Autor: Geraldinho do Engenho
Um
sitiante muito trabalhador cultivava legumes, frutas, criava animais
de pequeno porte e possuía algumas vaquinhas de leite. Sua produção era vendida
na cidade, que se situava bem próxima do seu sitio.
Embora
muito trabalhador, o homem era teimoso como uma mula mal domada. Quando cismava
que pau era pedra, não mudava de opinião nem que o diabo berrasse no seu
ouvido. Entrava ano saia ano, o homenzinho, naquela rotina constante. Ordenhava
suas vaquinhas, colhia seus legumes, frutas e ovos. Colocava-os na sua carroça
e tomava o rumo da cidade para vendê-los. Criava sua numerosa família com seu
trabalho desta forma honesta. Teimoso como era, quando discordava de alguma,
coisa preferia morrer, mas não mudava de opinião.
No
seu trajeto do sítio para a cidade, havia um grande latifúndio pertencente a um
magnata. Um pequeno igarapé margeava a estrada em quase todo o seu percurso, ou
melhor, a estrada o margeava. Entre ambos, seguia também uma trilha tortuosa
como se fossem três rabiscos desenhados por algum mestre, delineando a bela
paisagem. No decorrer do tempo, o colono notou a presença de um sapo, que
seguia trilha afora numa velocidade incrível. Fazia uma pequena parada, o sapo
também parava. De início ele não deu muita importância ao fato, mas no decorrer
do tempo começou a se intrigar, e até a se aborrecer. Afinal por que aquele
bicho asqueroso o seguia diariamente pra lá e pra cá?
Como
todos nós temos um dia na vida em que a paciência se esgota, o leiteiro, de
saco cheio, desceu de sua carroça e resolveu encarar o bicho. Olhou
bem nos seus olhos e perguntou;
–
Ó seu sapão nojento, o que eu tenho com sua vida, pra tu ficar me seguindo sem
parar desta forma, diariamente?
–
Acontece que eu sou seu avô!
– Credo
em cruz, nunca vi sapo falante!
– Eu
também, não! — resmungou seu cavalo.
–
Meu Deus, estou perdido! Um sapo e um cavalo falando comigo, estou louco ou
sonhando?
–
Nada disso, meu neto! Deixa que eu te conte minha história e você vai entender
tudo, não tem nada de anormal... O que aconteceu, é que eu era mais teimoso que
você e nunca acatei opinião de ninguém. Há muitos anos, eu era como
você, um leiteiro teimoso, que um dia encontrou aqui um beato. Ele me disse
carinhosamente
-
lá vai vender seu leitinho, filho!
–
Sim, vou vender!
–Se
Deus quiser, não é filho?
-
Se ele quiser vou, se não quiser, vou assim mesmo!
Aí
ele me transformou em sapo. Sofri pra diabo , muito tempo se passou, Ele voltou
me transformando no velho leiteiro e perguntou de novo:
-Se
Deus quiser, não é mesmo, filho?
–Se
quiser eu vou se não quiser, o lago está perto... De novo ele me transformou em
sapo... O que os teus te contaram sobre o teu avô?
–
Disseram que ele desapareceu misteriosamente. Minha avó chora por ele até hoje!
-Pois
é, filho, essa é minha história. Agora, preciso morrer. Chegou o meu tempo, mas
para isso preciso que você faça um grande sacrifício por mim: deixe de ser
teimoso. Só assim irei conseguir paz, no dia em que isso acontecer. Vais ter
uma surpresa, quando menos esperar a roda de sua carroça vai passar sobre mim e
então eu quero que me enterre lá na porteira do sitio, mas isso é segredo. Você
não deve contar a ninguém. Este segredo ficará entre mim e você !
-KKKKKKK. Quer dizer que eu vou ser o assassino. Vou contar pra tudo que é
cavalos e éguas que tem nestas redondezas, esqueceram que eu ouvi tudinho né,
seus dois trouxas? - assim expressou o cavalo do leiteiro.
Geraldinho do Engenho - Bom Despacho/MG
Publicação autorizada pelo autor
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