Foto Alexandre Svero
Pergunta: Quando é que despertou o gosto pelas artes?
Resposta: Eu sempre tive uma necessidade muito forte de expressão desde pequeno, eu diria mesmo que quase compulsiva e isso começou com o desenho. Não era uma questão de "gostar" de desenhar, era mesmo a necessidade de fazê-lo.
Pergunta: Foi na pintura que cresceu como artista e atingiu notabilidade. Onde descobriu essa vocação?
Resposta: Eu tinha uma amiga com uma ótima bagagem de conhecimentos técnicos sobre pintura e que me convidou para montarmos um atelier. A proposta era experimentar algumas ideias que já tinhamos. Só que depois de alguns meses ela resolveu buscar a arte no mundo acadêmico e eu decidí seguir a diante. Eu já possuia um caderno cheio de esboços e, o que era mas interessante, eles já pareciam carregar com eles um conceito. Assim nasceu minha primeira série entitulada "Evas".
Perguntas: Quais são os seus mestres na arte?
Resposta: Gustav Klint, Portinari, Vik muniz, Edgar Degas, Roy Lichtenstein, Adriana Varejão, tenho gostado muito dos trabalhos de Banksy.
Pergunta: Qual foi a obra que mais gostou de pintar? Qual a temática que mais gostou de pintar?
Resposta: Nessa série "Divinas" que estou apresentando no Rio eu pintei pela primeira vez em dimensões bem maiores do que estou normalmente habituado a pintar. Foi meio desafiador mas eu gostei muito do resultado final. As mulheres com assas me dão um prazer a mais em pintá-las. Pelo humor que elas carregam e pelo fato de nunca ficar muito claro se elas são anjos ou se suas asas são meros enfeites. Lembro que na época quando comecei a pintá-las eu estava muito inspirado por uma musica de Vange Leonel que dizia "essas asas que eu vejo em mim são como enfeites de natal prontas pra confundir o que é o bem e o mal...como um anjo demitido espero o tempo passar e perambulo esquecido sem ordens de Deus pra levar".
Pergunta: Quando pinta inspira-se numa temática, num objecto exterior a si, ou é puro exercício de intelecção?
Resposta: O objeto exterior definitivamente existe, seja ele uma musica, um filme, mas principalmente as pessoas ao meu redor. Eu sou um observador ligado na tomada as 24 horas do dia, nada escapa, a diferença fica por conta de como tudo isso é processado. Sou muito emocional na maneira de trazer tudo isso a tona. Eu entrego o "leme do barco" totalmente ao meu inconsciente ,ate mesmo por acreditar na precisão como tudo se amarra e se interliga no final.
Pergunta: Que reações a sua obra pode despertar nas pessoas?
Resposta: Num primeiro momento identificação, como falei acima, meu trabalho é muito emocional e isso parece chegar as pessoas principalmente através da combinação de cores que costumo fazer. Em outros momentos a reação é de um riso carregado de uma certa estranheza com aquilo que se vê.
Pergunta: O que pretende transmitir com a sua obra?
Resposta: Trazer de volta algo de nós que talvez tenha ficado pelo caminho sem nos darmos muito conta (inclusive o riso). Sabe aquela reação típica de quem encontra algo que lhe é caro e diz: "ei, isso é meu!"
Pergunta: Pinta para um estrato social específico? Qual o seu público-alvo?
Resposta: Eu ainda vejo o artista como alguém que produz para si mesmo, as pessoas que se sentem, por razões diversas, atraídas por seu trabalho é que formam, num movimento muito natural, o seu público, sendo assim, não consigo ver meu trabalho direcionado para um público-alvo.
Pergunta: Já lhe aconteceu pintar algo e não gostar do que viu?
Resposta: Muitas e muitas vezes. Quando uma serie fica pronta ela costuma deixar um rastro de telas destruidas. rsssss
Pergunta: Ainda passa muitas horas a pintar?
Resposta: Muitas. Nunca tenho noção de tempo quando estou pintando de forma que isso implica sempre em muitas horas diante da tela.
Pergunta: O local onde pinta é importante? Tem a companhia do rádio?
Resposta: Bom, já pintei em situações bem desfavoráveis sem comprometer o resultado final do trabalho. No entanto, o local ideal pra mim é aquele sem muitas interferências exteriores. Quanto a musica, ela é parte fundamental do meu processo de trabalho.
Pergunta: Quando surgiu a idéia de fazer a mostra?
Resposta: A ideia da mostra surgiu em 2009 a partir de um convite da HR Galeria de arte que já conhecia meu trabalho e resolveram apostar nessa apresentação do meu trabalho para um novo público.
Pergunta: Como você definiria essa mostra?
Resposta: Essa é uma mostra que consegue condensar, nos 23 trabalhos expostos, a ideia central do meu trabalho hoje.
Pergunta: Você poderia falar um pouco sobre o que será apresentado na mostra?
Resposta: A mostra tem como ponto central as pinturas de figuras femininas com os seus jogos de cores intensas e os elementos que já criaram uma marca do meu trabalho como a ideia da mistura do religioso e do profano em um universo meio cabaré assim como uma certa ideia de "glamur decadente" que beira o kitch tudo isso numa estética bem pop. As Personagens por sua vez passeiam entre o humor meio displicente e uma certa melancolia. O segundo ponto da exposição são os trabalhos mais monocromáticos em que faço uso do carvão com cores chapadas ao fundo, geralmente em tons de terra. Nesse as figuras femininas são mais contemplativas. Elas carregam um lirismo mais evidente.
Entrevista feita em setembro de 2010 para o Jornal do Comercio do Rio sobre a primeira exposição de Nino Ferreira, realizada no Rio de Janeiro na Galeria Helio Rocha.
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