segunda-feira, 13 de abril de 2015

Terceiro Concurso do Blog - Texto 03: Promessa de amor

Apesar da solidão que, às vezes, o incomodava, Nicholas era tranquilo. Jurava que jamais trocaria a sua liberdade por outro relacionamento.
Orgulhava-se de ver sua casa sempre arrumada com tudo no devido lugar. Sabia onde tudo se encontrava, já não mais perdia sua carteira, seu relógio e as chaves que nunca, antes, estavam onde deixava. Ninguém mudava de lugar seu bloco de anotações ou guardava aquele livro que ficava à sua disposição, aberto, exatamente, onde ele havia interrompido sua leitura.
Não mais havia quem lhe criticasse a roupa que escolhia para esse ou aquele evento ou chamava sua atenção pela barba mal feita.
Já não se preocupava com o horário de voltar para casa. Nem precisava, pois não havia ninguém a esperá-lo.
Assim vivia Nicholas depois da separação.
Sempre em casa nos fins de semana. Nem buscava a oportunidade de conhecer alguém com quem pudesse refazer sua vida.
Vivia feliz o Nicholas.
Mas o seu destino estava traçado. Dele, impossível escapar.
Certo dia, foi chamado à sala do chefe e após meia hora de elogios, ganhou uma missão que não teve como recusar. Teria que viajar para longe e fazer a cobertura de um importante Congresso para a revista.
Não seria possível destacar uma equipe. Apenas Nicholas e um fotógrafo, mesmo porque não havia necessidade de outros profissionais, uma vez que na pauta se recomendava apenas fotografias e a entrevista de alguns palestrantes do Congresso.
No dia marcado, chegou ao aeroporto para encontrar com seu fotógrafo e pegar o voo.
A viagem era curta, apenas 2 horas do aeroporto de Vitória ES à Guarulhos SP, mas incomodava-o o tempo de espera que sempre achava um exagero, esperar uma hora para fazer o check-in. Apesar das facilidades do check-in online, Nicholas preferia o guichê, pois sempre havia dúvidas no momento de operar o terminal.
Ali despachava a bagagem e se dirigia para a sala de embarque onde procurava relaxar enquanto esperava o momento do embarque.
Chegando ao destino, ainda teria que enfrentar a fila para receber a bagagem antes de dirigir-se ao ponto de táxi.
Seu hotel ficava bem distante do terminal, o que lhe custou mais de uma hora dentro do táxi. Sentia-se incomodado, pois detestava esses procedimentos. Preferia estar sentado em frente ao seu computador na redação, do que ter que enfrentar o que para ele era um inconveniente. Mas não podia recusar a missão depois de tantos elogios recebidos do chefe.
Uma vez no hotel, procurou relaxar e repousar. Um pequeno jantar no quarto e um bom livro. Restava-lhe somente uma noite de descanso para no dia seguinte estar no centro de convenções cumprindo a sua pauta.
Após o banho, fez a checagem do seu equipamento e desceu para o restaurante. Acompanhado do fotógrafo tomou o café, e em seguida pediu um táxi para levá-los ao local do Congresso.
Já no Centro de Convenções, dirigiu-se ao encarregado de checar a lista dos convidados, apresentou suas credenciais e foi informado que direção deveria tomar para chegar ao local.
Vikey uma jornalista local, bastante experiente e desinibida, notou o desconforto de Nicholas que diante do desconhecido sentia-se perdido.
Logo apresentou-se oferecendo ajuda. Diante da simpatia de Vikey, Nicholas sentiu-se atraído de tal forma que não a deixou mais. Durante todo o Congresso, Nicholas e Vikey estiveram juntos o tempo todo.
No encerramento, certa tristeza se abateu em ambos e decidiram ficarem mais alguns dias juntos, para se conhecerem melhor.
Vikey cancelou os compromissos e ficou de vez com Nicholas no hotel. Passeios por lugares românticos da cidade completaram a felicidade que sentiam por estarem juntos naqueles dias.
O momento de voltar chegou. Não foi uma experiência agradável para nenhum deles. Nicholas queria ficar e Vikey queria viajar com ele. Promessas e planos fizeram para não perderem aquela oportunidade que surgia de serem novamente felizes.
Triste, mas animado pela expectativa de uma nova vida plena de felicidade ao lado de alguém irresistivelmente agradável e sensível Nicholas despediu-se de Vikey retornando ao convívio da barulhenta redação, tumultuada, mas, para ele, aconchegante. Ali, sentia-se em casa.
Naquele ambiente havia encontrado, nos últimos anos, o refúgio que o ajudou a afastar as lembranças da vida frustrante vivida até então.
