sexta-feira, 1 de março de 2013

Paineiras





Autora: Maria Mineira
 


         Quase centenária, a paineira era a árvore mais bonita daquele lugar. Dava muita sombra e na época certa, suas folhas caíam todas, cedendo espaço a muitas flores. De longe se avistava o rosa vivo no meio do mato verde ali perto da cachoeira do Cerradão. As flores depois de algum tempo davam lugar aos frutos que eram grandes e ficavam ali nos galhos até amadurecerem. Depois se abriam ao vento formando um tapete branco aos seus pés. A paina que caía era usada para o preenchimento de travesseiros e ninhos dos pássaros.
Eu amava aquela árvore. Sua imagem florida ficou gravada no meu coração, mesmo quando ela desapareceu. Ainda me lembro do quanto foi útil, generosa, enfeitando com suas flores aquele pedaço de chão.
As paineiras têm espinhos que depois de alguns anos começam a cair na parte baixa do caule. Isto permite à árvore receber ninhos de pássaros, o que seria impossível de acontecer quando esta tinha espinhos longos e pontiagudos; mesmo quando as flores e frutos já não estão presentes, a árvore continua a dar sua contribuição à natureza.
Comparo a vida da gente com o ciclo de uma paineira. Não adianta querermos os frutos antes da florada ou viver sem os espinhos. Tudo vem na hora certa. O que altera a rotina de uma árvore fica por conta do vento, das chuvas e até das abelhas. O homem até pode destruir cortando, assim como fizeram com minha paineira, porém ela sobreviveu através de suas sementes.
Desejaria ser como ela, suportar tempestades, invasões de insetos e a agressividade das pessoas, sem deixar de ser fiel aos meus objetivos. Devo lutar para não ser uma árvore qualquer e sim uma paineira, aprender a lidar com meus espinhos para ser o mais florida  possível.
 
Autora: Maria Mineira - São Roque de Minas/MG
Ilustração: Edmar Sales

Página da autora:

       http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=86838

  Publicação autorizada pela autora


Um comentário:

Helena Frenzel disse...

Dizem que o ser humano volta para si e se redescobre sempre que se volta para a natureza; imitá-la (a natureza) é a única forma de permanecer além do prazo que temos por aqui. Belíssimo texto, Maria. Você vive num lugar abençoado, uma Canastra cheia de boas histórias para contar. Abraços letripulistas, até!