Autor: Carlos Costa
De vez em quando, no início da tarde, outro passarinho, talvez
amigo dos periquitos verdes da orquestra desesperada comandada por um maestro
invisível, provavelmente a mando dele a quem não consigo vê-lo, - mas sei que
está regendo essa orquestra - bate com seu bico em minha janela do quarto como
que me pedindo para entrar no banheiro e escutar pela janela entreaberta, mais
uma vez, a orquestra dos periquitos verdes desesperados que, em meus ouvidos,
soa como música de protesto contra a destruição das árvores que existiam e onde
todos habitavam, silenciosa e pacificamente.
Nessa hora, sinto saudades de Geraldo Vandré, cantando a música
de protesto e gritando: “Gente! Gente! A vida não se resume a festivais” e,
depois, aos acordes de violão, cantar: “vem
vamos embora/que esperar não é saber/quem sabe faz a hora/não espera
acontecer...” que
só foi entendida “Para não
dizer que não falei de Flores”, anos mais tarde. Mesmo proibida pela
Censura Militar, se tornou hino de protesto em todas as manifestações de
protesto da época!
Ou talvez o passarinho que bate em minha janela seja para me
agradecer pelas poucas árvores que restam na divisa dos Condomínios Mundi e
Florença Residencial Park. Mas não sei. Ó, como sofro! Por que o Senhor não me
fez como São Francisco de Assis, que conversava e entendia a linguagem dos
pássaros? Também não sei!
Morador do Condomínio Florença, com floresta beijando a janela,
filmava preguiça, macado da noite, araras, periquitos e me deliciava ao vê-los
depois na imagem de minha TV. Ao ver o desmatamento sem qualquer placa de licença
municipal para fazê-lo, comuniquei à Secretaria do Meio Ambiente e denunciei. A
obra foi embargada, o desmatamento interrompido e, depois que deixei o local,
outros moradores do Condomínio prosseguiram com ações na Justiça, obrigando o
projeto imobiliário a ser todo refeito, atrasando em mais de dois anos a
entrega das 11 torres de concreto. Mas não sei se o passarinho que bica de
manhã e à tarde consegue me ver por detrás do vidro com película escura de 50%.
Será que eu não poderia ser oftalmologista de passarinho para saber se eles
conseguem me ver?
O passarinho que bica desesperadamente talvez não me veja
(?). Mas percebo seu
desespero em me fazer levantar, abrir a cortina e vê-lo voando alegre. Será que
ele me viu levantando da cama? Depois, entro no banheiro e escuto a orquestra
dos periquitos verdes todos voando de um lado para o outro, como se fosse uma
revoada combinada antes entre todos, pela janela aberta para deixar escapar o
vapor do banho e não embaçar o espelho como se fosse uma revoada combinada
antes entre todos. Como é perfeito esse movimento de vai-e-vem. Em seguida,
todos retornaram mais triste para reiniciar seu canto fúnebre na mesma árvore
que ainda os acolhe com alegria, seu canto quase fúnebre! O espelho é só para saber e ter
certeza que onde ainda estou vivo e me vejo.
Meu coração, que admira esse espetáculo triste, se enche de
alegria porque lhes permiti nesse mundo de ganância, um último refúgio para o
canto, mesmo triste, dos periquitos verdes desesperados. Ouço agora apenas o
canto como um sinal de alerta para o futuro que desejamos deixar para as
próximas gerações! Os pássaros de minha imaginação precisam cantar livres,
mesmo que não sejam mais tão livres e cantem tristes! Mas o importante é que
ainda continuem cantando para dizer aos seres humanos que precisam ter seus
espaços em meio aos caos urbano!
Autor: Carlos Costa - Manaus/AM
Blog do autor: http://carloscostajornalismo.blogspot.com/
Publicação autorizada pelo autor
Ao advogado e ex-deputado Miquéias Fernandes e ao deputado e advogado Luiz Castro
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