Autora: Celêdian Assis de Sousa
Há muito o que comemorar, principalmente os dons especiais e que só cabem a uma mulher, que a nós foram concedidos pelo Criador. Muitos avanços foram conquistados ao longo da história e que felizmente, permitiram à mulher uma inserção mais efetiva na construção da história da humanidade. Todavia cumpre lembrar que ainda há resquícios de exclusão da mulher, do poder no mundo, ou da sua discriminação no mercado de trabalho, ou do preconceito implícito nas propagandas, além da coerção explícita para que a mulher se submeta a falsos padrões de beleza, impiedosamente impostos pela mídia, roubando-lhe a identidade e a saúde.
À memória recorre-me a mais grave de todas as opressões, o abuso sexual e outros abusos em nome de ordens diversas. Fatos horripilantes ocorridos recentemente, cujas vítimas foram mulheres e o pior, algumas delas ainda meninas, enojam-me.
No último ano assistimos em manchetes deprimentes tais como, o caso de uma menina de nove anos, de Recife que foi estuprada pelo padrasto. Ficou grávida de gêmeos. Os médicos ao constatarem risco de vida para a menina, optaram pela retirada dos fetos. O fato teve enorme repercussão, principalmente pela decisão de um Arcebispo, a de excomungar tanto os médicos que interromperam a gravidez, quanto os pais da criança que permitiram o aborto e no entanto preservando o padrasto, autor do crime.
Assistimos exaustivamente as cenas do sofrimento da adolescente Eloá, assassinada pelo ex-namorado e também da amiga adolescente, persuadida a intervir e passando por horas de horror. O assassino embora tenha sido preso, contou com a benevolência da opinião de alguns, que o consideraram apenas um rapaz em crise amorosa.
Outra menina de 13 anos, que vinha sofrendo violência sexual, ficando grávida do próprio pai, optou posteriormente por ter o filho. Quantos outros abusos acontecem sem a mesma repercussão na mídia e que jamais tomaremos conhecimento. Meninas que não não chegarão a ser mulheres adultas, meninas que trocam suas bonecas por um bebê de verdade, meninas que levarão para sempre o trauma da violência. Entristece-me tanto. “Mas a frequência, a crueldade, a persistência dos ataques às meninas mostram que o crime é parte de um outro fenômeno mais antigo: o da violência contra mulheres de qualquer idade.” (Por Mirían Leitão).
Nos últimos dias convivemos em Belo Horizonte com o pavor de nos tornarmos mais uma vítima do “serial killer”, de deixarmos nossas filhas sairem de casa, até mesmo para a escola. O monstro, um rapaz ainda jovem, pai de 5 filhos, estuprava, matava e roubava as vítimas. Está preso, mas quem restituirá a vida àquelas moças e aplacará a tristeza das famílias? A televisão mostrou a poucos dias, sem nenhum escrúpulo, as cenas do assassinato de uma mulher em seu local de trabalho, pelo ex-marido que já vinha ameaçando-a, cujas ameaças a polícia já tinha conhecimento, por denúncias da própria mulher.
Todas estas mulheres vítimas da violência representam a minha e a sua indignação. Causa-me asco saber da existência de seres adultos, que antes deveriam ser humanos, investirem-se de sua porção irracional e servirem-se da inocência de uma criança. Grande também é a repulsa de saber que os seres supostamente racionais, deliberem a despeito de suas crenças, sobre o destino de outros. Os valores que faltaram, ao padrasto da menina, ao Arcebispo, aos estupradores, aos rapazes que mataram “em nome do amor” e tantos outros que cometem crimes da mesma ordem contra mulheres, são valores morais e espirituais.
Aqueles, cuja marca de identidade é o desrespeito sem limites pelos valores da vida sua e de outrem, independem de origem e dependem incontestavelmente de suas mentes insanas e de sua podres índoles, injustificáveis sob a ótica de que todo ser humano tem livre arbrítrio e que suas escolhas são de sua inteira responsabilidade. Não implica porém, que ele seja daqui ou acolá, que seja vermelho, branco, amarelo ou de qualquer outra cor, implica tão somente que a sua escolha errônea é fruto da irresponsabilidade e do limitado conhecimento das leis que regem a vida, também as leis de fato e de direito.
Queremos todas comemorar o nosso dia, em todos os dias de nossas vidas, em paz e com a esperança de que ainda há chance do ser humano despir-se de seu lado irracional e vestir-se de consciência.
Este protesto é a minha homenagem a estas mulheres e meninas, vítimas de atrocidades e a todas nós que continuaremos, apesar das adversidades, a ostentar orgulhosamente a nossa missão maior de SER MULHER.
Abraço-as todas, com todo o meu carinho.
"Este texto foi escrito em
2010, mas continua atual (infelizmente), mudam apenas os personagens."
Publicação autorizada pela
autora
Nenhum comentário:
Postar um comentário