Autora: Conceição Gomes
Nos áureos tempos do município de Brejo Santo, em
Pernambuco, vivia um rico fazendeiro conhecido como Santeval. Suas terras
perdiam-se de vista, iam além das colinas cobertas da mais verdejante
vegetação. Muitas cabeças de gado e vários hectares de cana de açúcar. Só
tivera uma filha, chamada Rosa. Moça de rara beleza, fora educada na Europa,
precisamente em Londres. Os moços do lugar perdiam-se de amores pela bela
jovem, mas ela declinava a todos e dizia que nenhum havia tocado seu coração.
Vivia também no município, um belo rapaz de nome Maneco Santício. As moças
suspiravam por ele, mas ai de quem ousasse namorá-lo. Os pais das donzelas não
admitiam nem falar em Maneco nas conversas de família, tudo porque o
moço era um exímio preguiçoso, não tinha emprego fixo fazia pequenos
bicos tudo o ganhava, gastava com a bebida. Não raro, era
encontrado caido de bêbado nas beiradas das estradas. Aconteceu na festa
do padroeiro do município. Rosa passeava pelo arraial, admirando os
produtos das barraquinhas e deliciando-se com as guloseimas. Maneco fazia
o mesmo. De repente, seus olhares se cruzavam. Foi paixão à primeira vista.
Maneco puxou conversa, ofereceu um refresco para Rosa e saíram a passear
juntos. Sabendo depois quem era o mancebo, Rosa sabia perfeitamente que não
poderia namorá-lo, mas quem manda no coração? Os dois passaram a
encontrar-se às escondidas, em algum canto sossegado da fazenda do Velho
Santeval, precisamente em uma caverna cheia de mistérios. Quase
todos os habitantes sabiam do romance, mas quem se atreveria a turvar a
felicidade de um casal apaixonado? E ainda sabendo do risco que Maneco
estava correndo?Certo, ele era um beberrão, mas depois de iniciado o
romance com Rosa, até parara de beber e arrumara um trabalho como
peão em outra fazenda vizinha a de Rosa. Mas quem disse que
esse romance passaria impune? Alguem contou tudo ao velho Santeval, que
flagrou os dois no refugio onde se encontravam escondidos. Rosa foi levada para
casa e trancafiada no seu quarto. Maneco levou uma camaçada de pau e foi
ameaçado que se tentasse ver Rosa novamente seria castrado.
O tempo passou. Maneco voltou a beber desbragadamente e Rosa definhava a
olhos vistos. Certo dia, mal conseguindo se por de pé, Maneco invadiu a Fazenda
Santeval, bem perto do pasto dos bois para ver sua amada. Apanhado por um
touro furioso, foi atingido com algumas chifradas na região do fígado e morreu
ali mesmo. Rosa ficou sabendo e desesperada correu até o local onde Maneco
caíra morto. Atirou-se sobre o corpo do amado chorando copiosamente. O
Velho Santeval ao ver a cena, tirou a filha dali e ainda
esbofeteou-a. Rosa não resistiu e teve uma síncope ali mesmo. Nessa hora,
despejando ódio por todos os poros, o Velho Santeval rogou uma praga: que
a alma de Maneco vagasse no fogo do inferno e que nunca tivesse
paz. Alguns dias depois, por volta da meia noite Tadeu, o irmão de Rosa,
passando pelo local onde Maneco morrera, viu um vulto vestido de negro.
Quis correr mas as pernas pareciam ter chumbo. Ficou inerte. Então ouviu
uma voz que lhe pediu:
-Tadeu, peça ao seu pai para retirar a praga que me rogou, senão nunca
minha alma vai poder descansar. Dito isto, o vulto sumiu. Tadeu transmitiu o
recado ao pai, mas este foi inflexível, não perdoou Maneco e nem retirou a
praga. Diante da morte do Velho Santeval, a mulher dele pediu que retirasse a
praga. Nem assim o velho cedeu. Os antigos moradores de Brejo Santo, hoje
um município em total decadência, dizem que a alma de Maneco
vaga por lá. Dizem até que por vezes, um velho também vestido de preto aparece
ao lado de Maneco. Muitos já viram e haverão de ver.
Autora: Conceição Gomes - Curitiba/PR
Página da autora:
http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=54344
7 comentários:
Ótima essa ideia de podermos ir apreciando cada texto um a um. Já li todos os contos e acho que muita coisa boa foi escrita. Impressionante como, a partir das mesmas fotos que serviram de inspiração, tanta coisa diferente foi imaginada. Isto é a melhor parte deste exercício, com certeza. No caso de "Alma Penada", o conto está muito bem escrito e o autor (ou autora) está de parabéns! Marina Alves.
Ainda falta-me ler alguns dos últimos contos enviados, o que farei assim que puder concentrar-me adequadamente. Este eu já tinha lido - muito bom, e arrepiante!
Li todos os vinte três textos que foram postados e confesso que vai se difícil optar por apenas dois, são todos excelentes não se sabe qual o melhor!
Tenho informações de que ainda vamos receber alguns textos para o concurso, razão pela qual vou diminuir o espaço de tempo de três dias para dois dias entre uma postagem e outra, senão serei injusto em não apresentar ao público alguns textos.
Já havia lido este texto outro dia, mas como não tinha certeza se podia comentar ou não, por ser do concurso, resolvi aguardar para deixar as minhas impressões: uma história bem criativa. Parabéns ao autor ou à autora!
Um bom texto...
Já li todos os contos do concurso. Muito interessante esse jeito de cada autor ver o fatos, estou gostando demais de tudo aqui! Parabéns ao autor ou autora desse interessante conto. Um abraço.
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