Da última visita que fiz à minha terra natal, o Cedro, parei como sempre no Bar do Jair Breiada, na praça principal, onde se reúnem os velhos amigos da cidadezinha, a começar pelos mais antigos, se bem que alguns já viajaram para os campos superiores.
É lá que a confraria se abraça, ri e chora, saboreia as tradicionais postas de curimatã ensopada com batatas, toma seus goles, fala de futebol, música, mulheres, conta “causos” e as melhores piadas do seu vasto repertório.
Lá por volta do meio dia, a maioria já calibrada, alguém sugeriu uma espécie de torneio de contação de anedotas. Num círculo, o primeiro da turma (o mais velho), Joãozinho Eugênio, contava uma de padre, o sujeito à sua esquerda contava outra, no mesmo tema e assim por diante, no sentido dos ponteiros do relógio, até chegar ao primeiro contador. Caso o cidadão não se lembrasse de alguma piada sobre o tema proposto, seria automaticamente eliminado e saia da roda de amigos. E assim prosseguiram até ficarem sómente três piadistas, o próprio Jair Breiada, o Zé Catarino e este modesto escriba. Lembro-me que para nós três últimos sugeriram piadas sobre o incorrigível “Joãozinho”, sempre lembrado pelas anedotas picantes nas quais ele é o personagem central.
Aí, o Breiada contou a primeira:- “O “Joãozinho” chegou pra sua mãe e perguntou:- “Manhêee, bunda amarrota? ...” E sua mãe, curiosa:- “Por que você pergunta, “Joãozinho?” E êle, rapidinho:- “Eu ia passando na cozinha e vi o pai falando pra Joana:- “Eita, crioula, qualquer hora dessas eu passo o ferro na sua bunda!” .
Veio o Zé Catarino e emendou outra anedota:- “Joãozinho” foi confessar e disse ao padre que comeu batatinha. Aí, o vigário mandou-lhe rezar três padre-nossos; veio o Zequinha e falou que ... comeu batatinha. O padre, intrigado, deu-lhe penitência branda. E assim todos os meninos da longa fila da confissão disseram ter comido batatinha, até que o último, um mulato gordinho, todo espevitado, ajoelhou-se e antes de falar qualquer coisa o padre lhe disse:- “Não vai me dizer que você também comeu batatinha, né?...” E o moleque rebateu de pronto:- “Não, seu padre, eu sou o “Batatinha”! ...”
Aí chegou a minha vez e lembrei-me daquela em que o “Joãozinho” fazia aniversário e pediu ao pai uma bicicleta, logo no café da manhã. O velho fixou-lhe os olhos, seríssimo e respondeu:- “Prometo a bicicleta, mas só se você ficar de agora até à noitinha sem falar um palavrão sequer, combinado?” – e o pivete concordou.
O dia passou devagar, “Joãozinho” foi à escola, não quis papo com ninguém, evitou as brincadeiras, sempre pelos cantos, mudo, capiongo e macambúzio. Voltou pra casa depois das aulas, enfurnou-se no seu quarto e nem pro jogo da pelada vespertina ele quis sair. Quando seu pai chegou à noitinha, sua mãe colocou os pratos e talheres à mesa do jantar e a prole se aboletou. Dona Rita abriu a tampa de um panelão enorme e o cheiro duma saborosa sopa de macarrão com legumes, a preferida deles, exalou pelos ares, mexendo com as narinas e os paladares de todos. O pai começou a saborear a sopa, a mulher e os filhos o acompanharam e o “Joãozinho”, sempre cuidadoso, curvou-se para a primeira colherada quando veio um casal de moscas voando agarradinhas, em direção ao seu prato e ... tibum, caiu na sua sopa! Aí o moleque jogou a colher pra cima e vociferou, fulo da vida:- “Puta que os pariu, perco bicicleta, perco tudo na vida, mas fuder dentro do meu prato eu não admito! ...”
Precisa dizer quem foi o campeão desse torneio???...
Autor: Roberto Rêgo - Belo Horizonte/MG
Publicação autorizada pelo autor através de e-mail de 26/10/2011
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