Algumas semanas se passaram, mas a presença de Vikey, manifestada por telefonemas todas as noites, mensagens trocadas durante o dia, se tornara indispensável. Sequer havia um momento em que seu pensamento não estivesse com ela.
A visita de Vikey à sua cidade era uma questão de oportunidade, mas não podiam esperar mais. Aconteceu, então, em um fim de semana de abril. A chegada do voo que a traria estava prevista para as dezesseis horas, mas Nicholas já estava no aeroporto às 14.
Seu coração disparou ao vê-la surgir, entre os passageiros, em sua direção. Um abraço demorado não foi o suficiente para acalmar seu ser.  Vikey, por sua vez, estava tão agitada que nem sabia o que fazer.
Animados, logo embarcaram no automóvel de Nicholas que a conduziu direto para sua casa. Morava em um pequeno e aconchegante apartamento próximo à praia, local bastante atraente para Vikey que acostumada com a vida corrida e o ar poluído de sua cidade encantou-se com a paisagem.
Foram três dias de passeios, e de amor sem fim. Noites agradáveis na praia observando a lua nova e as estrelas. Estavam irremediavelmente apaixonados.
Algumas idas e vindas, meses se passaram e descobriram que não mais poderiam ficar distantes um do outro.
Foi quando Nicholas propôs à Vikey que se mudasse para sua cidade onde viveriam o amor que os estava unindo. A contra proposta de Vikey foi que ele fizesse o contrário. Nicholas resistiu o quanto foi possível. Contudo, diante da firmeza de Vikey, cedeu.
Munido de toda coragem possível, desfez-se de tudo que tinha e transferiu-se para a cidade de Vikey.
Não foram fáceis aqueles dias de adaptação. Cidade muito grande, trânsito insuportável, clima diferente e tantas outras diferenças que tiveram que ser enfrentadas e vencidas.
Passaram-se meses e finalmente sentiu-se integrado. Pode, finalmente, entregar-se ao amor de Vikey.
Enfrentando e vencendo algumas dificuldades, ambos tudo faziam para fortalecer aquele amor que era tudo para eles.
Foram anos de plena felicidade.
Muitas dificuldades encontraram e venceram. Para Nicholas, o mundo todo estava contra eles Era difícil imaginar que um sentimento tão bonito e puro pudesse encontrar algum tipo de resistência. Tudo fez para superar investidas de terceiros que não cansavam de desejar o fracasso daquele amor tão vigoroso.
Para um amor tão intenso, qualquer dificuldade, por menor que pudesse ser, representava uma grande batalha a ser vencida.
Apesar de todas as barreiras, foram enfrentando e vencendo, uma após outra. Vikey, por sua vez, fazia o possível para superar e concentrar sua atenção ao amor que os unia.
Mas como tudo passa, assim como o tempo, esse amor que parecia incorruptível, que sempre enfrentou e resistiu a tudo, começou a desmoronar.
Tornou-se pesado, cansado de tantas batalhas. Já não havia tanta força para resistir. Foram deixando acontecer e sem a menor reação aceitavam tudo, mesmo sabendo que deviam lutar e vencer e que se não reagissem, tudo acabaria.
Até tentaram. Discutiram, prometeram mais dedicação, mas não havia mais forças para vencer.
A despedida se anunciava.
Certa tarde, num ato, quase de desespero, Vikey abraçou Nicholas e lhe disse:
—Eu o amo e o amarei por todo o sempre, aconteça o que acontecer.
Aquele abraço foi o último.
Passados alguns dias Nicholas se preparava para partir e em uma manhã de quarta-feira, com as malas prontas, foi até o quarto e não teve coragem para uma despedida. Apenas olhou Vikey que mantinha a cabeça coberta, parecendo dormir, mas na verdade apenas procurava esconder-se de si mesma, lamentando a falta de coragem para gritar:
—Fica!

3 comentários:

Anônimo disse...

É o que chamo de inevitabilidades ou inabilidades nos relacionamentos. Talvez seja a morte dos feromonios, os hormonios que atraem os machos e femeas para ficarem juntos, mas que tem prazo de validade.

Anônimo disse...

Boa história do amor que não resistiu ao tempo. Perfeitamente dentro dos parâmetros do concurso e aos cânones gramaticais. Parabéns a quem o produziu.
Alberto Vasconcelos

marina Alves disse...

O conto narra muito bem a trajetória de um promissor amor que como em todos os começos é plena felicidade. Pena que o final não tenha sido tão feliz, como é também muito comum na vida real. Um belo conto! Parabéns!