Autor: Geraldinho do Engenho
Às vezes caminhando por trilhas onde meus amigos e
eu, corremos em nossa infância, em devaneio mergulho-me nos sonhos que ficaram
acorrentados por minha lembrança.
Os delírios da saudade e a fotografia de meus
colegas arquivada no álbum de minha memória me transportam ao passado, a
contemplar os horizontes galgados por minha existência.
Vou buscar nas fantasias que se perderam na
magia da ilusão, o objetivo de sonhar novamente. Navegando nas águas ora calmas
ora turbulentas pelo mar da imaginação. Embora seja uma miragem espelhada pelo
retrovisor do tempo, alimento sempre a mesma expectativa esperando que eu possa
reencontrá-los na longínqua curva deste oceano de recordações. Engolidos pelo
tombo de suas ondas. Para que juntos possamos correr de novo pelas mesmas
trilhas e estradas de então, descortinando com sutileza a paisagem de nossa
história.
Descompromissados como sempre fomos, e com a mesma
alegria ingênua, deliciarmos naquelas tardes, quando éramos parte do elenco
ecológico de um belo espetáculo. O sol se punha e o crepúsculo puxava o manto
da noite. Vinha a lua toda risonha esparramando seus encantos sobre aquele
cenário dominado pela soberania da natureza.
O acortinado de estrelas cobria o universo e o
nosso mundo criança. Ilustrado pelas lacraias no seu constante piscar de luzes,
escoltadas pelos vaga-lumes, que em atalaia riscavam os espaços manchados pelas
sombras dos arvoredos provocadas pelo luar. Com seus estridentes gritos os
urutaus de bicos escancarados ao longe no cerradão quebravam o monótono
silencio da noite após engolirem os mosquitos atraídos pelo mau odor do seu
hálito... Foi, foi,foi,foi,foi.!
Não menos selvagens nós moleques de pés descalços e
cabelos desalinhados, éramos também parte da natureza, misturando-nos aos
murmúrios e encantos projetados em sua biodiversidade. Enquanto a noite não
silenciava e o sereno não vinha para orvalhar os campos e os prados, a lua era
soberana a passear sobre os telhados que ocultavam a humildade das lamparinas.
Altaneiro e vigilante são Jorge exibia seu potencial encantador, enquanto nós,
meninos caipiras ... Apenas sonhávamos e o aplaudia!
Geraldinho do Engenho - Bom Despacho/MG
Publicação autorizada pelo autor
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