-se por um outro rapaz. Júlio não   acreditou... Insistiu. Insegura como sempre, ela ficou sem saber o que fazer. Apesar da confusão bem comum na cabeça de uma jovem, ela decidiu algo inusitado que encheu o coração de Júlio de esperanças.
Disseram aos pais que acampariam com amigos, mas foram sozinhos passar o final de semana numa cabana a beira de um rio. Tiveram uma inesquecível noite de amor... Incrível a sensação de realizar algo tão aguardado, mas os dois sabiam que era o fim. Algo havia se quebrado de maneira irreparável.  Como se fechassem uma página da vida e abrissem outra. Ele esperou que ela mudasse de ideia, porém o tempo passou. Ela não voltou, só ele não a esqueceu. 
Júlio recebeu um convite de casamento e soube por uma amiga em comum da gravidez de Lúcia. Chorou, derramou lágrimas solitárias. Seu amor não era mais aquela menina inocente, se casaria, teria um filho e não era dele...
A dor foi minimizada pelos anos.  Restaram as lembranças dos bons momentos. A fantasia daquele amor adolescente e a certeza de que todo amor   vale a pena, mesmo quando só nos resta a saudade e uma   história para contar.

3 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom texto.

Perfeitamente dentro dos parâmetros do concurso.

Parabéns a quem o produziu.


Alberto Vasconcelos

Anônimo disse...

Um ótimo texto falando de amores não concretizados, mas inesqueciveis.Conceição gomes

Marina Alves disse...

O amor e seus desencontros, muitas vezes tornados em saudades para serem lembradas a vida toda. Um belo conto. Parabéns!