Autora: Maria Mineira
Quase centenária, a paineira era a
árvore mais bonita daquele lugar. Dava muita sombra e na época certa, suas
folhas caíam todas, cedendo espaço a muitas flores. De longe se avistava o rosa
vivo no meio do mato verde ali perto da cachoeira do Cerradão. As flores depois
de algum tempo davam lugar aos frutos que eram grandes e ficavam ali nos galhos
até amadurecerem. Depois se abriam ao vento formando um tapete branco aos seus
pés. A paina que caía era usada para o preenchimento de travesseiros e ninhos
dos pássaros.
Eu amava aquela árvore. Sua imagem
florida ficou gravada no meu coração, mesmo quando ela desapareceu. Ainda me
lembro do quanto foi útil, generosa, enfeitando com suas flores aquele pedaço
de chão.
As paineiras têm espinhos que depois de
alguns anos começam a cair na parte baixa do caule. Isto permite à árvore
receber ninhos de pássaros, o que seria impossível de acontecer quando esta
tinha espinhos longos e pontiagudos; mesmo quando as flores e frutos já não
estão presentes, a árvore continua a dar sua contribuição à natureza.
Comparo a vida da gente com o ciclo de
uma paineira. Não adianta querermos os frutos antes da florada ou viver sem os
espinhos. Tudo vem na hora certa. O que altera a rotina de uma árvore fica por
conta do vento, das chuvas e até das abelhas. O homem até pode destruir
cortando, assim como fizeram com minha paineira, porém ela sobreviveu através
de suas sementes.
Desejaria ser como ela, suportar
tempestades, invasões de insetos e a agressividade das pessoas, sem deixar de
ser fiel aos meus objetivos. Devo lutar para não ser uma árvore qualquer e sim
uma paineira, aprender a lidar com meus espinhos para ser o mais florida
possível.
Autora: Maria
Mineira - São Roque de Minas/MG
Ilustração: Edmar Sales
Página
da autora:
http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=86838
Publicação
autorizada pela autora
Um comentário:
Dizem que o ser humano volta para si e se redescobre sempre que se volta para a natureza; imitá-la (a natureza) é a única forma de permanecer além do prazo que temos por aqui. Belíssimo texto, Maria. Você vive num lugar abençoado, uma Canastra cheia de boas histórias para contar. Abraços letripulistas, até!
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