terça-feira, 18 de novembro de 2014

Medo de avião - Autor: Dilermando Cardoso

Por mais que as companhias aéreas façam propaganda, garantindo que avião é o meio de transporte mais seguro do mundo, como verdadeiro caipira pé de pombo - até roxo de tão vermelho - ali das bandas do Engenho do Ribeiro, prefiro viajar pisando na poeira ou no barro dos caminhos. E não é por ignorância, nem superstição.

Embora desacredite de fadas e bruxas, tenho por todos os seres alados e etéreos respeito e reverência – não costumo abusar da sorte. Porque vai que existam realmente... Ainda mais que me acho meio predestinado, como se sobre minha cabeça houvesse um pára-raios invisível, atraindo determinadas coisas. Calma, afoito companheiro, não falo deste enfeite em forma de aspas gigantes, o popular chifre, que você está imaginando, não! É que se eu e outras mil pessoas estivermos, por exemplo, num comício na Praça da Matriz e um pardal que passe voando, naquela hora deixe cair sua titica: adivinha a cabeça de quem a merda vai carimbar – senão do degas aqui?

Por esta e outras muitas foi que ao programar com amigos, a passagem do réveillon numa capital do Nordeste, propus de imediato que alugássemos um ônibus para a viagem. Palpite infeliz. “– Vamos de avião!” Decidiram os outros, em uníssono. Assim, pela primeira e tomara que última vez na vida, fui arrastado - bêbado como peru na véspera do Natal - para dentro de uma destas aves metálicas que voam sem bater asas. Não me restou escolha: desistia do passeio ou tinha que embarcar uma semana antes: de navio ou trem de ferro correndo o sério risco de chegar lá passada a Festa de Reis.

Não desconfio em que parte da rota estávamos, mas aquilo voava alto pra cacete. E eu mais ainda! Foi quando a aeronave entrou numa tal zona de turbulência – puxa vida, até no céu tem putaria? E o avião mergulhou, ou caiu, ou despencou, sei lá como é que fala. Só sei que dos mais de sete quilômetros de altitude em que voava, o trem baixou para quatro ou cinco, em questão de segundos. A gritaria foi geral, com todo mundo acreditando que ia morrer. Para piorar a situação, naquele exato momento estava-se servindo a bordo uma gororoba fria e sem tempero – resultando daí uma tremenda meleca despejada pelas aeromoças em cima dos apavorados passageiros.

Mas, enfim, se aqui estou enchendo a paciência de algum leitor insone com este delirium tremens, foi porque depois da quase queda fatal os pilotos estabilizaram o avião acima das nuvens. E mesmo mortos de medo, sobrevivemos todos! Pelo resto da viagem foi só passageiro fazendo fila na porta do banheiro, para se lavar – e não apenas por causa da comida derramada, não...

Faz bem vinte anos, os diretores da Cooperativa Rural de Bom Despacho viajavam num Boeing para Porto Alegre – onde participariam de certo congresso –, quando ainda sobrevoando a Serra do Curral, nos arrabaldes da capital mineira, solícitas aeromoças distribuiram aos passageiros um folheto ilustrativo, de como comportar-se em ocasião de pane durante a viagem, inclusive ensinando a transformar os assentos das poltronas em coletes salva-vidas, caso o avião fizesse pouso forçado no mar. De perto da janelinha onde viajava, olhando aquele mundão de terra que se afastava quilômetros abaixo, com presença de espírito o sô Antônio Bernardes virou-se para o Nego Rodrigues, seu vizinho de cadeira, indagando cismado: “– Compadre, mas e se esse trem despenca no cascalho, como é que há de ser?
¨

Autor: Dilermando Cardoso - Bom Desapcho/MG
Publicação autorizada através de e-mail de 12/10/2011

2 comentários:

Carlos A. Lopes disse...

Amigo, concordo com você. Sou daqueles que prefere o chão batido, levantar a poeira. ¨Andar com fé eu vou que a pé não costumar falhar¨, assim diz a música.

juciara brito disse...

Oi Di,olha só onde te achei,rsrsrsrs...não sei teria medo de avião porque nunca viajei num, mas acho que vc tem toda razão...pé no chão é bem melhor!!!!!beijos.juka