segunda-feira, 15 de julho de 2013

Alma penada

Autora: Conceição Gomes

Nos áureos tempos  do município de  Brejo Santo,  em Pernambuco, vivia um rico fazendeiro conhecido como Santeval. Suas terras perdiam-se de vista, iam além das colinas cobertas da mais verdejante vegetação. Muitas cabeças de gado e vários hectares de cana de açúcar. Só tivera uma filha, chamada Rosa. Moça de rara beleza, fora educada na Europa, precisamente em Londres. Os moços do lugar perdiam-se de amores pela bela jovem, mas ela declinava a todos e dizia que nenhum havia tocado seu coração. Vivia também no município, um belo rapaz de nome Maneco Santício. As moças suspiravam por ele, mas ai de quem ousasse namorá-lo. Os pais das donzelas não admitiam nem falar em Maneco  nas conversas de família, tudo porque o moço  era um exímio preguiçoso, não tinha emprego fixo fazia pequenos bicos  tudo o ganhava,  gastava com a bebida. Não raro, era encontrado caido de bêbado  nas beiradas das estradas. Aconteceu na festa do padroeiro do município. Rosa passeava  pelo arraial, admirando  os produtos das barraquinhas e deliciando-se com  as guloseimas. Maneco fazia o mesmo. De repente, seus olhares se cruzavam. Foi paixão à primeira vista. Maneco puxou conversa, ofereceu um refresco para Rosa e saíram a passear juntos. Sabendo depois quem era o mancebo, Rosa sabia perfeitamente que não poderia namorá-lo, mas  quem manda no coração? Os dois passaram a encontrar-se às escondidas, em algum canto sossegado da fazenda  do Velho Santeval, precisamente em  uma caverna  cheia de mistérios. Quase todos os habitantes sabiam do romance, mas quem se atreveria a turvar a felicidade de um  casal apaixonado? E ainda sabendo do risco que Maneco estava correndo?Certo,  ele era um beberrão, mas depois de iniciado o romance  com Rosa, até parara de beber  e arrumara um trabalho como peão em outra fazenda vizinha a de  Rosa.  Mas quem disse que  esse romance passaria impune? Alguem contou tudo ao velho Santeval, que flagrou os dois no refugio onde se encontravam escondidos. Rosa foi levada para casa e trancafiada no  seu quarto. Maneco levou uma camaçada de pau e foi ameaçado que se tentasse  ver Rosa novamente seria castrado.
O tempo passou. Maneco voltou a beber desbragadamente e Rosa definhava a olhos vistos. Certo dia, mal conseguindo se por de pé, Maneco invadiu a Fazenda Santeval, bem perto do pasto dos bois para ver sua amada. Apanhado  por um touro furioso, foi atingido com algumas chifradas na região do fígado e morreu ali mesmo. Rosa ficou sabendo e desesperada correu até o local onde Maneco caíra morto. Atirou-se  sobre o corpo do amado chorando copiosamente. O Velho Santeval ao ver a cena,   tirou a filha dali e ainda esbofeteou-a. Rosa não resistiu e teve uma síncope ali mesmo. Nessa hora,  despejando ódio por todos os poros, o Velho Santeval rogou uma praga:  que a alma de  Maneco vagasse  no fogo do inferno e que nunca tivesse paz. Alguns dias depois,  por volta da meia noite Tadeu, o irmão de Rosa, passando pelo local onde Maneco morrera, viu um vulto vestido de negro.  Quis correr mas as pernas pareciam ter chumbo. Ficou inerte. Então ouviu uma voz que lhe pediu:
-Tadeu, peça ao seu pai para retirar a praga que me rogou, senão nunca minha alma vai poder descansar. Dito isto, o vulto sumiu. Tadeu transmitiu o recado ao pai, mas este foi inflexível, não perdoou Maneco e nem retirou a praga. Diante da morte do Velho Santeval, a mulher dele pediu que retirasse a praga. Nem assim o velho cedeu. Os antigos moradores de Brejo Santo,  hoje um município em total decadência,  dizem  que a alma de Maneco vaga por lá. Dizem até que por vezes, um velho também vestido de preto aparece ao lado de Maneco. Muitos já viram  e haverão de ver.

Autora: Conceição Gomes - Curitiba/PR

Página da autora:
http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=54344

7 comentários:

Anônimo disse...

Ótima essa ideia de podermos ir apreciando cada texto um a um. Já li todos os contos e acho que muita coisa boa foi escrita. Impressionante como, a partir das mesmas fotos que serviram de inspiração, tanta coisa diferente foi imaginada. Isto é a melhor parte deste exercício, com certeza. No caso de "Alma Penada", o conto está muito bem escrito e o autor (ou autora) está de parabéns! Marina Alves.

Ana Bailune disse...

Ainda falta-me ler alguns dos últimos contos enviados, o que farei assim que puder concentrar-me adequadamente. Este eu já tinha lido - muito bom, e arrepiante!

Unknown disse...

Li todos os vinte três textos que foram postados e confesso que vai se difícil optar por apenas dois, são todos excelentes não se sabe qual o melhor!

Carlos A. Lopes disse...

Tenho informações de que ainda vamos receber alguns textos para o concurso, razão pela qual vou diminuir o espaço de tempo de três dias para dois dias entre uma postagem e outra, senão serei injusto em não apresentar ao público alguns textos.

Helena Frenzel disse...

Já havia lido este texto outro dia, mas como não tinha certeza se podia comentar ou não, por ser do concurso, resolvi aguardar para deixar as minhas impressões: uma história bem criativa. Parabéns ao autor ou à autora!

GraldoRodrizhoje disse...

Um bom texto...

Maria Mineira disse...

Já li todos os contos do concurso. Muito interessante esse jeito de cada autor ver o fatos, estou gostando demais de tudo aqui! Parabéns ao autor ou autora desse interessante conto. Um abraço.