sexta-feira, 25 de março de 2016

Guerreiro Fredy

Autora: Viviane Rodarte

Morava na rua, sem nome ou endereço fixo. Dependia da boa vontade de alguns para me alimentar, mexia nas lixeiras, por isso muitas vezes fui repreendido.  Não entendiam que nem sempre me davam o que comer. Sofri muitas injustiças, fui maltratado só por diversão. Não imaginavam que aquilo me feria tanto física como emocionalmente. Tomei chuva, passei frio, dormi ao relento até encontrar um lugar onde pudesse me abrigar.
Fui levado para o canil e consegui fugir. As condições lá não eram boas. Mesmo com o cuidado de alguns funcionários não havia uma estrutura decente. Na rua pelo menos podia correr livre de um lado para outro.
Apesar dos perigos, às vezes me davam carinho em forma de comida, água e até no jeito de me olhar, mas no fundo sonhava com um lar quentinho para morar... Seria o melhor cão do mundo!  Obediente, atencioso, companheiro e amaria muito as pessoas. Iria espera-las sempre no portão com a mesma alegria todos os dias, para que elas soubessem o quanto são especiais para mim.
Pedia ao "Papai do Céu dos cães” que colocasse no meu caminho alguém para me adotar. Muitos dos meus amigos já haviam conseguido um lar.  Não era inveja! Só estava triste de viver sozinho e cansado da liberdade das ruas.
Um dia depois de tentar achar o que comer, resolveu descansar e deitei-me numa porta sem querer perturbar.  Fiquei quietinho até dormir, porém o que era só um descanso transformou pra sempre minha vida.
Um senhor chegou à casa bêbado, depois de um dia de trabalho. Revoltado com a vida descontou em mim toda a sua raiva. Agrediu-me brutalmente com uma foice. Não me deu chance de fugir ou tentar me salvar...  Senti uma dor imensa, gritei pedindo perdão por estar ali na sua porta, não queria incomodar, mas a raiva dele era tanta que só aumentava as batidas com a foice.
Foram minutos intermináveis, até que graças a Deus, pessoas ouviram meu pedido de socorro e interferiram , afastando o agressor e me pegando no colo. Tentava mover as patas e elas não me obedeciam mais. Senti uma dor intensa enquanto minha vida se esvaía através do sangue que escorria pelo meu corpo inerte...
Levaram-me para uma clínica veterinária.  Fui prontamente atendido e salvaram minha vida, mas fiquei sem uma das patas.  Amputaram uma das patinhas traseira e por pouco não há perdi também a outra. Foram meses de tratamento e cuidado, as pessoas lá me tratavam com muito carinho, que me recuperei antes mesmo do previsto.
Logo após começou uma nova luta. Precisava de uma lugar para morar. Não podia mais ficar na clínica.  Correria o risco de infecção nos meus ferimentos. Enviaram-me para uma ONG e fiquei na fila de adoção.  Já era difícil encontrar um lar e agora com essa deficiência eu não acreditava ser possível. Pensava que ninguém iria querer me adotar. Todos sentiam pena de mim, da minha historia, mas ninguém queria me levar para casa.
Nessa ONG recebi o nome de "Guerreiro".  Estranhei, mas me senti feliz porque até então nunca tinha ganhado um nome. Fui percebendo que esse nome era devido a minha vontade de viver e voltar a ter minha vida de novo. Um dia levaram-me pra casa, uma moça boazinha que me chamou de Chico. Ela já tinha outro cãozinho que não gostou muito de mim. Ela me olhava com tanta ternura, mas bateu o desespero quando soube que ela não podia ficar comigo. Será que depois de ter um lar, teria que voltar para rua?
Não, ela não seria capaz!  Levou-me para a casa de uma amiga e na primeira noite chorei muito. Mas parecia que minha nova companheira também gostava de mim, mudou meu nome outra vez, passou chamar-me de "Fredy", sorria ao falar meu nome. Ela se transformou na minha melhor amiga. Deu-me uma cama, cobertor quentinho e tanto carinho que jamais pensei receber. Hoje apesar de todo o sofrimento e solidão que vivi, sou muito feliz, tenho pessoas que me amam de verdade.
Na hora do banho faço bagunça, sou muito brincalhão. A minha nova vida me proporcionou algo chamado felicidade! É uma alegria quando minha dona me leva a passear usando aquela confortável coleira. Fico tão empolgado que mal deixo colocar e já saio correndo...
Passeamos pelo bairro, os vizinhos gostam de mim.  Alguns não e nem eu deles, mas não mordo, sou muito educado! Hoje de tão agradecido a Deus, já quase esqueci as provações pelas quais tive que passar. Elas são apenas marcas que vão se apagando da memória. As três patinhas restantes se juntaram à minha perseverança e me levam aonde quero ir.
Consigo até dar saltinhos, minha amiga sorri pra mim e diz "só você Fredy pra me fazer sorrir assim"!  Ai, na minha linguagem respondo "só você pra me fazer ser assim"!
Entendemo-nos no olhar e juntos para sempre iremos ficar!

Autora: Viviane Rodarte - Piumhi/MG

2 comentários:

Anônimo disse...

(Padrão usado em todos os textos comentados para dar a todos um tratamento igual). Fazendo pois uso dos critérios apontados no regulamento deixo aqui minha impressão: ortografia, gramática e pontuação: pequenos detalhes (uns três no máximo) pedem revisão, mas nada que prejudique o entendimento do texto. Uma história que cativa porque, além de comovente e bela, está sendo entregue da perspectiva do animal, recurso que, automaticamente, aproxima o leitor dos sentimentos do narrador do conto, que neste caso é o próprio cão (e como a literatura nos dá liberdades desde tipo, ninguém melhor do que o bicho para falar de seus sentimentos e de como percebe o mundo ao seu redor). Pareceu-me totalmente de acordo com a proposta do concurso. Avaliação pessoal: ótimo! Parabéns à autora ou ao autor e muito boa sorte! (Torquato Moreno).

Alberto Vasconcelos disse...

Muito boa a historinha de Fredy Guerreiro. Pequenas incorreções de digitação não comprometem o texto que está perfeitamente dentro dos parâmetros do concurso. Parabéns a quem o produziu