Autor: Carlos Costa
(uma visita às lembranças de um
passado)
Depois de adquirir uma coxinha de
galinha na Padaria Conde, na Avenida Joaquim Nabuco e saboreá-la com minha
esposa dentro do carro estacionado, me vi caminhando apressado pela Rua 24 de
Maio, no centro de Manaus, para adquirir uma coxinha de galinha produzida pela
família Cheng – pai, mãe, filho e filha - desde as primeiras horas da
manhã. Logo cedo, se comprava ainda quente, saindo do forno como se diz:
depois, continuavam mornas porque ficavam em um recipiente aquecido por
lâmpadas. Era tudo feito de macaxeira ralada manualmente!
Também na Rua 24 de Maio, funcionavam
lado a lado, o Curso Pré-Vestibular Objetivo e a sede da Procuradoria Geral de
Justiça (Ministério Público) Lotava de alunos, quando a Universidade do
Amazonas divulgava o resultado do vestibular. O Curso Objetivo, um dos
primeiros a existir em Manaus, promovia a festa dos aprovados e raspava a
cabeça dos alunos que desejassem. Era um grande farra que eu, mais tarde, como
jornalista, passei a escrever matérias. Até banda de música era contratada para
alegrar a festa dos aprovados. Muita bebida era distribuída para quem
desejasse. Era um acontecimento na cidade e o Objetivo pregava a relação dos
aprovados na parede e fazia propaganda nos jornais dizendo que era o que mais
aprovava!
Ah, que saudades sinto do procurador,
Luis Verçosa, o ¨Lulu¨ para os mais íntimos como eu, de seu irmão, o
desembargador Mário Verçosa, que foi presidente do TJ-Am. Ambos simples,
sinceros e amigos. Recebiam-me a qualquer hora e prestavam as informações que buscava
para JORNAL A NOTÍCIA, onde comecei a carreira de jornalista, aos 19 anos.
Certa vez, cheguei a ser convidado para visitar a casa do desembargador Mário
Verçosa, na Rua 24 de Maio, próximo a Avenida Getúlio Vargas, antiga, simples,
com tinha uma biblioteca grande, cheia de livros diversos - os de direito eram
a maioria. Fiquei encantado. Hoje a casa virou um hotel. Voltemos à crônica,
antes que eu divague demais e canse os leitores com inúteis memõrias de uma
época que nunca mais será como fora no passado!
Junto com as coxinhas, um risoles, no
Lanche Ziza's, localizado no térreo do Edifício Cidade de Manaus, adquiria milk
sheik e os levava para os advogados Carlos Abner de Oliveira Rodrigues, com
maior tempo de graduação, Guilherme Mendonça Granja, menos experiente, mas
profissional dedicado, que mantinham escritório no segundo andar do Edifício e,
algumas vezes, também os recém-formados João de Deus Gomes dos Anjos e Luiz
Humberto Monteiro, quando chegavam de demoradas e exaustivas audiências no Fórum
de Manaus. Eles estavam fazendo prática forense de dois anos para receberem a
carteira da OAB. O Ziza´s também era o ponto de encontro dos alunos do
pré-vestibular Objetivo, - mais tarde foi o embrião da Faculdade Uninorte
- junto com a cantina da família Cheng.
Luiz Humberto, entrou para a carreira
policial e foi nomeado delegado. João de Deus continua na militância forense.
Ainda temos contato de vez em quando, mas mudou muito. Eu era office boy,
(menino de escritório) dos advogados. Ninguém ouve mais falar em office boy
porque a nova nomenclatura do Ministério do Trabalho, a fez desaparecer, como a
muitas outras profissões dignas e honestas que existiam e empregavam os jovens
que buscavam uma primeira atividade. Mas voltemos de novo à família Cheng!
No final da década de 70/80, Manaus
estava no auge do desenvolvimento comercial da Zona Franca, principalmente o
comércio que vivia a forte febre de uma novidade que impressionava: os pesados,
grandes e caros vídeos cassetes. Nesse período, as Ruas Marechal Deodoro,
Theodureto Souto, Guilherme Moreira e Dr. Moreira, que formavam o quadrilátero
comercial dessa época, se adquiria coxinhas de galinha de macaxeira em muitos
comércios da Rua Marechal Deodoro, onde eu vendia jornais. Com a aquisição de três
vídeos, que se podia tentar levar escondido da Receita Federal, uma se
despachando como bagagem de mão e duas como contrabando mesmo! Chegando ao
destino, se vendia por bom preço e, com isso, se podia cobrir despesas de
passagens aéreas, hotel e ainda sobrava dinheiro para quem conseguisse
passar.
Mas se a pessoa não conseguisse sair
do aeroporto de Manaus, era cana na certa. Muitos contrabandistas compravam
cotas de bagagem, pagavam pequeno valor para quem se dispusesse a correr o
risco de levar a encomenda, como chamavam os vídeos cassetes contrabandeados
que revendiam e ainda pediam que em caso de interrogatório pelos fiscais, não
revelasse o nome de ninguém porque a mercadoria seria retirada na chagada no
aeroporto de destino por uma pessoa que davam o nome antecipadamente. O maior
valor ficava com os contrabandistas.
Na Rua Marechal Deodoro, também se
podia adquirir as coxinhas. Se eram ou não fornecidas pela família Cheng não
sei dizer, mas que eram iguais, ah, isso eram: tinham dentro carne e o próprio
osso de galinha, acompanhado de macaxeira e de uma azeitona verde, marca
registrada de todas as que adquirira para os advogados.
Dizem – mas também não sei garantir –
que a família Chang acordava todos os dias de madrugada, ralava a macaxeira
dentro de uma bacia e depois e enrolava tudo e as vendia a partir das
primeiras horas da manhã. Com isso, teriam colocado seus dois filhos na
faculdade e custeado em todas suas despesas para cursarem nível superior, o
filho médico ortopedista e a filha medicina, mas não sei em qual especialidade!
O exemplo da família Chang, com seu
casal de filhos, ora ajudando-os no balcão fazendo vendas, ora ralando
macaxeira para produzir coxinhas, risoles e outros produtos que fazia
honestamente, mantinha um comércio na Rua 24 de Maio, em um grande terreno ao lado
do Edifício Cidade de Manaus. No terreno desnivelado, a casa da família ficava
nos fundos e era ligada ao comércio, por uma longa escada lateral. Dentre os
fregueses cativos, lá estava eu para adquirir coxinhas e risoles para os
advogados.
Despertei e percebi que a coxinha de
galinha que havia adquirido na Conde era crocante, com recheio cremoso, mas não
chegava nem aos pés das que família Chang produzia com muita dedicação e
cuidado higiênico, em uma época que não se falava muito sobre o assunto. Mas as
que comia eram de trigo e àquelas eram de macaxeira. Mesmo sem saber,
talvez a família Chang, tenha sido a introdutora de todas as outras coxinhas
vendidas hoje em muitos locais e que as pessoas as saboreiam como se fossem
originais: as originais, eram as que a família Chang vendia.
Pelo menos eram mais gostosas e
saborosas porque eram feitas com macaxeira e não com trigo!
Autor: Carlos Costa - Manaus/AM
Blog do autor: http://carloscostajornalismo.blogspot.com/
Publicação autorizada pelo autor através de e-mail.
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