Há 30 anos - 24/05/1982 - falecia o
Professor Francisco Wanderley Dantas, meu pai. Minhas lembranças daquela
distante manhã são marcantes. Era véspera do meu aniversário de 9 anos. Meu pai
falecia 5 dias antes da comemoração da data natalícia daquele rapazinho que tão
pouco o conhecera. Ele viajava muito e minha mãe, Leila Dantas, foi quem
assumiu a maior parte da responsabilidade sobre a minha criação. Eu era o único
filho e caçula, acompanhado de duas irmãs, Jeanine e Viviane.
Três ou quatro lembranças muito
fortes acompanham-me até os dias de hoje: a primeira e mais antiga, eu chegando
em casa da escola, ouvindo minha mãe dizer que meu pai já chegara de uma de
suas viagens e que estava no quarto. Corri para lá, menino pequenino, mochila
nas costas e uma lancheira de lata numa das mãos. Chegando no quarto, meu pai
estava sentado na velha poltrona e me coloquei bem na frente dele. Larguei a
lancheira e deixei cair a mochila no chão, pulando bem em seus braços que já se
encontravam abertos para me receber. A segunda lembrança foi resultado de uma
provocação que fiz, desdenhando-o bem na frente dele. Isso o tirou do sério e
ele saiu correndo atrás de mim com o cinto já em sua mão. Entrei debaixo da
cama, mas de nada adiantou me jogar de um lado para o outro, a surra veio
certeira (e merecida!). A terceira foi quando, depois de uma discussão entre
meu pai e minha mãe, esta me pediu que fosse até o quarto ficar com papai.
Aproximei-me da cama bem devagarzinho, recostei-me sobre seu peito e fui
abraçado por ele. Quando ergui a cabeça, vi uma lágrima que descia pelo rosto
do meu pai; enfim, outra cena marcante daquela infância foi quando meu pai
pediu que o porteiro do prédio enchesse o pneu da minha bicicleta caloi verde.
Estava feliz com aquele presente, mas quando vi o porteiro vindo sentado e
pedalando na bicicleta, quase que deixo transparecer toda minha ira infantil e
egoísta.
Há outras lembranças, contudo nenhuma
imagem está tão fortemente marcada como a daquela manhã. Jeanine entrando e
saindo do meu quarto, abri os olhos e, pela janela, lembro que me chamou a
atenção as nuvens baixas e carregadas que pareciam quase tocar na janela
daquele apartamento, sexto andar, no bloco em que morávamos em Brasília. Fechei
novamente os olhos e dormi. Mas Jeanine, repentinamente, segurou-me nos braços
e deu a notícia: “Fábio, Fábio, acorda... Papai morreu! Papai morreu!”, dizia
aos prantos, enquanto me abraçava.
Há 30 anos meu pai faleceu.
Hoje, começo um blog que vai trazer algumas histórias sobre ele, o Acre, minha
família. Um resgate histórico, uma homenagem ao meu pai, que sempre fora o
desejo de Viviane realizar, mas que a morte precoce impediu-lhe o empreendimento.
A autoria “Prof. Wanderley Dantas" é também uma homenagem a ele, mas
também representa um outro lado meu, uma perspectiva diferente sobre a minha
própria vida, os meus pensamentos e a história do meu país.
Enfim, meu pai, sua história,
sua trajetória, suas polêmicas e sua vida ocuparão a página deste blog chamada
“A terra”. Porque assim vejo meu pai – terra: o imenso latifúndio de uma terra
distante – Acre. Um Brasil que não testemunhei, mas que espero resgatar pela
pesquisa e pelo testemunho dos sobreviventes daquele tempo. Inauguro, portanto,
o Blog "O Seringueiro" prestando a homenagem aos 30 anos de ausência
do meu pai. A história começa!
Foto: Meu
pai é o quinto da esquerda para a direita (Fonte: Tarauacá Notícias).
Publicação autorizada pelo autor em 24/05/2012
Publicação autorizada pelo autor em 24/05/2012
8 comentários:
Como já disse Celêdian Assis, comentando um texto meu: ¨A inocência e simplicidade de uma criança sempre são motes interessantes para enriquecer os textos, entretanto, há que se ter doçura para narrá-los também com simplicidade.¨ O texto do amigo atendeu ao pensamento da nossa poetisa e amiga. Sou suspeito para falar porque já que, normalmente, escrevo nessa linha. No entanto acredito que todos vão ter um mesmo pensamento em relação ao seu texto e concordarão por tratar-se de uma preciosidade e de um presente aos nossos corações. Somente aqueles que dão o devido valor a vida e a família conseguem transmitir mensagens com a qualidade encontrada no seu texto. Parabéns.
Querido Carlos, muito obrigado pelas palavras e pelo apoio. É uma honra ter meu texto nesta sua casa tão nobre.
Abraços!
Uma história de vida? Não; uma história de vidaS! Se puder, envie-me o link do seu blog.
Querida Ana, segue o meu link www.o-seringueiro.blogspot.com
Obrigado pelas palavras carinhosas.
Abraços!
Caro Wanderley, emocionante sua narrativa. Seu pai deve ter origem nordestina e foi para o Acre ser "soldado da borracha", no século XIX. Se estiver certo no que afirmei leia aqui mesmo o livro O CAMINHO NÃO PERCORRIDO - a trajetória dos assistentes sociais masculinos em Manaus, mesmo que por curiosidade. Visitarei seu blog amigo. Um abraço,
Copiei, quis entrar mas apareceram vários blogs com esse mesmo nome, Wanderley. Não sei qual é o seu, mande-me o link se poder para carlos_bezerra47@hotmail.com. Estou curioso. Um abraço,
Querido Carlos, o link é esse mesmo (mas já escrevi para o seu e-mail também): www.o-seringueiro.blogspot.com
Espero que consiga acessar meu blog. Criei este espaço com muito carinho para poder também falar sobre meu pai.
Quanto a sua história sobre meu pai ser nordestino e etc, vou deixá-lo na dúvida porque muitas outras informações virão.
Agradeço as palavras e o carinho.
Abraços!
Queridos amigos, parece que o blogger os está levando para outros lugares, talvez porque meu blog seja muito novinho. Assim, acho que o link abaixo resolve o problema para quem quer visitar-me.
http://o-seringueiro.blogspot.com.br/2012/05/30-anos-sem-meu-pai-historia-de-uma.html
Abraços!
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